Mais de uma década depois de sua primeira aparição no Universo Cinematográfico da Marvel, e ao som de Smells Like Teen Spirit, finalmente vemos Natasha Romanoff virar a Viúva Negra. Nos 11 anos desde a estreia da personagem em Homem de Ferro 2, o estúdio não aproveitou o que tinha em mãos e renegou a assassina de aluguel à coadjuvante, mas deu mais tempo (e motivo) para que a injustiçada conquistasse o público. Com a pandemia e o fechamento das salas de cinema, a enrolação da empresa adicionou mais 14 meses à espera até inevitavelmente ceder ao Disney+. Antes tarde do que nunca, Viúva Negra ainda é pouco para a despedida que a Vingadora merece.
O segundo semestre do ano finalmente chegou. No meio dos dias dolorosamente frios de Julho, o que faltou de calor teve de lançamentos – alguns ótimos, e outros nem tanto. As músicas e álbuns lançados no último mês já marcaram 2021, e com certeza vão entrar nas listas de playlists de quarentena. Então, para não deixar nada passar batido, o Persona lhes presenteia com mais um Nota Musical.
Se em Junho Doja Cat fugiu para seu próprio planeta, em Julho, foi a vez de Coldplay dar o fora da Terra em Coloratura. A música mais longa da banda, com 10 minutos de duração, já anima os ouvintes para sua próxima era que promete correr longe dos problemas mundanos. Outro fandom presenteado com um ótimo single foi o de Lorde. Com a melancólica faixa Stoned at the Nail Salon, a ex-sumidanos deixa cada vez mais ansiosos para Solar Power, seu novo disco a ser lançado no fim de agosto.
E entre os admiradores da neozelandesa está Conan Gray, que depois de anos cantando sobre a mesma pessoa, diz nunca ter se apaixonado em People Watching. Sério, Conan? Por outro lado, quem não esconde se sentir sufocada por um amor tão nocivo quantos seus vícios é Letrux. A artista bilíngue conta do ano mais difícil da sua vida no single I’m Trying To Quit. Ambos os cantores parecem concordar com a sueca Lykke Li quando ela diz que às vezes tudo que a gente precisa é chorar de noite em Wounded Rhymes (Anniversary Edition).
Enquanto isso, Jack Antonoff manda a tristeza embora em Take the Sadness Out of Saturday Night, o terceiro disco de seu projeto solo como líder do Bleachers. Fora do mainstream, o produtor queridinho do mundo indie pop libera toda a sua criatividade musical em álbuns ricos em referências, camadas, sentimentos e energia. Agora, para os que querem gritar no quarto às 3 da manhã, o álbum da WILLOW promete te fazer sentir tudo. O rock alternativo de lately i feel EVERYTHING é honesto em todas as suas faixas, que viajam entre seu coração partido e amadurecimento.
Além da filha do icônico Will Smith, Billie Eilish é outra jovem que liberta suas emoções para quem quiser ouvir. O impecável Happier Than Ever expressa mais sinceridade do que a cantora já fez em toda sua carreira, em um dos discos mais esperados de 2021. A queridinha do Grammy bem que merece um segundo Álbum do Ano, não é mesmo?
Já aqui no Brasil, que está mais unido do que nunca para assistir aos angustiantes jogos das Olimpíadas, nada como boa Música para celebrar o nosso país ganhando – ou perdendo. Luísa Souza comemorou seu aniversário lançando DOCE 22, tão bem recebido pelo público que entrou na lista dos Top 10 Debuts de sua semana de lançamento no Spotify Global. Mas entre acertos e bastante erros na internet, quem merece o seu título de mulher do ano é a inovadora e talentosa Linn da Quebrada. O quem soul eu? é perfeito para quem precisa viajar dentro de si mesmo, assim como todas as faixas intrigantes de Trava Línguas.
O radar de novidades nacionais do Persona também entrou na vibração do jazz de Amaro Freitas em Sankofa, curtiu o rock do novo EP de Ovedrive Saravá, e sentiu o Drama de Rodrigo Amarante. O destaque maior da música brasileira em julho, no entantanto, foi para Marisa Monte, que retorna abrindo as Portas do seu talento para que possamos entrar em seus universos e sermos abraçados por um pouco de otimismo em um ano tão infernal.
Emicida é outro que nos ilumina com sua versão ao vivo de AmarElo. Ouvir as faixas que foram gravadas em um São Paulo de 2019 nos deixa nostálgicos e ansiosos para poder logo voltar a cantar e dançar na companhia de uma multidão. Quando isso for possível, por favor, toquem Borogodó nas festas, pois todos precisamos rebolar ao som de MC Carol novamente.
Falando em festas, o Ander de Elite provou que como cantor é um ótimo ator. Torcemos para que Aron Piper perceba logo que deveria ficar apenas atrás das câmeras, e não do microfone. Ao lado do alemão na lista de decepções do mês, estão Camila Cabello e John Mayer, que pelos méritos de seus novos trabalhos, mostram que já podemos deixar seus lançamentos caírem no esquecimento.
Mas o que não dá e nem se deve esquecer é que ainda vivemos uma pandemia. E em um dos períodos mais dolorosos da humanidade, mais de 4 milhões de vidas foram perdidas. Vidas de parentes, de amigos e de pessoas amadas por outras pessoas. O sentimento tão solitário está, para o bem ou para o mal, juntando cantores e seus ouvintes em faixas que tentam explicar como é tenebroso passar pelo luto.
Em julho, Imagine Dragons e Eliza Shaddad mergulharam em letras que confortam os corações de quem perdeu alguém. A banda estadunidense faz isso através de Wrecked, prenunciando seu novo álbum, enquanto a artista indie sente o luto em In the Morning (Grandmother Song), parte importante de The Woman You Want, disco que é uma das melhores descobertas do ano.
