Barry não redime Barry: a quarta e última temporada concebe um manifesto anti-anti-herói

Cena da série Barry. Imagem em close do protagonista olhando para frente, dos ombros para cima e à frente de um fundo preto. O rosto dele está com sangue e machucados espalhados, além de um curativo sobre o nariz e um dos olhos inchado, quase fechado.
Barry chegou ao fim em uma nota fria, dura e irônica, que garantiu o lugar da série na corrida pelo Emmy 2023 (Foto: HBO Max)

Giovanna Freisinger

A quarta e última temporada de Barry responde às perguntas existenciais levantadas pela obra até então e leva a história, que parecia estar em uma rua sem saída, ao seu desfecho. Seus momentos finais a consolidam como uma das melhores produções de televisão dos anos recentes. Os fãs da série estão na torcida para que esse seja o ano em que ela finalmente conquiste o título de Melhor Série de Comédia no Emmy 2023, após três indicações nesta categoria, mas nenhuma vitória até então. O obstáculo é a concorrência pesadíssima da categoria, com Abbott Elementary, A Maravilhosa Sra. Maisel, Jury Duty, Only Murders in the Building, Ted Lasso, The Bear e Wandinha.

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Crime e castigo são o veredito da 3ª temporada de Barry

Indicada ao Emmy 2022, Barry se distancia ainda mais da Comédia em seu terceiro ano (Foto: HBO Max)

Bruno Andrade

É sempre curioso observar a forma como a violência é veiculada no Audiovisual. Historicamente, a ideia de um assassino de aluguel deprimido não é tão inovadora; na realidade, continua explorada após décadas de representação em videogames e filmes de adaptação. A bem da verdade, é algo sempre deixado nas entrelinhas dos roteiros do gênero, cujas cenas finais giram em torno das redenções platônicas e apaixonadas dos frios matadores, que se rendem ao sentimentalismo e à reivindicação das próprias condições individuais (O Justiceiro [2004], Hitman [2007], Max Payne [2008]).

Parece estar imposta, de forma silenciosa, uma condição depressiva na qual o sentido reside na incansável busca pela “justiça” – improvável, abstrata, distante e egoísta. Mas é aqui que Barry se distancia de todas essas realizações: a condição melancólica do protagonista se estabelece, desde o princípio, como o mote para suas ações, e o ato de cometer os crimes visa, na verdade, preencher seus dias para que ele não pense nos problemas que envolvem sua condição existencial.

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A esperança é o antídoto para o vício em Four Good Days

Cena do filme Four Good Days. Na imagem, vemos uma mulher de meia idade à esquerda; de cabelos loiros com franja, lisos e curtos; e pele clara. Ela está usando uma camisa de mangas longas, estampada de marrom e amarelo, uma calça bege, e está com os braços cruzados. Ela está sentada em uma cadeira verde escura estofada, com as pernas cruzadas, com uma expressão de preocupação, olhando para a moça que está sentada ao seu lado direito. Ao lado dela, à direita, está uma mulher jovem. Ela tem cabelos compridos, loiros, lisos e soltos. Ela está usando uma camisa xadrez cinza de mangas longas, com outra camiseta cinza por baixo, e calça preta; está olhando séria para a senhora que está sentada à sua esquerda, com as mãos fechadas sobre as pernas. Atrás delas há uma parede azul clara, com um quadro de tamanho médio. Elas estão em ambiente interno.
Indicado ao Oscar 2022, Four Good Days mostra-nos a realidade do consumo excessivo de substâncias ilícitas e como esse abuso pode destruir os laços familiares mais fortes, como o de mãe e filha (Foto: Vertical Entertainment)

Sabrina G. Ferreira

A narrativa de Four Good Days tinha tudo para ser óbvia e seguir o roteiro clássico de um filme com essa abordagem, entretanto o que se vê é um show de atuações, e um recorte instigante do problema apresentado. Baseado em fatos reais, o longa dirigido por Rodrigo García (Em Terapia, Questão de Vida), mostra a trajetória de Molly (Mila Kunis), uma mulher jovem viciada em drogas, que retorna para a casa da sua mãe, Deb (Glenn Close), em busca de ajuda para vencer sua dependência química. Após levar a filha à reabilitação, pela 15ª vez, elas descobrem um método novo e intensivo de cura para o vício, mas para iniciar o tratamento, Molly precisa ficar quatro dias sem usar nenhum tipo de droga.

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A Tragédia de Macbeth: a culpa pesa mais do que a coroa

Cena em branco e preto do filme a tragédia de macbeth apresenta Macbeth, um homem negro de meia idade, vestindo uma camisa clara, uma calça e uma bota, sentado na cama e olhando pra cima. Os únicos objetos da imagem são a cama e uma cortina branca no canto direito. A imagem é escura e a única fonte de luz vem da lateral direita.
A Tragédia de Macbeth apresenta uma trama repleta de bruxaria, ganância e vingança e chega concorrendo a três categorias no Oscar 2022 (Foto: A24)

Gabriel Gatti

William Shakespeare foi um grande dramaturgo nascido no século XVI, e chegou a publicar cerca de 40 obras, que acabaram sendo amplamente revisitadas ao longo dos séculos. Como é o caso de Macbeth, uma tragédia medieval sobre ganância e culpa que rendeu uma série de adaptações cinematográficas. Dentro dessa ampla gama de subprodutos derivados do acervo literário shakespeariano parece quase improvável produzir algo com características originais, porém foi exatamente isso que o diretor Joel Coen fez em A Tragédia de Macbeth, uma produção da A24 em parceria com a Apple TV+.

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Tio Frank: o passado ecoa no presente

Cena do filme Tio Frank. Na imagem, vemos três dos personagens do filme dentro de um carro conversível em uma estrada na zona rural. Da esquerda para a direita, vemos Betty, uma mulher branca, de cabelos ruivos curtos, aparentando ter cerca de 15 anos, vestindo uma blusa roxa e óculos escuros e tomando sorvete no banco do passageiro; Frank, um homem branco, com cabelos curtos loiros e bigode, aparentando ter cerca de 40 anos, vestindo uma camisa azul e óculos escuros, no banco de trás; e Wally, um homem muçulmano, de cabelos curtos pretos e barba preta, aparentando ter cerca de 40 anos, vestindo uma camisa marrom e óculos escuros, tomando sorvete enquanto dirige.
Uncle Frank, longa independente adquirido pela Amazon Studios, foi lançado Prime Video e concorre ao Emmy 2021 como Melhor Telefilme (Foto: Amazon Studios)

Vitória Lopes Gomez

Se o Cinema é um modo divino de contar a vida e esta não se preocupa com a originalidade, toda história é inédita. É assim que, em uma Hollywood cheia de premissas batidas, o roteirista ganhador do Oscar Alan Ball se inspirou na vida real e transformou uma sinopse repetida em uma sensível e comovente road movie sobre repressão familiar, pertencimento e aceitação da sexualidade. Em Tio Frank, o passado não fica para trás, mas ecoa no presente.

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