O austero encanto das Bruxas do Oriente

Cena do documentário As Bruxas do Oriente. A imagem mostra um momento de uma partida de voleibol. Ao centro, está uma jogadora japonesa de cabelos curtos pretos, vestindo o uniforme da esquipe que consiste numa camiseta branca de mangas e golas vermelhas e um short azul marinho. Ela segura a bola branca na mão direita, preparando-se para realizar um saque. Ao fundo, pode-se observar o público que acompanha a partida.
Uma história real fantástica é o que o longa As Bruxas do Oriente traz para a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Lightdox)

Raquel Dutra

Era uma vez, um grupo de mulheres dotadas de poderes sobrenaturais…” poderia sussurar o âmago de As Bruxas do Oriente (Les Sorcières De L’Orient, no original), apenas no caso de o filme em questão não se dedicar à uma história real que em nada se assemelha com os contos de fadas que conhecemos. A atmosfera que o documentário cria na seleção da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, no entanto, é quase a mesma de um conto fantástico, criada na tela do diretor Julien Faraut à medida em que ele nos apresenta a narrativa de uma equipe de voleibol do Japão da década de 60 considerada uma das melhores do mundo todo.

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Um Forte Clarão não passa de uma fagulha

 Cena do filme Um Forte Clarão exibe uma pessoa, à distância, parada em uma rua vazia durante a noite. Ela está de costas, levando uma mala em uma das mãos. As poucas luzes dos postes estão acesas, iluminando somente parte da rua. À esquerda, vemos casas enfileiradas e, à direita, um muro branco.
Ruas escuras são uma constante no longa que integra a Competição Novos Diretores da Mostra de SP (Foto: Tentación Cabiria)

Caio Machado 

Morar em cidade pequena pode ser pacífico, sem o estresse e o ritmo frenético das capitais, mas também pode ser um verdadeiro tédio por causa da rotina limitante e da falta de coisas diferentes para fazer. No caso de Um Forte Clarão, filme exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o marasmo serve como um pretexto para que os personagens contem histórias e tenham experiências inexplicáveis. 

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I Comete – Um Verão na Córsega é uma viagem ensolarada

Cena do filme Um Verão Na Córsega exibe um homem negro e uma mulher branca sentados à mesa em um jardim na França. Uma árvore faz sombra neles. O homem tem barba grande, cabelo preto e veste uma camiseta, acompanhada de uma bermuda cinzenta. Usa um all star nos pés. A mulher tem cabelo loiro comprido, usa regata preta e está à esquerda do homem. Ambos vestem roupas adequadas para o clima quente da região. Os dois tomam café da tarde enquanto conversam. Ao fundo, vemos um pouco do mar.
Lugares belíssimos inundam o longa que integra a Competição Novos Diretores da Mostra de SP (Foto: 5à7 Films)

Caio Machado

O verão é um terreno fértil bastante explorado pelo Cinema. Os lugares bonitos e ensolarados já foram palco de histórias intensas de amadurecimento, discussões sobre o amor e até mesmo terrores arrepiantes. I Comete – Um Verão na Córsega, filme exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, aproveita a estação do ano para elaborar um mosaico fascinante da vida das pessoas que moram em uma pequena vila da ilha francesa. 

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Pegando a (tortuosa) Estrada da despedida

Cena do filme Pegando a Estrada. A foto mostra uma mulher persa de meia idade, segurando uma tesoura próxima a um carro à um carro à direita. De dentro da janela do carro, vemos um jovem persa de cabelo escuro, barba e óculos, apoiado na janela de costas, com a cabeça caída para trás.
A produção integra a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Celluloid Dreams)

João Batista Signorelli

Sair da casa dos pais é um acontecimento natural em qualquer lugar. O evento pode vir acompanhado da sede por independência, da síndrome de ninho vazio, de saudade ou alívio. Alguns mudam de cidade, estado, país, saindo para trabalhar, estudar, ou se casar, com consentimento dos pais ou às escondidas. Em Pegando a Estrada, longa de estreia de Panah Panahi exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, vemos uma família lidando com a partida do filho mais velho, mas em circunstâncias nada costumeiras ou desejáveis.

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Coisas Verdadeiras é lotado de vazios

Cena do filme Coisas Verdadeiras, mostra uma mulher adulta branca de vestido vermelho em pé de dia. Ao seu redor, vemos moitas e um muro de pedra cinza.
Com produção de Jude Law e Ruth Wilson e parte da primorosa Competição Novos Diretores da Mostra de SP, Coisas Verdadeiras oferece um prato para os fãs de um drama indie (Foto: BBC Films)

Vitor Evangelista

Uma silenciosa Ruth Wilson em total estado de êxtase abre Coisas Verdadeiras, filme que dá à 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo um viés mais poético. Não à toa, o ato sexual que ela recebe deixa de ser o foco da rápida sequência, que logo nos situa no presente. A personagem Kate, sonhando com um passado que nem mesmo sabemos ser real, deseja mesmo é o afeto, o conforto e o toque, e não importa se é íntimo ou superficial, ela só precisa de certezas.