Completando o sétimo mês de Nota Musical, a Editoria do Persona e nossos Colaboradores se uniram, ao lado dos recém-chegados na equipe de Redação, para entregar o apanhado de tudo que rolou em Julho. Para começar bem o segundo tempo desse jogo estressante que está sendo 2021 – não dava para não ter referências de esporte, sabe? -, pegue o lápis e o papel e se prepare para anotar muitas indicações musicais incríveis.
Quando o assunto é Festival, o Persona, em conjunto, clama por um único evento: o dia do Cineclube. E claro, se for em terras cariocas, a empolgação é maior ainda. Depois de 15 dias e 15 filmes, chega ao fim o Festival do Rio 2021, que com uma seleção variada de obras singulares, uniu todas as tribos e agradou até o mais cri-cri dos cinéfilos de plantão.
Da Dinamarca à Costa do Marfim, de indicados ao Oscar até esnobados injustos, um pouquinho do que há de melhor na produção cinematográfica mundial veio visitar remotamente a Cidade Maravilhosa e garantir, diariamente, um descanso fora das amarras das nossas próprias narrativas. Pela plataforma do Telecine, cada filme era disponibilizado por 24 horas e 24 horas apenas, ou seja, chegara o momento de planejar a maratona.
Figurinhas já batidas integraram o catálogo do Festival. Uma nova exibição de Druk – Mais uma Rodadaé sempre bem-vinda e o atual vencedor da categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2021 foi o felizardo responsável por iniciar a jornada com muito álcool e uma boa dose de Mads Mikkelsen (ou seria o contrário?). E os donos de estatuetas douradas não pararam por aí: o ácido Bela Vingança, que garantiu o prêmio em Roteiro Original para Emerald Fennell, arrancou exclamações e conquistou uma vaga entre as 15 obras. Excepcionais, sim. Mas, às vezes, poderia ter sido mais produtivo ceder espaço às produções não tão comentadas nos últimos meses.
Pincelando temas dolorosos e desconfortáveis da melhor forma que o Cinema consegue fazer, não faltou sensibilidade para discutir o que de mais horrendo a sociedade já produziu e encarar nossos demônios como espécie humana. Quo Vadis, Aida? e Caros Camaradas! miram no histórico, Slalom – Até o Limitee Ainda Há Tempo desenham o atual. Das mais variadas formas, esta edição do Festival do Rio coloca o espectador frente a frente com o espelho e exige reflexão; exige autoconsciência.
É óbvio que, no meio de tudo isso, sobra espaço para o cômico, o lúdico e até para o fantástico. No entanto, não se engane – como toda forma de expressão, o Cinema é um produto de seu tempo, dialogando com seu tempo e, muitas vezes, questionando na mesma medida. Por baixo do prédio ficcional de Edifício Gagarine ou das histórias arrebatadoras de Noite de Reis, há sempre uma lente que foca no que somos ou no que deveríamos ser.
Depois de uma cobertura completa da leva de filmes 2021, a Editoria do Personaembaralha os papéis e comenta obra por obra, loucura por loucura, apresentada na fresquíssima edição do Festival do Rio. Para quem já está com saudades das narrativas diárias, os textos abaixo revivem parte do caos latente proporcionado durante esses últimos 15 dias pelo maior festival de Cinema da América Latina.
“Essa é uma história real” é a frase que ocupa a tela enquanto Mohamedou Ould Slahi, interpretado por Tahar Rahim, caminha em uma praia no que seriam seus últimos momentos de liberdade por 14 anos. O quarto longa exibido no Festival do Rio 2021, O Mauritano traz à tona a história de Slahi, que, suspeito de recrutar terroristas para o atentado às Torres Gêmeas, foi capturado e enviado à Prisão de Guantánamo, onde permaneceu por anos sem nenhuma prova apresentada contra ele.
Junho é o mês de enaltecer o amor, e acima disso, é o mês da celebração, da luta e do Orgulho LGBTQIA+. Para marcar a data, o Persona apresenta esta edição do Nota Musical valorizando o trabalho de artistas que fazem parte da comunidade, com destaque especial para os que representam os tons de rosa e azul da bandeira. Nem nos dias que são dedicados à reivindicação de direitos o preconceito do país dá trégua, e ainda hoje, é necessário gritar que Vidas Trans Importam!
Para quem quer ressoar o grito, um primeiro passo é dar play em Liniker, uma das maiores referências da comunidade LGBTQIA+ brasileira, que nos presenteou com o caloroso clipe de seu mais novo single. O mesmo vale para potencializar as palavras e existência de Linn Da Quebrada, que prepara o terreno para seu novo álbum com muito conceito, coesão e aclamação.
Para quem procura novos artistas, Joy Oladokun canta sua vivência como mulher negra, pessoa gorda e LGBTQIA+, em letras biográficas transformadas pelo seu tato singular com as canções. Também falando sobre suas vivências, Home Videode Lucy Dacus é a história de amor e amadurecimento da cantora, que reflete sua própria existência.
Em CALL ME IF YOU GET LOST, Tyler, The Creator, que já explorou sua sexualidade em álbuns anteriores, revisita outras décadas do hip-hop para seu novo trabalho. Ainda assim, o cantor não deixa de passear entre o R&B e o soul e inspirar com sua autenticidade e destreza musical.
O mês firmou nomes que serão lembrados como os Melhores do Ano. No indie rock – com influência do jazz -, Rostam supera a Changephobia com um disco completo e original. No rock alternativo, a grandiosa Wolf Alice lançou o emotivo Blue Weekend. No pop, a revelação Griff se desprendeu da mesmice do gênero com One Foot In Front Of The Other. No pop alternativo, Japanese Breakfast marca 2021 com Jubilee e toda pureza de Michelle Zauner.
O pop brasileiro veio para esquentar o frio de Junho. IZA leva todo seu imenso poder para Gueto, que engrandece a cultura periférica. Marina Sena une o melhor da música nacional em VOLTEI PRA MIM. E com cringe entrando em nosso vocabulário, Garbo sai diretamente do Tumblr e nos apresenta a juventude softpop.
