Midnights: a genialidade de Taylor Swift em percorrer o passado e desenvolver novas jornadas

Capa do CD Midnights de Taylor Swift. Fotografia quadrada centralizada no rosto da cantora Taylor Swift. Uma mulher loira, com maquiagem brilhante e delineado preto. Nas mãos segura um isqueiro aceso. No topo na lateral esquerda encontra-se o nome do álbum em cor azul, “Midnights”.
Entrando para a história como o maior debut da indústria musical, o décimo disco de Taylor Swift conta com 13 faixas que permeiam o passado e as expectativas para o futuro (Foto: Beth Garrabrant)

Luiza Lopes Gomez

Reflexões na madrugada, nostalgia de inquietudes antigas e diálogos internos marcam as composições do décimo álbum de estúdio de Taylor Swift que reafirma seu posto como artista flexível e inovadora, capaz de movimentar multidões e quebrar recordes. Com o anúncio do disco em meio ao seu discurso de agradecimento no VMA 2022, Swift introduziu ao público uma nova era. Permeado por mistérios e noites sem dormir, Midnights foi apresentado de forma instigante e milimetricamente arquitetada antes mesmo do seu lançamento, partindo de uma coleção de vídeos postados nas redes sociais, revelando os nomes das composições e recheados de easter eggs, referências já tão próprias da artista.

Como uma mescla de toda a trajetória de Taylor Swift na Música, o álbum, com 13 faixas em sua primeira versão e 20 composições na edição 3 am, é introduzido na carreira da cantora norte-americana de forma a recapitular sua história e, paralelamente, revelar facetas não expostas anteriormente ou aprofundá-las após mais de dez anos de atividade. Com tom irônico, a compositora explora a melancolia e o amargo de momentos que cercam sua sensibilidade e confusão interna. Ao fazer isso, porém, Swift não segue uma linha delicada e nebulosa a fim de ressaltar seu medo, mas sim apresenta uma atmosfera dançante e imersiva, com toques de sensualidade e mistério. 

A mistura entre o íntimo e a descontração tornam o álbum uma união de opostos, revelando trajetórias não lineares na vida da cantora que quebram expectativas e conquistam a adoração de seus fãs e da crítica. Desse modo, o disco coleciona recordes de acesso em plataformas musicais, consagrando Taylor Swift como “a indústria musical”. A combinação da batida pop com composições mais densas demonstra a superação de barreiras temáticas e sonoras da artista, desvinculando-se de qualquer rigidez e imobilidade lírica. Assim, ela promove uma viagem ao passado que, por outro lado, possui uma visão nova, madura e sofisticada sobre questões complexas acerca de crescimento, perda e pertencimento. 

Plano detalhe do rosto de uma mulher deitada no chão. Loira, com maquiagem verde brilhante e olhos fechados, está com a cabeça de lado no chão. Usa uma blusa longa azul de gola alta. Sua mão esquerda aparece em contato com sua cabeça.
Resultado de madrugadas sem dormir, Taylor Swift revelou o lançamento de Midnights em Agosto de 2022 (Foto: Beth Garrabrant)

A jornada para a composição de certas faixas passa por um grande processo de imersão na sua juventude. Would´ve, Could´ve, Should´ve, presente na versão deluxe, é uma das músicas mais intensas e vulneráveis criada pela artista. Com a apresentação de canções tão potentes e dilacerantes, Taylor Swift emociona ao detalhar os arrependimentos antigos que a assombram até hoje, retomando relacionamentos tóxicos vivenciados e cicatrizes ainda abertas em seu coração. Além de transmitir seus sentimentos de forma esplêndida e comovente, Swift é capaz de aproximar o ouvinte de suas feridas mais profundas e marcantes através de letras que, pela sua voz, mostram sua potência, sendo responsáveis por influenciar a forma de ver o mundo e receber o amor.

O que também chama a atenção dos fãs mediante a liberação de faixas do disco são as relações diretas traçadas com outra obra da cantora, seu segundo álbum, Speak Now. No ano de 2022, novas citações sobre o sofrimento em uma relação dual e dilacerante, apresentada anteriormente de forma menos profunda em Dear John (2010), constituem momentos comoventes no que diz respeito à destruição de sua inocência e do abuso emocional suportado, apresentando reflexos em sua personalidade e autoconfiança. De tal forma, Taylor Swift transmite toda sua genialidade e sensibilidade, ressaltando seu extenso talento à medida em que transpõe todo seu medo e remorso em versos incomparáveis.

