Fantaspoa XVII: os filmes e curtas do Festival Fantástico

Arte em amarelo-mostarda. À esquerda, o símbolo do persona está distorcido acima do texto "Os filmes e curtas do fantaspoa XVII". À direita, a arte do festival está numa moldura dourada.
Com arte oficial de Renan Santos, o XVII Fantaspoa foi sucesso de público (Arte: Vitor Tenca)

E foi no meio da loucura da maratona do Oscar 2021 no Persona, que trombamos com o maior festival de cinema fantástico da América Latina. Chegando na sua 17ª edição, o Fantaspoa, Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, foi realizado entre os dias 9 e 18 de abril, acumulando mais de 160 filmes entre longas e curtas para os amantes do gênero fantástico – que abrange o horror, o thriller, a ficção-científica e a fantasia. Pela segunda vez, o festival foi virtual, em decorrência da interminável pandemia de coronavírus, e gratuito, para que todos pudessem assistir as obras provenientes de mais de 40 países do globo. 

Em um mundo pré-apocalíptico, o Fantaspoa ocorria anualmente na cidade de Porto Alegre desde o ano de 2005. Em 2021, quase completando a maioridade, o festival ofereceu debates com cineastas, discussões sobre a inclusão no audiovisual, exposição a respeito do trabalho de mulheres no mundo do fantástico e até uma festa online. A arte da vez, utilizada para a própria arte desse post, foi criada pelo artista Renan Santos como uma referência aos 17 aninhos do festival, intitulada Reflexo. Já o lettering foi desenvolvido pelo diretor de arte Thalles Mourão, que também usou um aspecto refletido para retomar o gênero do evento.

Através da plataforma Wurlak/Darkflix, assistimos um pouco de tudo: filmes nacionais, internacionais, animados, psicodélicos, bizarros, medonhos e hilários. A curadoria trouxe peças singulares, inclusive a tão esperada disponibilização da obra Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado, a quase folclórica produção de Felipe M. Guerra que, no seu aniversário de 20 anos, ganhou uma reedição só para o festival. Entre os premiados, O Cemitério das Almas Perdidas recebeu do júri a consagração de Melhor Diretor para Rodrigo Aragão dentro da Competição Ibero-Americana e História do Oculto levou Melhor Filme e Melhor Roteiro. 

A cobertura foi singela – cerca de ¼ do Fantaspoa está registrada abaixo pelas palavras de Caroline Campos, Vitor Evangelista e Vitor Tenca. O material disponível sobre as produções é escasso, então angariar informações se tornou uma parte extra da cobertura na hora da realização dos textos. O resultado, no entanto, foi divertido e satisfatório, especialmente pela oportunidade de se deparar com tantas obras únicas, sejam elas maçantes ou extraordinárias. Abaixo, você confere um pouquinho da grandiosidade criativa da 17ª edição do Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre.

Longas

Competição Internacional
Cena do filme Querida, Você Não Vai Acreditar. Nela, vemos 3 homens ao redor de uma kombi azul e branca. Um deles, à esquerda, está de camisa aberta e usa um colar preto. Ao centro e dentro do veículos, um homem vestido de amarelo segura duas bonecas infláveis e, à direita, um terceiro homem está sentado. Eles estão num cenário florestal e está de dia.
O título do longa cazaque é quase uma súplica do protagonista a sua esposa (Foto: Yernar Nurgaliyev)

Querida, Você Não Vai Acreditar (Zhanym, ty ne poverish, Yernar Nurgaliyev, Cazaquistão, 2020)

Como explicar para sua esposa briguenta que você perdeu o parto do seu filho E sua aliança porque presenciou um assassinato, foi perseguido por caras armados, sequestrado por uma família de pervertidos e ainda acabou na casa de um maníaco caolho? Não foi uma tarefa fácil para o protagonista de Querida, Você Não Vai Acreditar, longa cazaque dirigido por Yernar Nurgaliyev. Depois de arriscaram um passeio de pescaria, três melhores amigos se enfiam nessa bagunça sangrenta em que o único objetivo é sobreviver da sequência de doidos que cruzam seus caminhos.

No entanto, todos os personagens da produção são hilários e as trapalhadas poderiam ter saído diretamente de uma comédia da Globo, mas só se o estúdio arriscasse em litros de sangue e violência gráfica. Os membros decepados e as mutilações, no entanto, contribuem para a trama caminhar e deixam até as cenas assustadoras, divertidas – mérito do time de atores que encaixa perfeitamente em cada papel designado. O roteiro, assinado por uma boa galera (Zhandos Aibassov, Yernar Nurgaliyev, Daniyar Soltanbayev, Il’yas Toleu, Anuar Turizhigitov e Alisher Utev), não perde o ritmo em nenhum momento, criando a tensão cômica em cada encontro do trio com qualquer um dos esquisitos. Genuinamente engraçado, Querida, Você Não Vai Acreditar entra para a lista dos favoritos no Fantaspoa XVII. – Caroline Campos


Cena do filme Corte Profundo. Nela, vemos uma mulher branca e loira na floresta, ela tem sangue sujando seu rosto e um semblante de cansaço. Está anoitecendo.
Corte Profundo suplica: nunca confie no mocinho (Foto: Nicholas Santos)

Corte Profundo (It Cuts Deep, Nicholas Santos, EUA, 2020)

Para quem imagina que ao entrar em um festival como o Fantaspoa só nos deparamos com filmes indie e alternativos, se espanta com a qualidade de Corte Profundo. O longa, dirigido e roteirizado por Nicholas Santos, se assemelha mais a um blockbuster com sua ideia simples e bem elaborada ao mesmo tempo. Enquanto acompanhamos o que aparenta ser mais um filme de assassino a solta sem motivo algum para matar, vamos recebendo dicas para desvendar o mistério e também muitas risadas, visto que o filme é categorizado como um horror-comédia.

O enredo, porém, sofre do mal de uma vítima que não consegue convencer ninguém, seja o telespectador, o possível assassino e até a própria namorada. Charles Gould dá vida a Sam, nosso assassino sem noção na hora das piadinhas, enquanto a certeira Quinn Jackson interpreta Ashley, e transmite um único sentimento: pena, por uma mulher conformada com o pior. E o final não poderia ser outro. No melhor estilo A Morte do Demônio, vemos Ashley sair mancando pelas ruas com a cara toda ensanguentada com sangue do machete. – Vitor Tenca


Cna do filme Sangre Comigo. Nela, vemos uma mulher branca se olhando no espelho. A coloração da cena é amarela, e ela veste um suéter marrom, seus olhos exprimem medo.
Sangre Comigo é um claro exemplo do “podia ser, mas não foi” (Foto: Amelia Moses)

Sangre Comigo (Bleed with Me, Amelia Moses, Canadá, 2020)

Sangre Comigo só funcionaria se nós sentíssemos algum tipo de empatia por sua protagonista. Ou por qualquer personagem em tela. O longa canadense, que acompanha a viagem do casal Emily e Brendan com a amiga Rowan para uma cabana na floresta, começa bem. Ficamos curiosos em relação às interações do trio, a tensão aumenta bem devagar e passamos a acreditar que as coisas vão piorar a qualquer momento. Bem, nada acontece. Rowan, interpretada por Lee Marshall, é uma jovem introvertida e apática em contraposição a simpática Emily, vivida pela melhor atriz do elenco, Lauren Beatty. É Emily que convence o espectador a duvidar realmente dos acontecimentos, com pequenos relances de olhar e mudanças no tom de voz.