E se estamos sofrendo com as baixas temperaturas por aqui, na Coreia do Sul o girlgroup TWICE esbanja o clima tropical, trazendo um gostinho caloroso para nossas bocas. Ainda do lado oriental da Terra, o calor do verão dá espaço às sombras, no dolorido álbum da chinesa Pan Daijing.
Já Pabllo Vittar prova por a + b que piranha não sente frio, e nos deixa triste e com T em seu Batidão Tropical. O lançamento é uma prova de amor e orgulho por Maranhão, terra natal da cantora. Com regravações e inéditas, um dos melhores álbuns nacionais do ano é criado, dominando o Top 50 do Spotify Brasil.
Mas mais uma vez, é preciso lembrar que a pandemia ainda não acabou. E é para escapar desse ambiente de angústia gerado pelo isolamento social que vemos artistas florescerem e, até mesmo, se reinventarem. É o caso da rapper K.Flay que escuta todas suas Inside Voices e as solta como grito de guerra. De forma mais passivo-agressiva, mas ainda capaz de acolher, Cavetown externaliza seus atormentados sentimentos. Usem máscara, se cuidem e cuidem dos seus.
Seja pelas alterações climáticas, seja pela interminável pandemia, o mundo beira o inabitável. Para fugir disso, Doja Cat cria seu próprio planeta em um disco que divide opiniões. Reafirmando a influência do TikTok no cenário musical, Planet Her lidava com grandes expectativas e entregou os extremismos, entre músicas que vieram para habitar o repeate outras que não queremos na porta de casa.
Junho veio também para ajudar as cantoras a saírem do meio do mato. Na Nova Zelândia, o fogo no rabo de Lorde nos deixou saudosos por verão e praia, e ainda trouxe o gostinho do novo álbum, Solar Power, que virá em agosto. Em solo brasileiro, Marisa Monte nos pediu Calma, pois, depois de uma década, o disco de inéditas está saindo do forno.
Dois anos depois do temível Love + Fear, MARINA volta revigorada com sons do tabu quebrando em Ancient Dreams In A Modern Land. Já Maroon 5 retornou de maneira oposta, batalhando para que JORDI não fosse um trabalho completamente esquecível. Billie Eilish se aproxima de estar mais feliz do que nunca com seu vindouro álbum e aposta numa versão mais debochada de si no single Lost Cause.
O mês das festas juninas foi propício para bolo, guaraná e muito doce. Dois discos gigantes da Música Internacional comemoraram seus aniversários, ganhando de presente edições especiais. O mais velho é o disco de estreia de Alicia Keys, Songs In A Minor, que inovou o R&B e o soul há 20 anos. Além dela, Lady Gaga convida a comunidade LGBTQIA+ para Born This Way The Tenth Anniversary, reinventando o álbum que marcou toda uma geração.
O fenômeno da internet,boy pablo já se tornou figurinha carimbada dos posts mensais. Dessa vez, o jovem chileno-norueguês aparece para finalizar sua trilogia e nos deixar atentos para quais podem ser os próximos passos. Quem também dá as caras de novo é Kali Uchis que, mais uma vez, espreme seu fenomenal trabalho Sin Miedo. Agora podemos apreciar a cantora em versão acústica e vê-la cavalgando em seu cavalo branco. Good Morning Sunshine.
Outra que não larga o osso é Dua Lipa, que ainda vive seu Future Nostalgia. Foi na sola da bota que a cantora lançou o clipe de Love Again, permitindo que fãs e haters criassem teorias sobre um ovo. Relacionamentos falhos? Relacionamento novo? Foto mais curtida do Instagram? Todas essas hipóteses passaram pela cabeça do fandom, mas nenhuma foi confirmada pela artista.
Para os amantes das mídias físicas, BROCKHAMPTON surpreendeu positivamente com o deluxe do psicodélico ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE. Com quatro novas faixas para acompanhar vinis e CDs, a banda mantém o alto padrão de qualidade proposto no disco.
A queridíssima Olivia Rodrigo – Olivia Rogéria, para os chegados – nos leva para o mágico mundo da Disney com The Rose Song, parte da trilha sonora da 2ª temporada de High School Musical: The Musical: The Series. A jovem ainda convidou seus amigos para a formatura online. Seguindo os típicos padrões estadunidenses, Olívia apresenta SOUR entre limusine e líderes de torcida.
Para um mês tão importante e recheado de novidades, a Editoria e os colaboradores do Persona encerram a primeira metade de 2021 reunidos para fuxicar os melhores e os piores de Junho e para celebrar o Orgulho LGBTQIA+. O guia mensal de CDs, EPs, músicas, clipes e performances acompanha uma playlist fresquinha pra escutar no carro, no banho ou onde quiser.
Talvez seja muito cedo para dizer que o ano é dele, mas o fato é: Zack Snyder virou um fenômeno. Em seus 15 anos dedicados à DC,o diretor, roteirista e produtor tem seu nome creditado em obras memoráveis, como Watchmen, Homem de Aço,Esquadrão Suicida,Batman vs. Superman, Aquaman… A lista é longa e ficou difícil não associá-lo às adaptações de quadrinhos. Ainda, com os pedidos de fãs pela sua versão de Liga da Justiça e a chegada do tão esperado Snyder Cut, o multitarefa consagrou sua visão na DC, que ele tanto lutara para construir e estabelecer, e sua influência no gênero. Em seu segundo lançamento em dois meses, Snyder deixa os heróis de lado e retorna às suas origens com Army of the Dead: Invasão em Las Vegas.
O ano se aproxima da metade e já podemos dizer que ele tem seus nomes. Ninguém vai conseguir lembrar de 2021 sem cantarolar a melodia de drivers license e imaginar o lilás da capa do primeiro disco de Olivia Rodrigo. O primeiro hit do ano colocou a adolescente sob os holofotes de todo o mundo, assinalando o seu nome em diversos recordes nas plataformas de streaming e criando uma expectativa gigantesca em cima de seu álbum de estreia.
