No Oscar do cachorro, ainda falta humanidade

Arte que faz menção a 96ª edição do Oscar. Nlea, vemos, da esquerda para a direita e recortados: Christopher Nolan, um homem branco de cabelos loiros e que veste smoking e camiseta branca; Da'vine Joy Randolph, uma mulher negra, de cabelos loiros e que veste um vestido azul claro; Messi, um border collie de pelos brancos e pretos e que veste uma gravata borboleta preta; Emma Stone, uma mulher branca de cabelos ruivos e que veste um vestido branco e colar prateado; Mahito e a Garça da animação O Menino e a Garça. Ryan Gosling, um homem branco de cabelos loiros que veste smoking, camisa e calça rosa e Cillian Murphy, um homem branco de cabelos pretos e olhos azuis que veste smoking preto, camisa branca e gravata preta. Ao fundo, a imagem é laranja com alguns detalhes em roxo. No canto direito, a logo de um olho na cor laranja e um play na cor preta e no canto superior esquerda os escritos "Persona faz" seguido por "Artigo Oscar 2024" logo abaixo.
A busca por identidade da premiação já demora (e incomoda) demais [Arte: Aryadne Xavier]
Guilherme Veiga

É a principal premiação da temporada, a mais popular, mais glamourosa, que mais dá o que falar e a mais emblemática. Com todos os holofotes voltados para meados de Março, é natural pensar que são essas as razões que fazem com que o Oscar seja a passagem de ciclo entre as temporadas de premiação. O pensamento faz total sentido, mas a própria indústria não o leva em consideração e ano após ano prova esse descaso.

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Zona de Interesse: o mal mora ao lado

Cena de Zona de Interesse.
Além da indicação à Palma de Ouro, Zona de Interesse saiu vencedor do Grande Prêmio no Festival de Cannes (Foto: Diamond Films)

Vitória Gomez

Uma tela preta com um som grave ao fundo inicia e encerra Zona de Interesse. A introdução subversiva dá o tom provocante da obra de Jonathan Glazer, que, ao invés de filmar os horrores dos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, aposta no senso ético dos espectadores para interpretar a dissonância entre o que se vê e o que se escuta. Curiosamente, a melhor aposta para o longa-metragem no Oscar, no qual foi indicado em cinco categorias, não é Melhor Som.

Nesse ponto, a aparição de The Zone of Interest escancara algo ainda mais perturbador. Junto de outras produções nomeadas este ano, como o iminente vencedor Oppenheimer (também sobre a Segunda Guerra) e o merecedor Assassinos da Lua das Flores, a premiação parece ter uma predileção por passar a limpo tragédias movidas pelo dedo humano (coincidentemente, em que o dedo é estadunidense). No entanto, a preferência é seletiva: enquanto homenageia documentários propagandísticos, como aconteceu no ano passado com Navalny e pode se repetir esse ano com o manipulador 20 Dias em Mariupol (sobre a guerra na Ucrânia), o país berço do Oscar não só nega um genocídio em andamento, como o financia.

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