Os Melhores Discos de 2023

Arte para o texto Os Melhores Discos de 2023. Nela vemos, da esquerda para a direita: Troye Sivan, um homem branco de cabelos loiros, Marina Sena, uma mulher branca de cabelos pretos, Lana Del Rey, uma mulher branca de penteado preto, Bad Bunny, um homem latino de cabelo raspado e Sabrina Carpenter, uma mulher branca de cabelos loiros. Todos estão em preto e branco. O fundo é rosa e centralizado em cores brancas está escrito "OS MELHORES DISCOS DE 2023". No canto superior direito, há o logo do Persona, um olho com o meio em roxo claro e um play no lugar da íris
No campo ou na cidade, do indie ao samba, a Música é onipresente (Arte: Henrique Marinhos/ Texto de abertura: Guilherme Veiga)

O ato de ouvir Música se tornou tão imprescindível que pode até ser confundido com uma banalidade. Banal não no sentido ruim, mas sim de algo tão essencial, que, por assumir uma parcela gigantesca de nossas vidas, à medida que cresce em escala, não consegue acompanhar o tamanho em definição. Chega um momento em que ele se torna apenas… ouvir Música. Para não cair nesse limbo chamado lugar comum, o Persona retorna com sua já tradicional lista de Melhores Discos.

Se 2023 nos reservou um retorno ao início do século graças à Saltburn e Todos Menos Você, aqui focamos essencialmente no que foi criado no ano que passou e, assim como os grandes players da indústria, deixamos o TikTok de lado para embarcar no ato arcaico de se ouvir um álbum de cabo a rabo. O resultado foram 93 produtos que embalaram e deram sentido para o ano.

Não podemos negar que foi o ano de Taylor Swift. Mesmo sem um trabalho de inéditas, o pomposo Speak Now (Taylor’s Version), o agora litorâneo na mesma medida que cosmopolita 1989 (Taylor’s Version) e os resquícios de insônia de Midnights – claro, aliados a gigantesca The Eras Tour – serviram para ecoar o sucesso estrondoso que ela calcou. Ainda na ditadura loira do pop, sua pupila Sabrina Carpenter apareceu para o mundo também com obras repaginadas: primeiro, enviando os anexos que esqueceu no corpo do e-mail e, no fim do ano, trazendo um pouco de malícia para o Natal.

Quem retornou de forma inédita foi a rival de Carpenter, Olivia Rodrigo. Após a acidez de SOUR, a artista volta a expor seus sentimentos de uma forma nada ortodoxa: arrancando suas entranhas. O sentimentalismo, dessa vez mais bonito, mas igualmente doloroso, está presente no alinhamento estelar das boygenius, ao mesmo tempo que Mitski declamava todo seu amor para as paredes de um galpão vazio.

Ao longo das 93 obras, temas conversam entre si, mas a homogeneidade é proibida. Troye Sivan e Pabllo Vittar querem festejar, mas enquanto um é a efervescência do durante, a outra é o desejo do pós. Os latinos KAROL G e Bad Bunny falam sobre o amanhã de formas diferentes: ela com esperança, ele com incerteza. Letrux abordava o reino animal e Ana Frango Elétrico se transmuta em feline. Marina Sena se viciava na selva de pedra enquanto Chappel Roan se assustava com os prédios. Jão quer ser cada vez mais superlativo, à medida que Post Malone se recolhe em suas origens. Metallica sente a passagem de tempo, diferente de Kylie Minogue, que nem o vê passar.

Tal cenário só é possível pois a Música e toda sua imensidão atuam como um espaço de diversidade e liberdade, no sentido mais amplo das palavras. E nada mais justo do que celebrá-las no ano de passagem da Padroeira da Liberdade. O Melhores Discos de 2023 é por Rita Lee, que é gente fina na Música e na eternidade.

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Febem escreve certo por linhas tortas e, com JOVEM OG, mira e acerta todas as balas

Fotomontagem com bordas de polaroid. Da esquerda para a direita, favela com casinhas de tijolos  sem reboco  ao fundo e céu azul, tons quentes. Homem com rosto pixelado e óculos de sol, tem pele negra  e não está de camisa. Ele tem cabelo raspado, veste calça preta, corrente e pulseira prateadas e tênis azul. Está sentado em  cima de uma moto azul e branca em um campinho de futebol de várzea na frente do gol.  
Capa do álbum JOVEM OG (Foto: CEIA Ent. – 2021)

Andrezza Marques

O quinto álbum de estúdio de Felipe Desiderio, ou Febem (conhecido pelas rimas que têm o mesmo peso do apelido), foi lançado em 9 de abril de 2021. Agora, já tendo completado pouco mais de um mês de existência, caminha para ser considerado um dos melhores e mais genuínos trabalhos do hip-hop, rap e grime (ou Brime) atuais. O grime, que despontou no país com o rapper baiano Vandal de Verdade, e é a aposta principal de nomes como o próprio Febem (os dois artistas tem, inclusive, um feat), tem tudo para colocar o Brasil em evidência internacional. O lançamento de JOVEM OG é mais uma prova que o rap nacional passa por um ótimo período, e o cantor, com trabalho consistente, se mostra cada vez mais perto do mainstream pela qualidade técnica e lírica, sem deixar de lado a agressividade e essência crítica características do rap, bem distante das lovesongs e outros sons comerciais que eram febres em outros tempos e ainda seguem populares no país, como os hits sequenciais dos projetos Poetas no Topo e Poesia Acústica.

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