Em Ousamos Sonhar, o refúgio é a esperança

Trazendo à tona os desafios dos imigrantes no esporte, Ousamos Sonhar fez parte da Competição Novos Diretores da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Violet Films)

Jamily Rigonatto 

Lutar, correr e persistir, três verbos que se encaixam perfeitamente nas rotinas de dois mundos aparentemente distantes: esporte e imigração. Ousamos Sonhar é o ponto de encontro, uma prova de que universos se fundem e são capazes de dobrar a força de qualquer palavra. No filme, dirigido por Waad al-Kateab e presente na Competição Novos Diretores da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, os sonhos ultrapassam as linhas das fronteiras territoriais. 

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Here olha para o que ninguém vê

Cena do filme Here. A cena se passa em uma floresta, com o solo verde coberto por musgos e troncos de árvores ao fundo. Em um primeiro plano, os dois personagem estão mal iluminados e é possível ver, à esquerda, uma mulher adulta com cabelo preso em um coque, ajoelhada no chão, segurando uma planta na mão. À sua frente, à direita, é possível ver um homem curvado sobre uma pedra, encarando o que ela tem em mãos.
Here venceu os prêmios de Encounters e FIPRESCI do Festival de Berlim e participou do Festival do Rio 2023 na seção Expectativa (Foto: Rediance Films)

Vitória Gomez

Para Bas Devos, fazer filmes é uma desculpa para ser curioso. Here, seu quarto longa-metragem, usa essa curiosidade para observar a relação de dois estranhos consigo mesmos, um com o outro e com o país que habitam, estrangeiro tanto quanto eles mesmos ali. A produção desembarcou no Brasil no 25° Festival do Rio depois de conquistar dois troféus no Festival de Berlim e, olhando para o ordinário, torna até o comum fantástico. 

Na obra, o diretor belga segue Stefan (Stefan Gota), um trabalhador romeno da construção civil morando em Bruxelas, na Bélgica. Quando a temporada de obra acaba e ele e seus colegas – igualmente estrangeiros – poderão aproveitar as férias em seus países de origem, o protagonista encontra uma mulher que o fará pensar duas vezes se deve ou não voltar. O grande porém é que ela sequer sabe o nome dele.

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O Desencontrar de Vidas Passadas

Antes do sucesso nas telas de cinema, o longa-metragem foi aclamado pela crítica especializada no Sundance Film Festival e na 73ª edição do Berlinale (Foto: California Filmes)

Ludmila Henrique 

Na cultura sul-coreana, há um conceito conhecido como In-Yun, que pode ser lido como “destino” ou “reencarnação”. Em gênese, In-Yun é o pressentimento que nos arrebata quando entendemos que uma eventualidade estava predestinada em nossos acasos, desenhada em algum no campo cósmico, e que nada e nem ninguém, poderia ser capaz de interferir naquela factualidade. Em Past Lives, longa de estreia da cineasta Celine Song exibido no Brasil durante a 25ª edição do Festival do Rio, vemos o movimento de tempo entre dois melhores amigos e a maneira que seus destinos estão entrelaçados involuntariamente com suas vidas passadas. 

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Joy as an Act of Resistance: Há 5 anos, IDLES revolucionava ao ser feliz

Ensaio fotográfico da banda IDLES para a revista NME. Nela temos, da esquerda para a direita, Mark Bowen, um homem branco de cabelos castanhos e bigode volumoso; Lee Kiernan, um homem branco de cabelos longos castanhos; Adam Devonshire, um homem branco careca de barba ruiva volumosa, seguido logo abaixo por Joe Talbot, um homem branco de cabelo preto ralo, barba por fazer e bigode e Jon Beavis, um homem branco de cabelos castanhos. Mark veste um macacão de trabalhos azul escuro com o escrito “HART” no peito esquerdo. Lee veste uma camisa branca por dentro da calça preta e um óculos de armação na cor vinho. Adam veste uma camisa vinho e calça preta. Joe veste uma camiseta branca, camisa florida e calça preta e Joe veste uma camiseta branca, camisa salmão com estampa em formato de losango e desenhos de uma pantera negra e calça preta. Eles estão sobre uma parede branca fazendo poses e seguram cinco balões prateados com letras que formam o nome da banda.
A grande força da banda está em se reconhecer como frágil (Foto: Fiona Garden/NME)

