Os Melhores Livros de 2023

De cantores a autores sob codinomes, os Melhores Livros de 2023 se encontram nas possibilidades (Arte: Aryadne Xavier/ Texto de Abertura: Jamily Rigonatto)

O último ano foi para a Literatura rico em experimentações. Com obras de gêneros distintos e um movimento de mais espaço para possibilidades, os resultados foram páginas cobertas por amor, descobertas, dores e muito mais do que o sentir pode proporcionar. Assim, chegamos a lista selecionada pela Editoria do Persona, que compõem as escolhas para representar Os Melhores Livros de 2023. 

É importante que lembremos que além de propícia para  novas ideias, a temporada marcou eventos importantes para a representatividade no meio literário. Em Outubro, tivemos o primeiro indígena eleito como imortal pela Academia Brasileira de Letras (ABL), o autor Ailton Krenak, que assina sucessos como Ideias para Adiar o Fim do Mundo e Futuro Ancestral

Outro marco foi a presença de autores negros em espaços de reconhecimento. Na Festa Literária de Paraty (Flip) do último ano, o principal nome da programação era o de uma das autoras negras mais faladas do Brasil na atualidade, Conceição Evaristo. Além de discursos essenciais e uma contribuição literária notável, a presença da escritora no evento literário inspira e carrega muito significado. 

Muitos centenários também foram comemorados no período, como o de nascimento da autora Wislawa Szymborska, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 1996. Além dela, Eugénio de Andrade (As Mãos e os Frutos), o poeta surrealista Mário Henrique Leiria, o ensaísta Eduardo Lourenço e Mário Cesariny fizeram parte da lista de centenários e foram celebrados. 

Entre tantos marcos, fica a esperança de um momento ainda mais doce para o mundo dos livros está por vir. Enquanto isso, você confere a lista dos textos que se destacaram para o Persona no ano de 2023 e aproveita dicas de leitura variadas. Para todas as preferências, fica o gosto de obras plurais e extremamente ricas em cultura, liberdade e a vontade de transformar cada capítulo. Boa leitura!

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A Sibila: Literatura e Cinema andam de mãos dadas

A adaptação literária A Sibila integrou a 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo na seção Novos Diretores (Foto: Alfama Films)

Vitória Gomez

O Cinema, enquanto Arte, amplia horizontes. Seja ao apresentar pontos de vistas únicos que fazem o espectador pensar duas vezes ou retratar uma cultura diferente, entrar em contato com o desconhecido pode também ser desafiador. Na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, A Sibila é um desses desafios para um público desavisado: o longa, presente na seção Novos Diretores do festival, adapta o romance homônimo de uma importante escritora portuguesa, Agustina Bessa-Luís.

No entanto, diferente de outros escritores portugueses, Bessa-Luís não virou leitura obrigatória no Ensino Médio ou nos vestibulares, e a adaptação de sua obra, tida por muitos como impossível de ser realizada pelo tom de monólogo, instiga o público a pensar em como a Literatura e o Cinema se constroem, se conectam e se sobrepõem (se é que o fazem). Em pouco mais de uma hora, Eduardo Brito, diretor estreante em longas-metragens, assume o desafio e questiona esses limites.

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Há 40 anos, King quase enterrou O Cemitério – e que bom que isso não aconteceu

Alerta de gatilho: violência explícita, morte e luto

Capa do livro O Cemitério. A capa tem um fundo que na parte posterior tem lápides e na parte inferior tem um gato felpudo com coloração preta e reflexos brancos, está com os olhos brancos. Na parte superior, tem os dizeres "Stephen King" em branco. Já embaixo, há o título do livro "O Cemitério" e o logo da Editora Suma em vermelhos. A letra "c" de cemitério lembra o rabo de um gato.
O Cemitério é a personificação da morte em todos os sentidos (Foto: Companhia das Letras)

Marcela Lavorato

O Cemitério plantado por Stephen King colhe frutos há 40 anos. O motivo é simples: o livro é uma descrição minuciosa dos sentimentos humanos em torno de um fato que não nos é explicado, mas que esperamos vir inevitavelmente ao longo da vida – a morte. Na verdade, a morte não é algo simples, mas percorre a base do natural e do orgânico, algo que já nascemos com ela, pois sabemos que um dia irá acontecer, mas nunca esperamos ser tão cedo. A narrativa de Pet Sematary – título original -, portanto, abre portas para tramas brutas e reais que fazem o leitor experimentar todos os sentidos ao ler essa obra-prima do terror.