Amelia Moses é talentosa na direção, mas seu roteiro não convence. Apesar das cenas noturnas sugerirem alucinações de Rowan, os conflitos nunca dão partida. Brendan, que até se destaca pela atuação de Aris Tyros, não chama a atenção no meio das atrizes. Essas, por sua vez, ficam numa lenga-lenga cansativa envolvendo algum tipo de vampirismo ou, quem sabe, um pé na esquizofrenia. Mesmo que a obra não seja de se jogar fora – a primeira metade é bem interessante -, no fim das contas, o filme caminha para lugar nenhum. – Caroline Campos


Cena do filme Post Mortem. Nela, vemos uma porção de homens e mulheres reunidos frente a uma igreja. A igreja é branca, e o céu contrasta com um azul claro, enquanto todas as pessoas vestem roupas escuras.
A igreja é a grande inimigas das sombras (Foto: Péter Bergendy)

Post Mortem (Idem, Péter Bergendy, Hungria, 2020)

Toda a trama por trás de Post Mortem é genial, afinal, quem não se interessaria em explorar o mundo sangrento e mortal da Europa pelas lentes de um fotógrafo… de mortos. Dirigido por  Péter Bergendy, o longa húngaro conta uma história de fantasmas e espíritos um pouco diferente das demais, já que trabalha na área de fotografia post-mortem, ou seja, de pessoas já falecidas. No entanto, o ato que serviria para suprimir a dor de famílias que perdiam pilhas de familiares causa justamente o oposto. As sombras que começam a aparecer em frente aos corpos pálidos das fotografias torturam e são torturadas, dando força ao clima macabro e visual mórbido do filme.

Porém, mesmo com uma ideia extraordinária, ainda assim é necessária uma boa execução. O filme peca em seu caráter maçante e muitas vezes devagar, já que os 115 minutos de tela parecem ser muito tempo a mais. Outro motivo desconfortante é a relação entre os dois personagens principais, visto que essa ligação é criada literalmente a partir de mágica. No geral, Post Mortem carrega com si muitos pontos positivos, mas acaba pecando mais do que acerta. Talvez Tomás devesse se dedicar apenas às fotos, e deixar a profissão de caça-fantasmas para outro. – Vitor Tenca


Cena do filme Fazendo Companhia. Nela, vemos dois homens numa vizinhança de cerca branca. Os dois se vestem da mesma maneira: paletó laranja, camisa de estampa quadriculada e gravata laranja. Ao fundo, o primeiro homem é branco, e tem barba e cavanhaque cheios. À frente, o homem tem pele mais escura e não tem um pelo facial a vista.
Os paletós vermelhos identificam de longe os vendedores chatos da Seguradora (Foto: Josh Wallace)

Fazendo Companhia (Keeping Company, Josh Wallace, EUA, 2021)

O quão longe você iria por seu emprego? Para Sonny (Devin Das), até onde fosse necessário. Traumatizado pelo relacionamento com o pai, o vendedor de seguros é capaz de tudo para conseguir a promoção na Seguradora Caste e provar que é o melhor no que faz. Seu parceiro é o gentil e carinhoso Noah (Ahmed Bharoocha), que, prestes a ser pai, acredita que Sonny é seu melhor amigo. O problema só acontece quando a dupla resolve bater na porta errada. Lucas (Jacob Grodnik) vive com sua amada Vovó (Suzanne Savoy) e ambos têm como objetivo limpar as ruas da escória marginal. No meio do caminho, Sonny e Noah se juntam aos traficantes e sem-teto, todos presos no porão da família de bem.

Josh Wallace não só dirige, como também roteiriza essa obra hilária sobre esperança e, bem… canibalismo. Conectando todos seus personagens, Wallace brinca com a corrupção na seguradora e com a obsessão pela excelência egoísta do protagonista. Obviamente, o resultado é uma bagunça engraçada e até mesmo surpreendente. Não há, digamos, um final feliz, pelo menos não para quem merece. Mas isso não importa. Sangue, corpos e muitos hambúrgueres ditam o tom certeiramente para que Fazendo Companhia não caia na mesmice batida das comédias-terror, e, no final, ainda consegue nos arrancar uma risada de indignação. – Caroline Campos


Competição Ibero-Americana
Cena do filme Uma Tumba para Três. Nela, vemos 3 homens, brancos, adultos e com visão punk badboy, ao redor de um quarto homem, deitado. O cenário é um quarto tipicamente estadunidense, de portas brancas e posteres na parede
Carlos está morto… não está? (Foto: Mariano Cattaneo)

Uma Tumba para Três (Una Tumba Para Tres, Mariano Cattaneo, Argentina, 2020)

A maior qualidade de Uma Tumba para Três é especificamente o trio que intitula o filme. Victor, Juan e Manuel, três criminosos de, digamos, baixo cacife, precisam se livrar de um problema para seu chefe mafioso. Interpretados por Diego Cremonesi, Daniel Pacheco e Demián Salomón, respectivamente, o grupo passa metade da narrativa tentando se matar e, a outra metade, tentando matar os outros. Essa sequência de palhaçadas insanas, que começa a ficar um pouco cansativa no final do longa, só funciona pelo entrosamento hilário e natural entre os atores, que agem como velhos amigos dando broncas uns nos outros. 

Mariano Cattaneo assume a direção e divide o roteiro com Nicanor Loreti, que é assertivo e eficiente em nos nortear nos acontecimentos do passado e apresentar os mais variados personagens que ajudam ou atrapalham a missão principal do filme. No fim das contas, temos uma dupla de garotas espertas, uma senhora vingativa, policiais corruptos, um mafioso prepotente e um bruxo emo esquisito – todos fazendo sua parte, sem ofuscar os protagonistas, mas roubando um pouco da narrativa para si. A produção argentina oscila no tom, o que pode passar a impressão de uma duração bem maior que os míseros 77 minutos reais, mas a vibe Os Trapalhões do trio te deixa encantado o suficiente para sentir saudades quando os créditos sobem. – Caroline Campos


Cena do filme A Desvida. Nela, vemos duas pessoas se encarando. Ela tem cabelos pretos, pele clara e veste uma blusa preta. Ele tem cabelo e barba compridos, uma mecha grisalha no queixo e veste uma camisa quadriculada preto e branco.
O casal talentoso de A Desvida se perde no próprio relacionamento (Foto: Agustín Rubio Alcover)

A Desvida (Non-Living, Agustín Rubio Alcover, Espanha, 2020)

Tem algo de muito específico e atual em A Desvida. O longa espanhol, falado a maior parte do tempo em inglês, desperta um misto confuso de sensações e percepções no espectador. A trama já mostra ser muito mais do que parece: Alex (Julio Perillán) e Natalie (Tábata Cerezo), casados e parceiros na criação de histórias infantis, voltam para a casa pela primeira vez desde que perderam seu filho, Jonah (Telmo Yago). Com apenas os três atores em cena, passado e presente vão se intercalando e entrelaçando em uma narrativa extremamente desconfortável, que cria uma tensão gradual conforme os minutos vão passando. O diretor e roteirista Agustín Rubio Alcover tem o controle total de seu filme e de seus espectadores, é como se tudo que sentíssemos fosse exatamente do jeito que Alcover queria quando idealizou o longa, cada surpresa, exclamação e ataque de fúria.