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Não existe uniformidade quando estamos Lidando com a Morte

Cena do documentário Lidando com a Morte.
O documentário Lidando com a Morte é parte da Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Witfilm)

Raquel Dutra 

A morte deve ser o aspecto mais globalizado da experiência humana no planeta Terra. Universalmente particular, a única certeza da vida é sujeita à forma como nos estabelecemos no mundo antes dela, originando questões culturais, familiares, sociais, e também econômicas. O paradoxo se intensifica quando ela chega: seja no Oriente ou no Ocidente, no hemisfério norte ou no sul, todos vivenciam uma mesma situação à sua própria maneira. E essa é a única conclusão de Lidando com a Morte, um dos primeiros documentários exibidos nas cabines de imprensa da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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A harmonia da vida em Armugan

Cena do filme Armugan, em preto e branco. Vemos um homem baixinho, careca e barbudo sentado em uma cama. À esquerda, vemos um homem com cabelo comprido, barba grande e alto também sentado na cama. Ambos são brancos e estão na meia idade. Vestem roupas adequadas para o clima da região montanhosa.
Duas pessoas vivem isoladas no filme que integra a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Shaktimetta, La Bendita Produce)

Caio Machado

Vivemos a vida à sombra do grande mistério da morte. Por mais que as religiões tentem explicar o que acontece conosco depois que o coração para de bater, só saberemos a verdade quando chegar a hora. Armugan, filme exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, utiliza a sutileza visual para elaborar um conto impactante sobre como o ser humano se apoia em lendas para conseguir lidar com a finitude da existência. 

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A Taça Partida desmascara o ego ferido de um homem

Cena do filme A Taça Quebrada. Na imagem, em um quintal de uma casa, vemos, no canto inferior esquerdo, um menino de cabelos pretos curtos sentado de costas para a câmera. Ao centro, sentada atrás de uma mesa posta, vemos uma mulher branca, de cabelos pretos abaixo do ombro, aparentando cerca de trinta anos, com a mão apoiada no rosto, cobrindo parte de sua bochecha direita. No canto direito, na ponta da mesa, vemos um homem de barba e cabelos pretos curtos, aparentando cerca de trinta anos, servindo um suco de uma jarra de vidro para um copo.
A Taça Partida é parte da Competição Novos Diretores na 45° Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que acontece de 21 de outubro à 3 de novembro (Foto: Juntos Films)

Vitória Lopes Gomez

Chegando à 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo antes mesmo da abertura oficial, A Taça Partida é desconfortável do início ao fim. Na edição que “faz um apanhado do cinema contemporâneo mundial produzido e exibido sob o impacto da pandemia”, o longa chileno dirigido por Esteban Cabezas integra o festival como parte da Competição Novos Diretores. O estreante também participa como produtor e co-roteirista junto de Álvaro Ortega e só precisa de um dia para explorar a incômoda “jornada de teimosia, ego e mágoa de um homem”. 

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Não há salvação para o homem problemático em Higiene Social

Cena do filme Higiene Social exibe um homem e uma mulher, brancos, parados no meio de uma grama alta. O homem, à esquerda, veste um terno preto e tem cabelo loiro curto. A mulher à direita, mais velha, tem cabelo ruivo comprido e veste um terno rosa. Carrega uma bolsa da mesma cor nas mãos.
O artista em crise no longa que integra a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Inspiratrice & Commandant)

Caio Machado 

Um homem e uma mulher estão parados em um campo. A grama verde reluz ao sol. Pela distância, não conseguimos ver direito o rosto de nenhum dos dois. Parecem estátuas paradas em um palco e conversam, imóveis. Esses são os minutos iniciais de Higiene Social, filme francês exibido pela 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. 

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Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental sacaneia os caretas

Cena do filme Má Sorte no Sexo, mostra uma mulher branca atendendo o telefone. Ela usa máscara azul e uma blusa preta.
Exibido após a coletiva de abertura da 45ª Mostra de São Paulo, Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental foi o grande vencedor do Festival de Berlim 2021, levando para casa o Urso de Ouro (Foto: Imovision)

Vitor Evangelista

Com um título desse, é esperado que Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental tenha prazer em chocar, mas ninguém está preparado para o que vem logo que as luzes se apagam. Uma fita de sexo abre a produção romena, que se centra na ruína de uma professora de Ensino Fundamental, a estrela do vídeo adulto, sofrendo as consequências quando a gravação cai na internet e a escola em que trabalha a encontra.

E não havia filme mais propício para abrir os trabalhos da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que em 2021 adota um formato híbrido após sobreviver a um 2020 completamente virtual. Na coletiva de imprensa de abertura, realizada de maneira on-line em nove de outubro, a diretora do evento Renata de Almeida revelou que Pornô Acidental reflete muito como a população enxerga a pandemia e, embora seja rodado na Romênia, assistiríamos por quase duas horas ecos fortes do Brasil. Ela não mentiu.

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