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Estante do Persona – Outubro de 2023

O fundo é roxo. No canto superior direito e no canto inferior esquerdo, há duas teias de aranha pretas em menor opacidade. No centro, acima, está o logo do persona, um olho com íris vermelha e um pupila no formato de um play. Abaixo está um livro laranja, apoiado sobre três livros; o primeiro diz “estante do”, o segundo “persona” e o terceiro está o mês, Outubro de 2023. Apoiados ao lado do livro laranja, há um pequeno gatinho de olhos amarelos arregalados e um abóbora decorada na temática de Halloween.
Em clima de mês do horror, o Estante do Persona de Outubro brinca de assombração (Arte: Raíra Tiengo/ Texto de abertura: Enzo Caramori e Marcela Lavorato)

“(…) Às vezes, me assusta pensar que os problemas cotidianos podem ser para mim um pouco mais terríveis do que para o resto das pessoas.”

 — Samanta Schweblin

O que mais assombra é o desconhecido. A aproximação do indivíduo a algo nebuloso, que remete ao comum, mas, de certa forma, possui uma aura em desalinho. Algo no fundo do horizonte, coberto de escuridão e fumaça se faz presente, mesmo que não se possa ver com olhos ainda humanos. O terror e o horror, que nasce não somente de grandes escritores e realizadores do gênero, mas do desenterrar das sensibilidades do inconsciente, e da explicitação do desconhecido não somente enquanto o outro, mas o que não sabemos de nós mesmos. No mês de Outubro de 2023, o Estante do Persona permite se adentrar ao colapso do corpo e do cotidiano pelo grotesco e pela violência, explicitada nas discussões do Mês do Horror, que tomou a Literatura da autora Mariana Enriquez como ponto central de reflexão.

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Latente, Afire estremece e queima

Afire foi o vencedor do Urso de Prata do Grande Prémio do Júri no Festival Internacional Cinema de Berlim de 2023 e estreou no Brasil na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Piffl Medien)

Enzo Caramori

‘‘O amor da juventude, a  juventude do amor

desaparecerá e passará quanto antes.’’

– John Hay

Período em que a suspensão da realidade diária cede lugar à educação sentimental, ao titubear emocional, ao erro e à tentativa: o verão é uma quietude na qual a procrastinação dá espaço a descobertas sensíveis. É uma das temporadas dos filmes de Éric Rohmer, cujos propósitos de suas relações ficcionais são, de qualquer maneira, a afetação, seja por leituras tediosas de Balzac, gestos sutis de sedução e o mormaço claro do sol francês. Mesmo que dispondo de um olhar que se dedica às delicadezas da estação, o drama Afire (2023), presente na Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, não almeja o lugar da beleza e da delicadeza rohmeriana – na qual se inspira –, mas enfoca justamente nas feridas subjetivas de suas personagens, colhendo, do tédio, o sentimento melancólico de alheamento. 

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O som do rugido da onça torna o asfalto em rio e naufraga navios

O primeiro livro de Micheliny Verunschk pela Companhia das Letras foi mais uma das leituras escolhidas para o Clube do Livro do Persona (Foto: Companhia das Letras)

Enzo Caramori

“Arre!” 

Mesmo que em um deserto, morro ou tomada de construções e blocos de concreto, toda cidade já foi uma floresta. Uma floresta que não se classifica em biomas, espécies de animais e plantas, mas sim em um espírito. A floresta é um nome próprio: um ser gigante e elegante que não apenas oferece minérios, inhames e corpos de rios – além do seu próprio. É um espaço de conhecimento, visão e mundo, que invade até mesmo, no livro O som do rugido da onça, a Literatura. 

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Sobre a Terra Somos Belos por Um Instante: Ocean Vuong e a escrita como coragem de quem não tem escolha

A estreia de Ocean Vuong na prosa, após a aclamada reunião de poemas Céu noturno crivado de balas, é um complexo testemunho autobiográfico escolhido pelo Clube do Livro do Persona (Foto: Rocco/Arte: Francisco Tigre)

Mariana Freire de Moraes

Estou escrevendo para você de dentro de um corpo que era teu. O que é o mesmo que dizer: estou escrevendo como um filho.

