Rachel Weisz nunca pode ser demais e Gêmeas – Mórbida Semelhança sabe disso. Com a atriz britânica na pele das gêmeas Beverly e Elliot Mantle, a releitura do filme (quase) homônimo de David Cronenberg vira do avesso para explorar o outro lado da moeda: o longa original se torna uma minissérie e os irmãos, irmãs. No entanto, a obsessão e a relação doentia um pelo outro se mantém e a produção leva os limites médicos ao extremo, ao mesmo tempo que lida com duas figuras opostas presas em uma só.
Na série, Beverly e Elliot são médicas obstetras insatisfeitas com a maneira como o sistema de saúde lida com mulheres grávidas. Juntas, elas buscam investimento para abrir seu próprio centro de maternidade. A perfeita harmonia das duas beira a insanidade, mas a simbiose funciona no âmbito profissional e pessoal – até a chegada de Genevieve (Britne Oldford). Quando a atriz se envolve com uma das irmãs e elas se veem obrigadas a não mais viver uma para outra, o desequilíbrio leva desde a convivência doméstica até os bastidores da medicina ao extremo.
Você já sonhou com este homem? Em 2006, um boato correu na internet: mais de oito mil pessoas de diversas cidades do mundo estavam sonhando com o mesmo homem, sem nunca o terem visto antes. Posteriormente, o que era um mistério virou uma piada nas redes sociais, com a verdade sendo revelada. Mas e se, subitamente, isso realmente acontecesse e moradores ao redor do planeta vissem uma mesma pessoa desconhecida durante o sono, todas as noites? É assim que O Homem dos Sonhos começa.
Quando o assunto é Cinema, é difícil encontrar alguém que não tenha alguma memória relacionada a ele. Seja por uma trilha sonora que ganhou um lugar especial em nossos corações ou por um enredo que mudou completamente nossa visão de mundo, a Sétima Arte, assim como todas as outras, tem a incrível habilidade de movimentar as emoções do público. É por esse motivo que não deixamos de apreciar obras cinematográficas e, consequentemente, o Persona não deixa de trazer sua clássica lista dos Melhores Filmes do ano.
Essa conexão entre a Arte e a população é, também, um dos motivos pelo qual Hollywood parou em 2023 com a greve dos roteiristas. Más condições trabalhistas prejudicam qualquer criação, inclusive as do audiovisual, e não é preciso se alongar muito sobre como o aperfeiçoamento da inteligência artificial coloca em risco a integridade das obras. Ver o adiamento de produções tão aguardadas foi dolorido, mas os quatro meses de discussão foram essenciais para que o trabalho daqueles que dão vida a essas histórias fosse mais valorizado.
As obras que não foram afetadas pela greve e chegaram ao público, por outro lado, proporcionaram experiências que há muito o Cinema não vislumbrava. Não há dúvidas de que o contraste entre o mundo cor-de-rosa de Barbie e a mente perturbada de Oppenheimer ficará marcado como um dos principais – e mais divertidos – momentos do ano. O border collie Messi foi, de longe, o dono do espetáculo, e fomos presenteados com a melhor atuação da carreira de Emma Stone até então.
O mundo cinematográfico abre diversas portas, e tanto os membros da nossa Editoria quanto nossos colaboradores não pensam duas vezes antes de adentrá-las. As 55 obras que compõem essa lista falam de tudo um pouco: da denúncia de um genocídio aos encontros e desencontros do amor; das ruas de Recife às geleiras dos Andes; da esperança ao horror.
Ao reservar algumas horas para contemplar uma produção audiovisual, não importa se o fazemos com a intenção de nos educarmos sobre um determinado assunto ou se é apenas com o intuito de nos entreter. Criar essa conexão com o Cinema é, citando Scorsese, “algo que, por alguma razão, permanece”. Assim, no Melhores Filmes de 2023 do Persona, você confere todos os lançamentos que permaneceram em nós. Continue lendo “Os Melhores Filmes de 2023”
2023 foi um ano e tanto para a Televisão. Com grandes estreias e adaptações que eclodiram, títulos importantes também nos deixaram com seus últimos episódios. No que diz respeito às premiações, o ano atípico ganhou mais uma reviravolta: o adiamento das cerimônias e produções em prol da justa greve que parou Hollywood. Tradicionalmente, o Persona preparou um compilado com as melhores séries.
Entre as 51 séries selecionadas, Succession lidera o número de menções (8) em primeiro lugar. Logo depois, o apocalipse de The Last Of Us(4) e a cozinha caótica de The Bear (3) aparecem como destaque em meio às favoritas. Na batalha entre streamings, a Netflix assume a liderança absoluta com 16 aparições. Em sequência: Max (7), Amazon Prime Video(6), AppleTV+, Globoplay e Disney+(3), eParamount+(2).
