A Criada tem mil tentáculos que enlaçam o público e a história de suas duas protagonistas (Foto: CJ Entertainment)
Nathalia Tetzner
Oito longos tentáculos presos no aquário de um medonho porão: o polvo nunca foi uma figura tão imponente quanto em A Criada (2017), filme sul-coreano assinado por Park Chan-Wook. Inspirado no romance Na Ponta dos Dedos,da escritora Sarah Waters, o longa traz o protagonismo lésbico da Era Vitoriana britânica para o contexto da Coreia ocupada por japoneses. Erótico e poético, o espectador perde o fôlego com as cenas menos sensuais enquanto se esquiva das leituras fetichizadas, acompanhadas por xilogravuras lascivas como O Sonho da Mulher do Pescador, em que a forma feminina é sexualmente devorada por dois moluscos marinhos.
Ocupando o 1º lugar na Netflix de quase 100 países, Round 6 é o novo fenômeno da plataforma (Foto: Netflix)
Gabrielli Natividade da Silva
Round 6, a nova série original da Netflix, foi lançada no dia 17 de setembro e já conta com uma legião de fãs e recordes de audiência. A história narra como 456 pessoas afundadas em dívidas aceitaram participar de uma sequência de seis jogos, onde o vitorioso levaria um prêmio bilionário e os perdedores morreriam. Claro, jogos de sobrevivência não são novidade – alguns sucessos como Jogos Vorazes, Jogos Mortaise Escape Roomjá retrataram isso antes –, contudo as semelhanças param por aí. Squid Game tem um roteiro muito original, que oferece não só ação como um conceito e uma crítica muito importantes por trás de tudo, além de uma estética nova que mistura um pouco da realidade com elementos surreais.
Premiado com Urso de Prata de Melhor Direção no Festival de Berlim 2020, A Mulher que Fugiu compõe a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Jeonwonsa Film)
Ayra Mori
“Se ele apenas se repete, como pode ser sincero?”. Entre galinhas, conversas, álcool, carne, maçãs, gatos, câmeras de vigilância, montanhas, salas de cinema e até o oceano, Hong Sang-soo inaugura mais um capítulo de sua contínua série cinematográfica com A Mulher que Fugiu, presente na Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Acompanhando a crônica contemporânea de Gam-hee, uma mulher que decide visitar três amigas nos arredores de Seul, são nas variações, simples ou não, que o cineasta sul-coreano encontra recurso para remodelar sutilmente cada nova história, ao mesmo tempo que caminha por repetições.
“Um filme que faz bem ao corpo, alma, olhos, enfim, tudo”, disse Chanyeol sobre The Box em uma entrevista para o Telecine (Foto: Cine Pilwoon)
Talita Cardoso
Você também já sentiu vontade de sumir ou se esconder dentro de uma caixa? O musical confortável de assistir, The Box – No Ritmo do Coração, retrata a história de um jovem que tem um talento nato para a Música, mas não segue a carreira musical por possuir uma forte fobia de palcos, e seu encontro com um produtor musical que muda sua vida. A produção foi lançada na Coreia do Sul em 24 de março de 2021, e, recentemente, distribuída no Brasil com dublagem e legendas em português pelo Telecine, com direito a watch party com os fãs no Twitter organizada pela própria plataforma de streaming.
Destaques de Setembro de 2021: Shang-Chi, 8ª temporada de Brooklyn Nine-Nine, 3ª temporada de Sex Education e A Menina que Matou os Pais (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Marcela Zogheib)
O mês de setembro sediou a 73ª edição do Emmy, e a cobertura do Persona comentou sobre incontáveis produções indicadas e vencedoras do prêmio mais importante da Televisão, além de conteúdos com informações sobre as categorias e quem ficou de fora. Mas nem só de tapete vermelho vive um mês, e chegou a hora de comentar sobre as novidades de setembro no Cinema e na TV.
Grandes nomes do Cinema marcaram presença em lançamentos. A começar por Clint Eastwood que, no auge dos seus 91 anos, dirigiu e estrelou o filme Cry Macho, lançado nos cinemas e no HBO Max americano, trazendo uma perspectiva diferente de antigos papéis de sua carreira. Temos tambémMy Son, thriller com a vencedora do Emmy Claire Foy e James McAvoy, que filmou o longa inteiramente sem ler o roteiro, experienciando todos os momentos junto à audiência, acompanhando a investigação do desaparecimento do filho do casal.
O HBO Max também foi o palco de Ryan Reynolds, Taika Waititi e Joe Keery, que compõem o elenco recheado de estrelas de Free Guy. A história de aventura conta a história de Guy, um caixa de banco que descobre ser um personagem de videogame. Indo da comédia para o mistério, M. Night Shyamalan dirige Gael Garcia Bernal, Eliza Scanlen e outros grandes atores no longa Tempo (Old), sobre uma praia deserta onde os visitantes envelhecem repentinamente.