Nas primeiras páginas de Sobre a terra somos belos por um instante, o autor Ocean Vuong constrói sua posição durante toda a narrativa na tentativa de se refazer, se ver e perdoar por meio da alteridade de uma comunicação ao mesmo tempo concreta e hipotética. Através do resgate analítico da memória e da apresentação do ambiente, Vuong, chamado de Cachorrinho pela avó, escreve cartas para sua mãe, analfabeta funcional, revisitando episódios da infância no Vietnã e de sua adolescência nos Estados Unidos.

Colonialismo, maternidade, identidade, sexualidade, violência e luto são os pilares do livro, cujos episódios de trauma rememorados traçam um caminho linear para o entendimento da história de três gerações da família do escritor, e as complexidades recalcadas de pessoas estruturadas em meio à guerra, ao preconceito, ao refúgio e à vulnerabilidade. 

Começando pelas memórias quando criança em um Vietnã desestabilizado pela guerra, Cachorrinho – a maneira que Vuong também se retrata em sua escrita – inicia o romance relembrando das primeiras vezes em que sua mãe foi violenta com ele. No acesso à infância, o escritor lembra alguns momentos em que ensina a matriarca a escrever, reproduzindo o que aprendeu naquele dia no jardim de infância. Esse é o momento em que a vulnerabilidade de quem o cria é escancarada para ele e que percebe que possui o que ela precisa para resolver esse problema. De uma forma sutil e perturbadora, esse episódio demonstra a maneira que o autor consegue colocar os dois se olhando do mesmo lugar. 

Você é uma mãe, Mãe. Você também é um monstro. Mas eu também sou – e é por isso que eu não posso me afastar de você. E é por isso que eu peguei a mais solitária criação de deus e te coloquei dentro dela.

Na foto, duas mulheres e uma criança estão sentadas em um banco de madeira. As mulheres ficam nos cantos, enquanto o bebê no meio. Estão dentro de uma casa, ao fundo, aparece o vulto de outra mulher, do lado de fora do cômodo. Atrás, percebe-se uma janela, uma porta e roupas penduradas. No primeiro plano, uma mulher, ao canto esquerdo, está sentada ao lado de uma criança pequena. Sua pele é amarela, seus cabelos pretos estão presos. Ela veste um macacão branco, com estampa de flores azuis. Está descalça e sorri fixadamente à câmera. Assim como a criança ao seu lado, que também tem cabelos e olhos pretos. Veste uma camiseta branca com uma gola laranja e estampada com desenhos, que está enfiada dentro de um shorts roxo claro. Ao lado da criança, à direita, uma outra mulher, de cabelo curto e preto, na altura do pescoço e com uma franja cortada, também sorri à foto. Ela usa uma blusa rosa clara e uma calça branca. Está de pernas cruzadas.
A foto que ilustra a edição estadunidense de Céu noturno crivado de balas retrata o autor com dois anos, ao lado de sua mãe e sua tia no campo de refugiados nas Filipinas (Foto: Ocean Vuong)

Passando pela situação de refugiado quando criança, em um paralelo sensível com o nascimento e morte de sua avó – entre o Vietnã e Estado Unidos –, a narrativa se torna mais política e identitária. A partir do momento que Cachorrinho conta a história das mulheres que o criaram, frutos de um estupro de guerra, nada segue sem que pautas sociais sejam colocadas de forma explícita, no entanto, nunca deixando com que a poética fique em segundo plano. Assim, Vuong cria uma atmosfera sólida de questionamento, ao mesmo tempo que deixa claro as complexidades subjetivas geradas a partir desses contextos, e quão decisivas são essas condições para que ele seja ele mesmo, a mãe seja a mãe e o país seja o país. 

Chegando aos Estados Unidos, na casa de seu pai com quem nunca conviveu, o escritor tem um espaço para descobrir e explorar sua sexualidade (atualmente se identifica como uma pessoa queer). No livro, Vuong relata suas primeiras experiências com um homem pobre como ele, porém branco: Trevor, a única pessoa com quem ele realmente desenvolve uma relação além de sua mãe e avó. De uma forma totalmente analítica, o escritor apresenta todas as fases dessa relação, passando pelo estranhamento, o escatológico, as drogas, o entendimento, a identidade, o amor e a morte. Cachorrinho pôde conhecer a vulnerabilidade e a violência do amor e de uma relação que requer um entendimento político, social, subjetivo e identitário que não foi apresentado a nenhum dos dois, tornando tudo mais difícil e mais intenso na mesma medida.