Duas mulheres iguais, uma em foco e outra desfocada no fundo da imagem, reflexo de um espelho. Mulher loira, com franja no cabelo, olhos azuis. A mulher em foco possui feição preocupada. A outra, em desfoque, encara a mulher em sua versão mais inocente. Usa um body colorido, em faixas, e batom vermelho. Cena de encontro e tensão.
Cantora norte-americana mais ouvida no Brasil, Swift traz para o álbum um toque reflexivo e intimista que surpreende (Foto: Republic Records)

Em um processo de imersão no seu ‘eu’ mais particular, Taylor Swift, como  compositora árdua e experiente no ramo musical, passa por sonhos e pesadelos para construir uma ponte entre seu passado e presente, reconhecendo seus pontos fracos e destacando-os em uma perspectiva que beira a autodepreciação, às vezes perdida entre batidas dançantes que superam os vocais reflexivos. O lead single do décimo disco da cantora, a faixa Anti-Hero, representa justamente este conflito entre o caos interno e a sua visão perante uma sociedade maniqueísta que oprime a expressão individual resultante da instabilidade interior. 

A forma como diversas crises e a falta de confiança são expostas, tão próxima do público no quesito relacionável, remonta a situação de exaustão mediante dilemas morais de madrugadas que condenam. Por outro lado, tanto na faixa principal como em outras que flertam com o lado sensível do ser, suas questões morais e de cunho emocional, é a versatilidade de suas músicas que se manifesta. Para tal, percebe-se a grandiosidade da cantora a partir da construção de um ambiente efervescente para o público, funcionando como uma espécie de teatro vicentino de teor musical, em que os ouvintes se envolvem com a produção e musicalidade atrativas mas, ao mesmo tempo, refletem sobre as realidades complexas e identificáveis presentes em seu âmago.

Além do single de Midnights, outras composições do álbum dialogam com o tema dos arrependimentos e da aceitação, se perdendo em lembranças e, posteriormente, entendendo seus resultados em quesitos de personalidade e ação na vida adulta. Uma das canções que segue tal temática e atraiu os olhares do público e da mídia foi a faixa You’re on Your Own, Kid. Solidão, perda e transformação se entrelaçam e dão vida a um cenário nostálgico da jornada de Taylor Swift, que desenvolve a música a partir de inseguranças de seu passado, dificuldades de aceitação e de reconhecimento da independência como algo positivo. 

Uma mulher loira, Taylor Swift, de cabelo preso em coque está centralizada na imagem, sentada em uma poltrona no meio de uma sala de estar. Ela está com uma roupa simples, uma regata puxada para o laranja e uma calça jeans. A mulher está curvada em seus joelhos e com sua mão esquerda em sua cabeça, que também está baixa. De fundo, temos uma cortina amarela e uma pequena mesa com retratos. O cenário e a fotografia estão mais escuros, com sombras no ambiente.
Atingindo 1 bilhão de streams nas plataformas musicais, Midnights conquistou sucesso e prestígio ao emplacar dez músicas na Billboard Hot 100 (Foto: Beth Garrabrant)

Destaca-se a fórmula de sucesso de Taylor Swift em seus lançamentos como resultado de uma entrega impecável para o público, criando ambientes de identificação do ouvinte com as faixas, o que garante ainda que ela acerte em cheio no teor emotivo de suas obras. Ao trocar experiências e expor trajetórias tortuosas até atingir seu momento de estima, a cantora cumpre com uma visão engrandecedora em suas canções, provando a capacidade de superação em relação a dilemas tão próprios do mundo moderno e da juventude, alarmados em madrugadas ruidosas. Torna-se evidente, ainda na continuação do álbum, a forma majestosa com que a artista abre o seu universo, abraçando o sentimento de conforto e afabilidade nas faixas mais lentas e pessoais do disco.

No quesito musicalidade, a credibilidade dos projetos de Taylor Swift mostra-se ainda maior a partir da percepção de sua forma de criação na indústria ao inserir o seu clássico pop, como o do inesquecível 1989, em conjunto com a delicadeza e complexidade de composições próximas das músicas atemporais de seu oitavo álbum, folklore. A unicidade de Midnights parte justamente do relacionamento diferenciado entre suas batalhas psicológicas e sua incapacidade de negar a tentativa pela perfeição, satirizando suas dores e revelando novas emoções que tomam espaço a partir de decepções como vingança, indiferença e karma

A partir da produção de planos não tão polarizados e distantes entre tristeza e ânimo, presente nas batidas do disco, Swift concebe ao público canções com toques mais poderosos e que expressam o tom sensual e amargo da norte-americana, distanciando-se de composições somente românticas. Com isso, a artista amplia seus horizontes e expressa sua capacidade em permear diferentes territórios de forma avançada e impecável, construindo um ambiente comum de envolvimento e atração contínua.