Experiências adolescentes universais, muito estilo, atitude, talento, hype e aquela pontinha de nostalgia combinada com o jeitinho único da geração Z foram os artifícios de Rodrigo para construir em SOUR a melhor estreia que poderia ter feito. O recado é simples: com sua carteira de motorista em mãos e desabafos juvenis devidamente finalizados, todos os caminhos estão livres para o futuro da estrela Olivia.
Ao lado da princesa do Detran no hall de condecorados de 2021, possivelmente estará Lil Nas X. O primeiro álbum do nosso pequeno já tem nome, data de nascimento e muita identidade, conforme aponta o novo single. Se antes ele causou o terror de fundamentalistas religiosos ao descer até o Inferno numa barra de pole dance e sensualizar com o diabo, agora ele chega até o Céu através de uma canção íntima e sincera sobre suas vivências enquanto jovem gay negro.
E se o assunto é gente promissora, os trabalhos de chloe moriondo, ELIO, Alfie Templeman, girlhouse, Ashe e dodie também encontram um bom lugar em 2021 e nesta edição do Nota Musical. No núcleo teen, também está a chegada estrondosa do verão amanteigado do BTS, sinais da nova era de Conan Gray, novidade dos Jonas Brothers e de Niall Horan.
As amadas gravidinhas do Little Mix juntaram fôlego para acompanhar David Guetta em HeartbreakAnthem e fazer história no prêmio mais importante da música britânica. Na cerimônia do BRIT Awards 2021, o trio foi a primeira girlband a vencer a estatueta de Melhor Grupo, e não deixou o momento passar em branco no palco da premiação: “Vimos homens dominando, misoginia, sexismo e pouca diversidade. Estamos orgulhosas por termos permanecido juntas, nos cercado de mulheres fortes e agora usando mais do que nunca as nossas vozes”.
Lá, Olivia Rodrigo também dominou o momento em sua primeira performance em uma premiação e Dua Lipa seguiu acalmada. Elton John aproveitou para mais uma vez demonstrar seu apoio à nova geração da Música, agora ao lado de Olly Alexander com a política It’s a Sin, na véspera do mês reservado para a celebração do Orgulho LGBTQIA+.
Os contemporâneos favoritos da Terra da Rainha, no entanto, não cumpriram as promessas de 2019. Coldplay chegou no BRIT Awards 2021 com um terrível novo single, que definha as tantas possibilidades para o futuro da banda construídas com o último disco no pop enjoativo que o quinteto britânico insiste em praticar.
Erro esse que não foi cometido por Twenty One Pilots. A migração de sua mistura única e obscura de rock alternativo/hip-hop para os tons doces de um pop/rockvintage foi de início duvidosa, mas muito bem assimilada quando finalmente chegou aos nossos ouvidos. Fato é que os ouvintes mais apegados podem estranhar a sonoridade de Scaled and Icy, mas a nova era de Josh Dun e Tyler Joseph é rica em significados como sempre.
E o rock por si mesmo segue em boas mãos. Maio nos presenteou com o encontro épico de Sharon Van Etten e Angel Olsen e o retorno tão esperado de St. Vincent, que chegou em 2021 através de narrativas autobiográficas profundas e com a estética da década de 70. Mas o destaque do gênero vai mesmo é para o novo trabalho da banda dinamarquesa Iceage e o EP de PRETTY., paradas obrigatórias dentre a vastidão de obras pontuadas aí abaixo.
No folk, fomos embalados pelo novo CD do grupo Lord Huron e pelo quinto e belíssimo disco de Jon Allen. O blues também foi perfeitamente celebrado junto aos 20 anos de The Black Keys no décimo álbum do duo, e os amantes de country devem dar uma chance para a delicada influência do gênero na música de Aly & AJ. Já no R&B, Maio trouxe as preciosidades dos trabalhos de Sinead Harnett, Erika de Casier e Jorja Smith.
O saldo do mês no rap também foi o melhor possível. O retorno de Nicki Minaj com o lançamento de sua mixtape reformulada nas plataformas digitais é um aquecimento para o futuro da rapper, enquanto J. Cole segue um sucesso nas paradas mesmo quando respira entre suas safras. Aqui no Brasil, BK’ estreia o selo de sua produtora e Tasha e Tracie flertam com o funk em seu primeiro single do ano.
Na poética que só a rima permite, o rap do novo álbum de McKinley Dixon flutua em seus pensamentos sobre a vida numa das obras mais lindas de Maio e talvez de 2021, destinado à sua mãe, e a todos que se parecem com ela. As reflexões do jovem estadunidense acontecem de uma forma parecida com o trabalho de Jup do Bairro, que segue em Sinfonia do Corpo como uma das vozes mais relevantes na música nacional.
Chegando em sons brasileiros, é impossível não gostar de pelo menos uma coisa que nosso pop vem produzindo. Depois de soltar a voz com Emicida na maravilhosa e icônica AmarElo, Majur inaugura sua carreira com louvor com Ojunifé. A promessa de Urias também é grande e a expectativa só cresce com o que ela libera para degustação de seu disco, que ganhou nome este mês.
O novo trabalho da Tuyo, por sua vez, desenha para quem tinha dúvidas o porquê a beleza do som da banda chamou a atenção do The New York Times. Essa serenidade que permeia nossos artistas desaguou em Karol Conká, que retorna decidida a superar a sua curta porém intensa passagem pelo Big Brother Brasil.
Pabllo Vittar, de fato, não para. O lançamento da vez é uma volta às suas raízes, num forró com o drama de uma novela mexicana, que serve muito, como sempre, em marketing e complementos visuais. Próximo e longe da drag, está Gabeu, que como uma exímia cria do sertanejo e um legítimo orgulhoso de si mesmo, agrega mais um single em sua carreira, fortalecendo sua posição de precursor do queernejo no Brasil.
Maio também nos permitiu apreciar Tim Maia em espanhol e Nando Reis em família, além de reforçar uma mensagem muito importante através de Martinho da Vila. O assassinato de George Floyd completa um ano, e a Arte não deixa de exercer sua função social e defender que Vidas Negras Importam.
