The Owl House escancara o dilema da representatividade LGBTQIA+ na Disney

Cena da série The Owl House. Amity, adolescente de cabelo lilás e curto, beija a boca de Luz, adolescente de cabelo castanho e curto. Luz está com seus olhos abertos e apresenta expressão de surpresa. Amity veste um vestido preto e calça vinho. Luz veste uma jaqueta marrom e bege e uma calça bege e tem uma mochila azul nas costas. Ao fundo vemos uma porta de sacada rodeada por galhos verdes e flores rosas.
The Owl House segue padrões bastante similares a Gravity Falls em sua construção e estética (Foto: Disney)

Marina Llata

The Owl House (A Casa Coruja) é uma série animada criada por Dana Terrace. Lançada em janeiro de 2020, acompanha a trajetória de Luz Noceda (Sarah-Nicole Robles), uma adolescente que tem dificuldade de se encaixar e fazer amigos e, ao encontrar um portal para as Ilhas Escaldadas, localizadas em uma dimensão habitada por bruxas e demônios, escolhe passar um tempo nesse mundo fantástico ao invés de ir ao Acampamento de Realidade no verão. Lá, ela encontra Eda (Wendie Malick), uma bruxa rebelde, e seu amigo King (Alex Hirsch), um demônio muito fofo, sendo acolhida pelos dois e se tornando aprendiz de Eda. 

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Vitorianas Macabras: histórias de medo sempre foram coisa de mulher

A imagem é uma colagem de imagens em preto e branco contornadas por rosa, em frente a um fundo preto. A foto da esquerda é uma mulher branca, aparentando cerca de 50 anos, vestindo um casaco. A foto do meio é uma mulher branca, aparentando cerca de 50 anos, usando uma coroa de rainha, jóias no pescoço e um traje de rainha. A foto da direita é uma mulher branca, de cerca de 30 anos, vestindo um vestido de manga longa preto, e com uma coruja branca apoiada sob seu ombro esquerdo.
Vitorianas Macabras foi publicado pela Darkside Books em 2020, e é o primeiro de três livros do selo Macabra (Arte: Ana Clara Abbate)

Vitória Lopes Gomez

Se ser mulher na era Vitoriana já era uma tarefa difícil, tornava-se ainda mais penosa para as que desafiavam o status quo. Um dos traços marcantes do período vitoriano é a luta pela emancipação das mulheres e pelo voto feminino”. É assim que Vitorianas Macabras, coletânea de contos de autoras de suspense e terror da era vitoriana, lembra de suas inspirações. Em uma época marcada pelo fantasmagórico e pelo mórbido, pela precariedade da qualidade de vida e por uma predileção pelo macabro, as escritoras representaram o “entusiasmo pelo progresso”, com contribuições marcantes para a época, desde a literatura até a luta pela emancipação feminina, inclusive com o movimento sufragista.

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Calambre sonoriza a revolução que Nathy Peluso incorpora

Capa do álbum Calambre. Nathy Peluso, uma mulher branca de cabelos castanhos e longos, está centralizada na imagem. Ela salta em posição de espacate enquanto segura, com os dois braços acima de sua cabeça, um fio branco com tomada em uma das extremidades. Nathy ainda veste bandagens em várias partes do corpo. Ao fundo, uma parede branca com a sombra da cantora.
“Sou eu quem pega o plugue e causa o choque – de paixão, alegria, o que quer que seja. Quero agitar a coragem das pessoas de tal forma que elas não consigam se conter” (Foto: JP Bonino)

Vitória Vulcano

Inúmeros são os prismas musicais de origem latina que despontam na indústria atual. A efervescência emergida de tantos ritmos vira elixir não somente rompendo com a hegemonia maçante da língua inglesa nos centros de visibilidade, como também investindo em criar, revisitar e renovar leituras artísticas. No entanto, mesmo ascendida nesse cenário difusor de novidades, Nathy Peluso surpreende no mínimo e no estrondoso desde o início de sua carreira. 