 Cantora Taylor Swift, loira, de cabelos longos e franja, e de olhos azuis, deitada em um sofá. Close em seu rosto e tronco. Está deitada com os braços levantados apoiados em uma almofada. Usa uma blusa azul claro bordada e calça amarronzada. Não olha diretamente para a câmera na foto. O sofá no qual está possui formas triangulares mesclando a cor bronze e um tom de verde. Almofada apresenta um tom de vinho.
No álbum Midnights, Taylor apresenta ao público a sua versão mais madura, sem deixar de se aprofundar de forma avassaladora em sua sensibilidade e poder (Foto: Republic Records)

Primeiro álbum realizado totalmente em parceria com Jack Antonoff, o disco une vocais incríveis de duas parceiras de longa data do produtor musical: Taylor Swift e Lana del Rey. As artistas se juntam em uma das canções mais metafóricas de Midnights, combinando seus toques românticos e paradoxais em Snow On The Beach. Considerando toda a ansiedade envolvida no feature, a faixa deixa a desejar no que diz respeito à participação de del Rey. A composição bela e estranha, que mistura emoção e desilusão constantemente, tem sua potencialidade exaltada em decorrência da maestria na condução de versos e estrofes dramáticas, porém, não capazes de esconder a ausência da voz da cantora convidada nos ápices da faixa. 

Assim como a parceria com Lana del Rey e os outros dez álbuns de Taylor Swift, o romance está presente em Midnights de diferentes formas, transpondo desde a sensação de arrependimento até a conquista de um amor guerreiro e vencedor. No disco, o sentimento modela-se de maneiras distintas, traçando um percurso não linear que começa na negação da paixão em Labyrinth até a conquista da tranquilidade e transparência em um relacionamento, como detalhado em Sweet Nothing. Esse processo, no entanto, envolve possíveis mudanças no caminho até chegar ao ponto de destino do conforto.

A intensidade e o mistério de certas canções da obra de Taylor Swift são intensificados através de mecanismos de sobreposição e modulação de vozes, como nas faixas Midnight Rain e Maroon, que abordam jornadas frustradas da cantora e inserem o ouvinte em um meio sensível e imersivo que clama pela potência e força de tal experiência. O álbum configura-se de tal forma como uma companhia para todos os momentos, caminhando desde a vulnerabilidade até o poder de se sentir livre e brilhante. Característica obviamente planejada por Swift, Midnights oferece de tudo um pouco, sendo capaz de te acompanhar nas madrugadas e se mostrar compatível com diferentes dores, incentivando, porém, a expressão do brilho interno de cada um, assim como preciosos diamantes.

Palco de um estádio com fundo mais escuro e luzes pontuais. Taylor Swift, loira, com collant azul repleto de pedras e jóias e botas azuladas brilhantes, está de pé no centro do palco e com o pé direito em cima de uma cadeira preta, com apenas uma das pernas levantada. Quatro dançarinas ao fundo performando em torno de cadeiras semelhantes a da cantora.
The Eras tour, sexta turnê de Taylor Swift, acumula críticas incríveis e reúne fãs até fora dos estádios (Foto: Ethan Miller)

O lançamento de Midnights não foi a única surpresa de Swift em sua mais nova era. Meses após o debut de seu décimo álbum, a cantora retornou aos holofotes com o anúncio de sua turnê mundial, a The Eras Tour. Narrando toda sua trajetória na Música através de diferentes composições, cenários, figurinos e uma produção impecável e esplêndida, Taylor Swift comove multidões com shows de mais de três horas que não perdem a intensidade e emoção por um minuto sequer.

Recebendo ainda o reconhecimento do Grammy como a “turnê mais lendária desta geração”, a cantora norte-americana reafirma através do espetáculo toda sua genialidade e talento em uma carreira que já supera 17 anos. A energia do evento é capaz de ultrapassar quaisquer barreiras de diferentes estádios e transparecer todo o empenho, excelência e comprometimento de Swift com seu público.

Sua jornada de sucesso na indústria tem como base todo seu magnetismo e dedicação no que se propõe a fazer e inovar na Música. Traçando uma linda caminhada desde suas primeiras aparições em 2006 com o primeiro álbum Taylor Swift, até a consagração de seu legado através de Midnights. Nenhuma porta encontra-se inteiramente fechada para ela, uma compositora em ascensão há anos e extremamente criativa e ambiciosa em todas as suas produções, emplacando hits e marcando vidas a cada momento. 

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