Extravagante, icônico e controverso. A descrição pode ser facilmente aplicada a Ryan Murphy e suas criações, mas não há ninguém que contemple mais intensamente os três adjetivos do que o protagonista de sua nova minissérie: Halston. O rosto esquecido da moda americana, dono de um legado perdido e uma existência dramática, é tudo, menos comum. Halston chegou de mansinho no catálogo da Netflix – muito diferente do estardalhaço que o estilista fez no cenário frenético dos anos 70 – e, protagonizada por Ewan McGregor, voltou novamente os holofotes para a vida autodestrutiva daquele que revolucionou a forma como o mundo olhava para o estilo estadunidense.
Aviso: o texto a seguir apresenta conteúdos sensíveis sobre violência, LGBTQIA+fobia e suicídio, que podem servir de gatilho para alguns leitores.
Gabriel Gatti
A Chechênia é uma das repúblicas da Federação da Rússia, localizada na região do Norte do Cáucaso, onde a maioria da população é muçulmana sunita. Esse ambiente peculiar é governado sob punhos de ferro pelo tirano Ramzan Kadyrov, a quem o presidente russo Vladimir Putin apoia. A gestão do governante tornou o local em um triângulo das bermudas dos direitos humanos para LGBTs, em que as famílias são incentivadas a matar seus parentes que não sejam heterossexuais. Desse modo, os hábitos doentios dos chechenos serviram de inspiração para o diretor David France no documentário Bem-vindo à Chechênia, indicado ao Emmy 2021 na categoria de Mérito Excepcional em Documentário.
Lançado em fevereiro de 2021 no Brasil sob o selo da Editora Suma, o título críptico de É assim que se perde a guerra do tempo, de Amal El-Mohtar e Max Gladstone, esconde tanto a simplicidade quanto a grandiosidade de sua narrativa romântica espaço-temporal. Parte épico de ficção científica, parte romance epistolar, o livro vencedor dos prêmiosLocus, Nebula e Hugo narra a correspondência ilícita entre Red e Blue, espiãs inimigas de futuros rivais, e as batalhas travadas secretamente ao longo do tempo para a conquista desses futuros.
O termo que significa um estado transcendental de alegria é usado para nomear uma obra que existe no nível mais profundo das dores de uma juventude autodestrutiva para nos avisar sobre algo: desde seu início, aclamado e conturbado lá em 2019, Euphoria não quer saber de nada além do radical ao construir seu caminho na companhia de jovens que lidam com muitas, muitas, mas muitas questões. A máxima se consolidou ao fim visceral daqueles 8 primeiros episódios que colocaram o drama adolescente da HBO numa evidência maior que qualquer nicho. Ali, nossas protagonistas, responsáveis por engatilhar o desenrolar dos arcos da narrativa e toda sinceridade e todos problemas que os acompanham, se encontravam num lugar perfeito de completa ausência de resolução.
A complexidade que o diretor e roteirista Sam Levinson criou ao fim do primeiro ano de Euphoria só seria compreendida mais tarde, quando os ganchos de 2019 ameaçavam se perder no meio da fenda temporal aberta pela pandemia de covid-19. Então, o criador correu para os transformar em dois episódios especiais, dedicados exclusivamente ao centro da história – Rue (Zendaya) e Jules (Hunter Schafer) -, e quando Part 1: Rue foi ao ar em dezembro de 2020, o poder da narrativa se mostraria ainda maior. Sob o título de Trouble Don’t Last Always, aconteceu o primeiro contato da produção com o mundo depois de sua estreia, e também o primeiro encontro do apreciador da série com a profundidade emocional daquela que foi o fio narrativo de tudo o que Euphoria nos apresentou.
Mais uma grande série da Netflix chega ao fim, e dessa vez a comédia Atypical se despede das telinhas com muita emoção e ternura. Desde 2017, acompanhamos a história de Sam Gardner (Keir Gilchrist, de United States of Tara), um garoto autista com uma família muito amável que cuida dele e o apoia a todo custo. Nas três primeiras temporadas, vimos a forma como Sam vê a vida, o seu amor por pinguins e a evolução de seu espectro através das sessões de terapia com a Dra. Julia (Amy Okuda, de How To Get Away With Murder),sua ouvinte fiel por quem ele sente um amor platônico no início da série.
Se hoje já não é fácil ser negro, latino e parte da comunidade LGBTQIA+, era muito pior nas ruas dos Estados Unidos nos anos 80. Desrespeitados e segregados, a solidão atormentava o dia a dia desses grupos. Então, de forma política, mas ao mesmo tempo divertida, foi no peito dolorido de um povo tentando transformar sua exclusão em união que surgiu a cultura do ballroom.
Foram nos subúrbios nova-iorquinos que, pela primeira vez, pessoas trans, pretas, latinas e homossexuais tiveram sua existência celebrada em forma de dança. Aos poucos foi se estabelecendo um cenário constituído por regras, estilos e características tão ricas e próprias que até hoje fazem parte desses bailes.
Uma década desde que um dos maiores álbuns pop do milênio foi lançado, Born This Way se tornou um sucesso de vendas e um grito de liberdade. Como comemoração, Lady Gaga lançou uma edição especial intitulada Born This Way The Tenth Anniversary, dividida em um disco com as canções originais e outro com seis novas versões do CD, interpretadas por artistas que representam e defendem a comunidade LGBTQIA+.
Escândalos na realeza, desde uso de drogas, romances escondidos, crises financeiras e familiares até preconceito e morte. Todas essas vertentes você vai ver em Young Royals, o novo romance LGBTQIA+ queridinho da Netflix. Seguindo a linha de raciocínio de outros seriados como The Crown, a obra mostra o lado difícil de ser parte da monarquia e, ainda assim, nos contempla com a aventura da adolescência muito similar a Elite. Dever, status, lealdade e amor é tudo que esperamos do romance sueco.
Luana Muniz viveu uma vida coletiva. Isso não é apenas dito, mas também mostrado pelo filme que carrega, além de seu nome, uma alcunha muito singular: Filha da Lua. Travesti, ativista, atriz, prostituta e Rainha da Lapa. Bocuda, intensa, carismática e protetora. Sob as lentes de Rian Córdova e Leonardo Menezes, o mundo conhece e se despede daquela que já deveria estar marcada na memória de um país ensinado a odiar minorias.
No mês em que é celebrado o Dia do Documentário Brasileiro, Luana Muniz – Filha da Lua busca o sóbrio no lugar do quimérico. Unidos na direção, os cineastas revisitam momentos da vida da artista, partindo do hoje para retomar as cicatrizes que formaram a armadura dessa guardiã da comunidade LGBTQIA+. Mas se engana quem pensa que os 78 minutos de rodagem pintam Luana como uma santa padroeira.
Estamos no país que mais mata transexuais e travestis no mundo. De acordo com um relatório anual publicado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (ANTRA), o país teve um total de 175 pessoas transexuais assassinadas em 2020. Esse número equivale a uma morte a cada dois dias, de vítimas que eram mulheres trans/travestis, em sua maioria negras, pobres e prostitutas. E não, Manhãs de Setembro não retrata a realidade de uma estatística, pelo contrário, a série nos permite vivenciar um drama que foge dessas fatalidades, mas sem esconder a dura realidade do que é pertencer a esse recorte num país como o Brasil.