A grande parte das produções são dos Estados Unidos, porém, alguns seriados brasileiros deram a cara por aqui com novelas e minisséries. Dentre elas, Cangaço Novo, Elas Por Elas e Vai Na Fé. Nós sempre acompanhamos as principais premiações da Televisão, o que explica 19 dos títulos escolhidos terem sido indicados ao Emmy de 2023 como The Other Two, Jury Duty e Dead Ringers.
Os realities roubaram a cena em 2023, seja tratando de moda, esporte, namoro ou sobrevivência. Next In Fashion, Casamento às Cegas: Brasil, A Batalha dos 100 e RuPaul’s Drag Race são alguns dos nomes bastante citados. Spin-Offs também marcaram presença forte, como os derivados de Bridgerton e Hora de Aventura: Rainha Charlotte e Fionna & Cake.
A nossa seleção conta com os mais diversos gêneros, com séries para a família toda como o heroísmo de Minhas Aventuras com o Superman e outras um tanto quanto explícitas à la Sex Education. Para além do adeus à família Roy, Maravilhosa Sra. Maisel, Ted Lasso e Barryvão deixar saudade. Abaixo você confere a lista mais que especial das melhores séries de 2023, escolhidas a dedo pela nossa Editoria e colaboradores.
O ato de ouvir Música se tornou tão imprescindível que pode até ser confundido com uma banalidade. Banal não no sentido ruim, mas sim de algo tão essencial, que, por assumir uma parcela gigantesca de nossas vidas, à medida que cresce em escala, não consegue acompanhar o tamanho em definição. Chega um momento em que ele se torna apenas… ouvir Música. Para não cair nesse limbo chamado lugar comum, o Persona retorna com sua já tradicional lista de Melhores Discos.
Se 2023 nos reservou um retorno ao início do século graças à Saltburne Todos Menos Você, aqui focamos essencialmente no que foi criado no ano que passou e, assim como os grandes players da indústria, deixamos o TikTok de lado para embarcar no ato arcaico de se ouvir um álbum de cabo a rabo. O resultado foram 93 produtos que embalaram e deram sentido para o ano.
Não podemos negar que foi o ano de Taylor Swift. Mesmo sem um trabalho de inéditas, o pomposo Speak Now (Taylor’s Version), o agora litorâneo na mesma medida que cosmopolita 1989(Taylor’s Version) e os resquícios de insônia de Midnights – claro, aliados a gigantesca The Eras Tour – serviram para ecoar o sucesso estrondoso que ela calcou. Ainda na ditadura loira do pop, sua pupila Sabrina Carpenter apareceu para o mundo também com obras repaginadas: primeiro, enviando os anexos que esqueceu no corpo do e-mail e, no fim do ano, trazendo um pouco de malícia para o Natal.
Quem retornou de forma inédita foi a rival de Carpenter, Olivia Rodrigo. Após a acidez de SOUR, a artista volta a expor seus sentimentos de uma forma nada ortodoxa: arrancando suas entranhas. O sentimentalismo, dessa vez mais bonito, mas igualmente doloroso, está presente no alinhamento estelar das boygenius, ao mesmo tempo que Mitski declamava todo seu amor para as paredes de um galpão vazio.
Ao longo das 93 obras, temas conversam entre si, mas a homogeneidade é proibida. Troye Sivan e Pabllo Vittar querem festejar, mas enquanto um é a efervescência do durante, a outra é o desejo do pós. Os latinos KAROL G e Bad Bunny falam sobre o amanhã de formas diferentes: ela com esperança, ele com incerteza. Letrux abordava o reino animal e Ana Frango Elétrico se transmuta em feline. Marina Sena se viciava na selva de pedra enquanto Chappel Roan se assustava com os prédios. Jão quer ser cada vez mais superlativo, à medida que Post Malone se recolhe em suas origens. Metallica sente a passagem de tempo, diferente de Kylie Minogue, que nem o vê passar.
Tal cenário só é possível pois a Música e toda sua imensidão atuam como um espaço de diversidade e liberdade, no sentido mais amplo das palavras. E nada mais justo do que celebrá-las no ano de passagem da Padroeira da Liberdade. O Melhores Discos de 2023 é por Rita Lee, que é gente fina na Música e na eternidade.
Muitos dos que se propõem a maratonar a lista dos indicados ao Oscar se esquecem dos curtas-metragens. O desinteresse pela categoria as impede de experienciar histórias valiosas e marcantes em diferentes temáticas e formatos – animação, live-action ou documentário. Os curtas são capazes de explorar qualquer assunto em um tempo limitado sem parecer superficial, te fazem rir, chorar, se inspirar, apaixonar e, às vezes, tudo isso ao mesmo tempo.