À medida que vamos juntando as pecinhas do quebra-cabeça do casal extremista-good vibes, o choque vai tomando conta não só pelo desenrolar da história, mas também pela triste realidade que ela traz consigo. Natalie e Alex, que carregam perfeitamente bem os 87 minutos de filme, oscilam entre o reatamento e o rompimento definitivo de sua relação, dando voltas pela própria trajetória até chegarem no ponto de partida: Jonah. O garoto é mais importante fora do que dentro de cena, mas é quase sufocado pelo egoísmo natureba dos pais. No entanto, é no final de A Desvida, logo após estarmos certo de que sim, essa é uma obra dramática, que o verdadeiro aspecto de terror se revela – e somos arrebatados. – Caroline Campos


Cena do filme O Cemitério das Almas Perdidas. Nela, vemos um homem no centro de um altar, ao redor dele estão uma porção de velas acesas e um mural atrás, com dizeres em latim. Ele é branco, tem cabelo preto e barba branca, e veste uma túnica marrom.
A ambientação dos jesuítas no Brasil Colonial é o maior acerto de Rodrigo Aragão (Foto: Rodrigo Aragão)

O Cemitério das Almas Perdidas (Rodrigo Aragão, Brasil, 2020)

A homenagem é para ele: José Mojica Marins. Antes de iniciar O Cemitério das Almas Perdidas, Rodrigo Aragão faz questão de dedicar seu filme ao “deus” do terror nacional – ou, melhor dizendo, o “diabo”. O novo longa de Aragão é uma visão inovadora e aterrorizante sobre o Brasil colonial, colocando os jesuítas como criaturas demoníacas ligadas a um pacto com São Cipriano. Utilizando duas linhas temporais diferentes para contar sua história, a produção brasileira cutuca o fanatismo religioso e os traumas da colonização focando, principalmente, nos povos indígenas e sua história de violência e resistência. Toda a cenarização de O Cemitério das Almas Perdidas é digna de aplausos. A atmosfera do cemitério, os objetos perfeitamente alocados nas criptas e a estética de horror da obra como um todo são o resultado de uma equipe competente, que sabe a história que quer passar.

Rodrigo Aragão mostra todo o seu talento no clímax, que é intenso, coerente e muito sangrento. A caracterização de seus zumbis-jesuítas e os efeitos das mutilações e desmembramentos tiram o fôlego durante a “batalha final”, que, finalmente, une as duas narrativas e dá sentido ao desenrolar do filme. Apenas alguns exageros sonoros chegam a incomodar, mas nada excruciante que atrapalhe a experiência de assistir um bom filme de terror nacional. Nós sabemos que, no final das contas, não foi o tinhoso que trucidou toda uma população nativa, mas a roupagem macabra e sobrenatural dá a acidez certa no longa nacional. – Caroline Campos


Cena do filme História do Oculto. Nela, vemos um homem idoso, branco e de barba grisalha. A imagem é um close de seu busto, e está em preto-e-branco. Ele veste um terno e usa um anel no dedo anelar esquerdo. Na parte de baixo da imagem vemos informações escritas: 23:28, 10.7c e 32:51
O diretor opta por utilizar o formato 4:3 na maior parte de História do Oculto (Foto: Cristian Ponce)

História do Oculto (Historia de lo Oculto, Cristian Ponce, Argentina, 2020)

O repórter que apurou o furo jornalístico de História do Oculto merece uma grande salva de palmas – e talvez um pouquinho de proteção policial. O longa dirigido e roteirizado por Cristian Ponce é um achado especial no Fantaspoa XVII, mesclando jornalismo puro com doses cavalares de bruxaria. Através da última transmissão do programa 60 Minutos Antes da Meia-Noite, um grupo de jornalistas se prepara para soltar em rede nacional que o presidente está envolvido com um esquema bizarro ligado à maior corporação do país. Eles só não esperavam que, ao vivo, fosse confirmado que esse esquema se tratava de um pacto com entidades malignas que assassinou inimigos políticos, garantiu eleições, eliminou criancinhas e vendeu o futuro da humanidade.

A escolha de Ponce de mostrar o programa na íntegra, cada segundo angustiadamente passando, foi o chute no gol da produção argentina, que nos coloca na posição de mero espectador como todos os outros personagens. O preto-e-branco também complementa a atmosfera macabra e camufla as aparições demoníacas que a equipe de reportagem passa a presenciar enquanto caminham cegos ao ponto final inesperado e surpreendente. Não há uma gradação da tensão – ela está sempre ali, constante desde o primeiro segundo do filme. História do Oculto é de uma fluidez impressionante, capaz de transformar o Jornal Nacional e as arapucas políticas brasileiras em história de ninar criancinha. – Caroline Campos


Competição de Animação
A imagem retangular é uma cena do filme Sonhos Coloridos. Da esquerda para a direita podemos ver 10 personagens de massinha de rostos longos e pele branca. O primeiro é um homem de topete e costeletas pretas e lábios grandes, enquanto usa uma jaqueta preta. À sua direita há um homem de cabelos e costeletas ruivas, com olhos tortos e nariz grande, enquanto usa um paletó vermelho em cima de um colete verde. À sua direita vemos um homem de cabelos rasos e uma barbicha preta, ele fuma um cigarro e usa uma camisa amarela com uma gravata laranja. À sua direita vemos um menino de cabelos lisos e pretos mostrando a língua, enquanto usa uma camiseta azul com um suspensório colorido. À sua direita e no centro da imagem vemos uma mulher com cabelos ruivos e tiara rosa, ela possui uma feição triste e usa um casaco de couro marrom. À sua direita atrás vemos uma parte de homem de óculos vermelho. Também à direita da mulher vemos um menino de boné para trás, cabelo loiro e um narigão. À sua direita vemos um homem de cabelo preto jogado para o lado, enquanto está com um olho fechado e possui um lápis atravessando seu nariz. À sua direita vemos dois homens iguais um do lado do outro com cabelo repartido castanhos olhos fundos, que usam roupas listradas de presidiário.
A trupe circense de Sonhos Coloridas é diversa e entusiasmada (Foto: Jan Balej)

Sonhos Coloridos (Barevný Sen, Jan Balej, República Tcheca, 2020)

Você sabe que o filme não te agradou quando seu personagem favorito é uma gaivota falante. Sonhos Coloridos chama a atenção pelo visual amigável, bonequinhos carismáticos e uma sinopse cativante envolvendo uma trupe circense e um governo autoritário, mas sua execução… deixa muito a desejar. Apesar das metáforas bem elaboradas entre a liberdade e o ator de voar, a jornada de Drin pelo resgate dos seus amigos é maçante – nenhum personagem realmente chama a atenção, a não ser, é claro, a gaivota. Nathan é hilário, rouba a cena do protagonista, é responsável pela salvação coletiva e, acima de tudo, é estranhamente fofo. O pássaro falante foi a melhor criação de Jan Balej, que idealizou o filme ao lado de Michal Bures. 