 Sob o fundo de um arbusto flores vermelhas, o autor, criança, é segurado no colo por sua mãe, que tem seu cabelo cacheado cortado curto e usa uma camisa manga longa vermelha, com uma estampa preta na frente. A criança usa uma camiseta polo branca com listras azuis claras e escuras, e uma parte de baixo azulada. Segura um coelho de pelúcia branco, com detalhes lilases.
Quando sua mãe faleceu de complicações de um câncer de mama, Vuong demonstrou seu luto nas redes sociais: ‘‘(…) você me ensinou que nossa dor não é nosso destino – mas nossa razão.’’ (Foto: Ocean Vuong)

O resgate da memória nas passagens da infância no meio da narrativa linear da história do Cachorrinho é o traço mais analítico de Sobre a Terra Somos Belos por um Instante. Ocean Vuong usa a escrita como ferramenta de articulação e busca, narrando sempre em primeira pessoa e, diretamente com a sua mãe, faz com que o objetivo de suas cartas nunca seja esquecido: dizer que se é. As coisas mais duras são lembradas de um jeito poético e grotesco, e quase sempre seguidas de uma imagem que bate de frente com a beleza apresentada de forma visual pela escrita. 

“Uma vez você me perguntou o que é ser um escritor. Então vamos lá. Sete dos meus amigos estão mortos. Quatro de overdose.”

Cachorrinho tem acesso ao significado social de sua existência a partir do momento em que começa a reunir os episódios traumáticos de sua vida e colocá-los em uma posição de questionamento: ser um homem vietnamita refugiado, queer, adicto e pobre nos Estados Unidos significa algo. Além disso,as pessoas em volta dele fazem parte desse significado e a escrita tem o papel de síntese de sua própria vida. É como se, caso não fosse um escritor, Vuong jamais poderia contar quem é a ninguém, nem mesmo a sua mãe.

A busca pela identidade nunca acaba, mas toma um outro caráter. Depois que Cachorrinho entende sua existência, quem sua mãe e sua avó foram, e quem seu novo país abriga, o fluxo se torna outro e assume uma calma assustada de quem sabe que seu lugar está predefinido. Então, a subjetividade assume, mais que nunca, o papel de resgate do que nunca foi dado e uma possibilidade de se reconhecer no mundo. A escrita é o que salva: é o que salvou Cachorrinho de sua relação com sua mãe, que termina o livro rindo enquanto se lembra. 

“Porque o pôr do sol, assim como a sobrevivência, existe apenas à beira de seu desaparecimento. Para ser belo, você primeiro precisa ser visto, mas ser visto sempre permite que você seja caçado.”

Capitu e o Capítulo: Júlio Bressane não trai Machado de Assis e exalta o romance Dom Casmurro

Cena do filme Capitu e o Capítulo. Capitu, interpretada por Mariana Ximenes, está no centro da imagem. Os olhos lacrimejados, ela está séria, encostada em uma parede branca de aspecto áspero. Mariana Ximenes é uma mulher branca, de olhos verdes e cabelos loiros.
Capitu e o Capítulo foi exibido no Festival do Rio em 2021, mas só chegou aos cinemas em 2023 devido à pandemia e às janelas de filmes brasileiros, que precisam dividir espaço com produções americanas (Foto: Pandora Filmes)

Davi Marcelgo 

Das discussões de sala de aula às do Twitter, Capitu traiu ou não Bentinho? Narrado pelo protagonista, a ausência de veredito provoca o clássico embate da obra de Machado de Assis. Em Capitu e o Capítulo, adaptação de Dom Casmurro, o diretor Júlio Bressane mantém o olhar subjetivo do narrador enquanto passeia entre a dúvida e a ilusão. Na trama, Bentinho (Vladimir Brichta) acredita que sua esposa Capitu (Mariana Ximenes) o traiu com Escobar (Saulo Rodrigues), seu melhor amigo. 

