O Homem dos Sonhos: quando o onírico encontra as redes sociais

Cena do filme O Homem dos Sonhos. Na cena, vemos, ao centro, da cintura para cima, Nicolas Cage, um homem branco, aparentando cerca de 60 anos, com cabelos castanhos nas laterais da cabeça, barba grisalha e óculos quadrados. Ele veste uma camisa e gravata azul claros e paletó azul escuro. Ele está sentado atrás de uma mesa e tem suas duas mãos unidas em frente a ele, apoiadas na mesa. Atrás, vemos uma parede lilás com os dizeres “Thoughts?” duas vezes.
Você já sonhou com Nicolas Cage? (Foto: California Filmes)

Vitória Gomez

Você já sonhou com este homem? Em 2006, um boato correu na internet: mais de oito mil pessoas de diversas cidades do mundo estavam sonhando com o mesmo homem, sem nunca o terem visto antes. Posteriormente, o que era um mistério virou uma piada nas redes sociais, com a verdade sendo revelada. Mas e se, subitamente, isso realmente acontecesse e moradores ao redor do planeta vissem uma mesma pessoa desconhecida durante o sono, todas as noites? É assim que O Homem dos Sonhos começa.

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A Sibila: Literatura e Cinema andam de mãos dadas

A adaptação literária A Sibila integrou a 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo na seção Novos Diretores (Foto: Alfama Films)

Vitória Gomez

O Cinema, enquanto Arte, amplia horizontes. Seja ao apresentar pontos de vistas únicos que fazem o espectador pensar duas vezes ou retratar uma cultura diferente, entrar em contato com o desconhecido pode também ser desafiador. Na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, A Sibila é um desses desafios para um público desavisado: o longa, presente na seção Novos Diretores do festival, adapta o romance homônimo de uma importante escritora portuguesa, Agustina Bessa-Luís.

No entanto, diferente de outros escritores portugueses, Bessa-Luís não virou leitura obrigatória no Ensino Médio ou nos vestibulares, e a adaptação de sua obra, tida por muitos como impossível de ser realizada pelo tom de monólogo, instiga o público a pensar em como a Literatura e o Cinema se constroem, se conectam e se sobrepõem (se é que o fazem). Em pouco mais de uma hora, Eduardo Brito, diretor estreante em longas-metragens, assume o desafio e questiona esses limites.

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As Hostilidades: na América que ninguém vê, a opressão dissolve almas

Cena do filme As Hostilidades. Na imagem há um homem de capuz. O homem e o chão em que ele pisa estão escondidos pelo escuro, ao fundo, o céu do entardecer tem cores rosa e laranja com poucas nuvens aparentes.
Produção mexicana, As Hostilidades fez parte da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na categoria Competição Novos Diretores (Foto: Centro De Capacitación Cinematográfica A.C.)

Jamily Rigonatto 

Quanto terreno fértil a criminalidade pode encontrar nas partes do mundo ignoradas pela preocupação social? Em temos reais e muito pessoais, As Hostilidades documenta isso em lentes trêmulas. Dirigido por M. Sebastian Molina, o filme mostra as mudanças da cidade de Santa Lúcia, no México, após a violência se tornar protagonista em um espaço aparentemente vazio, mas cheio de memórias e feridas. 

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Holy Spider cai em sua própria teia

cena do filme Holy Spider. Mulher caído ao chão com apenas sua mão e tronco à mostra no take do filme, foco central em sua mão derrubada - tudo acima de um tapete estampado
“Cada homem encontrará o que deseja evitar” Imam Ali – Nahj Al-Balagha – Sermão 149. (Foto: MUBI)

Mariana Pinheiro

Estarei de volta quando você acordar“, diz uma mulher ao seu filho horas antes de ser brutalmente assassinada enquanto trabalhava. Ela arrumou-se e o beijou pela última vez sem saber o que aconteceria em mais uma noite nas ruas. Essa é a primeira cena de Holy Spider, a qual elucida tudo o que o filme pretende contar durante sua exibição. Nela, uma prostituta iraniana caminha pela cidade de Mashhad enfrentando olhares mal-intencionados e buscando refúgio em drogas para escapar da realidade assombrosa a qual é condenada a viver. 

