Do interior à metrópole, Marina Sena se arrisca com Vício Inerente

Capa do álbum Vício Inerente. Nela está a cantora Marina Sena sentada ao meio em uma estrutura reflexiva metálica que aparenta ser uma caixa com fundo de uma cidade. Ela está com meias longas pretas sentada acima de suas panturrilhas. Enquanto segura uma concha brilhante em seus ouvidos, seus cabelos longos e pretos aparentam movimento esvoaçante e sua pele clara é iluminada por sua maquiagem. Em seu rosto está marcado uma sombra prateada em seus olhos fechados. Acima à esquerda o símbolo MS que nomeia a artista.
Marina Sena participou do projeto Foundry do YouTube Music em 2021, focado em impulsionar e divulgar artistas no começo da carreira (Foto: Sony Music)

Henrique Marinhos

Em seu segundo álbum, Vício Inerente, Marina Sena apresenta uma evolução em relação ao seu álbum de estreia, De Primeira, que fez tanto barulho no cenário brasileiro em 2021. Com influências de gêneros como reggaeton, drill, trap e funk, a artista experimenta novas sonoridades e se arrisca em texturas eletrônicas, resultado de uma colaboração estreita com seu produtor Iuri Rio Branco, que a acompanha desde o início. Aqui, a cantora apresenta um som mais maduro e coeso, consolidando sua posição no cenário pop nacional.

A mineira multitalentosa se mostra ainda mais experiente e segura de si, capaz de criar sonoridades hipnotizantes e profundas que são marcadas pela inovação e pela busca por novas possibilidades estéticas a fim de incrementar seu repertório, que transita entre gêneros pouco explorados no mainstream nacional, como o reggaeton e o trip hop. Composta por doze faixas, Vício Inerente conta com parcerias importantes, como Fleezus, nome importante do brime paulistano e ídolo da cantora. No entanto, nem todas as canções apresentam o mesmo refinamento: algumas se mostram mais cruas que outras, como em seu debut, mas transparecem escolhas conscientes e ousadas dessa mistura.

Foto da cantora Marina Sena. A artista está em pé com um vestido entrelaçado em seu corpo cheio de lantejoulas que brilham refletindo as luzes de um cenário de prédios e instalações urbanas que dão o tom noturno ao fundo da imagem. Seus braços estão apoiados em um fio, enquanto prédios cenográficos estão caídos aos seus pés. A artista de cabelos longos e pretos está olhando para a direita e mantendo a cabeça à frente.
Marina Sena fez o primeiro show de Vício Inerente na Audio, casa de shows na Zona Oeste de São Paulo (Foto: Sony Music)

A cantora não tem medo de se aventurar no cenário nacional e de explorar novas sonoridades em seu segundo álbum, afirmando que ser artista significa experimentar e ousar, sem medo de errar. Ela não se preocupa em seguir as convenções do mercado musical e está sempre em busca de novas possibilidades estéticas e sonoras, como disse à Folha de São Paulo. Tudo isso se concretiza em uma obra irreverente a todas as críticas infundadas e maliciosas. “Quero que as pessoas entendam de uma vez por todas que eu sou foda“, Sena diz.

Em De Primeira, a cantora apresenta uma série de letras sobre amor e relacionamentos, com um tom que oscila entre a sensualidade e a vulnerabilidade. As histórias retratadas nas músicas são, em sua maioria, vivências pessoais, traduzidas em canções pop chicletes e refrões cativantes, interessantemente construídos com muita naturalidade. As letras são marcadas pela utilização de gírias e regionalismos, o que confere ao disco uma certa proximidade tocante. Além disso, a produção do álbum é minimalista, com destaque para sua voz anasalada e para a presença de elementos percussivos.

Foto da cantora Marina Sena. Ela está debruçada na traseira de um carro com luzes roxas iluminando todo seu ambiente. Ao fundo estão as luzes de uma cidade. Ela está vestida com uma saia com lantejoulas e topless apoiada no carro. Seus cabelos lisos e pretos estão para trás. Em seu braço direito estão joias que refletem as luzes.
A canção Por Supuesto, do primeiro álbum de Marina Sena, viralizou no TikTok e alcançou o 5º lugar da lista 50 mundial do Spotify (Foto: Sony Music)

O novo álbum de Marina Sena mostra que sua ambição não se limita às fronteiras de Minas Gerais, seu estado natal. Seu reconhecimento surgiu logo antes de se mudar para São Paulo. Como um grande sucesso, suas músicas se tornaram virais no TikTok, gerando muitos shows para a artista. Além disso, o álbum causou mudanças significativas na vida da cantora, a levando a se mudar de Taiobeiras, enricando e permitindo que ela conhecesse outras personalidades musicais, além de assinar um contrato com a Sony.

Porém, sua carreira, apesar do que muitos pensam, não começou De Primeira. Ainda em Montes Claros (MG), ela montou a banda A Outra Banda da Lua e mais tarde integrou o grupo Rosa Neon. Já com seu disco de estreia, a artista recebeu quatro indicações ao Prêmio Multishow 2021, ficando atrás só de Anitta, agraciada com cinco menções. 

A amizade de Marina Sena com os rappers Febem, Fleezus e  DJ Cesrv, após sua chegada a São Paulo e seu trabalho no álbum Brime!, inspirou os elementos de afrobeat, funk e trap presentes em seu novo trabalho. Sena o ouvia o tempo todo enquanto produzia seu novo trabalho, afirmando que é o que mais consome e está apaixonada. A participação de Fleezus na faixa Que Tal é o único dueto em todas as composições, demonstrando a importância do trabalho do trio em sua carreira. Ela também afirmou que, sempre que sai para algum rolê na cidade, vai assistir algum show do que considera a coisa mais fresca no cenário musical brasileiro. Esse frescor é bem traduzido na mistura de tantos gêneros em Vício Inerente.

Foto da cantora Marina Sena. A artista está de pé a frente de um telão vermelho em um palco, ela veste uma saia jeans com uma grande fivela pendurada que compõe a saia, e uma jaqueta cropped no mesmo material e cor da saia. A artista de cabelos longos e pretos esvoaçantes está olhando para a direita com o microfone em sua mão enquanto canta.
“Nacional… Anitta! Internacional seria a Rosalía, amo as duas!”, disse a artista sobre suas colaborações dos sonhos à revista Cláudia (Foto: Henrique Marinhos/Acervo Pessoal)

As três primeiras músicas de Vício Inerente já demonstram as diferenças em relação ao seus trabalhos anteriores, que eram muito característicos e mantinham uma solidez muito maior em seus versos e melodias. Enquanto isso, o mais recente marca principalmente um trabalho experimental, com inspirações de artistas como Rosalía, Doja Cat, Nathy Peluso, Djavan, Gal Costa e Jards Macalé. Ambos tiveram seus propósitos alcançados, em sucesso e conceito.

Como uma fatídica história de crescimento profissional em metrópoles, a intensa experiência que Vício Inerente traz é uma proposta mais do que pessoal, e há quem se identifique. Assim como seu antecessor, o disco marca uma trajetória e uma personalidade que a artista trabalha com muito esmero, transbordando sua marca. Confiante e sem medo de errar, seu sonho é ser uma das representantes da música pop brasileira para o mundo, levando a música nacional para todo o planeta. E que, entre erros e acertos, continue nesse caminho que tem se aberto à ela.

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