NYAD nada contra a corrente

Inspirado na história real da nadadora Diana Nyad, NYAD encontra abrigo em vencer à contragosto (Foto: Netflix)

Jamily Rigonatto 

Uma travessia de 180 km, Annette Bening e Jodie Foster, a soma equaliza uma das maiores produções inspiradas em histórias da vida real dos últimos anos: NYAD. A trama lançada pela Netflix em 2023 traz um combo de veracidade, suspense e uma atuação de primeira, com um equilíbrio bastante acertado. Dirigido por Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, o longa-metragem mixa tons de persistência e uma ousadia quase negligente.  

O filme conta a história da nadadora Diana Nyad (Annette Bening) que, aos 60 anos, vai em busca de refazer um feito que tentou aos 28: atravessar o oceano de Cuba até a Flórida nadando. O sonho que já parecia completamente insano na juventude, quando a protagonista persistiu por 42 horas no trajeto com uma gaiola de tubarão, mas não conseguiu aguentar, agora soa impossível. No entanto, quebrar as regras do lógico é uma das características desta história.

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2 de 20 não é o bastante

O Oscar 2022 marca a primeira edição em que duas pessoas queer concorrem nas categorias de atuação

Montagem retangular de fundo preto. À esquerda está kristen stewart, uma mulher branca, de cabelos ondulados, loiros e na altura dos ombros. Ela veste um cropped e uma saia, ambos pretos e de látex. Atrás foi feita a silhueta da imagem com uma textura dourada. Ao centro está a imagem da animação de uma jovem. Ela é branca, tem cabelos curtos e castanhos, usa óculos, blusa branca e moletom laranja. Atrás foi feita a silhueta da imagem com uma textura dourada. À direita está uma mulher negra. Seus cabelos são curtos e pretos. Ela está sorrindo e suas mãos estão na altura da cintura. Ela veste um vestido brilhante e cinza. Atrás foi feita a silhueta da imagem com uma textura dourada.
Além das duas atrizes queer indicadas esse ano, filmes como Ataque dos Cães, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas e Spencer trazem subtextos ao tema (Arte: Nathália Mendes)

Vitória Lopes Gomez

Pela primeira vez em 94 edições de Oscar, duas pessoas pertencentes à comunidade LGBTQIA+ disputam em categorias de atuação no mesmo ano. Kristen Stewart, indicada a Melhor Atriz por Spencer, e Ariana DeBose, em Atriz Coadjuvante por Amor, Sublime Amor, ambas assumidamente queer, fazem da nonagésima quarta temporada do evento histórica. Somando ao avanço, o maior mencionado da premiação, Ataque dos Cães, e o documentário Flee, que também fez história esse ano, tratam de temas ligados à homoafetividade. Tudo isso em 2022, antes tarde do que ainda mais tarde para uma Academia de Artes e Ciências Cinematográficas atrasada em reconhecer a diversidade.

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O Mauritano: essa é uma história real

Cena do filme O Mauritano. Da esquerda para a direita na imagem, sentados frente a frente à mesa de uma sala de interrogatórios de uma prisão, vemos Mohamedou, interpretado por Tahar Rahim, um homem de ascendência muçulmana, de cabelos e barba castanhos curtos, aparentando ter cerca de 30 anos, vestindo um uniforme bege de prisioneiro, e Nancy, interpretada por Jodie Foster, uma mulher branca, de cabelos grisalhos lisos na altura do ombro, aparentando ter cerca de 60 anos, vestindo uma camisa social preta e com um envelope em sua frente.
Presente na seleção do Festival do Rio 2021, O Mauritano escancara os abusos e violações que o governo estadunidense tenta esconder em Guantánamo (Foto: Topic Studios)

Vitória Lopes Gomez

“Essa é uma história real” é a frase que ocupa a tela enquanto Mohamedou Ould Slahi, interpretado por Tahar Rahim, caminha em uma praia no que seriam seus últimos momentos de liberdade por 14 anos. O quarto longa exibido no Festival do Rio 2021, O Mauritano traz à tona a história de Slahi, que, suspeito de recrutar terroristas para o atentado às Torres Gêmeas, foi capturado e enviado à Prisão de Guantánamo, onde permaneceu por anos sem nenhuma prova apresentada contra ele.