Um mês de ganhos preciosos também foi um mês de perdas irreparáveis. Nelson Sargento, mestre do samba e parceiro de Cartola, MC Kevin, uma das vozes mais bonitas do funk, e Cassiano, rei do soul brasileiro e letrista de Tim Maia, foram alguns dos nomes que deixaram a vida nos últimos trinta dias. O Persona reúne a Editoria e os colaboradores no Nota Musical de Maio, em memória à importância de cada um deles para a música brasileira.
Remixes de músicas consagradas são muito polêmicos. Imagine então uma coletânea de novas versões para as canções imortais de Rita Lee, qual a chance de dar certo? Spoiler: deu e muito. Em Abril, fomos presenteados com o interessante Rita Lee & Roberto – Classix Remix Vol. l, idealizado pelo filho do casal, João Lee. É claro que as novas roupagens nem se comparam com a genialidade original da cantora, mas não é nenhum desastre, e sim um disco muito divertido de se ouvir.
Falando em clássicos, esse é um instantâneo: DUDA BEAT, tesouro nacional, está de volta com o maravilhoso Te Amo Lá Fora. A pernambucana queridinha do Brasil com certeza estará em muitas listas de melhores do ano. Os donos do sertanejo universitário também trouxeram novidades em Tudo em Paz, mostrando que 15 anos de carreira não foram suficientes para esgotar a arte da dupla Jorge & Mateus, que segue encantando os fãs com sua música.
Por aqui também tivemos POCAH descobrindo durante uma festa enquanto ainda estava no BBB que sua música com Lia Clark, Eu Viciei, tinha sido lançada. O funk, assinado pelo trio Hitmaker, entra para a lista de músicas que teriam bombado em todas as festas se não fosse a pandemia. Ludmilla e Xamã também colocaram no mundo uma ótima parceria: Gato Siamês deixa claro que Lud também nasceu para cantar R&B. Em Abril, rolou até uma colaboração internacional: Luísa Sonza e Bruno Martini foram convidados para um remix de Cry About It Later, de Katy Perry.
Nos States, assistimos Demi Lovato colocar seu coração nas canções de Dancing With The Devil… The Art of Starting Over, e estabelecer o disco como o melhor trabalho de sua carreira, com viciantes faixas pop e um desabafo sincero de alguém que quase nos deixou mas conseguiu recuperar sua vida. Taylor Swift também fez história em sua carreira ao lançar a primeira das regravações de seus álbuns antigos, que estão encaminhadas para sair nos próximos meses. Depois de ter sido impedida de comprar os masters de suas músicas, a artista decidiu voltar ao estúdio e regravar cada um de seus discos. Fearless (Taylor’s Version)já está entre nós, e que venham os outros!
Doja Cat finalmente foi libertada do cativeiro Say So e já começou a divulgar seu novíssimo álbum, Planet Her. O primeiro single escolhido é a contagiante Kiss Me More, ao lado de SZA. Twenty One Pilots também fez seu comeback cor-de-rosa e azul bebê. Chokere Shy Away são uma indicação que teremos uma era mais pop ainda do duo, e com uma vibe retrô. BROCKHAMPTON retornou iluminando toda sua criatividade em seu novo disco, enquanto Rina Sayama e Elton John se juntaram para uma parceria e regravaram Chosen Family, de Rina. No ano passado, Elton John declarou que SAWAYAMA era seu álbum favorito de 2020.
No Reino Unido, ao lado das drag queens A’Whora, Tayce e Bimini Bon-Boulash, que participaram da segunda temporada de Drag Race UK, as meninas do Little Mix lançaram seu primeiro trabalho em formação de trio. A nova versão de Confettitambém contou com a colaboração da rapper Saweetie. Falando em girlbands, as sucessoras naturais do Little Mix nos apresentaram seu primeiro EP. As integrantes da Boys World estão apenas começando a trilhar seu caminho, e aos poucos estão construindo uma discografia promissora e empolgante, como a perfeitaGirlfriends.
Olivia Rodrigo, o rostinho da Geração Z, continua fazendo muito barulho mesmo tendo apenas duas músicas lançadas em sua carreira solo. Dessa vez foi deja vuque explodiu no streaming e viralizou no TikTok. O debut da cantora, SOUR, nem viu a luz do dia ainda, mas já acumula mais de 1 bilhão de streams. Billie Eilish também está se preparando para lançar seu segundo álbum. As faixas que já pudemos ouvir, my future, Therefore I Ame, agora, Your Power, só aumentam as expectativas desse próximo trabalho de Billie. Com uma atmosfera mais adulta sem perder a essência Eilish, a pergunta que já começa a aparecer é: será que vem mais um AOTY aí?
No assunto bedroom pop, temos Ryan Woods. O jovem cantor alternativo é também produtor de suas canções, e colocou no mundo seu primeiro EP, King of the Basement. Nos distanciando um pouco mais do mainstream, dois trabalhos se destacaram com aclamação da crítica. O primeiro é Vulture Prince, obra-prima de Arooj Aftab que encontra um lugar entre a tradição da música oriental e a contemporaneidade dos sons do ocidente para atingir a universalidade da experiência do luto e processamento da dor. Longe da serenidade da musicista paquistanesa radicada em Nova York, está o barulho do hardcore divertido de The Armed em ULTRAPOP.
Abril também foi o mês de celebrar o maior evento do Cinema que encontra uma graça especial em suas performances musicais. No terraço do Museu da Academia, quatro das músicas indicadas a Melhor Canção Original foram brilhantemente entoadas, mas a honra da dimensão musical do Oscar foi dela, literalmente. Aos 26 anos, H.E.R. já tem estatuetas do Grammy e Oscar na prateleira de casa, e seu novo disco, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2021, promete.
Para um mês recheado de novidades, retornos e expectativas, a Editoria e os colaboradores do Persona prepararam o seu guia mensal que abriga tudo o que rolou no mundo da música num só lugar. Conecte seus fones de ouvido para passear conosco pelos sons que nos encontraram através dos CDs, EPs, singles, clipes e performances no Nota Musical de Abril de 2021.
