Nota Musical – Junho de 2021

Arte retangular de fundo na rosa. Em cima, na esquerda, foi adicionado o texto "nota musical" de branco e em baixo "junho de 2021" de preto. Foi adicionado também o logo do Persona, estilizado de forma com que a íris do olho fique rosa também. No lado direito, foi adicionado um acrílico de CD com um disco dentro. Dentro do disco foram adicionadas 4 fotos dos artistas: Pabllo Vittar, Tyler The Creator, Garbo e Linn da quebrada.
Destaques do mês de junho: Linn Da Quebrada, Pabllo Vittar, Tyler, The Creator e Garbo (Foto: Reprodução/Arte: Larissa Vieira/Texto de Abertura: Ana Júlia Trevisan)

Junho é o mês de enaltecer o amor, e acima disso, é o mês da celebração, da luta e do Orgulho LGBTQIA+. Para marcar a data, o Persona apresenta esta edição do Nota Musical valorizando o trabalho de artistas que fazem parte da comunidade, com destaque especial para os que representam os tons de rosa e azul da bandeira. Nem nos dias que são dedicados à reivindicação de direitos o preconceito do país dá trégua, e ainda hoje, é necessário gritar que Vidas Trans Importam!

Para quem quer ressoar o grito, um primeiro passo é dar play em Liniker, uma das maiores referências da comunidade LGBTQIA+ brasileira, que nos presenteou com o caloroso clipe de seu mais novo single. O mesmo vale para potencializar as palavras e existência de Linn Da Quebrada, que prepara o terreno para seu novo álbum com muito conceito, coesão e aclamação.

Para quem procura novos artistas, Joy Oladokun canta sua vivência como mulher negra, pessoa gorda e LGBTQIA+, em letras biográficas transformadas pelo seu tato singular com as canções. Também falando sobre suas vivências, Home Video de Lucy Dacus é a história de amor e amadurecimento da cantora, que reflete sua própria existência.

Em CALL ME IF YOU GET LOST, Tyler, The Creator, que já explorou sua sexualidade em álbuns anteriores, revisita outras décadas do hip-hop para seu novo trabalho. Ainda assim, o cantor não deixa de passear entre o R&B e o soul e inspirar com sua autenticidade e destreza musical.

O mês firmou nomes que serão lembrados como os Melhores do Ano. No indie rock – com influência do jazz -, Rostam supera a Changephobia com um disco completo e original. No rock alternativo, a grandiosa Wolf Alice lançou o emotivo Blue Weekend. No pop, a revelação Griff se desprendeu da mesmice do gênero com One Foot In Front Of The Other. No pop alternativo, Japanese Breakfast marca 2021 com Jubilee e toda pureza de Michelle Zauner.

O pop brasileiro veio para esquentar o frio de Junho. IZA leva todo seu imenso poder para Gueto, que engrandece a cultura periférica. Marina Sena une o melhor da música nacional em VOLTEI PRA MIM. E com cringe entrando em nosso vocabulário, Garbo sai diretamente do Tumblr e nos apresenta a juventude softpop.

E se estamos sofrendo com as baixas temperaturas por aqui, na Coreia do Sul o girlgroup TWICE esbanja o clima tropical, trazendo um gostinho caloroso para nossas bocas. Ainda do lado oriental da Terra, o calor do verão dá espaço às sombras, no dolorido álbum da chinesa Pan Daijing. 

Já Pabllo Vittar prova por a + b que piranha não sente frio, e nos deixa triste e com T em seu Batidão Tropical. O lançamento é uma prova de amor e orgulho por Maranhão, terra natal da cantora. Com regravações e inéditas, um dos melhores álbuns nacionais do ano é criado, dominando o Top 50 do Spotify Brasil. 

Mas mais uma vez, é preciso lembrar que a pandemia ainda não acabou. E é para escapar desse ambiente de angústia gerado pelo isolamento social que vemos artistas florescerem e, até mesmo, se reinventarem. É o caso da rapper K.Flay que escuta todas suas Inside Voices e as solta como grito de guerra. De forma mais passivo-agressiva, mas ainda capaz de acolher, Cavetown externaliza seus atormentados sentimentos. Usem máscara, se cuidem e cuidem dos seus.

Seja pelas alterações climáticas, seja pela interminável pandemia, o mundo beira o inabitável. Para fugir disso, Doja Cat cria seu próprio planeta em um disco que divide opiniões. Reafirmando a influência do TikTok no cenário musical, Planet Her lidava com grandes expectativas e entregou os extremismos, entre músicas que vieram para habitar o repeat e outras que não queremos na porta de casa.

Junho veio também para ajudar as cantoras a saírem do meio do mato. Na Nova Zelândia, o fogo no rabo de Lorde nos deixou saudosos por verão e praia, e ainda trouxe o gostinho do novo álbum, Solar Power, que virá em agosto. Em solo brasileiro, Marisa Monte nos pediu Calma, pois, depois de uma década, o disco de inéditas está saindo do forno.