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Park Chan-wook deixa a porta aberta em Decisão de Partir

Cena do filme Decisão de Partir. Na imagem, Song Seo-rae contempla algo à sua direita. Ela é uma mulher chinesa de cabelos e olhos escuros. A câmera a captura a partir da cintura. Song veste uma camiseta de botões e mangas longas na cor pêssego e uma saia longa estampada em tons frios como o azul. Ao fundo, o cenário é a sala de estar de uma casa repleta de objetos decorativos. O papel de parede é o que se destaca, sendo composto por ilustrações que simultaneamente se assemelham a montanhas e ondas, pintadas entre cores quentes e frias como o vermelho e o azul.
Decision to Leave disputou a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2022, que coroou Park Chan-wook como Melhor Diretor (Foto: CJ Entertainment)

Nathalia Tetzner

Quando as luzes se apagam, um detetive ocupa a mente com crimes não solucionados. A insônia somente levanta para longe da cama quando uma presença feminina desconcertante o coloca para dormir ao ritmo de uma respiração acolhedora, justo dela, a suspeita de um dos incontáveis casos que afastam o sono. Entre gotas de colírio para elucidar a visão e potes de sorvete que tentam substituir o jantar, Park Chan-wook desconstrói o romance como um gênero constantemente flertado pelo Cinema, une os protagonistas através dos simbolismos da partição e deixa a porta aberta para a interpretação em Decisão de Partir.

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Terra e tradição se abrem sob os pés da família de Alcarràs

Imagem retangular que mostra uma cena do filme Algarràs. Uma família branca está em pé, todos virados de lado, olhando na direção esquerda da imagem. O fundo tem montanhas e plantações verdes.
Exibido na Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de São Paulo, o longa não esquece que uma tradicional família agricultora na Europa sempre conta com o trabalho braçal de imigrantes pretos (Foto: MUBI)

Nathália Mendes

Eu não canto pela voz, […] por quem canto é por minha terra, terra firme, casa amada”, dizem os versos cantados por Rogelio (Josep Abad), patriarca dos Solés que protagonizam Alcarràs, longa de Carla Simón exibido na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na Competição Novos Diretores. A obra, uma coprodução espanhola e italiana, conta como uma família de agricultores no interior da Catalunha se vê sendo expulsa de sua propriedade após anos cultivando pêssegos naquela terra. E não há nada que se possa fazer. Diante das perdas inevitáveis, Rogelio acompanha em silêncio, assistindo com olhos carregados de tristeza a tradição de gerações se desfazer, bem como sua própria família.

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Sonic 2: ele não tem um roteiro inovador, não tem boa edição, mas ele tem o povo

Cena do filme Sonic 2. Sonic, uma criatura azul e de olhos verdes, que se parece com um ouriço, se posiciona em cima das asas de uma nave vermelha. Ao fundo existem montanhas com neve e mata.
Sonic 2 – O Filme estreou exclusivamente nos cinemas no dia 7 de abril (Foto: Paramount)

Ana Nóbrega

Em 2020, a maior parte do público não esperava muito de Sonic – O Filme. Afinal, o longa já havia passado por um baita de um rebuliço ao liberar o seu trailer e não agradar nada os fãs com o design “diferente” do ouriço azul mais conhecido do mundo. No entanto, o filme – que praticamente encerrou o funcionamento de cinemas no início da pandemia – ganhou o coração da audiência com um bom redesign e uma ótima trama. Desta forma, sua sequência não poderia ser diferente.  

Sonic 2 – O Filme, dirigido por Jeff Fowler, chegou aos cinemas dois anos, e uma pandemia, depois do primeiro longa-metragem, e conseguiu trazer a fórmula de sequências do MCU direto para as adaptações de games. Desta vez, muito mais focado no desenvolvimento do universo do Sonic (Ben Schwartz), do que no planeta Terra. Assim, a produção entrega para seus espectadores tudo que há de bom no mundo dos jogos, a animação, o enredo, o plot line e as referências.