O diretor, no entanto, perdeu a mão nas reviravoltas e nos seus vilões, que só não cansam mais do que os mocinhos. Os artistas do circo, que poderiam ainda dar um gás na narrativa, só são lembrados no começo e no final dos (longos) 70 minutos da produção tcheca, que não consegue se manter com as poucas qualidades – como se Balej e Bures tivessem idealizado uma base sólida e promissora e se perdido no meio do caminho para fechar todas as suas pontinhas e motivações. O jeito agora é esperar por uma fancam no Twitter com os melhores momentos de Nathan. – Caroline Campos


A imagem retangular é uma cena da animação Frank e Zed. Os dois personagens são bonecos de fantoche feitos de uma material similar ao pano. Centralizado à esquerda vemos Frank, um personagem semelhante a um Frankenstein, com diversas partes do corpo de diversos outros corpos diferentes costurados. Ele possui um olho esquerdo maior e de cor castanho claro e um olho direito menor de cor azul, além do cérebro que fica por baixo de uma cúpula de vidro. Ele usa uma roupa toda costurada com panos de cores, texturas e padrões diferentes, enquanto segura um machado em uma mão e a cabeça sangrenta de um fantoche na outra. Centralizado à direita vemos Zed, um zumbi despedaçado. Ele possui pele bege e enrugada, olhos claros quase brancos, dentes podres e uma língua roxa. Ele segura outra cabeça sangrenta de fantoche em suas mãos. Ao fundo vemos uma sala de castelo com tijolos de pedra bem escuros.
Alimentos se tornam miolos e entranhas na animação Frank e Zed (Foto: Jesse Blanchard)

Frank e Zed (Frank & Zed, Jesse Blanchard, EUA, 2020)

Já ouvimos esse roteiro diversas vezes: em um reino fantástico, um líder faz um pacto para destruir as poderosas forças do mal; anos depois, as consequências chegam para um povo que nunca teve nada a ver com isso. Mas, quando tratamos de Frank e Zed, dirigido e roteirizado por Jesse Blanchard, certamente não podemos usar a palavra clichê para descrevê-lo. Principalmente quando nossos pequenos heróis e monstruosos vilões são bonequinhos de fantoche, o que não tira nem um pouco o aspecto sangrento e crítico do filme, muito pelo contrário, essa escolha possibilita uma abordagem cômica e inteligente para esses dois nichos que não parecem se bater.

O longa consegue inverter os papéis de admirações de personagens, já que é impossível gostar mais dos humanos no poder do que nosso pequeno Frankenstein e estúpido zumbi. Os mais de 6 anos de gravação geraram um fruto extraordinário, e podemos ver isso em meio às batalhas perfeitamente coreografadas, as mordiscadas de Zed e o andar manco de Frank. O final triste da nossa dupla perfeita só faz com que queiramos um cérebro em outra tigela de vidro ao invés do chão do castelo assombrado.- Vitor Tenca


Especiais
Cena do filme Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado. Nela, vemos a gravação caseira de um assassinato Na frente, está uma mulher branca de blusa rosa, e atrás dela, empunhando uma faca, alguém com a roupa do assassino de Pânico, de capa preta e máscara branca com detalhes nos olhos e boca em preto.
Spoiler: Geison é o assassino (Foto: Felipe M. Guerra)

Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado (Felipe M. Guerra, Brasil, 2001)

Sim, o título é desse tamanho mesmo. E é perfeito para a criação de Felipe M. Guerra, que, com muita criatividade e talento, fez uma peça singular do cinema de terror brasileiro lá em Carlos Barbosa, cidade na serra gaúcha. Com a participação de amigos e familiares do diretor, Entrei em Pânico… foi disponibilizado sem restrições pela primeira vez ao público no Fantaspoa XVII, em uma versão reeditada com o nome de Redux. Não há nada que não seja incrível no longa, desde as legendas que tentam traduzir um pouco do gauchês até o próprio sotaque dos atores, que complementam a divertida aura de paródia daqueles clássicos slasher que Guerra é muito fã. 

A história se inicia no dia da festa de formatura dos personagens, que decidem ter um esquenta lá na casa de Goti. A partir daí, um por um, os adolescentes vão morrendo. Parece o plot de qualquer terror de assassino dos anos 2000, mas a irreverência do diretor, que incentiva a produção dos próprios filmes, é a força-motriz de todo o desenvolvimento, que possui um charme único e indescritível. Entrei em Pânico… deixa claro que Cinema também se faz em casa, sem precisar de tanto fru-fru para ser único e deixar sua marca. – Caroline Campos


Curtas

Curtas-Metragens Internacionais – Animação
Cena da animação Maestro. Nela, um passáro de penagem azul e branca com as asas e o bico abertos. Ele está em cima de um galho fino. Atrás, o céu azul estampa uma grande lua cheia.
Cantoria de animais nunca pode dar errado (Foto: Illog!c)

Maestro (França, 2019)

Com uma execução saída diretamente de uma propaganda para carros, Maestro é uma pecinha de menos de dois minutos em que um esquilo comanda uma ópera selvagem no meio da floresta. A produção francesa se destaca pela condução sonora de Jérôme Navarro e pela fofura extrema – animais cantando, fala sério! A animação de 2019 inclui sapos, tartarugas, porcos-espinho e pássaros, com os traços puxados para o realismo e uma cômica sinfonia noturna. A direção é creditada como Illog!c (uma fuçadinha no IMDB revela alguns nomes) e a duração curtíssima releva qualquer defeito que o curta possa ter. Mesmo assim, a sensação de que algo como Volkswagen vá surgir após o fim da cantoria é inevitável. – Caroline Campos


Cena da animação Carried Away. Dois homens estão de pé, da cintura para cima. Eles são gêmeos. À esquerda, um deles usa um paletó marrom e uma blusa branca de gola alta. No seu rosto, tem óculos escuros. Ele apaga um cigarro em um cinzeiro ao seu lado, com a fumaça subindo ao seu rosto. À direita, o outro homem usa um suéter vinho de mangas compridas e calça jeans. Ele segura um pirulito rosa na mão direita. Atrás de ambos, está o cenário de um trailer.
Retratar gêmeos como opostos já virou até clichê (Foto: Etienne Fagnère, Manon Carrier, Johan Cayrol, Alo Trusz e Jean-Baptiste Escary)

Carried Away (França, 2020)

Conflitos familiares podem ser ótimas dramédias. Quando Mamãe se vai, seus filhos gêmeos, que não poderiam ser mais diferentes, recebem a última missão: enterrar seu cadáver juntos. Em 5 minutos, tão divertidos que passam como 5 segundos, o curta dirigido pela trupe Etienne Fagnère, Manon Carrier, Johan Cayrol, Alo Trusz e Jean-Baptiste Escary beira o clichê, mas não a ponto de enjoar. Com ótimos gráficos e cenários especialmente detalhados, a produção debocha de seus personagens em meio a gafes pontuais e com direito a um corpo voador e sorridente. Entre cigarros e pirulitos, Carried Away é singular. – Caroline Campos