Perante à situação de uma celebração do Oscar na pandemia, a equipe de produtores de 2021 prometeu que transformaria a experiência em um filme. Eles não mentiram. Começando pela triunfal entrada de Regina King, brilhante como os deuses e confiante como só ela pode ser, caminhando sem pressa pela Union Station, arejada, aberta, com raios solares implorando invadir essa quebra de padrões em formato de cerimônia.
Mas algo soava estranho. Não tinha orquestra, não tinha o filtro plastificado que abraçava as telas dos televisores sintonizados na TNT (ou no Globoplay, ou onde quer que seja) e as bordas pretas, clássicas das telonas, esgueiravam a imagem de uma King lendo no teleprompter um verdadeiro roteiro na hora de premiar, bem, as categorias de Roteiro. Colocando as tradições no bolso do paletó, o Oscar 2021 não nos agraciou com a presença de um de seus atuais Atores Coadjuvantes para premiar sua contraparte deste ano logo de cara.
Ao invés disso, inaugurando essa leva mais moderninha da Academia, subiu ao palco uma bufante e estonteante Emerald Fennell, feliz que sua dita Bela Vingança foi coroada com o prêmio de Roteiro Original. Ela não preparou um discurso, já adiantou a intérprete de Camilla Parker Bowles, previamente se desculpando com Soderbergh (Steven, diretor responsável pela produção de 2021, aquele que prometeu que essa seria uma experiência de Cinema, e não apenas simples TV).
Regina King continuou fazendo graça e esbanjando talento ao apresentar os nomeados em Roteiro Adaptado, prêmio esse que acabou nas mãos de Christopher Hampton e Florian Zeller, escritores de Meu Pai. Vale a menção de que tanto Fennell quanto Zeller acabaram de estrear no Cinema, e já garantiram a honraria que fez Aaron Sorkin sair de casa apenas para anunciar um relacionamento novo, já que seu Os 7 de Chicago foi o único dos grandes indicados da noite a sair sem Oscar nenhum (e olha que a 93ª edição dividiu muito bem seus 23 prêmios).
E foi sendo assim, dois carecas dourados eram entregues por vez, ocasionalmente misturando uma categoria ‘grande’ com uma ‘nem-tão-grande-assim’. O que, a princípio, é muito bem-vindo, considerando que independente da área de atuação, todo e qualquer Oscar distribuído em 25 de abril de 2021 é importante e merece tal reconhecimento. Mas, quando Chloé Zhao subiu ao palco para receber a estatueta de Direção, precedida pela categoria de Melhor Curta-Metragem em Live Action, o efeito não foi o mesmo.
Zhao se tornou a segunda diretora, a primeira não-branca e a primeira chinesa, a vencer a honraria, 11 anos depois de Kathryn Bigelow quebrar o paradigma masculino, por Guerra ao Terror. Mal posso esperar para o Oscar 2032, quando a terceira mulher diretora subir ao palco. Quem leu o envelope com o nome de Zhao foi um socialmente distante Bong Joon-Ho, campeão do ano passado, diretamente de Seul, falando em coreano num segmento que usou da intimidade dos próprios cineastas nomeados para o anúncio.
Os discursos de agradecimento se alongaram mais que o comum, grande acerto da produção de 2021, evitando a terrível orquestra de subir lentamente o tom dos instrumentos para que a pessoa pare de falar o mais rápido possível. Até mesmo o jogo de câmeras, alocadas em lugares não-convencionais, limpou a lente da premiação. Os discursos variaram entre o tocante (Thomas Vinterberg homenageando a jovem filha que morreu pouco antes de estrelar Druk, vencedor de Filme Internacional) e o cômico (Daniel Kaluuya feliz da vida, agradecendo aos pais por terem concebido-no, enquanto ganhava o prêmio de Ator Coadjuvante).
Yuh-Jung Youn conseguiu fazer os dois. “Eu sou mais sortuda que vocês”, começou a vovó de Minari e a Melhor Atriz Coadjuvante do ano. A atriz, primeira sul-coreana e segunda asiática a vencer por atuação, agradeceu a Brad Pitt (produtor de Minari) e ficou feliz de finalmente tê-lo conhecido pessoalmente. De longe, a temporada de 2021 vai lembrar com carinho das aparições de Youn, desde a surpresa no SAG, o shade no BAFTAe o riso solto no Oscar.
A Netflix saiu com 7 prêmios entre suas 35 indicações, mas mantém a sombra de nunca ter ganhado Melhor Filme. A Voz Suprema do Blues venceu categorias técnicas, assim como Mank, 2 Oscars para cada. Os curtas Dois Estranhos e Se Algo Acontecer… Te Amo saíram com os louros. Nas categorias de Documentário, Colette surpreendeu, e Professor Polvo triunfou, repetindo uma máxima do ano passado: mais uma vez, o pior dos 5 filmes saiu vencedor.
Lembra da promessa dos produtores de fazer o Oscar 2021 ser um filme? Eles cumpriram-na, para o bem e para o mal. O sorrisão de Riz Ahmed não cabia em seu belo rosto quando leu o envelope de Melhor Som, premiando, adivinhem, O Som do Silêncio, protagonizado pelo próprio. Esse que também triunfou em Montagem, colocando a competição para comer poeira. Soul se enquadrou nas expectativas, recebendo Animação e Trilha Sonora Original. H.E.R., um mês depois de vencer o Grammy de Canção do Ano, ganhou o Oscar de Canção Original. E Tenet, mesmo sem o apoio da Warner, levou a melhor em Efeitos Visuais.