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O Segredo de Brokeback Mountain: um romance infeliz

Cena do filme O Segredo de Brokeback Mountain, na imagem está o casal de protagonistas, Jack interpretado por Jake Gyllenhaal e Ennis, interpretado por Heath Ledger. Jack tem a pele branca, cabelos castanhos escuros lisos e curtos e bigode cheio; Veste camisa social azul escura de um tom quase preto, calça jeans azul escura e seus acessórios são: um anel prata e um chapéu preto. Em seu rosto mantém um sorriso animado e com uma das mãos segura um vidro de Whisky. Ennis tem a pele branca, cabelos loiros curtos, veste camisa social branca, jaqueta bege de lã por dentro e usa calça jeans clara; Seu único acessório é um chapéu bege. Ambos estão sentados em cadeiras dobráveis de cor azul, ao fundo é possível haver uma grande árvore cortada e um pouco de vegetação, no chão tem grama e algumas pedras.
Apaixonante e doloroso. Brokeback Mountain entrega um amor cruel e visceral (Foto: Focus Features)

Thuani Barbosa

Dois jovens cowboys em um trabalho de verão nas montanhas, e nenhum dos dois poderia imaginar o quão alterado seriam seus destinos. O Segredo de Brokeback Mountain é o tipo de filme que surpreende o espectador a cada vez assistida, seja nas paisagens montanhosas que emanam a sensação de vastidão e plenitude, na singularidade de seus personagens, na interpretação impecável do elenco ou na explosão de emoções que chocam o peito de qualquer um. 

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Thelma: o terror também é libertador

Cena do filme Thelma. Na imagem, vemos Thelma, dos ombros para cima, deitada em um sofá verde escuro, de ponta cabeça, ao centro. Ela é uma mulher branca, de cabelos loiros escuros, aparentando cerca de 22 anos, e tem seus olhos fechados e a boca aberta. Por sua boca aberta, vemos uma serpente verde escura entrando por sua boca.
“Eu estou brava com você, Deus. Por que você está fazendo isso comigo? O que você quer?” (Foto: Motlys)

Vitória Lopes Gomez

O cenário é uma floresta gelada da Noruega. Pai e filha, de no máximo 6 anos, avistam um cervo durante a caçada. A arma na mão do pai se volta do animal à pequena Thelma, que nunca chega a notar a movimentação. Ele continua firme ali, arma em riste apontada para a menina, até o cervo se dispersar. Dos poucos, mas longos minutos, o filme corta para outra cena e uma Thelma crescida está enfrentando seus primeiros dias na faculdade. É assim que Thelma se inicia: ensurdecedora, impactante e misteriosa, a obra de Joachim Trier exagera para preparar o terreno para o que vem a seguir.

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Quem são as mães das filhas perdidas?

Cena do filme A Filha Perdida. Nela, a atriz Jessie Buckley, que interpreta Leda, está abraçando duas meninas, em que não é possível ver seus rostos. Jessie é uma mulher branca, de cabelos castanhos claros.
Após levar o Leão de Ouro de Melhor Roteiro em Veneza, A Filha Perdida garantiu 3 indicações no Oscar 2022 (Foto: Netflix)

Vitória Silva

Dos tipos de representações que temos em relação à maternidade no Cinema e na TV, podemos citar vários. A mãe superprotetora, a mandona, a descolada, e, é claro, a clássica mãe que abdica de todas as suas vivências pessoais pelas conquistas dos filhos, ou até mesmo para encontrá-los no mundo. Pense em quantas personagens mães você conhece, e quantas delas não estão associadas diretamente ao papel materno que as nutre. E, quando o renegam, na maior parte das vezes são movidas por uma maldade sobrenatural ou pela construção de um aspecto vilanesco de sua personalidade. Afinal, que tipo de mãe não amaria seus filhos incondicionalmente?

Transpondo para a realidade, a retórica continua a mesma. Em A Filha Perdida, a misteriosa Elena Ferrante mergulha por inteiro neste que é apenas um dos papéis da feminilidade presentes em sua Literatura. E Maggie Gyllenhaal decide abraçar a mesma narrativa para construir o que seria a sua primeira obra na direção. A trama do filme homônimo segue Leda, interpretada pela magnífica Olivia Colman, que decide passar um período em uma ilha paradisíaca da Grécia, após deixar suas duas filhas, Bianca e Martha, com o ex-marido no Canadá.

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