Cena da animação Friend of a Friend. Vemos, de cima, um grupo de adolescentes sentados em roda com uma garrafa no centro. As cores predominantes na=o desenho são o roxo, o azul e o verde-água em estilo neon.
A dupla que a garrafa escolher não importa… (Foto: Zachary Zezima)

Friend of a Friend (França, 2020)

Quando pensamos em Friend of a Friend, o termo que nos vêm à cabeça é plot twist. O curta francês, dirigido por Zachary Zezima, logo de cara nos apresenta um conceito um pouco diferente do comum, quando o personagem amarrado no porão é o agressor ao invés da vítima. Ao mesmo tempo, vemos outra inversão de narrativa enquanto observa-se a mudança de posições entre esses dois, ou seja, agora a vítima exerce o outro papel e vice-versa. Outro fator importantíssimo dos 14 minutos de tela se dá pela experiência que o personagem principal passa a viver: o descobrimento da atração por pessoas do mesmo sexo, mesmo em meio a uma relação heterossexual já existente, o que traduz um certo medo e receio de reconhecer essa emoção. Um ponto interessante, agora no quesito de desenvolvimento visual, se dá pela criação de expressões, atos e movimentações que condizem de uma forma certeira com os áudios gravados de cada personagem. Vitor Tenca


Cena da animação The Wedding Cake. Os personagens são todos bonequinhos de plástico. No centro, há uma mulher deitada em uma cama verde e azul. Ela é loira e está nua. Ao redor dela, vários bonecos pretos estão de pé na direção da cama.
The Wedding Cake é dedicado as causas de combate à prostituição (Foto: Monica Mazzitelli)

The Wedding Cake (Suécia, 2020)

Se engana quem pensa que a utilização de bonequinhos em The Wedding Cake tenta aliviar um pouco o impacto da história. A produção sueca da diretora Monica Mazzitelli é triste e dolorosa, acompanhando uma jovem que, depois de se casar subitamente, precisa quitar todas as dívidas do seu marido, que resolveu desaparecer, com o governo. Sem saída, acaba se entregando a um cafetão e traficada por 5 anos, enquanto seus filhos ficam sob os cuidados dos avós. A narração de Astrid Hallén é crua, e o jogo de fotografias dos personagens de Mazzitelli dá uma sensação episódica para a história – mesmo assim, a continuidade dos acontecimentos provoca o desespero no espectador, especialmente pelo jeito que a diretora exemplifica o abuso sexual. E, depois, estava livre. Quebrada, mas livre. – Caroline Campos


Cena da animação O Black Hole. Com personagens de massinha, vemos uma bonequinha branca com cabelos compridos. Ela está de costas e olha para grandes bonecos em formatos de minhocas. Eles variam entre azul, amarelo, laranja e vermelho.
Planetas se tornaram minhocas amarradas no buraco negro (Foto: Renee Zhan)

O Black Hole! (Reino Unido, 2020)

O Black Hole! é um deleite visual. O curta-metragem de Renee Zhan é uma das peças mais belas do Fantaspoa XVII, em que uma mulher, incapaz de se despedir das pessoas ao seu redor e sobreviver a passagem do tempo, passa a engolir tudo que possui vida dentro do próprio buraco negro que se torna. Quando enfim a Singularidade desperta no centro daquela escuridão, depois de mil anos, ela assume a função de desmembrar de dentro para fora o tormento de todos os engolidos. A contraposição de técnicas no interior e no exterior da narrativa torna tudo ainda mais interessante, mesclando pinceladas bagunçadas e coloridas com a massinha crua do stop-motion. Zhan, que assina o roteiro ao lado de Vanessa Rose, ainda se diverte com canções dialogadas entre seus personagens, utilizando metáforas para discutir o sagrado feminino, a inevitabilidade da morte e o modo com que lidamos com a perda de entes queridos. Extraordinário. – Caroline Campos


Cena da animação Stranded. Um personagem branco, de barba e cabelos castanhos está de perfil, olhando para a esquerda. Sua mão está esticada, tentando alcançar algo no fundo preto. Ele usa uma roupa de peles marrom.
Os visuais são o ponto alto do curta (Foto: Alvin Arevalo-Zamora, Alwin Durez, Quentin Garaud, Maxime Salvatore, Florent Sanglard, Thomas Spony-Ipiens e Alex Tregouet)

Stranded (França, 2020)

Caos, desespero, correria e, em cima de tudo isso, uma fissura cósmica. O francês Stranded é dirigido por Alvin Arevalo-Zamora, Alwin Durez, Quentin Garaud, Maxime Salvatore, Florent Sanglard, Thomas Spony-Ipiens e Alex Tregouet. Esse tanto de nomes para um filme de 7 minutos pode assustar, mas isso se justifica logo que clicamos em assistir. Visualmente, o filme é impecável, com seus gráficos realistas e bem trabalhados. Quando paramos pra pensar na narrativa, porém, as escolhas não parecem ter muita conexão ou rumo, mas ao fim tudo se explica: nosso caçador não passa de um bonequinho dentro de seu globo de neve em uma loja. – Vitor Tenca


Cena da animação Genius Loci. À direita, vemos um mulher em chamas segurando um saco de frutas nas mãos. À esquerda, uma mulher negra de cabelos loiros rentes a cabeça olha em frente. Ela usa regata verde e brincos de argola.
Genius Loci já passou aqui pelo Persona na cobertura do Oscar (Foto: Adrien Merigeau)

Genius Loci (França, 2020)

E no meio da seleção do Fantaspoa XVII, encontramos um indicado ao Oscar 2021. Genius Loci, que concorre na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação ao lado de Toca e Opera, é uma produção caótica com belíssimos e bagunçados traços coloridos. Dirigido por Adrien Merigeau, a busca de Reine por um espírito-guia a faz se afastar e aproximar das diversas figuras que cruzam seu caminho no céu noturno. Em meio a figuras cubistas e abstratas, Merigeau desenvolve um novo e próprio olhar acerca da arte contemporânea, ressignificando sua narrativa simples para uma tentativa de auto entendimento. Os diálogos são escassos, porém potentes dentro dos 16 minutos movimentados e chapados de ácido da produção francesa. – Caroline Campos


Cena da animação Thorugh My Eyes. Vemos um casal sentados a uma mesa de jantar. À direita, o homem é branco, de cabelos curtos e pretos e usa blusa branca e calça cinza. Ele está com a mão direita esticada em direção a mulher. Ela, por sua vez, está a esquerda, olhando em direção ao homem com a cabeça apoiada nas mãos. Ela usa um vestido amarelo e possui cabelos castanhos.
Through My Eyes é uma ode ao amor (Foto: Ilona Quenea, Celeste Devisme, Aude Portales, Emerantiane Bouillon e Naomie Gastel)

Through My Eyes (França, 2020)