Durante a cerimônia, 2 prêmios Humanitários Jean Hersholt foram entregues. O primeiro homenageou a Motion Picture & Television Fund. Enquanto o segundo, apresentado por Viola Davis em sua única aparição no palco do Oscar, foi dado à Tyler Perry. Importante apontar as mudanças estruturais da premiação deste ano, que viu seus convidados sem máscara frente às câmeras, dividiu a galera entre os Estados Unidos, Londres e Paris e esbanjou um ar mais descontraído que a habitual sisuda entrega de prêmios no Dolby Theatre. Sem os habituais pares de artistas entregando os Oscars e com as músicas indicadas sendo performadas antes da cerimônia, essa edição ficará marcada na história. Foi uma senhora mudança de ares, que ainda precisa de melhorias no futuro.
Quando foi anunciado que a categoria de Melhor Filme não seria a última da noite, um gosto estranho já nos subiu à boca. Rita Moreno apareceu majestosa, citou Amor, Sublime Amor e relembrou os velhos tempos, onde ela própria venceu um Oscarpelo filme. Assim como a divina aparição de Jane Fonda ano passado para premiar Parasita, Moreno leu o nome de Nomadland no envelope colorido. Chloé Zhao, recebendo o segundo prêmio da noite, agradeceu aos nômades da vida real, acompanhada de Frances McDormand, vencendo o terceiro Oscar da carreira e o primeiro por produção. A veterana uivou no palco, homenageando Michael Wolf Snyder, editor de som de Nomadland falecido em março.
O comercial que sucedeu Melhor Filme pareceu mais anticlimático que o necessário. Começando pela aparição de Zhao em Melhor Direção no meio do nada, Nomadland saiu sem o triunfo que grandes vencedores do passado, como Moonlighte o próprio Parasita, puderam saborear. Melhor Atriz desempatou bolões, premiando Frances McDormand, em seu terceiro Oscar na categoria, quarto na carreira, se aproximando mais do recorde de Katharine Hepburn.
Então, chegou a hora de Melhor Ator. Depois de um‘In Memorian’ de qualidade questionável, batida agitada, ausências notáveis e aparição relâmpago dos homenageados, a categoria para honrar Chadwick Boseman acabou sendo entregue para outra pessoa. É claro que a vitória de Anthony Hopkins, por Meu Pai, é mais que merecida e merece ser aplaudida, benzida e santificada. A questão não é mérito, não é cota ou homenagem.
O Oscar 2021 se rearranjou por completo para que acabasse em nota de sensibilidade e felicidade, para que a esposa de Boseman, Taylor Simone Ledward, agradecesse da maneira que fez no Globo de Ouro, no Critics Choice e no SAG. Era o momento do Oscar, depois de ter capitalizado em cima da morte do jovem talento, finalmente premiar atores negros nas categorias principais, era a hora de marcar na história aquele que já seria eterno de qualquer modo, mas merecia a honraria do troféu.
Joaquin Phoenix leu o nome de Hopkins, a tela cortou para uma foto do ator, que não estava presente e o Oscar acabou. No susto, sem comemoração, sem homenagem, sem ter valido o rearranjo de categorias. Foi dito que Olivia Colman subiria ao palco em caso de vitória do companheiro de tela, mas nada aconteceu. O temido anticlímax do filme. 29 anos depois de sua vitória por O Silêncio dos Inocentes, Anthony Hopkins se tornou o ator mais velho a vencer o Oscar. Chadwick morreu sem nenhum.
Concluindo a extensa cobertura do Oscar 2021, o Persona prepara o texto final da edição. A Editoria se juntou aos colaboradores para discutir, de uma vez por todas, o que rolou na 93ª edição dos prêmios da Academia, os recordes, as loucuras, a Glenn Close rebolando e as esnobadas que ficarão para a história. Seja bem-vindo ao Cineclube Especial dos Vencedores do Oscar 2021.
A 93ª edição do Oscar é única por uma série de motivos. Começando pelos atrasos e realocação da data para dois meses depois do comum, a Academia teve de lidar com cinemas fechados, lançamentos adiados e o primeiro ano desde 2009 sem um filme da Marvel dominando o verão americano. Mas se engana quem pensa que, por conta disso, a lista de indicações seja mais fraca que a de anos anteriores.
Na verdade, a safra de 2020, e dos primeiros meses de 2021, ostenta qualidade, irreverência e debate temas que o cinema estadunidense não colocaria em pauta num ano cheio de diretores consolidados e franquias continuadas. 72 mulheres foram nomeadas ao Oscar 2021. Este ano, duas concorrem em Direção, além de dois filmes dirigidos por mulheres disputarem Melhor Filme.
Quando o assunto é diversidade, nove atores não-brancos pipocaram nas categorias principais, quebrando uma porção de recordes. Steven Yeun é o primeiro de origem asiática, Riz Ahmed é o primeiro mulçumano e com origem paquistanesa, Chadwick Boseman é o primeiro não-branco a receber uma indicação póstuma e Yun-Jung Youn é a primeira sul-coreana nomeada na Academia, só pra citar algumas das barreiras quebradas.
No campo dos Curtas, categorias comumente ignoradas, as narrativas fora do eixo norte-americano se entrelaçam com abordagens e pontiagudas. Os Animados colocam em xeque os limites da liberdade e a dor da saudade, enquanto os Documentários escancaram injustiças sociais e o racismo, assuntos que guiaram a Arte em 2020. Os Curtas Live Action se concentram entre os EUA e o conflito Israel e Palestina, mostrando ao mundo suas ricas produções cinematográficas.
Passando para os Filmes de Animação, a família e os imprevistos da vida comandam os cinco concorrentes: Shaun, O Carneiro lida com o objeto estranho, Dois Irmãos seca as lágrimas para seguir em frente e A Caminho da Lua viaja pelas fases do luto. O badalado Wolfwalkers discute amizade e o significado de ‘família escolhida’, enquanto o potencial vencedor, Soul, dá o toque da Pixar à crise de meia-idade, tudo regado a jazze à Tina Fey.
Os Filmes Internacionais de 2021 desafogam o núcleo batido da Europa que normalmente compõe a categoria, dando destaque a um documentário romeno, um filme de bebedeira dinamarquês e um longa de guerra bósnio. Fora da hegemonia branca, Hong Kong alcançou sua primeira indicação em meio ao conflito que trava com a China, atravessando censuras e boicotes. O mesmo é com a Tunísia, que estreia na seleção através do trabalho incansável de uma cineasta, o que criou outro marco: pela primeira vez desde 2011, duas diretoras disputam o troféu.