Dois anos depois do temível Love + Fear, MARINA volta revigorada com sons do tabu quebrando em Ancient Dreams In A Modern Land. Já Maroon 5 retornou de maneira oposta, batalhando para que JORDI não fosse um trabalho completamente esquecível. Billie Eilish se aproxima de estar mais feliz do que nunca com seu vindouro álbum e aposta numa versão mais debochada de si no single Lost Cause.

O mês das festas juninas foi propício para bolo, guaraná e muito doce. Dois discos gigantes da Música Internacional comemoraram seus aniversários, ganhando de presente edições especiais. O mais velho é o disco de estreia de Alicia Keys, Songs In A Minor, que inovou o R&B e o soul há 20 anos. Além dela, Lady Gaga convida a comunidade LGBTQIA+ para Born This Way The Tenth Anniversary, reinventando o álbum que marcou toda uma geração. 

O fenômeno da internet, boy pablo já se tornou figurinha carimbada dos posts mensais. Dessa vez, o jovem chileno-norueguês aparece para finalizar sua trilogia e nos deixar atentos para quais podem ser os próximos passos. Quem também dá as caras de novo é Kali Uchis que, mais uma vez, espreme seu fenomenal trabalho Sin Miedo. Agora podemos apreciar a cantora em versão acústica e vê-la cavalgando em seu cavalo branco. Good Morning Sunshine.

Outra que não larga o osso é Dua Lipa, que ainda vive seu Future Nostalgia. Foi na sola da bota que a cantora lançou o clipe de Love Again, permitindo que fãs e haters criassem teorias sobre um ovo. Relacionamentos falhos? Relacionamento novo? Foto mais curtida do Instagram? Todas essas hipóteses passaram pela cabeça do fandom, mas nenhuma foi confirmada pela artista.

Para os amantes das mídias físicas, BROCKHAMPTON surpreendeu positivamente com o deluxe do psicodélico ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE. Com quatro novas faixas para acompanhar vinis e CDs, a banda mantém o alto padrão de qualidade proposto no disco.

A queridíssima Olivia Rodrigo – Olivia Rogéria, para os chegados – nos leva para o mágico mundo da Disney com The Rose Song, parte da trilha sonora da 2ª temporada de High School Musical: The Musical: The Series. A jovem ainda convidou seus amigos para a formatura online. Seguindo os típicos padrões estadunidenses, Olívia apresenta SOUR entre limusine e líderes de torcida.

Para um mês tão importante e recheado de novidades, a Editoria e os colaboradores do Persona encerram a primeira metade de 2021 reunidos para fuxicar os melhores e os piores de Junho e para celebrar o Orgulho LGBTQIA+. O guia mensal de CDs, EPs, músicas, clipes e performances acompanha uma playlist fresquinha pra escutar no carro, no banho ou onde quiser.

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RuPaul’s Drag Race Down Under quase não encontra a luz no fim do túnel

Cena de Drag Race Down Under. Nela, vemos Kita Mean, uma drag queen branca e de peruca azul claro, com peitos falsos e um vestido branco, segurando um cetro e com uma coroa na cabeça.
Kita Mean foi contra os padrões da franquia e se sagrou vencedora da temporada inaugural de RuPaul’s Drag Race Down Under (Foto: Stan)

Vitor Evangelista

Os meios podem até justificar os fins, mas a primeira temporada de RuPaul’s Drag Race Down Under demorou a sedimentar sua narrativa. O spin-off do show americano foi filmado na Nova Zelândia durante a pandemia, colocando australianas e kiwis na Corrida pelo título de Super Estrela Drag e por trinta mil dólares. O custo foram oito enfadonhos e alongados capítulos, um elenco nada cativante e uma porção de polêmicas racistas, tanto dentro do Ateliê quanto fora dele.

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Evelyn Hugo: a lenda que ganharia o Oscar (se ela existisse)

Colo de uma mulher branca de cabelos curtos, vestindo um colar de pérolas e um vestido de lantejoulas e usando um batom escuro. Um efeito deixa a imagem inteira na cor verde. Em sobreposição, está o título Os sete maridos de Evelyn Hugo, em branco.
O livro Os sete maridos de Evelyn Hugo, publicado pela editora Paralela e traduzido por Alexandre Boide, é o queridinho dos fãs de literatura sáfica (Foto: Reprodução)

Beatriz Luna

Em tempos de Oscar, é preciso conhecer os candidatos, até mesmo os inexistentes. Em meio ao drama da Hollywood do século 20, Evelyn Hugo veio para ficar. Escrito por Taylor Jenkins Reid, autora de Daisy Jones & The Six e Amor(es) Verdadeiro(s), o romance histórico Os sete maridos de Evelyn Hugo traz 360 páginas de uma envolvente trama LGBTQIA+, e emoções são o que não faltam. E alerta de gatilhos: o livro aborda assuntos como violência doméstica, abuso psicológico, homofobia, suicídio e alcoolismo, além de contar as dificuldades e preconceitos vivenciados pela jovem atriz latina. 