A produção francesa de curtas veio a todo vapor no Fantaspoa XVII, e Through My Eyes não escapa da lista. Uma história de amor de apenas 4 minutos, a obra é reconfortante e emocionante na medida certa. Keith e Millie se conhecem, se apaixonam e passam a conviver em um relacionamento perfeitamente acolhedor. Keith possui marcas na sua bochecha e acredita que isso o torna desprezível, recebendo todo o apoio de sua parceira para se aceitar do jeito que é. O motor do curta, no entanto, é o fato de Millie também adoecer e se afundar na monstruosidade de sua enfermidade – a mulher não suporta o contato do marido. Com uma boa e velha conclusão romântica, os traços dirigidos por Ilona Quenea, Celeste Devisme, Aude Portales, Emerantiane Bouillon e Naomie Gastel se entrelaçam na eternidade dos minutos não mostrados em tela. – Caroline Campos


Cena da animação 100,000 Acres of Pine. Nela, um homem está ao centro, bem pro fundo. Ele está de costas e usa calça cinza e blusa branca. Ele olha em direção a floresta, que cobre todo o resto da imagem com suas árvores.
Se for sair na floresta, leve sempre um mapa e uma lanterna (Foto: Jennifer Alice Wright)

100,000 Acres of Pine (Dinamarca, 2020)

Desde o início, é perceptível que 100,000 Acres of Pine não tem o intuito de ser um filme bonitinho. O curta dinamarquês, dirigido por Jennifer Alice Wright, tem 7 minutos de uma animação incorporada no seu estilo A Fuga das Galinhas, mas com uma mensagem muito mais pesada e aterrorizante. Uma guarda ambiental lida com a perda de um colega de trabalho e irmão em meio às florestas que conhecem de cabo a rabo, diante disso vemos a desconfiança e descrença do ocorrido. A fita de Patel nos avisa do perigo e do vício de voltar as matas que querem matar, e assim terminamos o filme do mesmo jeito que começamos, em looping. – Vitor Tenca


Cena da animação Rutina - La Prohibición. Vemos duas criaturas amarelas e com verrugas, uma olhando para outra. A da direita segura um cilindo de oxigênio e está com o rosto enfaixado. Ela possui uma grande corcova com parafusos. A da esquerda é mais fina, com mãos compridas. Ela usa um aparelho enferrujado na cabeça, com um fio que o prende.
Proibido respirar! (Foto: Sam Orti)

Rutina – La Prohibición (Espanha, 2020)

Digamos que Rutina – La Prohibición não tenha nem pé nem cabeça. Isso é um defeito? Não necessariamente. O ponto alto do curta espanhol é definitivamente a escolha de seus traços. Os bonecos são hilariamente detalhados e sugam toda a atenção do espectador com suas comorbidades e aparelhos de respiração. Respirar, inclusive, parece ser o problema – o governo proíbe o oxigênio entre a população e, se você não concordar, fique à vontade para virar poeira. As motivações, no entanto, ficam meio embaçadas, principalmente pelo fato dos personagens se comunicarem com grunhidos. No fim, não importa. Através de suas cenas, Sam Orti consegue passar sua mensagem esquisita com personagens mais esquisitos ainda. E se torna ótimo de assistir. – Caroline Campos


Cena da animação El Hombre que Nunca Vio Llover. Um idoso está sentado de perfil, olhando para a esquerda. Ele possui um nariz grande, usa óculos pretos, é branco e possui bigode e cabelos grisalhos. A sua frente, há uma janela com luz do sol entrando. No batente, uma flor branca está em um vaso.
O mundo é feito de pequenas obsessões (Foto: Miguel Muñoz)

El Hombre que Nunca Vio Llover (Espanha, 2020)

Uma frase foi escolhida para a sinopse do curta espanhol de 2 minutos: e se você nunca viu chover? A premissa básica é engolida pelo carisma e fofura da animação dirigida por Miguel Muñoz, em que um senhor narra sua própria história de quando se deu conta de que nunca havia visto chover. A partir daí, ele passa a aguardar todos os dias em sua janela, acumula guarda-chuvas e começa a fazer terapia. Seu psicólogo sugere o uso das sombrinhas no chuveiro, mas nada alivia o pobre homem – até que a chuva passa a persegui-lo em todos os lugares. Quando enfim a obsessão deixa de o atormentar, a parte dois: e se você nunca viu nevar? Lá vamos nós de novo. – Caroline Campos


Curtas-Metragens Nacionais
Cena do curta Nervo. Nela, vemos uma geladeira amarela trancafiada. O cenário da cozinha é de sujeira extrema.
É fácil suspeitar do que há na geladeira (Foto: Pedro Jorge)

Nervo (2019)

É incrível ver a forma como um filme consegue fazer o telespectador sentir repulsa de uma geladeira! O curta brasileiro dirigido por Pedro Jorge e Sabrina Maróstica retrata, de uma forma não usual, o desenrolar do brasileiro de bem – o bêbado agressivo com a mulher. Com uma estética suja e linguagem violenta, nos deparamos com o sangue pintando os azulejos ou como um novo esmalte nas mãos das cozinheiras, logo depois das facadas silenciarem os problemas. No fim, a grande dúvida recebe sua resposta: o que há dentro da geladeira? – Vitor Tenca


Cena do curta It’s a Match. Nela, vemos uma mulher ruiva na rua e, ao fundo, seu perseguidor, todo de preto. Está de noite.
It’s a Match é uma clara referência ao ditado do “lobo em pele de cordeiro” (Foto: Sérgio Ortencio)

It’s a Match (2019)

É óbvio que a geração Tinder ia dar um jeito de utilizar o aplicativo de todas as formas. No curta de Sérgio Ortencio, nossa mocinha está esperando pelo seu match quando, de repente, ele passa a segui-la. Sim, as coisas acontecem com essa esquisitice. Os 4 minutos da obra brasileira abrangem a perseguição mais engraçada do que assustadora de um cara barbudo que sofre os efeitos da lua cheia. Não há nada de surpreendente nem singular, mas o aspecto trash da produção de Ortencio deixa tudo mais divertido de assistir. – Caroline Campos


Cena da animação Missão Berço Esplêndido. Uma mulher está no centro da imagem, do busto para cima. Ela possui um queixo pontudo e grandes olhos esbugalhados. Seu cabelo é grande e crespo. Uma viseira redonda está na sua cabeça.
A animação nacional é criativa e crítica (Foto: Joel Caetano)

Missão Berço Esplêndido (2020)

Muito já se falou da possibilidade de voltar no tempo para matar Hitler ou qualquer assassino em massa quando ainda era um bebezinho. Joel Caetano e seus bonequinhos rústicos aceitaram a missão. No curta, o futuro é comandado por uma cabeça em conserva que administra um governo totalitário e violento, enquanto uma rebelde em específico se planeja para viajar no tempo e acabar com o problema pela raiz. A tensão aumenta quando, enfim, ela aponta a arma para aquele nenê chorando no berço – e bum. Nem tudo é o que parece, e nossa protagonista encontra uma solução muito mais útil para seu futuro ditadorzinho. Os quatro minutinhos da produção nos embalam de cara e nunca deixam o interesse cessar, o que resulta em uma obra divertida e crítica com técnicas encantadoras. – Caroline Campos


