Reality shows são uma mentira – e Jury Duty é uma muito engraçada

Cena da série Jury Duty.
Depois de arrancar risadas, Jury Duty abocanhou quatro indicações ao Emmy (Foto: Prime Video)

Vitória Gomez

12 jurados participam de um julgamento relativamente simples nos Estados Unidos. Um funcionário versus uma empregadora que o acusa de destruir o patrimônio de sua empresa. Por lá, o júri é formado apenas por civis e é dever constitucional de cada um comparecer quando for convocado – então por que não filmar o processo? É assim que Ronald Gladden acaba entre o grupo de 12 pessoas da vez, com a promessa de participar de um documentário sobre esse rito da justiça no país. O que ele não sabe é que ele é o único que está lá com esse propósito: todo o resto, incluindo os outros 11 jurados, os agentes federais, o juiz, a acusadora e até o réu são uma mera armação para emboscá-lo nas situações mais constrangedoras possíveis.

Jury Duty já deixa o público ciente da grande pegadinha acontecendo ali desde o primeiro momento. Apesar de algo realmente estar sendo gravado naquela corte, não é nada parecido com um documentário. No entanto, ao invés de se escorar em um mero programa de chacotas que caçoa do protagonista desavisado, a série cresce justamente por causa da humanidade de Ronald. No estilo mockumentary, a estrela da produção (que sequer sabe que é o centro das atenções) encara o dia a dia do julgamento com a certeza de que tudo está sendo registrado, mas ignorante às reais intenções das câmeras.

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Em sua última temporada, The Marvelous Mrs. Maisel é apresentada pela primeira vez

 Imagem da série The Marvelous Mrs. Maisel. Na imagem está a atriz Rachel Brosnahan interpretando a personagem Midge Matel. A atriz é branca de cabelos na altura dos ombros, ondulados e castanhos. Ela usa batom vermelho e tem uma expressão séria no rosto. Ela está falando em um microfone de carbono, olhando pra frente, enquanto uma mão segura o suporte do microfone a outra aponta para frente. Ela veste um vestido regata preto, com um laço dourado no peito. Ao fundo está um cenário montado de um palco, as cores predominantes são tons pastéis laranja, amarelo e roxo. Estão em segundo plano dois homens, um sentado em um banco segurando uma guitarra e outro está segurando um violoncelo.
“Quero quebrar cada regra que existe” (Foto: Amazon Prime Video)

Costanza Guerriero

Há cinco anos, The Marvelous Mrs. Maisel nos conta como é ser uma mulher comediante nos anos sessenta. Não apenas uma mulher, mas uma mulher divorciada que decide trabalhar. Não apenas trabalhar, mas trabalhar com comédia. O fim da série confirma que a produção sempre tentou trazer uma mensagem para além do que é conviver com o machismo, sendo sobre a possibilidade de quebrar as regras que a sociedade nos impõe – não porque se deve, mas porque se deseja. A produção conta uma história sobre ter coragem de fazer o que deve ser feito, para chegar nos lugares que se deseja, mesmo carregando um enorme fardo: ser uma mulher ambiciosa. Vencedora de vinte Emmys, este ano a produção chegou mais uma vez na premiação concorrendo a quatorze prêmios, incluindo Melhor Série de Comédia, e tornando-se uma das preferidas pelo seu brilhante desfecho.

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O bom filho a sala torna?

95ª edição do Oscar pode acender a fagulha de um movimento de retorno já orquestrado

Nos mais de 120 anos do Cinema, o cenário provocado pelos últimos anos foi uma das poucas vezes que ele precisou se provar (Arte: Ana Clara Abatte)

Guilherme Veiga

O início da história do Cinema, na exibição de A Chegada do Trem na Estação em 1895, foi caracterizado pela fuga do público da sala, em função da novidade daquela tecnologia aliada com a perspectiva de filmagem do trem. A partir daí, iniciava-se uma jornada duradoura e, a princípio, inabalável. A Arte de fazer filmes superou as duas grandes guerras, inclusive servindo como ferramenta de propaganda, a grande depressão, a Guerra Fria, as ditaduras do século XX e até mesmo a greve de roteiristas de 2008. Sempre de portas abertas e salas lotadas.

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Time: tudo pode mudar em vinte anos e nada pode mudar em duzentos deles

Imagem do filme Time. A imagem apresenta um porta-retrato de uma familía repousado em uma mesa inclinado levemente para a diagonal. No porta retrato, na vertical, está a foto de parte da família. Ao centro da fotografia, está a mãe, Fox Rich, uma mulher negra de cabelos cacheados que usa um lenço no pescoço. Ao redor dela, atrás e em cima e na frente e embaixo, estão quatro filhos, todos entre 10 e 6 anos negros. Os que estão atrás dela são os mais velhos, e os que estão na frente são os mais novos. Todos sorriem e posam para a câmera. A moldura do porta-retrato é simples, sem decorações trabalhadas, e branca. A imagem está toda em preto e branco.
Time, filme realizado em parceria com o jornal The New York Times, debate os impactos do encarceramento em massa e pauta o abolicionismo penal na categoria de Melhor Documentário do Oscar 2021 (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

Não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito à sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados”, diz a 13ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que ‘aboliu’ a escravidão no país em 1865. Um dos maiores marcos da Terra da Liberdade, no entanto, guardou uma ressalva em seu texto, definindo logo em seguida que “os devidamente condenados por um crime” eram a sua exceção, criando em si mesma uma condição que permitia a prática do que acabava de extinguir. A conclusão da premissa da Emenda é literal e simples: quando você é condenado, você se torna um escravo do Estado.

