Como Você se Atreve a Desejar Algo Tão Terrível: quando uma tatuagem vira um debate sobre o male gaze iraniano

Cena do filme Como você se atreve a desejar algo tão terrível. Na imagem, uma mulher não identificada tem seus olhos capturados pela câmera. Ela olha para o lado com as pálpebras pintadas com lápis de olho preto e uma sobrancelha fina. O retrato está em preto e branco.
O documentário faz parte da seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Mania Akbari)

Nathalia Tetzner

Mania Akbari é uma força da natureza. Não à toa, a cineasta iraniana escolhe os traços das folhas e flores para tatuar em seu corpo ao longo do documentário Como Você se Atreve a Desejar Algo Tão Terrível, selecionado para integrar a seção Perspectiva Internacional da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Conhecida por abordar os direitos das mulheres de seu país de origem em suas produções, Akbari, dessa vez, propõe o que define como “o diálogo do corpo com a sua memória pictórica”. 

Continue lendo “Como Você se Atreve a Desejar Algo Tão Terrível: quando uma tatuagem vira um debate sobre o male gaze iraniano”

O documentário da Xuxa tem sorte de ter a Rainha dos Baixinhos como estrela

Foto promocional de Xuxa, o Documentário. Na imagem, a silhueta da Rainha dos Baixinhos aparece como uma sombra em meio ao cenário todo iluminado e colorido em tons quentes. Ao fundo, a icônica nave da Xuxa está aberta ao lado de dois X gigantescos. Em meio às escadas, uma grande camada de fumaça faz com que a apresentadora pareça estar nas nuvens de seu próprio planeta.
Xuxa, o Documentário se tornou a obra do gênero mais assistida da plataforma Globoplay (Foto: Blad Meneghel)

Nathalia Tetzner

Celebrando 60 anos de vida em 2023, Maria da Graça Meneghel entrega a figura estelar da Rainha dos Baixinhos nas mãos da roteirista Camila Appel e dos diretores Pedro Bial, Cássia Dian e Mônica Almeida que, em Xuxa, o Documentário, resgatam os momentos cruciais do maior fenômeno da história do entretenimento brasileiro. Dividido em apenas cinco episódios liberados semanalmente pela plataforma de streaming Globoplay, o seriado tenta o impossível: compilar décadas de uma trajetória estratosférica. E, com as cortinas do espetáculo despencando na frente do espectador, o produto final cai, mas não sem atirar o brilho da fantasia de volta. 

Continue lendo “O documentário da Xuxa tem sorte de ter a Rainha dos Baixinhos como estrela”

10 anos atrás, PRISM refratou todas as cores de Katy Perry

Capa do álbum PRISM da cantora Katy Perry. Na arte da capa, a imagem da cantora está centralizada a partir do busto. Uma borda estilizada apresenta uma paleta de tons suaves com flores nas cores laranja e amarelo. Perry é uma mulher branca de cabelos escuros e olhos claros. Ela está em um campo de girassol. No topo da arte da capa, o nome “Katy Perry” aparece em letras garrafais. Já na parte inferior, o título do disco “PRISM” está escrito da mesma forma.
PRISM debutou no topo da Billboard Hot 200 em 2013 (Foto: Ryan McGinley)

Nathalia Tetzner

Segundo a ciência, o arco-íris é explicado pela refração, dispersão e reflexão da luz solar por gotículas de água presentes na atmosfera. Já para os supersticiosos, o arco luminoso pode significar prosperidade e abundância, tal qual a história clássica do duende e o pote de ouro. Porém, nos versos de Katy Perry, a magia está no Double Rainbow, algo que você somente seria capaz de testemunhar uma vez na vida. 

Mas, afinal, se a misticidade determina que a duplicidade do fenômeno físico pode ocorrer uma única vez ao longo da trajetória de uma pessoa, quantas vezes é possível se alcançar o topo do mundo? Contrariando as estatísticas de discos que são amaldiçoados pelo sucesso estrondoso do anterior, PRISM (2013) refratou todas as cores de Perry ao colocá-la no caminho certo para encontrar a recompensa dourada novamente em sua carreira.