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Estante do Persona – Maio de 2023

 

Nas profundezas de um intimismo visceral, Sobre a terra somos belos por um instante foi a leitura do Clube do Livro de Maio (Foto: Rocco/ Arte: / Texto de abertura: Jamily Rigonatto)

Depois de apreciar a vida da gente fina Rita Lee, em Rita Lee: uma autobiografia, o Clube do Livro do Persona alçou voo para trajetos marcados por cicatrizes profundas. Em Maio de 2023, nossos leitores tiveram a oportunidade de conhecer os relatos melancólicos do primeiro Romance do poeta Ocean Vuong, Sobre a terra somos belos por um instante

Carregando uma carga emocional de proporções ímpares, o texto chegou ao Brasil em 2021 pela editora Rocco, e conta com tradução de Rogério Galindo. Na trama, narrada melodicamente pelo protagonista Cachorrinho, somos apresentados a uma história sobre lembranças familiares, amores silenciados e revelações angustiadas que por muito tempo estiveram em cativeiro. 

O livro apresenta uma linguagem bastante singular e caminha por um espaço fluido entre a convencionalidade dos romances e a indefinição literária. Através de termos rítmicos e bastante poetizados, a sensação é de fazer parte de um espaço tão consciente quanto imprevisto. As 224 páginas não podem se classificar diretamente como poesia, mas absolutamente repousam sobre os limites de uma vulnerabilidade encantadora. 

A obra ainda reflete espectros sociais, econômicos e raciais, já que trata sobre os laços familiares de imigrantes vietnamitas vivendo nos Estados Unidos. Os tons das discussões relacionadas a papéis de gênero e sexualidade também ganham grandes doses de protagonismo, lembrando que a sinceridade de ser e sentir é bela por muito mais que um instante. 

E enquanto o tempo continua seu trabalho marcando as vidas no eterno mistério dos momentos, as palavras continuam compondo a emoção daqueles que as apreciam. Por isso, o Estante do Persona de Maio de 2023 segue com suas dicas e opiniões sobre os mais variados temas abordados pela Literatura

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O Essencial de Perigosas Sapatas é uma colher de chá para a solidão lésbica

Capa do livro O Essencial de Perigosas Sapatas. Fundo amarelo na parte superior e fundo rosa mais abaixo. Na parte superior, está o título do livro com “O Essencial de” escrito em preto e “Perigosas Sapatas” escrito em vinho. Abaixo do título, à esquerda, está o escrito “Da autora de Fun Home” na cor preta, e, à direita está escrito o nome da autora “Alison Bechdel” na cor preta. Ao centro, em destaque, aparecem Mo e sua namorada. Mo é uma mulher branca, jovem, tem cabelo curto e castanho, usa óculos redondos, está usando uma blusa listrada em preto e branco e uma calça jeans azul. Ela está com as mãos nos glúteos de sua namorada, que aparece de costas. A namorada de Mo é uma mulher branca, jovem, tem cabelo curto e loiro, usa óculos redondos, está usando uma blusa marrom de gola alta e uma calça branca. Do lado esquerdo da capa, está o escrito “Estrelando” em preto, seguido por 3 círculos, um embaixo do outro. Em cada círculo, há uma ilustração de uma personagem e seu respectivo nome. Na coluna do lado esquerdo, estão as personagens Toni, Harriet e Clarice. Na coluna do lado direito, estão as personagens Lois, Ginger e Sparrow. No canto inferior esquerdo, há a logo da editora Todavia.
O Essencial de Perigosas Sapatas apalpa regiões sensíveis do patriarcado (Foto: Todavia)

Ana Cegatti

Por que estamos lutando por um pedaço de torta se a torta está podre?

 – Alison Bechdel

O desastre de Chernobyl, a guerra Irã-Iraque e o corte mullet foram alguns episódios hediondos que fizeram dos anos 1980 um período inesquecível para o mundo. No entanto, o posto de maior atrocidade da década foi designado à Alison Bechdel, cartunista estadunidense que ousou ganhar as páginas dos jornais com tirinhas sobre uma ameaça maior do que qualquer explosão nuclear: lésbicas. Em uma singela homenagem, a editora Todavia publica uma coletânea, traduzida por Carol Bensimon, das principais histórias da série Perigosas Sapatas, cuja essência está em um grupo de amigas lésbicas praticando atos tenebrosos tais como trabalhar e lavar a louça. No fim, elas são perigosas para quem?

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