Não à toa, o termo que se usa para definir a quem luta pelo fim do sistema carcarário vigente é o mesmo que se usava para se referir a quem lutava pelo fim da escravidão. A longo prazo, o que o governo de Abraham Lincoln fez com o que deveria ser um avanço na garantia do direito à liberdade, à vida e à igualdade foi permitir o desencadear de um fenômeno social denominado por estudiosos como o sistema escravista moderno. No país que abriga 5% da população mundial, está 25% da população carcerária do planeta. Assim, a cada quatro presidiários ao redor do mundo, um está encarcerado nos Estados Unidos. Como diz sua própria lei, essas são as pessoas submetidas à escravidão no século 21, e essa é a provocação de Time.

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Upload: um alerta sutil e bem humorado de precaução para o futuro

Capa promocional Amazon Prime (Foto: Reprodução)

Leandro Oliveira

Upload, a esperada nova série de Greg Daniels vem para nos dizer que no céu tem Mcdonald’s. Carregando o nome por trás de sucessos como a versão americana de The Office (2005-2013), Parks and Recreation (2009-2015) e a atual Space Force (2020) da Netflix, a série teve todo o seu marketing em torno do seu criador, deixando os fãs com altas expectativas para a comédia do Amazon Prime Video, que estreou em maio. Recheado de críticas sociais, novas tecnologias e debates sobre os rumos das relações humanas, o show nos assusta e nos conforta nessa primeira temporada.

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Extremismo e populismo andam juntos no segundo ano de The Boys

Nossos “mocinhos” do jeito que os conhecemos: sujos de sangue da cabeça aos pés (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

Em Esquadrão Suicida (2016), Dexter Tolliver questiona o que aconteceria se o Superman resolvesse arrancar o teto da Casa Branca e levar o presidente embora. Até então, conhecendo o Homem de Aço, nós sabemos que é um cenário pouco provável, afinal, ele sempre esteve do nosso lado. Mas e se não estivesse? Como seria viver em um mundo com uma criatura tão poderosa e tão descontrolada ao mesmo tempo? A segunda temporada de The Boys, série da Amazon Prime Video, conseguiu nos dar doses cavalares dessa sensação assustadora ao amadurecer ainda mais o Capitão Pátria, uma versão insana e desequilibrada do último filho de Krypton.

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RESUMÃO: Séries indicadas ao Emmy 2020

A pandemia de coronavírus, que paralisou gravações e embaralhou a janela de lançamentos no cinema, não foi páreo para o Emmy 2020. A 72ª edição da cerimônia que premia o melhor do ‘horário nobre’ da TV vai acontecer virtualmente. Com apresentação de Jimmy Kimmel, os atores, atrizes, diretores e roteiristas participarão da festa à distância, dando seus discursos e agradecimentos do conforto de casa.

Num ano tão conturbado política e socialmente, com as pessoas presas no isolamento social, a TV foi mais importante que nunca. Além, é claro, de entreter sua audiência, as produções que disputam a estatueta dourada têm muito a dizer. E, enquanto o Oscar estipula regras e diretrizes para a inclusão de diversidade, o Emmy 2020 estabeleceu um recorde de artistas negros indicados. Fator que reafirma a maior receptibilidade da TV para com histórias ímpares e das ditas minorias. Tudo está longe do ideal, nem precisamos dizer, mas o futuro parece promissor.

É interessante de sublinhar que a cerimônia do Emmy que acontece no domingo, 20 de setembro, representa apenas uma parcela dos prêmios entregues. Existe, também, o chamado Emmy Criativo (Creative Arts Emmys), que dá atenção às categorias técnicas, como figurino, direção de arte e direção de elenco. Excepcionalmente, por conta da pandemia, o Creative Arts aconteceu ao longo da semana, e os indicados todos gravaram com antecedência discursos de agradecimento. Num ano comum e livre do coronavírus, a premiação secundária acontece na semana anterior à principal, mas não é televisionada. Além das técnicas, o Creative premia as categorias de Atuação Convidadas.

 

A Editoria do Persona se reuniu para criar essa postagem especial e inédita, reunindo numa lista o resumo das principais indicadas da noite. Contando com informações suculentas das séries, minisséries e telefilmes, mas com a qualidade clássica do site. Aliás, as obras com textos individuais estão assinaladas com os devidos links.

Agora só nos resta esperar a cerimônia começar e, enquanto isso, relembrar tudo do Emmy 2020 junto com o Persona.

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