Cena da animação Magnética. Vemos vários personagens reunidos ao redor de um homem com cabelos brancos e pintura no rosto. Ele usa uma bandana roxa, gravata e colete marrom. Da esquerda para direita, há: um lobo de pelagem cinza e em pé; uma mulher de cabelos rosas; um homem de blusa e óculos pretos; uma mulher com maquiagem pesada, vestido branco e cabelos castanhos; uma boneca com máscara de monstro e rabo de cabelo e um homem de bigodes pretos e touca azul.
Os hologramas bizarros são o grande mistério da produção (Foto: Marco Arruda)

Magnética (2020)

Se pudermos atribuir uma única palavra para Magnética, essa com certeza seria psicodelia, seja lá a forma como você queira interpretá-la. O curta brasileiro de 16 minutos, dirigido por Marco Arruda, pode ser visto como uma grande alegoria ao uso das drogas mais diversas possíveis. Achamos essa correlação em diversos dos aspectos do filme, seja  pelas cores vibrantes que rondam pelas telas do início ao fim, ou mesmo nas percepções que a animação nos proporciona, quando vemos lobisomens de terno até bebês com cara de monstro. Talvez a grande metáfora da substância que materializa isso é encontrada em meio aos hologramas, visto que de lá que são despertadas as mais diferentes emoções possíveis – medo, amor, violência, submissão, vício, loucura. No fim, o locutor nos joga uma verdade irrefutável sobre o causador dessas sensações: qualidade, qualidade, qualidade. Vitor Tenca


Cena do curta Acorde. Nela, vemos um garotinho dormindo de lado. Ele é branco, usa camisa cinza e deita num travesseiro amarelo, coberto por uma manta branca. Ao fundo, vemos uma parede amarela e uma planta.
Do que você tem medo quando vai dormir? (Foto: Tiago Teixeira)

Acorde (2020)

1 minuto. É o tempo que Tiago Teixeira precisa para fazer um paralelo assustador a respeito do verdadeiro monstro debaixo da cama. Não há muito o que se falar, e qualquer menção pode causar um spoiler extremamente necessário para o impacto de Acorde. Mas, entendendo a situação social do Brasil, a surpresa, infelizmente, dura poucos segundos. Bem que gostaríamos de continuar dormindo. – Caroline Campos


Cena do curta Fantasma Magnético. Em preto-e-branco, vemos uma mulher montada em cima de um corpo desacordado. Ela olha atentamente para a cabeça do corpo.
Os oito minutos mais parecem oito horas (Foto: Rafael Van Hayden)

Fantasma Magnético (2020)

O curta dirigido por Rafael Van Hayden mais promete do que cumpre. Apesar da ótima edição sonora, instigante com seus ecos bem encaixados em cada cena, a produção brasileira se perde na própria lógica e não interessa em quase nenhum aspecto. Os pesadelos violentos da personagem confundem e deixam a trama enfadonha, o que torna os oito minutos da obra muito mais longos do que deveriam ser. Mesmo a combinação de efeitos neon e psicodelia visual soa prepotente em cima da falta de acontecimentos minimamente atrativos. – Caroline Campos


Curtas-Metragens Internacionais – Live-Action
Cena do curta Horrorscope. Nela, vemos uma mulher branca se olhando no espelho e cutucando o dente.
Efeitos colaterais incluem: barulhos estranhos, dentes caindo e alucinações (Foto: Pol Diggler)

Horrorscope (Espanha, 2019)

Horrorscope é um grande trailer. Os 5 minutos da produção espanhola são montados em um estilo clássico de pequenas cenas intercaladas que as previews dos filmes costumam soltar. Mas é isso mesmo que ele tem de legal. Uma garota é possuída por um espírito e passa a ter comportamentos estranhos, fazendo com que seu médico, também crítico de cinema, claro, a diagnostique com Filme de Horror Traileritis. As situações paródicas são hilárias e muito verdadeiras para os fãs de terror que não aguentam mais os clichês. A sacada de Pol Diggler, que atrai pela sinopse nada reveladora, é fingir o susto para garantir o riso – e ele vem em doses intensas. – Caroline Campos


Cena do curta El Campo Sangriento. Nela, vemos Lidia, chilena de cabelo preto e blusa branca, assustada olhando o marido, que está sentado na poltrona.
Lídia bem que poderia usar da ajuda de Annalise Keating (Foto: Vicente Campos Yanine)

El Campo Sangriento (Chile, 2019)

Existe uma familiaridade na ambientação do chileno El Campo Sangriento. A cozinha clara de chão branco, os potes de arroz no armário e a televisão da Philips próxima à geladeira ajudam a construir um senso de conforto na residência de Lídia e seu porco marido. O diretor Vicente Campos Yanine quer discutir machismo, gordofobia e libertação, e involuntariamente o faz com toques de humor, ácido e bem-vindo. A atriz Andrea Munizaga usa muito seus olhos para empatizar com o público, fazendo-nos torcer por sua emancipação. Até mesmo a mini sequência de ‘Como Esquartejar o seu Marido’ funciona no tom geral, visto a gratificação sentida na morte do personagem de Guilherme Sepúlveda. Tudo pode dar errado nesse crime, mas estamos ao lado de Lídia não importa quais sejam as consequências. – Vitor Evangelista


Cena do curta Pardonne Ton Père. Nela, vemos um vulto de costas, e atrás dele, está uma persiana que convida a luz do dia para entrar no ambiente.
O aspecto do pai varia entre uma massona de chiclete e um mofo gigante (Foto: Moisés Velásquez)

Pardonne Ton Père (Canadá, 2020)

Franz Kafka definitivamente aprovaria esse filme. O diretor Moisés Velásquez explora o corpo de um pai de família passando por uma metamorfose grotesca. A ótica do filme provém da experiência da filha, mostrando a ingenuidade que habita a cabeça das crianças, já que ela ama o pai, independente de sua nova aparência monstruosa. E conforme o tempo passa, as demandas são maiores. O novo corpo – que se assemelha a um grande fungo – necessita cada vez mais de fontes de alimento: primeiro um prato de comida, depois um cachorro, por que talvez não chamar os vizinhos para jantar? Mas, no fim das contas tudo não passa de um mero incômodo, desculpe o papai. – Vitor Tenca


Cena do curta Dar-Dar. Em preto-e-branco, vemos uma mulher com uma arma, protegendo uma criança, agarrada às costas dela. Ao fundo, vemos folhas de árvores
O papel de mãe e responsável é subvertido em Dar-Dar (Foto: Paul Urkijo Alijo)

Dar-Dar (Espanha, 2020)

Dar, dar, dar, seus dedos para jantar. É assim que a entidade basca surge – exigindo dedos de criancinhas. Filmado em preto e branco e com diálogos exibidos em letreiros da época do cinema mudo, o curta dirigido por Paul Urkijo Alijo é capaz de aterrorizar crianças e adultos pela sua sequência de acontecimentos. O demônio, com uma mordiscada em cada dedo, faz com que a inocente criança fique com as mãos esqueléticas. Se recusar, com a alma irá pagar, cantarola a criatura que ganha poucos focos na aparência, mantendo uma aura de mistério macabro pela mente perturbada de Alijo. Até a relação mãe e filha, violenta e sem amor, contribui para a obra ser melancólica, triste e medonha, mas muitíssimo atraente para os verdadeiros fãs do horror. – Caroline Campos


