Com sabor de leite com achocolatado, pijaminha e manhã fresca, Shaun, o Carneiro volta para mais uma aventura

Na frente Shaun, uma ovelha magra de pele preta com pelagem branca, segura uma fatia de pizza sorrindo. Atrás está o cão Blitzer, com pelagem amarela e um gorro azul, com cara espantado. Ao fundo está Timmy, uma ovelha bebê igual Shaun, sorrindo e segurando um urso de pelúcia. Todos olham para frente. Estão em uma floresta, iluminada e com muito brilho azul, rosa e roxo.
Shaun, Blitzer, Timmy, Mãe do Timmy e Shirley voltam para a alegria de todos, e trazem consigo uma indicação de Melhor Animação no Oscar 2021 (Foto: Reprodução)

Pedro Gabriel

Um dos motivos para eu acordar cedo quando tinha meus nove anos era sentar na sala, ligar na Cultura, e assistir a todos os desenhos que passavam no Quintal da Cultura. A manhã era recheada de Doug (1991-1999), Madeline (1993-2001), Cocoricó (1996-atualmente no YouTube), Os Sete Monstrinhos (2000-2003) e por uma pequena ovelha aventureira chamada Shaun, o Carneiro (2007-presente). Dez anos se passaram, e cá estou eu revivendo todas essas manhãs após assistir Shaun, o Carneiro, o Filme: A Fazenda Contra-Ataca na Netflix. A animação é uma continuação do longa de 2016 e traz Shaun em uma nova aventura. 

Como era de se esperar, o filme não tem nenhuma conexão com o anterior, sendo como um longo episódio da série. Sob a direção de Will Becher e Richard Phelan, a história segue um caminho simples: Shaun e seu rebanho estão vivendo suas vidas pacatas na Mossy Bottom Farm e tentam sanar o tédio. Mas, tudo o que fazem é altamente repreendido pelo cão Blitzer, o melhor amigo e maior inimigo de Shaun no desenho. Paralelamente com a história na fazenda, uma nave espacial pousa em uma floresta, e uma criatura sai dela. Após a histeria da população, inicia-se uma investigação do Ministério de Detecção Alienígena (M.D.A).

O cão Blitzer de pelagem amarela e gorro azul, está pregando uma placa no chão com um grande martelo de madeira. Ele está com cara fechada, olhando para Shaun. Na placa, uma imagem de um frisbee com um círculo de “proibido”. Shaun, uma ovelha magra de pele preta e pelagem branca, olha com um sorrisinho e mãos levantadas, com um ar de sem graça. Eles estão em um pôr do Sol na fazenda.
Antes mesmo da estreia do primeiro filme, já haviam ideias para uma sequência, que começou a ser produzida após o lançamento de O Homem das Cavernas, em 2018 (Foto: Reprodução)

Na perseguição do ser extraterrestre com um homem, ele acaba parando na fazenda de Shaun. Tudo isso é tratado de forma descontraída, com humor físico presente em todos os momentos, uma vez que não se é falado nada. Eles fazem amizade, e a história transita na volta do alien, chamado Lu-La, para sua nave, no M.D.A tentando capturá-lo — uma das piores coisas da trama —, e no parque de diversões que O Fazendeiro (sim, esse é o nome dele) está construindo para ganhar dinheiro em cima do fenômeno que se instaurou na cidade com o surgimento de um OVNI

O longa, como na série original, não possui uma linha de diálogo entendível. O máximo que temos são grunhidos, ou onomatopeias, como “vrum vrum” para identificar um veículo. Mas isso não é um problema. Como é um filme em que o público alvo são as crianças, tudo é simples para que a história seja entendida. Você consegue compreender o que eles querem dizer, seja os diálogos, a trama em si, os sentimentos de cada personagem, mesmo que não seja falado nada. 

Partindo para a animação do desenho, não podemos deixar de enaltecer o trabalho da Aardman Animations. É simplesmente impecável. O estúdio é responsável por filmes como A Fuga das Galinhas (2000), Por Água Abaixo (2006), e uma das melhores animações da história, Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais (2005). Novamente é utilizado a técnica de stop-motion — o estilo marcante da empresa. A qualidade continua perfeita. Diferente de filmes com animação 3D computadorizada, que envelhecem muito rápido, com o stop-motion a história muda. A sensação é que tanto A Fuga das Galinhas quanto A Shaun the Sheep Movie: Farmageddon, no original, foram feitos na mesma época, mesmo com seus quase 20 anos de diferença.

A diretora da M.D.A Red, que é uma mulher branca, de cabelos preto, e que usa um terno preto, está levantando escorada em um corrimão, descabelada, com os olhos cerrados e boca trêmula, se recompondo de um tombo. Ela está em uma caverna.
Mesmo com uma semelhança grande com a Sra. Tweedy de A Fuga das Galinhas, Red é bem menos malvada, e muito mais humana por conta de seus traumas de infância (Foto: Reprodução)

Enquanto a dupla principal consegue trazer uma química gostosa, fazendo você se divertir com sua aventura, o núcleo do M.D.A. é vergonhoso. Em um primeiro momento, quando Red, a diretora da organização, aparece, sua semelhança com outras vilãs sanguinárias do estúdio conduz para uma personagem que passaria por cima de qualquer coisa para chegar aos seus objetivos. Mas não foi isso que aconteceu. 