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A esperança é o antídoto para o vício em Four Good Days

Cena do filme Four Good Days. Na imagem, vemos uma mulher de meia idade à esquerda; de cabelos loiros com franja, lisos e curtos; e pele clara. Ela está usando uma camisa de mangas longas, estampada de marrom e amarelo, uma calça bege, e está com os braços cruzados. Ela está sentada em uma cadeira verde escura estofada, com as pernas cruzadas, com uma expressão de preocupação, olhando para a moça que está sentada ao seu lado direito. Ao lado dela, à direita, está uma mulher jovem. Ela tem cabelos compridos, loiros, lisos e soltos. Ela está usando uma camisa xadrez cinza de mangas longas, com outra camiseta cinza por baixo, e calça preta; está olhando séria para a senhora que está sentada à sua esquerda, com as mãos fechadas sobre as pernas. Atrás delas há uma parede azul clara, com um quadro de tamanho médio. Elas estão em ambiente interno.
Indicado ao Oscar 2022, Four Good Days mostra-nos a realidade do consumo excessivo de substâncias ilícitas e como esse abuso pode destruir os laços familiares mais fortes, como o de mãe e filha (Foto: Vertical Entertainment)

Sabrina G. Ferreira

A narrativa de Four Good Days tinha tudo para ser óbvia e seguir o roteiro clássico de um filme com essa abordagem, entretanto o que se vê é um show de atuações, e um recorte instigante do problema apresentado. Baseado em fatos reais, o longa dirigido por Rodrigo García (Em Terapia, Questão de Vida), mostra a trajetória de Molly (Mila Kunis), uma mulher jovem viciada em drogas, que retorna para a casa da sua mãe, Deb (Glenn Close), em busca de ajuda para vencer sua dependência química. Após levar a filha à reabilitação, pela 15ª vez, elas descobrem um método novo e intensivo de cura para o vício, mas para iniciar o tratamento, Molly precisa ficar quatro dias sem usar nenhum tipo de droga.

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A identificação com o caos e o retrato tragicômico da juventude em Shiva Baby

Fotografia do filme Shiva Baby. A imagem é retangular e exibe o rosto da personagem Danielle, interpretada por Rachel Sennott, em plano fechado. Rachel é uma mulher branca, jovem adulta, de cabelos castanhos-claros ondulados. Seus cabelos estão presos em um coque. Ela bebe um gole de uma taça de vinho com sua mão direita. Seu olhar é angustiado e está voltado para a esquerda da personagem. Ela usa uma camisa social branca. O fundo está desfocado, mas é possível ver atrás dela um grande quadro abstrato em azul, amarelo e vermelho.
O longa pode parecer um experimento para entender quais os efeitos psicológicos que uma quantidade extrema de pressão pode exercer em alguém (Foto: MUBI)

Mariana Nicastro e Vitória Vulcano

Um funeral. Familiares fazendo perguntas pessoais. Sobre seu futuro, sua profissão (que eles não levam muito a sério), seus relacionamentos, seus estudos (não tão credibilizados também)… sim, tudo aquilo que você não gostaria de comentar no momento. E se, além disso, uma paixão antiga está presente, e o romance não terminou tão bem? Parece uma situação desconfortável, certo? E se seu ficante, que, na verdade, é o seu sugar daddy, aparece no local? 

Ah, mas tem a cereja do bolo! E se ele leva a esposa e um bebê, que você nem sabia que existiam? E, é claro, que todos os seus parentes querem te apresentar a essa linda e simpática família! Esse é o cenário caótico, curioso, intrigante, sufocante, angustiante e singular representado em Shiva Baby. Um filme ousado, que mescla perfeitamente a comédia e a tragédia social

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Nenhuma amnésia é o bastante para o Fruto da Memória

Cena do filme Fruto da Memória. A foto mostra um homem branco de cabelos grisalhos e sobretudo marrom no canto inferior esquerdo da imagem, de frente tirando uma foto com uma câmera polaroid antiga. No resto da imagem há uma vegetação verde-escuro desfocada.
Fruto da Memória foi exibido na seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Synapse Distribution)

João Batista Signorelli

As memórias são fundamentais para a constituição da identidade humana. Se parte essencial de um indivíduo é construída a partir de suas experiências, o que acontece se ele perde o elo de sua mente com elas? Explorando as relações entre identidade e as lembranças, Fruto da Memória, coprodução entre a Grécia, Polônia e a Eslovênia exibida na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, apresenta uma pandemia onde qualquer um pode contrair uma amnésia repentina permanente, expondo a vulnerabilidade da identidade humana protegida pelas próprias recordações. 