Continue lendo “10 anos atrás, PRISM refratou todas as cores de Katy Perry”

Oldboy: 20 anos do mais belo trauma geracional

Cena do filme Oldboy. Na imagem, Oh Dae-su (Choi Min-sik) está sentado esperando sua refeição em um restaurante especializado em sushi. A câmera o captura a partir dos ombros e a sua figura está centralizada no plano. Ele é um homem sul-coreano de cabelos e olhos escuros. O protagonista veste uma camiseta de botões e mangas longas na cor preta. Um óculos de sol de armação dourada e lentes vermelhas encobre todo o seu olhar. Ao fundo, é possível observar alguns clientes sentados em mesas e quadros decorando o ambiente de iluminação baixa.
Oldeuboi ganhou o Grand Prix do Festival de Cannes de 2004 (Foto: Show East)

Nathalia Tetzner

No cativeiro de Oh Dae-su (Choi Min-sik), papéis de parede repetidamente estampados com favo de mel, uma televisão de tubo em ótimo estado e um gás capaz de fazer adormecer compõem o cenário desconcertante. O quarto nunca é invadido pela luz natural, gotas de chuva ou o barulho da cidade, mas é penetrado por uma câmera de Cinema condicionada à perspectiva restrita do personagem, sufocando o espectador junto dele. Em 2003, o diretor sul-coreano Park Chan-wook lançou ao mundo a sua interpretação da série de mangá japonesa Old Boy (1996-1998) que, com uma paleta de tons verde, vermelho e roxo, se propôs a retratar a enorme prisão que acorrenta a sociedade e, principalmente, ocasionou o mais belo trauma geracional com um plot twist digno de calafrios.

Continue lendo “Oldboy: 20 anos do mais belo trauma geracional”

25 anos depois, o entretenimento afiado de A Máscara do Zorro permanece marcante

Cena do filme A Máscara do Zorro. Na imagem, as personagens, Alejandro Murrieta (Antonio Banderas), já atuando como o Zorro e, Elena de la Vega (Catherine Zeta-Jones), aparecem guiando os sobreviventes de uma mina de ouro. Murrieta é um homem de pele branca e cabelos e olhos escuros. Ele veste um figurino completamente preto que é acompanhado de luvas e uma capa que se estende até a sola da bota. Vega é uma mulher de pele branca e cabelos e olhos escuros. Ela veste uma camiseta de mangas longas com um fundo transparente e azul, uma saia longa na cor marrom e um cinto preto. Os sobreviventes vestem trajes amarronzados e rasgados. Ao fundo, o cenário é a mina de ouro encoberta pela fumaça branca de seus destroços.
Em 1998, The Mask of Zorro arrecadou mais de 250 milhões de dólares em bilheteria (Foto: Sony Pictures)

Nathalia Tetzner

É graças à figura imponente do Zorro que, no universo dos heróis, não há nada tão clássico quanto um vigilante trajado de preto com sede de vingança e senso de justiça por aqueles que não podem se defender. Criado pelo escritor pulp Johnston McCulley em 1919, o mascarado assistiu a sua história se repetir nos quadrinhos, na Televisão e nas grandes telas do Cinema em incontáveis versões. Mas, foi apenas oito décadas depois de seu nascimento que, graças a genialidade de Steven Spielberg através das lentes de Martin Campbell, ele se consagrou como um símbolo universal no longa A Máscara do Zorro, uma aventura de pouco mais de 120 minutos marcada pelo entretenimento afiado como a rapieira usada para esculpir o Z nos corpos dos inimigos.

Continue lendo “25 anos depois, o entretenimento afiado de A Máscara do Zorro permanece marcante”

EXIST: admita, você também quer experimentar a Cream Soda do EXO

Capa do álbum EXIST do grupo sul-coreano EXO. Na arte, uma sequência de fogos de artifícios forma a figura de um hexágono, marca registrada do grupo. O fundo é um plano preto que consegue destacar as cores vibrantes que compõem a pirotecnia: rosa, laranja e azul.
EXIST ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias somente na pré-venda (Foto: SM Entertainment)

Nathalia Tetzner

Após completar 10 anos de carreira em 2022, o grupo sul-coreano EXO finalmente voltou com o que sabe fazer de melhor: a diversão em meio ao caos. Com uma sede que pede por um refrigerante cremoso e um single principal recheado de duplo-sentido, oito dos nove membros se reuniram para celebrar em grande estilo, mesmo com os empecilhos do exército e da própria gravadora, a SM Entertainment. O sétimo álbum, EXIST, busca a receita perfeita em meio ao amadurecimento e, ainda que não funcione por completo, é difícil não desejar essa tal de Cream Soda que se espalha pela boca e explode em sensações.