Guilherme Veiga

A felicidade incomoda, isso é fato. Outra coisa que também faz questão de desagradar é o punk-rock. O gênero que surgiu em meados dos anos 1960 e incorpora o garage rock e o proto-punk assume a roupagem de ser uma pedra no sapato do sistema, a peça que não se encaixa no quebra-cabeças. Isso é notado desde seus expoentes não tão politizados como blink-182 até os mais politicamente ácidos como Rage Against The Machine.

Iniciado juntamente com o movimento punk, seus adeptos, por mais que não liguem para estereótipos, sempre foram caracterizados como pessoas fechadas, vestidas de preto e com uma raiva internalizada. Nesse sentido, seus ouvintes majoritariamente são vistos como indivíduos em que a alegria é seu ‘divertidamente’ mais escanteado e a seu companheiro vermelho é quem assume a sua mente. Pensando nisso, o grupo britânico IDLES, em seu segundo álbum de estúdio, Joy as an Act of Resistance. discorre na verdade como esses dois sentimentos estão mais próximos do que se imagina.

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A vida não dá trégua nas travessias de Flee

Cena do filme Flee. Ilustração retangular. Ao fundo, vemos várias pessoas em uma balada gay. Amin está centralizado. Ele coloca os braços sobre o balcão do estabelecimento, veste roupas de inverno e olha para o lado direito da imagem.
Indicado três vezes ao Oscar 2022, Flee é um documentário que ilustra uma complexa jornada de autoconhecimento (Foto: NEON/Participant)

Eduardo Rota Hilário

Vou carregar de tudo vida afora/Marcas de amor, de luto e espora/Deixo alegria e dor/Ao ir embora”. Os versos de Compasso, composição de Angela Ro Ro com Ricardo Mac Cord, podem até não aparecer na trilha sonora da produção dinamarquesa Flee (Flugt, 2021), dirigida por Jonas Poher Rasmussen; no entanto, ao serem recortados do restante da música, esses fragmentos poéticos expressam muito bem uma das inúmeras sensações que permeiam o longa-metragem estrangeiro. Afinal, em todo o filme, estamos diante de uma concretude nua e crua, e ela nunca será vivenciada da mesma forma por indivíduos minimamente diferentes.

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Toda a coragem do mundo mora na sala de aula do Sr. Bachmann e Seus Alunos

Cena do documentário Sr. Bachmann e Seus Alunos. A imagem mostra o professor Bachmann sentado em sua mesa na sala de aula. Ele é um senhor branco com barba rala branca, usa moletom cinza e touca preta. Na mesa dele há livros, violões encostados e ao fundo uma lousa.
A classe diversa de Sr. Bachmann e Seus Alunos faz parte da seleção dos premiados no Festival de Berlim, que chega na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na seção Perspectiva Internacional (Foto: Madonnen Film)

Nathália Mendes

Paulo Freire nos contou que para educar é necessário coragem, e ele de certo se orgulharia do desafio que Sr. Bachmann e Seus Alunos enfrentam no sistema educacional alemão. Amor e humanidade são as únicas linhas guias no documentário de Maria Speth, que acompanha uma classe de alunos por meio ano letivo, sem entrevistas ou roteiros pré-estabelecidos. E é com uma neutra observação que o longa de quase 4 horas chega à 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, para nos lembrar de que a educação não muda o mundo, a educação muda pessoas e pessoas mudam o mundo.