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A arte berra em Ziraldo – Uma Obra que Pede Socorro

Imagem retangular e colorida retirada do documentário ‘Ziraldo - Uma Obra que Pede Socorro’. Nela, vemos em foco Ziraldo, um homem de idade avançada, pele parda, cabelos e sobrancelhas brancos, que veste uma camisa branca com um colete bordado bege e preto. Ele olha para cima, pensativo, enquanto coloca o dedo indicador da mão direita sobre a boca, em sinal de reflexão.
Ziraldo – Uma Obra que Pede Socorro, exibido pela 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é a única produção da seção Apresentação Especial disponibilizada online (Foto: Elo Company)

Enrico Souto

“Arte não é um privilégio do artista, é um direito do ser humano”. É com essa e outras contestações que abre-se Ziraldo – Uma Obra que Pede Socorro, parte do acervo da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O ponto de partida é Ziraldo, “o Michelangelo da boemia carioca”, um dos artistas mais geniais da história contemporânea do Brasil. Aprendemos um pouco mais sobre seu talento e ofício, agora por entre lentes pouco exploradas. Todavia, o documentário vai muito além da pessoa Ziraldo. Além de um panorama singular sobre sua obra, o que se apresenta aqui é um comentário amplo sobre a urgência da atual situação das artes no Brasil e como a cultura do país é constantemente negligenciada em diferentes esferas sociais. O resultado é uma poderosa denúncia e um clamor por socorro.

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O Filho das Monarcas tem uma herança de transformação

Cena do filme Filho das Monarcas.
A produção realizada entre México e Estados Unidos é parte da seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Wide Management)

Raquel Dutra

A metamorfose de Filho das Monarcas é sugerida desde sua primeira cena. Quando um pesquisador curioso rompe cuidadosamente o casulo de uma borboleta logo antes de uma voz ancestral explicar um dos muitos significados atribuídos àquele processo, Alexis Gambis sussurra ao público da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo que sua história existirá em algum lugar entre as ideias de modernidade e tradição, ciência e arte, natureza e tecnologia, relações e separações, mudanças e raízes.

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Era melhor quando o Amanhecer não chegava

Cena do filme Amanhecer. Na imagem, em uma paisagem montanhosa com uma gramado baixo e algumas árvores baixas espalhadas, vemos, ao centro, um homem branco, de cabelos lisos na altura do ombro, sem camisa e de calças jeans, sentado em uma cadeira de madeira e virado de costas para a câmera. Ao redor dele, vemos cadeiras de madeira idênticas à qual ele está sentado, caídas espalhadas pela grama.
Amanhecer se dividiu entre as salas de cinema e as exibições online da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na qual integrou a seção Perspectiva Internacional (Foto: Kinorama)

Vitória Lopes Gomez

De filmes que denunciam e encaram ataques à humanidade de frente a outros que se aprofundam nas consequências sociais e emocionais, os recorrentes conflitos no Leste Europeu acharam na Arte lugar para serem refletidos e relembrados. Amanhecer, coprodução entre Croácia e Itália dirigida por Dalibor Matanic, torce a abordagem dramática em uma distopia fantasiosa, estreando no Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, como parte da seção Perspectiva Internacional. Usando de simbologias, significados ocultos e muito mistério, o longa-metragem exibido no Festival de Karlovy Vary, tradicional do país de origem, imagina possibilidades a partir do passado croata.

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Truman & Tennessee em Uma Conversa (nem tão) Pessoal

Foto de Tennessee Williams e Truman Capote. Na imagem em preto e branco, há duas fotografias colocadas lado a lado. Na primeira, à esquerda, Tennessee Williams aparece vestido com um roupão cinza, sentado em uma poltrona de cor preta, segurando na mão esquerda uma piteira de cor preta com um cigarro aceso na ponta. Ele é um homem branco, possui olhos claros e cabelos encaracolados curtos, de cor preta. Na foto a direita, Truman Capote aparece sentado em uma calçada, segurando um cachorro de raça bulldog com a mão direita. Ele é um homem branco, veste camisa de cor branca, possui cabelos loiros e olhos claros.
Integrando a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o documentário cria um diálogo de vida e obra entre Truman Capote e Tennessee Williams (Foto: Dogwoof)

Bruno Andrade

De um lado, Truman Capote; um dos maiores expoentes do chamado novo jornalismo, autor de A sangue frio (1965) — livro que, como ele próprio anunciou, inventou o “romance de não-ficção”. Do outro, Tennessee Williams, nome de peso entre os dramaturgos do século XX, conhecido por criar obras transcendentes e tendo recebido duas vezes o prêmio Pulitzer. O que ambos tinham em comum? Além do fato de terem sido escritores consagrados, possuírem nomes iniciados pela letra T e terem sido homossexuais em um Estados Unidos repressivo, os dois foram amigos. No documentário Truman & Tennessee: Uma Conversa Pessoal, que compõe a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, a diretora Lisa Immordino Vreeland estabelece um diálogo possível entre esses dois gigantes.

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