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30 anos de O Silêncio dos Inocentes: os cordeiros gritam mais alto do que nunca

Atenção: o texto contém imagens sensíveis de violência explícita

Cena do filme O Silêncio dos Inocentes. O personagem de Anthony Hopkins está no centro da imagem, preso em uma camisa de força. Ele está de pé, num carrinho, e usa uma máscada de couro do nariz para baixo. Seu olhar é vidrado, sem expressões. Ao seu redor, vemos três policiais desfocados.
A máscara icônica foi criada especialmente para o filme de 1991 (Foto: Orion Pictures)

Caroline Campos

Aconteceu Naquela Noite (1934), de Frank Capra, Um Estranho no Ninho (1975), de Milos Forman e O Silêncio dos Inocentes (1991), de Jonathan Demme, são o trio de ouro do Oscar. Os três integram o seleto grupo Big Five, dedicado aos filmes que levaram para casa as principais estatuetas da premiação – Melhor Filme, Ator, Atriz, Direção e Roteiro. No entanto, quando Elizabeth Taylor anunciou o último prêmio daquela noite de 1992 para a obra de Demme, ela também consagrou o primeiro Oscar de Melhor Filme para um longa de terror na história da cerimônia até então. Passados 30 anos, o impacto de O Silêncio dos Inocentes na cultura cinematográfica continua incontestável e não há nada que apague a reputação de Hannibal Lecter e Clarice Starling do imaginário popular.

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Cineclube Persona – Os Vencedores do Globo de Ouro 2021

 Uma imagem amarela, com molduras pretas de quadro. Uma com a foto de Daniel levy, homem negro apontando para a camera; outra com a roterista Chloe, sorrindo. Embaixo, as fotos são de Emma, segurando o próprio rosto, e Sacha Baron, ao lado de Isla Fisher. No canto superior direito está escrito “cinemaclube persona”, de branco. Logo embaixo, há o desenho de uma estatueta e está escrito “globo de ouro”, ambos em preto. Por último, no canto inferior direito, há o logo do Persona.
Os destaques do Globo de Ouro 2021 foram Nomadland e a estonteante Chloé Zhao, o trabalho primoroso de Sacha Baron Cohen em Borat 2, Daniel Kaluuya pegando fogo em Judas e o Messias Negro e a avalanche The Crown (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Vitor Evangelista)

Nós damos valor demais ao Globo de Ouro. Esse ano, o grupo votante lamenta a morte de seu antigo presidente, Lorenzo Soria, ao mesmo tempo que enfrenta acusações de fraude e uma investigação que revelou o óbvio: a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA) não tem diversidade alguma. Reportagens no Los Angeles Times e no The New York Times estouraram poucos dias antes da 78ª edição do prêmio. Além de descobrirem que a HFPA não tem membros negros, foi escancarado um lobby poderosíssimo ao redor de Emily em Paris, uma das questionáveis indicadas ao Globo de Série de Comédia ou Musical.

É de suma importância relembrar que o GG não é prévia do Oscar de maneira nenhuma. Em questões de marketing e campanha, uma vitória no Globo alavanca sua visibilidade, mas o corpo votante da Academia é composto por mais de 7 mil membros, todos trabalhadores da indústria. A HFPA, por outro lado, é formada por 87 jornalistas, residentes de Los Angeles e que não têm ligação com o Oscar

Todavia, o que acontece é o Globo de Ouro tentando ditar tendências na temporada. Às vezes, as coisas dão ‘certo’: Green Book e Bohemian Rhapsody começaram ganhando aqui e percorreram solenes seu caminho até as estatuetas douradas e carecas. Ano passado, o amor por 1917 e por Sam Mendes caiu por terra quando Parasita e Bong Joon-ho saíram com os louros.

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