Para já ir se preparando para o Halloween, os lançamentos de terror chegam em peso. Candyman, produzido pelo Jordan Peele e dirigido por Nia DaCosta, propõe uma volta ao clássico do gênero, e Maligno, novo filme de James Wan, presta homenagem ao Cinema de Terror.
A Netflix, por sua vez, traz opções para todos os gostos, lançando Kate, filme de ação protagonizado por Mary Elizabeth Winstead, e Confissões de uma Adolescente Excluída, comédia baseada na obra de mesmo nome de Thalita Rebouças. Na onda de filmes sobre adolescência, Meu Nome é Badgá chega aos cinemas trazendo uma perspectiva diferente dessa fase, pelos olhos de uma skatista de 17 anos da periferia de São Paulo.
O Amazon Prime Video também chegou forte esse mês, com as duas partes que acompanham o julgamento do caso Richthofen, O Menino que Matou Meus Pais, contando a versão de Suzane, interpretada por Carla Diaz, e A Menina que Matou os Pais, acompanhando a perspectiva de seu namorado, Daniel Cravinhos. Além desses, The Voyeurs, inspirado em Janela Indiscreta, entra no catálogo do streaming da Amazon, estrelando Justice Smith e Sydney Sweeney.
Apostando na música, o Prime também traz uma repaginada da clássica história de Cinderella, com covers de músicas pop interpretadas por sua protagonista Camila Cabello. E a terceira edição do desfile da Rihanna, Savage X Fenty Show Vol. 3, coloca grandes nomes nas passarelas, como Troye Sivan, Thuso Mbedu, e Symone e Gottmik de RuPaul’sDrag Race. E falando de drag, Todos Estão Falando Sobre Jamie conta, através de um musical, a jornada de um garoto que quer se tornar drag queen.
Já no streaming da Disney, a música ficou por conta de Billie Eilish e Happier Than Ever: Uma Carta de Amor para Los Angeles, que acompanha um show da artista, além de trazer uma animação através de suas canções. E quando podemos ensaiar uma volta aos cinemas com a vacinação avançando na nossa população – e mantendo o uso de máscaras, não custa reforçar -, a Marvel está de volta às telonas com Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, primeiro filme com um herói asiático do estúdio.
Na TV, RuPaul’s Drag Race All Stars 6 coroa, pela primeira vez, uma mulher trans, a vencedora Kylie Sonique Love. Enquanto isso, a segunda temporada do spin-off europeu Drag Race Holland, chegou repleto de brigas e reviravoltas (e também deu o prêmio à uma mulher trans).
Representando os documentários, Controlling Britney Spears, a continuação de Framing Britney Spears, saiu de surpresa. Mais uma vez produzido pelo The New York Times, o programa continua destrinchando a delicada situação vivida pela princesa do pop.
Setembro também foi o mês de despedida de algumas séries. A oitava e última temporada da amada Brooklyn Nine-Nine vem com mudanças motivadas pelos protestos contra violência policial e o movimento Black Lives Matter. E na Netflix, Lúcifer entrega sua 6ª temporada com um final cheio de significados.
Para os fãs de comédia romântica,Sen Çal Kapimi, sensação da TV turca,lança a sua segunda temporada. A Hulu também vem com grandes sucessos em setembro. Reservation Dogs, produzida por Taika Waititi e original do FX, conta a história de jovens nativo-americanos que querem deixar a reserva onde vivem. Além dela, a minissérie Nine Perfect Strangers traz Nicole Kidman, Melissa McCarthy, Regina Hall e outros atores conhecidos de Hollywood em uma trama paradisíaca e bem misteriosa.
Animações também integraram o elenco de lançamentos de séries do mês. No Disney+, Monstros no Trabalho, um spin-off de Monstros S.A., mostra a vida de um jovem monstro recém formado que precisa se adaptar ao novo funcionamento da fábrica, que agora faz as crianças rirem. Star Wars: Visions, uma série de antologia em formato de curtas feita por estúdios de anime, brinca com o universo da franquia de George Lucas, enquanto Rick & Morty, no HBO Max, chega com sua 5ª temporada explorando ainda mais a conturbada relação de seus protagonistas.
A Netflix não brincou em setembro, e além dos filmes, o streaming trouxe muitas séries, começando por Q-Force, que acompanha um espião gay e sua equipe LGBTQIA+. Retornam Sangue e Água, depois do sucesso da primeira temporada, e Sex Education, que chega em sua terceira temporada com novas questões a serem discutidas, e com o primeiro personagem não-binárie da série, interpretado por Dua Saleh.
O streaming também tem bastante conteúdo pra quem gosta de ação: o volume 1 da parte final de La Casa de Papel, uma das séries mais famosas da produtora, chega com episódios intensos e um desfecho surpreendente. Além de Round 6, produção coreana que é a febre do mês. Perto de assumir o posto de série mais assistida da plataforma, a história acompanha pessoas competindo em um jogo de sobrevivência por um prêmio milionário. Por fim, Missa da Meia-Noite: o novo terror dramático de Mike Flanagan, cheio de tensão e religião. Tudo isso e muito mais você confere no Cineclube de Setembro de 2021, sob a curadoria da Editoria do Persona e de seus Colaboradores.