Cena do curta Nanny Cam. Vemos uma bebê com chupeta rosa e casaco rosa olhando para a esquerda. Ela tem cabelo curto e enrolado.
Que mal um nenê pode fazer? (Foto: Hope Olaidé Wilson)

Nanny Cam (EUA, 2020)

Não são muitas maneiras que um filme possa se destacar com apenas 9 minutos de duração, mas Nanny Cam faz isso num piscar de olhos. O curta, dirigido por Hope Olaidé Wilson, parece ser uma história comum e moralista, “os tempos mudaram e os jovens não saem da frente da tela de seus respectivos celulares”, mas o nervosismo e tensão escalam de maneira exponencial. Uma mãe que atende a uma entrevista de emprego observa a filha à distância, quando de repente percebe que o bebê está em perigo e longe de sua babá. Ao chegar em casa e à sua filha, o plot twist é instaurado: a babá morta é apenas mais uma vítima da então inocente criança. Haja trabalho para essa mãe desempregada. – Vitor Tenca


Foto do curta A Dinner Party. Nela, vemos três pessoas jantando à mesa. Os dois são jovens, tem pele branca leitosa e maquiagem sebosa. Todos os apetrechos da mesa são brancos, assim como a comida servida.
Se a refeição for essa da foto, é melhor continuar na greve de fome (Foto: Michèle Kaye)

A Dinner Party (Canadá, 2019)

A Dinner Party se estende por pouco menos de vinte minutos numa realidade áspera, soturna e degradante. Na trama canadense, uma jovem recebe três lunáticos, pálidos e esfomeados amigos para jantar. O cenário, aparentemente, é pós-apocalíptico, mas o trabalho de Michèle Kaye não se contenta em compartilhar o mínimo de histórico ou contexto. Por conta disso, essa queda brusca no casebre morto e gororoba azeda, o curta-metragem não se estica o suficiente para se conectar com quem assiste. Os minutos finais, fora da cabana, oferecem mais emoção que a jornada enclausurada lá. – Vitor Evangelista


Cena do curta A Tale Best Forgotten. De cabeça-para-baixo, vemos uma mulher loira, olhando para baixo, ela usa roupa azul.
A cinematografia embaçada e vertical é o diferencial da obra sueca (Foto: Tomas Stark)

A Tale Best Forgotten (Suécia, 2019)

Tomas Stark faz questão de eternizar o conto que deveria ser esquecido. Em 5 minutos, somos apresentados a A Tale Best Forgotten, baseado na cantiga de Helem Adam, uma história diferente de uma maneira inusitada. O fator inusitado vem do jogo de câmeras: só existe uma movimentação vertical, nenhum centímetro a mais ou a menos na horizontal, o que garante um charme incontestável para uma história sinistra. Enquanto isso, ouvimos a voz macabra cantar sobre a menina assassina, uma corrente de sangue rio abaixo e o homem da cabeça de cachorro, uma menção honrosa ao deus Anúbis. Uma pena as letras do canto não serem ainda maiores. – Vitor Tenca


Cena do curta Dystopia. Vemos, de baixo para cima, 4 mulheres encarando a câmera, elas se vestem de forma colorida e extravagante.
Roupas coloridas e muito sangue (Foto: Laura Ugolini)

Dystopia (Noruega, 2020)

A capacidade criativa de realizadores de curtas-metragens é indiscutivelmente impressionante. O norueguês Dystopia, que conta com singelos 7 minutos, é um exemplo ácido e divertido do que é preciso para se destacar no meio de um mar de obras singulares. As quatro atrizes principais, crias certeiras do horror de Mary Shelley, vivem num mundo de pessoas-manequins capazes de se costurar e colar da maneira que desejarem, aniquilando qualquer um que possua um membro interessante e atrativo. Mesmo a pequena crítica ao mundo virtual e seus padrões estéticos (sim, aqueles filtros horrendos do Instagram), utilizando uma criança blogueira, é precisa nas mãos de Laura Ugolini. Dystopia tem o aroma estético de Bela Vingança, Sucker Punch e uma pitada de Aves de Rapina – como não gostar? – Caroline Campos


Cena do curta À L'ombre D'un Homme. Nele, vemos um homem jantando com a própria sombra. Ele usa boina bege e camisa branca, e está sentado ao lado direito da mesa de madeira, e sua sombra está do outro.
Liberdade ou solidão? (Foto: Mor Lankri)

À L’ombre D’un Homme (Israel, 2021) 

A direção esquemática de Mor Lankri coloca À L’ombre D’un Homme em um aspecto de fábula. A vida de Eugène se assemelha muito aos ditados populares que crescem ao pé do ouvido na infância. Sem paciência para viver com outras pessoas, o esquelético homem, interpretado pelo sensorial Pascal Bulot, é precavido em tudo que pode. Ele tem os chinelos ao pé da cama e até um balde na cabeça, caso a bendita goteira teime a pingar. Um dia, o homem se vê acompanhado por sua sombra, que usa da fisicalidade de Yann Safran para se tornar crível. Homem e sombra, lado a lado, vivem em harmonia. Até que tudo dá errado. Em onze envolventes minutos, atiçados pela voz eriçada do narrador Julien Colombet, o curta israelense debate solidão, amor próprio e repete a máxima do Peter Pan: nunca confie em ninguém, nem na sua própria sombra! – Vitor Evangelista


Cena do curta Oculto. Dentro de um elevador, vemos 3 pessoas. Uma mulher de azul, luvas azuis e cabelo preto, uma loira com terninho social e um homem de boné, olhando seu celular. A imagem tem um filtro avermelhado.
Ficamos desconfortáveis no elevador do curta espanhol (Foto: Imanol Ortiz López)

Oculto (Espanha, 2020)

Um filme fraco com boas intenções – assim podemos definir Oculto, dirigido por Imanol Ortiz López. O curta se passa quase todo dentro de um elevador, o que seria tempo  o suficiente se a hesitação não fosse tão longa. Cada personagem é atarefado com o assassinato de outro para cumprir sua tarefa e salvar um ente querido, no entanto, o motivo não convence. É impossível não identificar nesse filme um conceito mal trabalhado da categoria Jogos Mortais. – Vitor Tenca


Cena do curta #MeowToo. Nela, vemos uma cena grotesca, de uma mulher usando uma máscara realista de gato, suas feições são medonhas, e a iluminação em foco deixa tudo mais estranho. Ao fundo, está uma cortina alaranjada.
Miau? (Foto: Ryan Kruger)

#MeowToo (África do Sul, 2021)

Poucos filmes causam ojeriza como #MeowToo. É claro que esse é o objetivo primário da obra de Ryan Kruger, que usa o movimento Me Too como trocadilho no título e na história da gatuna no bar. As máscaras felinas, grotescas de maneira proposital, destroçam qualquer senso de irreal que a produção sul-africana propõe, narrando um encontro noturno entre essa tal mulher-gato, papel de Suraya Santos, e seu predador, o asqueroso humano Alan Wine (Alex Anlos). Sem diálogos e cheio de batidas punk, luzes piscam por seis minutos, a trilha agride e as unhas dela, também. É quase um clipe de metal sem os vocais. É perturbador, arriscado e inesquecível. – Vitor Evangelista

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