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O Filho das Monarcas tem uma herança de transformação

Cena do filme Filho das Monarcas.
A produção realizada entre México e Estados Unidos é parte da seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Wide Management)

Raquel Dutra

A metamorfose de Filho das Monarcas é sugerida desde sua primeira cena. Quando um pesquisador curioso rompe cuidadosamente o casulo de uma borboleta logo antes de uma voz ancestral explicar um dos muitos significados atribuídos àquele processo, Alexis Gambis sussurra ao público da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo que sua história existirá em algum lugar entre as ideias de modernidade e tradição, ciência e arte, natureza e tecnologia, relações e separações, mudanças e raízes.

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Seremos sempre incapazes de ouvir os gritos de Listen?

Cena do filme Listen. Na imagem, há uma mulher e um homem sentados com uma cadeira separando os dois. Na esquerda, a mulher está sentada olhando para o lado com uma expressão de ligeira aflição; ela é branca de cabelos loiros e usa uma blusa lilás e segura um casaco roxo entre as mãos que estão entrelaçadas em cima das pernas. No canto direito, o homem também olha para o lado com atenção; ele é branco com cabelos castanhos e barba branca por fazer, usa uma camiseta azul com jaqueta verde muito desgastada por cima, uma calça cinza e segura um lápis e um papel para anotar em cima das pernas. A cadeira que os separa é em madeira clara e estofado bege. O fundo é uma parede com a metade de cima em papel de parede azul e folhagens claras, e a parte de baixo é de madeira listrada branca.
Uma família de imigrantes sofre silenciosamente na luta contra a Segurança Social britânica em Listen, filme exibido na seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Bando à Parte)

Nathália Mendes

Limpe bem seus ouvidos para assistir o drama português Listen exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Nele, a surdez nada tem a ver com a falta de audição, mas com a racional ignorância daqueles que ouvem muito bem. No longa escrito e dirigido por Ana Rocha Sousa, um casal de imigrantes portugueses tenta criar três filhos, sendo a do meio uma menina surda, e sobrevivendo de subempregos em uma dura Londres, até que o Serviço Social britânico tira as crianças de casa. É por esse duro retrato familiar que o longa pauta a silenciosa adoção forçada na Inglaterra.

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One Day at a Time voltou para deixar mais saudades

Fotografia promocional de One Day At a Time. No centro vemos Penélope, uma mulher latina, de cabelo ondulado na altura dos ombros. Ela veste uma jaqueta azul. Ao seu lado direito temos Alex, adolescente, filho de Penélope. Ele tem cabelo curto e castanho. Ele veste jaqueta vermelha e bege, com bolso verde e amarelo. Ao lado esquerdo de Penélope temos sua filha Elena. Ela tem cabelos longos e pretos. Veste uma jaqueta verde e óculos preto. Acima de Penélope vemos sua mãe, Lydia. Ela tem cabelo na altura da orelha e franja. Veste uma camisa vermelha de manga longa com detalhes em branco. Ao lado direito de Lydia vemos Schneider. Um homem branco, de cabelo curto. Ele tem barba, olhos azuis e usa óculos preto. Ele veste camisa branca e jaqueta jeans. Ao lado esquerdo vemos o Dr. Berkowitz. Um homem mais velho, branco e de cabelo curto. Ele veste uma camisa rosa. O fundo da imagem é azul
Poster promocional da quarta temporada de One Day at a Time (Foto: Reprodução)

Ana Júlia Trevisan

O ano era 2019 e os fãs da série One Day at a Time se revoltavam no Twitter por conta do cancelamento feito pela Netflix. Após muitos pedidos para a renovação, foi entregue uma bem sucedida terceira temporada mostrando que o streaming ainda tinha força e conteúdo para continuar produzindo a queridinha dos assinantes. O cancelamento parecia improvável pois, além dos motivos já citados, o terceiro ano se finaliza com um gancho perfeito para uma nova temporada da série que foi abandonada.

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