Reviver Elis é melhor que sonhar

Na imagem Andréia Horta está caracterizada como Elis Regina. Ela está de lado, com a mão esquerda sobre um microfone, o qual encosta na lateral do seu rosto. Sua face está virada para a câmera e ela tem um largo sorriso estampado, olhos fechados e os cabelos castanhos escuros cortados bem curtos.
“Porque liberdade e ar são duas coisas que a gente sente que são essenciais para a vida. Sobretudo quando fazem falta” (Foto: TV Globo)

Ana Laura Ferreira e Raquel Dutra

A trajetória da música brasileira transpassa a história do país. Os fatos, a política e o social moldaram a forma e o conteúdo dos nossos produtos culturais, que muitas vezes combateram na linha de frente os regimes abusivos, denunciaram e registraram as experiências de cada período. No nascimento de um dos gêneros musicais mais brasileiros dentre os nascidos em terras tupiniquins não seria diferente, como ilustra a minissérie Elis – Viver é Melhor que Sonhar e seu retrato da origem da Música Popular Brasileira protagonizada pela Pimentinha Elis Regina. A produção indicada a Melhor Minissérie/Telefilme no Emmy Internacional 2020 mergulha no cenário efervescente da música nacional entre os anos de 1960 e 1980 ao mesmo tempo em que fragmenta a gaúcha, mãe da MPB, em muitas mulheres para além da artista.

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APKÁ! é um reflexo

Capa do álbum "APKÁ" da artista Maria do Céu. A imagem é composta por de uma fotografia muito próxima do rosto da artista que se sobrepõe três vezes e se alinha no canto superior direito. Céu tem a pele branca e usa uma maquiagem azul clara nos olhos e um brilho labial suave. Numa posição quase no centro mas levemente ajustada à esquerda e ao lado inferior da imagem, está escrito "CÉU" e depois, na mesma linha, "APKÁ!", numa fonte meio tribal em caixa alta e colorida num tom de branco levemente rosado.
Capa de APKÁ! (Foto: Reprodução)

Yasmin Moscoski

A cantora e compositora Maria do Céu abre seu quinto álbum de estúdio, APKÁ! (2019), com uma saudação melódica e acolhedora. O “Olá, como vai você?” de Off (Sad Siri) é um verdadeiro convite para o mergulho interior da artista. Vindo de Tropix (2016), Céu nos introduz à sua nova obra de forma tênue, mesclando sintetizadores e baterias contadas como em um reencontro. Com o repertório versátil que transita com harmonia entre os gêneros, o álbum tem três indicações no Grammy Latino 2020: Melhor Canção em Língua Portuguesa, Melhor Álbum de Engenharia de Gravação e Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa.

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Em Planeta Fome, Elza Soares serve um banquete

Foto de Elza Soares. Ela está ao centro da imagem, seus cabelos são cacheados e loiros. Elza veste uma roupa preta brilhante e suas mãos estão entrelaçadas, apoiando o seu queixo.
Todos os últimos trabalhos de Elza foram reconhecidos no Grammy Latino e este ano não é diferente: a artista é indicada a Melhor Álbum de Música Popular Brasileira com seu disco mais recente, lançado em setembro de 2019 (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

A primeira vez que Elza Soares cantou em público foi em 1953. Na época, com apenas 23 anos, a artista já enfrentava a dureza da vida e viúva de um casamento que aconteceu quando ela tinha apenas 11 anos, lutava pela sua sobrevivência e a de seus filhos. Movida pelo desespero de ver um deles doente e sem dinheiro para o tratamento, ela decidiu participar de um programa de calouros da Rádio Tupi, apresentado por Ary Barroso. Naquele dia, com suas vestimentas humildes, Elza encarou os risos da plateia quando foi se apresentar e foi questionada em tom de chacota pelo apresentador: “De que planeta você vem, minha filha?”. O público gargalhou e logo foi cortado e constrangido pela resposta de direta de Elza, que mesmo ainda revestida de humildade, não deixou-se intimidar e disparou: “Do mesmo planeta que você, seu Ary. Do planeta fome”. 