Primeiro que toda essa instituição é uma verdadeira piada. São um bando de incompetentes trabalhando lá, um robô inspirado nos clássicos Spirit e Opportunity, mas que diferente de outras obras, é apenas chato, e uma diretora que mais parece ter saído de um episódio de Os Trapalhões. Mesmo que suas intenções sejam plausíveis, e você acabe tendo uma empatia pela personagem quando entendida sua história, ainda sim é um potencial desperdiçado.

A trama da dupla é um clássico dos filmes de sci-fi. Basicamente é o extraterrestre conhecendo os prazeres da vida na Terra, como sua comida. Mesmo que batida, a dinâmica é engraçada de se seguir as peripécias dos dois. Já na fazenda, toda a sequência de construção do parque Farmageddon, da interação do Fazendeiro com o Blitzer e com as demais ovelhas do rebanho, são pontos altos de Shaun, o Carneiro, o Filme: A Fazenda Contra-Ataca, criando uma grande expectativa em como ficará o parque no final.

Shaun, uma ovelha magra de pele preta e pelagem branca, está de costa, puxando uma pizza congelada que está presa na língua de Lu-La, um alien, com cabeça arredondada, orelhas e braços grandes e roxos, nariz de bolinha. O corpo é um formato de um pinheiro. Ele tem a pele em tons de azul e roxo claro. Ele está dentro de um freezer de supermercado, projetado para frente por conta do puxão da pizza.
O co-roteirista do filme Mark Burton, também foi o responsável por dirigir e roteirizar o primeiro filme, ao lado de Richard Starzak, que produziu e criou a história (Foto: Reprodução)

O roteiro de Mark Burton e Jon Brown é recheado de referências a filmes clássicos, como 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968), E.T – O Extraterrestre (1982), Alien, O Oitavo Passageiro (1979), entre outros do gênero, além dos easter-eggs de outras obras do estúdio. É uma narrativa que é simples, bem executada e que não é cansativa. Sua história é uma bomba de emoções. 

O filme tem sido indicado nas principais premiações na categoria de Melhor Animação, inclusive no Oscar 2021. A Netflix já afirmou que pretende bater a Disney na produção de animações, mas ainda está muito longe disso se concretizar. O serviço de streaming tem conseguido emplacar grandes obras nos últimos anos, como Klaus (2019), que foi extremamente injustiçado, e  A Caminho da Lua (2020), uma das grandes concorrentes da noite, mesmo que não seja tão amada por quem vos escreve. Mas no final, ainda ficam na sombra da montanha de troféus do senhor Mickey Mouse.

Shaun, uma ovelha magra de pele preta e pelagem branca, está de frente, sorrindo, com um braço levantado com um dispositivo que emite luz, e o outro abraçado em Lu-La, um alien, com cabeça arredondada, orelhas e braços grandes e roxos, nariz de bolinha. O corpo é um formato de um pinheiro. Ele tem a pele em tons de azul e roxo claro. Ele está olhando pra cima com um sorriso de esperança. Eles estão em uma plataforma de madeira, com pisca-pisca, e escrito em branco FARMAGEDDON, em uma noite estrelada.
De todos os filmes vencedores do Oscar, apenas dois não são 3D computadorizado, sendo Wallace e Gromit a única animação em stop-motion vencedora, em 2006 (Foto: Reprodução)

Desde a criação da categoria no Oscar em 2002, foram um total de 13 prêmios para a Disney, sendo divididos entre Walt Disney Animation Studio e Pixar, fora as outras duas vezes que ganhou o Oscar Honorário, pelas contribuições tecnológicas em Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e Toy Story (1995). Salvo algumas exceções, o estúdio sempre leva o prêmio, às vezes, tirando de obras que acabaram sendo melhores. O sentimento que fica é de uma previsibilidade enorme nas premiações quando um dos indicados é um filme da Disney ou da Pixar. 

Novamente, mesmo com todos os acertos de Shaun, o Carneiro, o Filme: A Fazenda Contra-Ataca, ou até mesmo dos demais indicados, como Wolfwalkers (2020), a vitória da categoria está nas mãos de Soul (2020), que foi altamente aclamado pela crítica do mundo todo. Mais um ano passa, e a Aardman Animation continuará com apenas a estatueta de Wallace e Gromit na estante. 

Mesmo que tenha sido uma grande estranheza à primeira vista as indicações da animação, Shaun, o Carneiro, o Filme: A Fazenda Contra-Ataca é uma obra gostosa para toda a família. Consegue emocionar e divertir, além de criar uma máquina de nostalgia para toda uma geração que sintonizava na Cultura em suas manhãs.

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