Continue lendo “EXIST: admita, você também quer experimentar a Cream Soda do EXO”

One of the Boys: 15 anos desde que Katy Perry se infiltrou entre os garotos para deixar a sua marca

Capa do álbum One of the Boys de Katy Perry. Na imagem, ela aparece deitada sobre uma esteira de descanso. Perry é uma mulher branca de cabelos escuros e olhos claros. A cantora está com uma das mãos apoiadas na esteira enquanto leva um óculos de sol à boca com a outra. Katy Perry veste um shorts jeans azul, um top vermelho com detalhes em branco, sandálias vermelhas e um chapéu azul. Ao fundo, o cenário é composto por um gramado repleto de flores e decorações como um flamingo e uma vitrola na cor rosa. Há também um cercado branco e um céu azul repleto de nuvens brancas. Na parte superior da arte de capa, o nome “Katy Perry” aparece estilizado e destacado em rosa e branco. Já na parte inferior, o nome do disco “One of the Boys” está escrito em letra cursiva azulada.
Em 2008, o lançamento de One of the Boys trouxe Katy Perry ao mundo (Foto: Capitol Records)

Nathalia Tetzner

Ela não gritou quando viu uma aranha assustadora e escolheu os acordes da guitarra em troca das sapatilhas de balé, mas dentro dela sempre existiu um desejo oculto: o de se tornar uma musa pin-up, daquelas que os meninos colecionam posters. Então, começou a ler revistas para adolescentes e a depilar as pernas na tentativa de se tornar a rainha do baile de alguém. Ainda assim, ela continuou invisível para eles. Há 15 anos, o álbum One of the Boys dava luz a Katy Perry, essa jovem que procurava incessantemente o seu lugar no mundo e que não teve outra escolha a não ser se infiltrar entre os garotos para deixar a sua marca.

Continue lendo “One of the Boys: 15 anos desde que Katy Perry se infiltrou entre os garotos para deixar a sua marca”

Estante do Persona – Abril de 2023

Imagem retangular de fundo verde. Do lado direito está o livro Rita Lee: uma autobiografia, ele tem capa laranja, com um RG da artista no centro e o nome Rita Lee em cima. Do lado esquerdo há três livros empilhados nas cores preto, vermelho e violeta, o texto Estante do Persona Abril de 2023 aparece nas lombadas.
Caminhando pela singularidade subversiva de uma das maiores artistas do Brasil, o Clube do Livro de Abril contemplou Rita Lee: uma autobiografia (Foto: Globo Livros/ Arte: Raíra Tiengo/ Texto de abertura: Jamily Rigonatto)

A edição do Clube do Livro de Abril marca o vigésimo encontro do grupo de leitores do Persona. Depois de caminharem por autores e, principalmente, autoras, que expandiram todos os limites das perspectivas, foi a vez de dar de cara com a marcante figura do rock brasileiro, Rita Lee, em Rita Lee: uma autobiografia. Falecida no dia 8 de Maio de 2023, a contemplação da obra da artista se formata em tons de saudosismo e admiração. 

Em pequenos relatos que caminham desde a infância até a vida adulta agitada, o texto encara a distinção das fases em períodos curtos, palavras estrangeiras e gírias paulistanas. Através da óptica completamente única, a autoria de cada termo quase grita Rita Lee. Direta e reta como sempre, seus afetos, vivências, tristezas e o que mais houver cantam em notas vibrantes e extremamente características. 

Além da voz da “padroeira da liberdade” – apelido pelo qual gostava de ser chamada –, o escrito conta com os pitacos do jornalista Guilherme Samora, representado pela aparição de um fantasma chamado Phantom. A figura aparece em determinados trechos para indicar algum detalhe ou data esquecidos pela artista, e contribui para aumentar a sensação de autenticidade dos capítulos. 

Publicada em 2016, a obra foi consagrada no mesmo ano com o título de Melhor Biografia do Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), a artista também foi lembrada por suas contribuições no universo musical durante a cerimônia. Em 2017, o livro apareceu entre os indicados da categoria de Melhor Biografia da estatueta oferecida pela Academia Brasileira de Letras (ABL), o Prêmio Jabuti

O relato é o primogênito da segunda autobiografia de Rita, intitulada Rita Lee: outra autobiografia. A caçula chegou ao mundo em Maio, pouco tempo depois da morte da autora, e carrega em 192 páginas memórias que contemplam os momentos da cantora com a descoberta do câncer de pulmão durante o período pandêmico. 

Mesmo se seu RG não estampasse a capa do livro, o escolhido do mês não poderia ter sua assinatura confundida com a de nenhuma outra literata. Marcado por originalidade e cheio de personalidade, o ato de ler e viver Rita Lee foi e sempre será um presente. Para homenagear as múltiplas sensações provocadas pela eterna Rainha, ficam nossas dicas literárias especialmente para os que têm cor de Tutti Frutti no Estante do Persona de Abril de 2023.