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15 anos de Confessions: o lar que Madonna construiu

Capa do álbum Confessions on a Dance Floor, de Madonna. A cantora é uma mulher branca e usa um vestido curto rosa. Ela está no centro da imagem, de costas, com os joelhos e a mão direita apoiada no chão. A mão esquerda no ar apontada para a esquerda. A cantora olha para cima. Foi adicionado um fundo preto com bolinhas coloridas, o texto "MADONNA" em rosa e azul. O desenho de um globo de espelhos substitui a letra O da palavra MADONNA. Abaixo, foi adicionado "Confessions on a Dance Floor" em letra cursiva.
Capa do álbum (Foto: Reprodução)

Leonardo Teixeira

Uma sirene corta a noite, enquanto carros buzinam no que parece ser uma rua movimentada. Mas não é só o ruído urbano que se ouve. Vem vindo um compasso, seco e sintetizado, que se aproxima aos poucos. Logo, a cidade é engolida pela batida eletrônica. Estamos na pista de dança. É assim que é introduzida I Love New York, faixa 5 do décimo disco de estúdio de Madonna, Confessions on a Dance Floor (2005). A música homenageia não só a cidade que acolheu a aspirante a dançarina, quando ali ela desembarcou – com apenas 35 dólares no bolso, reza a lenda -, mas também o tipo de estado de espírito noturno e eufórico que resiste nas ruas e explode sob a luz de estrobo. 

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N é uma homenagem de Anavitória a Nando Reis e também ao Amor

Ana comentou que trabalhar com Nando foi uma “intervenção divina” (Foto: Reprodução)

Ana Beatriz Rodrigues

O duo Anavitória vem entregando grandes presentes para o público mesmo durante a quarentena. A música Me conta da tua janela, lançada em abril deste ano, é uma poesia melancólica sobre esses dias sombrios e a valorização do nosso antigo modo de vida. Entretanto, mesmo antes da era das lives, as cantoras não erraram e prestaram uma bela homenagem ao cantor, e amigo próximo, Nando Reis. Intitulado de N (2019), o álbum conta com a regravação de músicas compostas por Nando que são consideradas sucessos da Música Popular Brasileira e também foi indicado a Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa no Grammy Latino 2020

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5 anos de Made In The A.M. e o amadurecimento de novas direções

Capa do álbum MADE IN THE A.M. da banda One Direction. Na imagem, Niall e Harry estão sentados em um sofá e Louis e Liam estão sentados no chão. Louis e Harry olham para a câmera, Niall e Liam olham para o lado.
(Foto: Reprodução)

Beatriz Bianchi

Com impressionantes números de vendas, o álbum Made In The A.M. da boyband britânica formada por Niall Horan, Liam Payne, Louis Tomlinson e Harry Styles, a One Direction, estava sendo lançado há 5 anos atrás, em 13 de novembro de 2015. Estreou em primeiro lugar na parada de álbuns do Reino Unido com mais de 90 mil cópias físicas vendidas na primeira semana, tornando-se seu quarto álbum no topo dos charts e o álbum mais vendido de 2015 até aquele momento.

A One Direction é uma das bandas que acompanho desde 2010, o ano de sua formação. Sempre fui muito ativa no fandom e fiquei muito ansiosa para o lançamento do Made In The A.M.. Eu me perguntava o tempo todo: como será sem o Zayn?

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Drag Race Holland é um teste para cardíaco

Na foto vemos quatro drag queens. Da esquerda para a direita: Miss Abby OMG está toda de preto, com um espartilho roxo, Ma'ma Queen usa uma roupa azul e verde, com plumas e asas que lembram o carnaval, seu cabelo é azul claro e ela tem um adereço na cabeça, Envy Peru está de preto com uma grande pluma na cabeça e Janey Jacké veste vermelho, um maiô com meia calça e asas de anjo no mesmo tom de vermelho.
Além do título e da Coroa, a vencedora de Drag Race Holland levou para casa um vestido horroroso, mas avaliado em milhares de euros (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Pela primeira vez em 2020, Drag Race premiou quem mereceu a Coroa desde o dia um. Não contestando as brilhantes vitórias de Jaida Essence Hall e Shea Couleé, nem mesmo a coroação de Priyanka, mas o que mudou em Drag Race Holland foi o favoritismo avassalador que a estonteante e belíssima Envy Peru exerceu na órbita de suas concorrentes. A drag queen latina clamou para si o título de Primeira Super Estrela Drag da Holanda, numa temporada com mais altos do que baixos, e que definitivamente colocou o público numa montanha-russa emocional.