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Blue Neighbourhood e a segunda adolescência LGBTQ+

A imagem mostra o desenho de Troye Sivan, de frente. Ele olha para a esquerda. Em tons pastéis, ao fundo podemos ver os dois lados de uma rua e um céu do entardecer, em tons azuis e laranjas. Acima de Troye foi adicionado o escrito Blue Neighbourhood em letras cursivas. Acima do escrito, foi adicionado TROYE SIVAN em letra de forma.
Capa do álbum (Foto: Reprodução)

Jho Brunhara

Quando eu era adolescente, tinha medo de me expressar por ser gay. Tinha medo ir em festas, ficar bêbado com meus amigos e revelar acidentalmente que não era hétero. Pela necessidade de esconder minha sexualidade por proteção, tinha medo de vestir as roupas que gostava, de dizer o que que pensava, de colocar um “nós” antes de “pessoas LGBTQ+”.

Eram, de certa forma, problemas banais, mas ao mesmo tempo questões muito importantes no ecossistema do colégio e na mente de alguém com 15 anos. Não me sentia verdadeiramente seguro em casa, nem na escola, nem em nenhum lugar. Me assumi nos últimos meses do Ensino Médio, um pouco antes de completar 18 anos. Enquanto a maioria das pessoas da minha idade que eu conhecia já tinham vivido suas próprias aventuras, eu pude, pela primeira vez, me sentir livre, e experimentar a adolescência que idealizava na minha cabeça.

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Drag Race Holland é um teste para cardíaco

Na foto vemos quatro drag queens. Da esquerda para a direita: Miss Abby OMG está toda de preto, com um espartilho roxo, Ma'ma Queen usa uma roupa azul e verde, com plumas e asas que lembram o carnaval, seu cabelo é azul claro e ela tem um adereço na cabeça, Envy Peru está de preto com uma grande pluma na cabeça e Janey Jacké veste vermelho, um maiô com meia calça e asas de anjo no mesmo tom de vermelho.
Além do título e da Coroa, a vencedora de Drag Race Holland levou para casa um vestido horroroso, mas avaliado em milhares de euros (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Pela primeira vez em 2020, Drag Race premiou quem mereceu a Coroa desde o dia um. Não contestando as brilhantes vitórias de Jaida Essence Hall e Shea Couleé, nem mesmo a coroação de Priyanka, mas o que mudou em Drag Race Holland foi o favoritismo avassalador que a estonteante e belíssima Envy Peru exerceu na órbita de suas concorrentes. A drag queen latina clamou para si o título de Primeira Super Estrela Drag da Holanda, numa temporada com mais altos do que baixos, e que definitivamente colocou o público numa montanha-russa emocional.

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Tudo é lento em Dias

O longa faz parte do eixo Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Jho Brunhara

Muito se discute qual é o ponto em que o cinema se divide entre entretenimento e arte, ou se é que esse ponto existe, afinal, o que é entretenimento e por que a arte não pode entreter? Dias, filme do premiadíssimo cineasta malaio Tsai Ming-Liang, adiciona uma camada ainda mais grossa para esse debate.

Em Rizi, que faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, acompanhamos Kang (Lee Kang-Sheng) e Non (Anong Houngheuangsy), dois taiwaneses. Depois de um dia de preparações, os homens se encontram no quarto de um hotel para esquecer suas realidades por uma noite. Desde o começo, Dias é claro em sua proposta: esse não é um filme de cinema comercial. Antes mesmo do longa começar, vemos uma mensagem que diz ‘filme propositalmente sem legendas’. O primeiro take, uma câmera parada que grava Kang olhando a chuva, beira os dez minutos. Mais a frente, vemos Non preparando uma refeição. Câmera parada, quase quinze minutos. E segue esse padrão até o fim.

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Sem Ressentimentos: a liberdade só existe quando é para todos

O primeiro longa do diretor Faraz Shariat faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Jho Brunhara

É difícil diretores jovens escaparem de realizar pelo menos um projeto do gênero coming-of-age, o famoso longa de amadurecimento, e Faraz Shariat não foge à regra. O diretor de 26 anos traz para Sem Ressentimentos uma semi-biografia, mas também questões muito maiores sobre a configuração política do mundo que conhecemos. O longa alemão, selecionado para a 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, faz parte da Competição Novos Diretores. 

A história de Futur Drei, título no idioma original, segue o jovem gay Parvis Joon (Benjamin Radjaipour), filho de iranianos que moram na Alemanha há alguns anos. Após um pequeno crime, o garoto precisa prestar serviço comunitário em um centro de refugiados na Saxônia, e é lá onde conhece Amon (Eidin Jalali), que fugiu do Irã junto de sua irmã, Banafshe (Banafshe Hourmazdi). 

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