Entre longas, médias, curtas, videoartes, artes imersivas e games, Julho de 2021 nos trouxe as experimentações artísticas e sensoriais do 5º Festival Ecrã (Arte: Vitor Tenca/Texto de Abertura: Caio Machado e João Batista Signorelli)
Depois da jornada através do Cinema Fantástico que foi o Fantaspoa XVII, o Persona volta para o mundo dos festivais de Cinema, mas desta vez se aproximando ainda mais do experimental e incomum. A 5ª edição do Festival Ecrã de Experimentações Audiovisuais nos levou por caminhos dos mais abstratos, passando pelo intrigante, profundo, ou simplesmente incompreensível. De narrativas estruturadas à experiências puramente estéticas, o Ecrã foi online, gratuito e apresentou, além de longas e curtas, outras das inúmeras possibilidades proporcionadas pelo audiovisual: videoartes, performances, instalações, artes interativas e até mesmo games marcaram presença no festival que aceita tudo, menos o convencional e o conformista.
O Festival surgiu timidamente em 2017, com apenas 10 obras ao longo de 2 dias, e cresceu a cada ano até explodir em 2020, em sua primeira edição online, quando deu a uma enorme quantidade de cinéfilos, órfãos das salas de cinema e sedentos por novidades, a chance de descobrir dezenas de obras audiovisuais inovadoras. Em sua 5ª edição, realizada de 15 a 25 de julho, o jovem festival permanece independente de patrocinadores e sem cobrar um único centavo de seus espectadores, o que significa que o evento precisa buscar meios alternativos para se manter financeiramente. Por isso, o Ecrã abriu uma campanha de financiamento coletivo para esta edição, com a qual é possível contribuir até o dia 15 de agosto.
Através de uma plataforma própria, a quinta edição teve uma curadoria heterogênea como toda seleção de um Festival experimental deve ser. Trazendo desde obras de cineastas essenciais para o Cinema de vanguarda mundial, como James Benning e Ken Jacobs, à produções estudantis saídas diretamente das universidades brasileiras, o Ecrã ofereceu um panorama amplo de produções nacionais e internacionais das mais diversas, que buscam romper as fronteiras e arrebentar as caixinhas do tradicional e do óbvio.
Das 120 produções presentes na programação do Festival, o Persona assistiu 40, todas comentadas a seguir por Caio Machado, Caroline Campos, Gabriel Gatti, Gabriel Oliveira F. Arruda, João Batista Signorelli e Vitor Evangelista. Nos 10 dias de Festival, vimos um pouco de tudo: filmes macabros, engraçados, surpreendentes, incômodos, ou apenas abstratos demais para serem descritos. Se você quer sair do óbvio e passar longe do previsível, pode ter certeza que logo abaixo encontrará material de sobra para se interessar.
Navillera estreou na Netflix no dia 22 de março (Foto: Netflix)
Ana Nóbrega
Um sonho em comum e anos de diferença. A relação de amizade entreDeok Chool(Park In Hwan) e Chae Rok (Song Kang) começou com um sonho de infância no novo drama coreano da Netflix. Navillera trilha a história do patriarca Shim Deok Chool, um ex-servidor público de 70 anos que decidiu se tornar bailarino. Para que pudesse sustentar sua família, o coreano decidiu deixar de lado sua fantasia de um dia apresentar Lago dos Cisnes. Isso tudo muda depois que ele decide ir atrás do que o faz feliz, encontrando pelo caminho o bailarinoLee Chae Rok, de 23 anos.
“Call não envolve homens e mulheres. É um filme centrado em personagens femininas e suas relações, e um bem feito”, disse a atriz Park Shin Hye sobre o longa (Foto: Reprodução)
Bianca Penteado
O silêncio absoluto. As respirações baixas. Os movimentos lentos. O súbito toque de telefone.
Todos os amantes do terror já contemplaram essa cena. Desde O Chamado (2002), com a Samara prenunciando sua morte em ‘sete dias’, passando porPânico(1996), que sabe muito bem como nos arrepiar com o vagaroso e intenso ‘hello, Sidney’. E, finalmente, a corrida genérica pela busca do aparelho enquanto alguém o persegue. Convenhamos, as ligações no terror já decaíram ao título de clichê. Porém, sempre existindo a exceção, vamos concordar em discordar de Call (2020).
A Coreia do Sul escolheu Parasita como seu representante ao Oscar 2020 (Foto: Neon)
Vitor Evangelista
O Cinema sul-coreano fez barulho ao ganhar o prêmio máximo de Cannes alguns meses atrás. Parasita, obra prima do diretor Bong Joon-Ho, quebra a barreira da língua e orquestra um espetáculo de tirar o fôlego. As nuances violentas de uma família pobre e sua simbiose à classe rica são idealizadas num longa que não se cansa de passar a perna em seu espectador.