CHVRCHES está de volta e o amor está morto

Jho Brunhara

“Você alcançou tudo o que queria fazer?” Assim ecoa um dos primeiros versos do novo álbum da banda escocesa CHVRCHES, com a faixa “Graffiti”. Love Is Dead, lançado dia 25 de maio, retoma o synthpop tão conhecido pelos fãs. Formado por Lauren Mayberry, Iain Cook e Martin Doherty, o novo trabalho do grupo aborda relacionamentos,  além de refletir o atual cenário político do mundo, um olhar da banda sobre o caos do século XXI.

“Era para ser meio chocante mesmo. Não acordo todos os dias e concordo com a frase do título do álbum, mas alguns dias sim. É mais uma pergunta de onde você está, as pessoas vão ler o nome do álbum e vão ficar ‘o que?’” Afirma Mayberry. “É para servir como um norte para uma conversa que acontece nas músicas do disco. Alguém está tentando entender como se sente e não necessariamente existe uma resposta, mas você está tentando percorrer pela frustração e confusão mental – e o que fazer com tudo o que você descobriu.”

Love is Dead é o terceiro álbum do grupo, tendo como antecessores Every Open Eye lançado em 2015, e The Bones of What You Believe, lançado em 2013. Aos fãs que estavam acostumados como uma sonoridade mais dark e menos mainstream, o novo disco pode ser um pouco decepcionante, mas ninguém é o mesmo para sempre: CHVRCHES coloca o coração no synthpop e traz refrões poderosos, letras críticas em melodia upbeat e a prova que ser versátil e mais comercial não significa música ruim. “Eu gosto da ideia que essa banda pode ser pop e emo e punk. Isso é legal, não precisa ser tudo de um jeito ou de outro, e talvez seja isso que faça ser quem somos?”

Ian, Lauren e Martin

As três primeiras faixas do álbum são exatamente esse pop meio rock, indie e lotado de synths: “Graffiti”, “Get Out” (que foi o primeiro single do álbum) e “Deliverance” introduzem refrões poderosos e melodias chicletes. O refrão de Graffiti é com certeza um dos melhores do álbum, sendo uma das faixas para se ouvir no repeat.

“We wrote our names along the bathroom walls
Graffitiing our hearts across the stalls
I’ve been waitin’ for my whole life to grow old
And now we never will, never will”

“My Enemy”, uma parceria com o vocalista do The National, Matt Berninger, se aproxima mais de um CHVRCHES do início da carreira, com uma vibe mais calma e dark. “Sempre fomos grandes fãs do The National, e quando fomos gravar ‘My Enemy’, Iain e Martin sugeriram que eu mandasse um email para Matt sobre cantar a música. Nunca pensamos que ele teria tempo para isso, mas ele respondeu muito rápido e no dia seguinte já fomos gravar a faixa na casa dele.”

“Forever”, “Never Say Die” e “Miracle” retomam o EDM-synthpop mais animado, mas não vazio. Em “Miracle” – que ganhou um clipe apocalíptico onde o caos e a violência dominaram o mundo –, Lauren clama ao mundo que a solução para os nossos problemas não é um milagre. “And I need you to know, I’m not askin’ for a miracle/But if love is enough, could you let it show?”. A faixa, assim como muitas outras do disco, foi produzida em parceria com Greg Kurstin, conhecido por trabalhar com muitos artistas ligados à música pop. “Você tem o ‘grande cara do pop’, eu fico, ‘bom, eu não acho que é justo dizer isso.’ Meio que subestima o talento dele, e o nível de colaboração que está rolando.” CHVRCHES está mais crítico do que nunca, e isso é realmente importante analisando a atual situação política do mundo. A música pop também pode, e deve, funcionar como voz para o que há de errado na sociedade.

“Graves”, que quase parece pertencer à trilha sonora de Stranger Things por seu instrumental, segue a linha crítica de “Miracle”, e questiona a submissão e o individualismo da sociedade diante de tantos problemas.
“They’re leavin’ bodies in stairwells/Washin’ up on the shore/Do you really expect us to care what you’re waitin’ for?” faz referência aos refugiados que morreram afogados no mar mediterrâneo e fizeram parte dos noticiários do mundo todo. O vocal de Lauren explode em um dos melhores refrões do disco, que nos questiona: você vai realmente olhar para o outro lado enquanto eles estão dançando em cima dos nossos túmulos?

E aos que ficaram na dúvida não, “Love is Dead” não é a volta de um CHVRCHES indie-dark, muito menos significa que a banda se vendeu para o mercado de músicas comerciais. O disco só é vazio para quem esperava faixas características de tempos em que o synthpop não havia dominado ainda as produções radiofônicas da música pop, como vemos hoje. Da mesma forma que o grupo ajudou a conduzir o estilo ao mainstream, o mainstream conduziu um pouco de si próprio a cada um deles. Ainda vamos ter que esperar um pouco mais para que mais músicas como “God’s Plan” – distantes da estrutura verso/pré-refrão/refrão/verso/ponte/refrão – voltem a ser maioria na tracklist, e isso não é um problema. O álbum cumpre exatamente o que se espera de uma banda tão versátil.

 

 

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