Continue lendo “Estante do Persona – Abril de 2023”

As férias de verão sem fim de Miley Cyrus terminaram cedo demais

Capa do álbum Endless Summer Vacation. Na imagem, Miley Cyrus se pendura com as duas mãos apoiadas em uma barra suspensa por correntes. Ela é uma mulher branca de olhos claros. Seu cabelo está dividido entre mechas loiras e escuras, Cyrus veste um traje de banho com cortes laterais, um salto alto e um óculos de sol, todos na mesma cor: preto. Ao fundo, um degradê entre os tons de azul toma conta da paisagem.
Após o sucesso estrondoso do lead single Flowers, Miley Cyrus lançou e esqueceu o seu oitavo álbum de estúdio (Foto: Brianna Capozzi)

Nathalia Tetzner

Vestindo a carapuça, ou melhor, o manto dourado que encobre as divas do pop traídas, Miley Cyrus começou 2023 colocando o pé na porta da casa em que o ex-marido a traiu com 14 mulheres e com a passagem comprada para uma férias de verão sem fim. Acontece que ambos se provaram uma ilusão: as estatísticas foram inventadas pelos fãs, devotados em trazer Cyrus de volta ao topo, e a tão sonhada celebração de uma das vozes mais potentes da geração com o disco Endless Summer Vacation chegou ao fim antes mesmo de começar, se tornando apenas uma daquelas noites quentes em que o frio parece dominar o psicológico.

Continue lendo “As férias de verão sem fim de Miley Cyrus terminaram cedo demais”

Os curtas brasileiros do 28º Festival É Tudo Verdade

Na 28ª edição do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, o Persona acompanhou os filmes da Competição Brasileira de Curtas-Metragens (Foto: Hans Gunter Flieg/Acervo Instituto Moreira Salles/É Tudo Verdade/Arte: Ana Clara Abbate/Texto de abertura: Bruno Andrade)

Entre os dias 13 e 23 de abril, o Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade voltou totalmente às salas presenciais dos cinemas espalhados em São Paulo e Rio de Janeiro. Com exibições gratuitas no Centro Cultural São Paulo, Cine Marquise, Cinemateca Brasileira, Sesc 24 de Maio e IMS Paulista, o festival teve também Sessões Especiais virtuais, exibindo nas plataformas de streaming Itaú Cultural Play e Sesc Digital sete dos nove filmes da Competição Brasileira de Curtas-Metragens e dois longas da Mostra Foco Latino-Americano (Beleza Silenciosa, de Jasmín Mara Lópeza, e Hot Club de Montevideo, de Maximiliano Contenti).

Com 72 títulos de 34 países, o festival – fundado em 1996 por Amir Labaki – homenageou dois grandes cineastas na sua 28ª edição: Humberto Mauro (1897–1983), “um dos inventores do Brasil cinematográfico”, que “impõe-se quando o próprio país e logo seu Cinema enfrentam nova reconstrução”, exibindo dez de seus filmes e dois documentários; e Jean-Luc Godard (1930–2022), com a apresentação dos oito episódios da sua série documental História(s) do Cinema (1987-1998), considerada a obra-prima da última parte de sua carreira, cujo conteúdo foi constantemente retrabalhado pelo autor e cuja produção durou cerca de dez anos.

O alcance do É Tudo Verdade, o maior festival de Documentários do mundo, é reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que classifica diretamente os filmes vencedores dos prêmios dos júris nas Competições Brasileiras e Internacionais de Longas/Médias e de Curtas-Metragens para apreciação ao Oscar do próximo ano. Longe das sessões presenciais, o Persona assistiu à distância os curtas-metragens brasileiros disponíveis no streaming. Dos sete filmes da Competição Brasileira de Curtas exibidos remotamente, quatro tiveram sua estreia mundial no É Tudo Verdade, que também expôs, apenas presencialmente, Ferro’s Bar (Menção Honrosa na categoria), dirigido por Aline A. Assis, Fernanda Elias, Nayla Guerra e Rita Quadros, e O Materialismo Histórico da Flecha Contra o Relógio, de Carlos Adriano.

Mãri hi – A Árvore do Sonho, de Morzaniel Ɨramari, além de ter sua estreia mundial no É Tudo Verdade, foi o grande vencedor da Competição Brasileira de Curtas-Metragens, recebendo também o Prêmio Mistika. Produzido em parceria da ARUAC Filmes com a Hutukara Associação Yanomami, o curta do cineasta yanomami aborda o conhecimento de seu povo sobre os sonhos, com a participação e narração da liderança indígena e xamã, Davi Kopenawa. “A luta yanomami vai continuar até o fim”, disse Ɨramari.

Abaixo, você fica com a curadoria do Persona feita por Bruno Andrade, Enzo Caramori, Guilherme Veiga, Jamily Rigonatto, Nathalia Tetzner e Vitória Gomez, que deixam suas impressões sobre Os curtas brasileiros do 28º Festival É Tudo Verdade.

Continue lendo “Os curtas brasileiros do 28º Festival É Tudo Verdade”