Abraçando o Cinema de todo o mundo, ou pelo menos começando a fazer isso, a Academia está fazendo valer as mudanças que vem implementando ao longo dos últimos anos. O curta Feeling Through escalou o primeiro ator surdo-cego da história e a ficção O Som do Silêncio tratou de temas que representam a comunidade surda, com direito à escalação de Paul Raci, filho de pais surdos e que luta pela causa há anos, além de um elenco de apoio formado por pessoas surdas.
A Voz Suprema do Blues, o filme que coloca Viola Davis na pele da mãe do blues, indicou Ann Roth, de 89 anos, em Melhor Figurino, no páreo para vencer sua segunda estatueta. No departamento de Cabelo e Maquiagem, o filme nomeou as duas primeiras mulheres negras na história da categoria, Jamika Wilson e Mia Neal. A parte boa? As três são favoritas nas respectivas disputas.
Além disso, o incomparável Chadwick Boseman é o primeiro negro a receber indicação póstuma (e provavelmente será o primeiro a vencer deste modo). Desempatando com Octavia Spencer, Viola Davis quebrou o recorde de indicações para uma atriz negra, apenas quatro, e expressou sua opinião sobre: “Se eu ter quatro indicações em 2021 faz de mim a atriz negra mais indicada da história, isso mostra quão pouco material esteve disponível para os artistas não-brancos.”
Se o assunto é privilégio, Os 7 de Chicago grita alto, mas diz pouco, e é a figurinha carimbada dos americanos sendo honrados por outros americanos. Mank, na mesma moeda, representa a máxima da Terra das Estrelas: é feito por e para homens caucasianos, e de praxe, conta uma embebida história da elite hollywoodiana. O lado bom é que o drama de época foi ignorado em quase tudo, dando espaço para o prêmio acabar em mãos merecedoras.
A casa dos dois deslocados é a Netflix, que angariando um recorde de 35 indicações, ainda não conseguiu emplacar um vencedor de Melhor Filme. A caminhada começou com o belíssimo Roma em 2019, mas deu tudo errado com a coroação de Green Book. Ano passado, nem História de um Casamento nem O Irlandês tinham fôlego para sequer chegar perto do favoritismo e da qualidade de Parasita. Depois de perder o PGA, o WGA e o DGA, ganhando apenas um controverso SAG de Elenco, Os 7 de Chicago ainda pode surpreender em 25 de abril, mas as chances não são animadoras.
Neste ano, a corrida de Melhor Filme, com apenas oito indicados, fez notar ausências doídas. Apesar da questionável condução diretiva de A Voz Suprema do Blues, o longa merecia ocupar aquela nona vaga. O mesmo vale para o trabalho exacerbado de Spike Lee em Destacamento Blood, ou o cuidado milimétrico que Regina King teve em Uma Noite em Miami…, os dois injustiçados de 2021.
Mas falando de quem devidamente entrou na corrida, vemos três filmes com protagonistas não-brancos (Minari, O Som do Silêncio e Judas e o Messias Negro) e dois comandados e protagonizados por mulheres (Nomadland e Bela Vingança). Completando o alto nível da categoria, Meu Pai lida com a velhice e o cuidado familiar, brindado pela atuação da carreira de Anthony Hopkins, o melhor dos vinte nomeados do ano.
Em Roteiro Original, Emerald Fennell reina soberana nas chances de vencer por Bela Vingança, marcando a primeira vez que uma cineasta concorre à Direção por sua estreia. Em Adaptado, a protagonista do Oscar 2021 Chloé Zhao divide atenções com Florian Zeller e Christopher Hampton, por Meu Pai, e os nove roteiristas creditados por Borat 2, o vencedor do Sindicato, onde Nomadland estava inelegível.
Falando nas roteiristas favoritas, chegamos ao que há de mais interessante nos indicados a Melhor Direção. Zhao e Fennell são responsáveis por representar uma legião de cineastas que por anos tiveram seus trabalhos ignorados por Hollywood. O sexismo é refletido nas nomeações do Oscar, que em seus 93 anos de existência, se deu ao trabalho de reconhecer um total vergonhoso de sete diretoras e premiar apenas uma.
E se a Academia não tivesse tanto esmero com o ego de seus homens brancos, a categoria de Melhor Direção poderia muito bem ser formada por uma maioria feminina e não-branca. Nomes à altura da companhia de Lee Isaac Chung e da dupla recordista não faltavam, mas pelo menos, a favorita se encontra nessa exata interseção.
Chloé Zhao é a dona deste ano, desta temporada e deste Oscar. A mulher mais indicada da história da premiação chega na noite do dia 25 de abril invicta e pronta para vencer em tudo o que tem direito, acompanhada de sua corrida impecável, que vai desde os festivais de cinema ao longo de 2020, até às premiações precursoras dos últimos meses.
A diretora, roteirista, montadora e produtora venceu os principais prêmios do Globo de Ouro, Critics Choice Awards, Sindicato dos Produtores e Diretores, BAFTA e nos Festivais de Veneza e Toronto. Só não fez história no SAG porque trabalhou com atores não-treinados, mas no mais, fortaleceu a corrida de Frances McDormand, que também é a primeira atriz indicada por produção e atuação no mesmo ano, pelo mesmo filme.
Às vésperas de uma data histórica para o Cinema, o Persona se reúne num Cineclube Especial para comentar cada um dos 56 filmes que integram a seleção mais diversa da história do Oscar. Abaixo, estão todos organizados em ordem decrescente pelo número de indicações, e nossa Editoria e colaboradores pontuam seus méritos, as injustiças, chances e nomeações de todas as 23 categorias, condensando nossa cobertura da premiação e alinhando as expectativas para a noite do dia 25 de abril de 2021.