Na ficção, as produções selecionadas pela Academia para a 96ª edição da premiação abordam desde temas coletivos como aborto, abuso infantil e o holocausto, até questões subjetivas e individuais como o luto e memórias da infância. Na categoria documental, as obras retratam, além da vida pacata de duas senhoras e do impacto da música no desenvolvimento de estudantes, denúncias sociais sobre a proibição de livros em escolas, a disparidade econômica-racial e questões diplomáticas. Mesmo que de forma breve, não falham em se aprofundar em temáticas complexas.
Os curtas não ficam para trás dos longas-metragens, nem em qualidade da história, relevância ou impacto emocional. Apesar de serem desvalorizados em relação aos principais prêmios da noite, você só tem a ganhar dando uma chance para essas narrativas. O Cineclube de curtas do Persona vem com essa finalidade: valorizar as produções indicadas e, quem sabe, te incentivar a conhecer um pouco mais sobre essas histórias. – Amabile Zioli e Giovanna Freisinger
Uma tela preta com um som grave ao fundo inicia e encerra Zona de Interesse. A introdução subversiva dá o tom provocante da obra de Jonathan Glazer, que, ao invés de filmar os horrores dos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, aposta no senso ético dos espectadores para interpretar a dissonância entre o que se vê e o que se escuta. Curiosamente, a melhor aposta para o longa-metragem no Oscar, no qual foi indicado em cinco categorias, não é Melhor Som.
Nesse ponto, a aparição de The Zone of Interest escancara algo ainda mais perturbador. Junto de outras produções nomeadas este ano, como o iminente vencedor Oppenheimer (também sobre a Segunda Guerra) e o merecedor Assassinos da Lua das Flores, a premiação parece ter uma predileção por passar a limpo tragédias movidas pelo dedo humano (coincidentemente, em que o dedo é estadunidense). No entanto, a preferência é seletiva: enquanto homenageia documentários propagandísticos, como aconteceu no ano passado com Navalnye pode se repetir esse ano com o manipulador 20 Dias em Mariupol (sobre a guerra na Ucrânia), o país berço do Oscar não só nega um genocídio em andamento, como o financia.
Pode a Arte imitar a realidade sem se basear nela? Pode a vida de alguém virar arte se não houver autorização? Todd Haynes prova que sim. Tão melodramático quanto bem-humorado, Segredos de Um Escândalo, inspirado em uma história real, mostra que o papel da arte não é necessariamente passar as coisas a limpo. Do contrário, a obra disseca os restos do que um dia foi um escândalo, reimaginando os ecos reais dele muito tempo depois que os noticiários se esqueceram.
Jão agarrou cada chance que teve de virar uma estrela pop. Antes das noites lotadas e das superproduções que marcam seus dois últimos projetos, o cantor do interior paulista já se entregava em cada performance, seja em palcos pequenos de bares, com um figurino calça-e-camiseta-preta na Virada Cultural de São Paulo ou casas de shows que mal comportam o fervoroso público adolescente. Mais do que tempo ou maestria musical, o fenômeno surgiu da conexão dos temas com uma audiência enfrentando a perspectiva de virar adulto, se desvencilhar dos primeiros laços ou ter um primeiro coração partido. Com SUPER, não foi diferente: é durante a performance que o artista se conecta e cria o espaço seguro tão característico de sua carreira, transformando um álbum comum em uma noite memorável.
12 jurados participam de um julgamento relativamente simples nos Estados Unidos. Um funcionário versus uma empregadora que o acusa de destruir o patrimônio de sua empresa. Por lá, o júri é formado apenas por civis e é dever constitucional de cada um comparecer quando for convocado – então por que não filmar o processo? É assim que Ronald Gladden acaba entre o grupo de 12 pessoas da vez, com a promessa de participar de um documentário sobre esse rito da justiça no país. O que ele não sabe é que ele é o único que está lá com esse propósito: todo o resto, incluindo os outros 11 jurados, os agentes federais, o juiz, a acusadora e até o réu são uma mera armação para emboscá-lo nas situações mais constrangedoras possíveis.
Jury Duty já deixa o público ciente da grande pegadinha acontecendo ali desde o primeiro momento. Apesar de algo realmente estar sendo gravado naquela corte, não é nada parecido com um documentário. No entanto, ao invés de se escorar em um mero programa de chacotas que caçoa do protagonista desavisado, a série cresce justamente por causa da humanidade de Ronald. No estilo mockumentary, a estrela da produção (que sequer sabe que é o centro das atenções) encara o dia a dia do julgamento com a certeza de que tudo está sendo registrado, mas ignorante às reais intenções das câmeras.