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Há 15 anos, o clássico de Jane Austen estreava no cinema com orgulho, mas sem preconceito

“É estranho pensar que todas as grandes mulheres da ficção tenham sido, até o advento de Jane Austen, não só retratadas pelo outro sexo, mas apenas de acordo com sua relação com o outro sexo”.   (Virginia Woolf)

Na foto vemos cinco mulheres numa sala, com a protagonista, Elizabeth Bennet, na frente
Da esquerda para a direita: Kitty, Sra. Bennet, Elizabeth, Lydia, Jane e Mary, ao fundo (Foto: Reprodução)

Vanessa Marques

Orgulho e Preconceito (2005), dirigido por Joe Wright, é a adaptação para o cinema da obra famosa de Jane Austen. Sob uma capa de aparente inocência, a trama retrata os costumes rígidos e patriarcais da aristocracia rural inglesa do século 19. Estrelado por Keira Knightley (Elizabeth Bennet) e Matthew Macfadyen (Darcy), o longa-metragem, que retornou ao catálogo da Netflix em seu ano de debutante, mergulha o espectador numa estética delicada e sensorial, fruto da tríade indicada ao Oscar — produção, direção de arte e trilha sonora.

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[12:00]: LOONA entra em órbita com o festival da meia-noite

Arte de divulgação do álbum de LOONA. Uma escada ocupa os dois terços inferiores da imagem, e possui um tapete vermelho no centro. A escada tem a perspectiva de subida. As integrantes do grupo LOONA estão espalhadas pela escada, de pé, usando vestidos longos azuis. Elas olham para a câmera por cima do ombro. Atrás da escada, foi adicionado um fundo de um céu estrelado com uma lua brilhante. Foi adicionado na parte superior central o nome do álbum em coreano e o texto "12:00" dentro de um círculo.
Com Midnight, LOONA constrói uma atmosfera cheia de sensações diversas (Foto: Reprodução)

Giovanne Ramos

2016 foi um ano marcado por diversos acontecimentos no K-pop. Enquanto Twice se consolidava com Cheer Up, BTS conquistava o público com Blood, Sweat and Tears e Blackpink estreava com Square One, LOONA dava seus primeiros passos, discretos, mas ambiciosos. O grupo surgiu da ideia da empresa novata Blockberry Creative em parceria com o diretor criativo e produtor musical Jaden Jeong e tinha como proposta um grupo trabalhado antes mesmo de estrear. A cada mês, uma integrante seria promovida ao público com um single solo e conforme o decorrer do tempo, sub-units eram construídas e promovidas com as integrantes já conhecidas até o grupo inteiro finalmente ser revelado com todas as integrantes. 

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We Are Who We Are, por mais doloroso que seja

Na foto vemos dois jovens numa rua da Itália. Caitlin é uma menina negra, de 14 anos e cabelos raspados. Ela usa uma calça jeans escura e larga, um moletom cinza e uma jaqueta bege por cima. Fraser é um menino branco de 14 anos, ele tem o cabelo descolorido loiro e usa só roupas pretas. Eles se olham, e estão alguns passos distantes.
We Are Who We Are se passa na Itália no período da disputa eleitoral estadunidense entre Donald Trump e Hillary Clinton (Foto: HBO)

Vitor Evangelista

Para alguém que sempre odiou a própria expressão de gênero e a maneira com que se comporta, assistir We Are Who We Are foi um alívio. Quase um fardo sendo descarregado, eu respirava aliviado pelo menos uma hora na semana, momento em que os longos episódios da criação de Luca Guadagnino tomavam parte. Junto dos jovens habitantes de uma base militar italiana, revisitei o Ensino Médio, os julgamentos e as cobranças da adolescência e os corações partidos. Acima de tudo, enxerguei em Fraser (Jack Dylan Grazer) um espelho do que sempre quis ser, ou melhor, assistir.

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