O Radical de Euphoria e a Revolução de Rue

Cena de Part 1: Rue, o Episódio Especial de Euphoria. A imagem mostra a protagonista Rue sentada à mesa de uma lanchonete num bando estofado, de perfil, durante a noite. Rue é interpretada por Zendaya, uma jovem negra de cabelos castanhos cacheados volumosos. Rue está sentada, de frente para a mesa, com os pés em cima do banco, segurando as pernas, e descansa a cabeça nas costas do banco, olhando para cima. Ela veste uma blusa de moletom vermelha escura e uma calça de moletom azul marinho. Atrás dela, do lado da mesa, existe uma grande janela de vidro, através da qual pode-se observar o estacionamento do estabelecimento. Na frente de Rue, está uma mesa com um copo de suco de laranja e um prato de panquecas.
Os episódios especiais de Euphoria encontraram seu lugar no Emmy 2021, e a Parte 1: Rue foi indicada na categoria de Melhor Fotografia para Série de Câmera Única (Uma Hora) [Foto: HBO]
Raquel Dutra

O termo que significa um estado transcendental de alegria é usado para nomear uma obra que existe no nível mais profundo das dores de uma juventude autodestrutiva para nos avisar sobre algo: desde seu início, aclamado e conturbado lá em 2019, Euphoria não quer saber de nada além do radical ao construir seu caminho na companhia de jovens que lidam com muitas, muitas, mas muitas questões. A máxima se consolidou ao fim visceral daqueles 8 primeiros episódios que colocaram o drama adolescente da HBO numa evidência maior que qualquer nicho. Ali, nossas protagonistas, responsáveis por engatilhar o desenrolar dos arcos da narrativa e toda sinceridade e todos problemas que os acompanham, se encontravam num lugar perfeito de completa ausência de resolução.

A complexidade que o diretor e roteirista Sam Levinson criou ao fim do primeiro ano de Euphoria só seria compreendida mais tarde, quando os ganchos de 2019 ameaçavam se perder no meio da fenda temporal aberta pela pandemia de covid-19. Então, o criador correu para os transformar em dois episódios especiais, dedicados exclusivamente ao centro da história – Rue (Zendaya) e Jules (Hunter Schafer) -, e quando Part 1: Rue foi ao ar em dezembro de 2020, o poder da narrativa se mostraria ainda maior. Sob o título de Trouble Don’t Last Always, aconteceu o primeiro contato da produção com o mundo depois de sua estreia, e também o primeiro encontro do apreciador da série com a profundidade emocional daquela que foi o fio narrativo de tudo o que Euphoria nos apresentou.

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Na Parte 2 do Especial, Euphoria transforma a culpa de Jules em combustível fóssil

Cena do episódio Part 2: Jules de Euphoria. Jules está sentada na cama com as pernas em posição de índio. Jules é uma adolescente de pele clara e cabelos loiros quase brancos. Ela os tem preso num coque, e usa uma camiseta verde com detalhes azuis que formam uma rua na estampa. Ela veste shorts curtos e claros, e tem as mãos em cima dos pés. Ao fundo, vemos um abajur branco, um travesseiro branco e a janela do quarto, está de noite.
O episódio especial de Euphoria, Part 2: Jules, recebeu o título oficial de Fuck Anyone Who’s Not a Sea Blob, nome inspirado num poema escrito por Hunter Schafer (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Jules é a personagem mais interessante de Euphoria. São muitos os fatores que confirmam essa máxima, e o principal deles recai no carisma de Hunter Schafer, a jovem modelo que debutou atuando na série da HBO. Podendo ser facilmente ofuscada pelo estrelato e pelo nome de Zendaya, ela construiu sua adolescente fragilizada pelas beiradas, sempre mostrada pelos olhos de Rue. Tanto é que, quando Euphoria transmitiu seu final de temporada, Jules saiu como a vilã da coisa toda.

Num mundo ideal sem a pandemia e os atrasos de gravação, o ano dois da narrativa lidaria com o pepino de prosseguir sua estreia fenomenal. Para isso, além da escrita e direção precisas de Sam Levinson, a série precisaria sair do comum e cortar sua trama na carne. Para sentirmos a ausência de Jules como Rue a sente, a produção deveria tirar Hunter de vista. O que não aconteceu, é claro que estamos longe de viver num mundo ideal. 

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