A valorização da cultura de origem na construção da própria identidade em A Felicidade das Pequenas Coisas

Cena do filme A Felicidade das Pequenas Coisas. Na imagem, vemos uma garotinha de aproximadamente doze anos. Ela tem cabelos castanhos, lisos e curtos, e usa uma franja, e veste uma blusa azul, de mangas longas, com detalhes em cor de rosa nos punhos e na gola. Ela está sorrindo, e está sentada, com as mãos em cima de uma mesa de madeira, segurando nelas um papel. À direita dela, também sentada de frente para a mesa, há outra garotinha de aproximadamente doze anos. Ela está olhando para frente, e tem cabelos castanhos, lisos, com franja, e está com os cabelos amarrados. No lado esquerdo da imagem, há outra pessoa sentada, no entanto, só é possível ver as suas mãos. Ao fundo há uma parede clara, com uma janela pequena no lado direito, e bem atrás das garotas, há uma espécie de boi deitado no chão. Elas estão em ambiente interno e está de dia.
Indicado ao Oscar de Filme Internacional, A Felicidade das Pequenas Coisas evidencia a simplicidade em uma aldeia do Himalaia e o processo de transformação desse meio no protagonista Ugyen (Foto: Films Boutique)

Sabrina G. Ferreira

No mundo globalizado em que vivemos, cercados por diversas possibilidades de comunicação com os demais, fica difícil entender que existem outras realidades bem diversas às nossas. Essa disparidade é mostrada brilhantemente em A Felicidade das Pequenas Coisas (no inglês, Lunana: A Yak in the Classroom). Com direção e roteiro de Pawo Choyning Dorji (Hema Hema: Sing Me a Song While I Wait), o filme conta a história de Ugyen (Sherab Dorji), um jovem professor que sonha em se tornar cantor na Austrália. Todavia, Ugyen trabalha para o governo, que lhe atribui a missão de lecionar por alguns meses em Lunana, uma aldeia no Butão, país da Ásia Meridional, conhecido como um dos locais mais remotos do mundo. 

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A Mão de Deus estava furada

Cena do filme A Mão de Deus. A cena mostra várias pessoas, brancas e de idades diversas, sentadas ao redor de um barco no mar. As pessoas estão usando roupa de banho e olham para uma pessoa, fora da imagem. Alguns estão maravilhados com o que vêem, outros, decepcionados. Ao fundo, vemos uma falésia
Depois de vencer um Oscar por A Grande Beleza, Paolo Sorrentino retorna à premiação com A Mão de Deus (Foto: Netflix)

Caio Machado

Mesmo quem não gosta, sabe reconhecer a importância do futebol na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. O esporte é capaz de unir paixões, reunir familiares e amigos, além de lotar estádios enormes durante jogos importantes. A Mão de Deus, um dos concorrentes a Melhor Filme Internacional no Oscar 2022, indica que irá refletir sobre sua influência na vida de seu protagonista, mas não sabe direito qual abordagem seguir em sua narrativa, o que resulta em uma obra apática, com poucas cenas boas em um todo sem alma.

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A vida não dá trégua nas travessias de Flee

Cena do filme Flee. Ilustração retangular. Ao fundo, vemos várias pessoas em uma balada gay. Amin está centralizado. Ele coloca os braços sobre o balcão do estabelecimento, veste roupas de inverno e olha para o lado direito da imagem.
Indicado três vezes ao Oscar 2022, Flee é um documentário que ilustra uma complexa jornada de autoconhecimento (Foto: NEON/Participant)

Eduardo Rota Hilário

Vou carregar de tudo vida afora/Marcas de amor, de luto e espora/Deixo alegria e dor/Ao ir embora”. Os versos de Compasso, composição de Angela Ro Ro com Ricardo Mac Cord, podem até não aparecer na trilha sonora da produção dinamarquesa Flee (Flugt, 2021), dirigida por Jonas Poher Rasmussen; no entanto, ao serem recortados do restante da música, esses fragmentos poéticos expressam muito bem uma das inúmeras sensações que permeiam o longa-metragem estrangeiro. Afinal, em todo o filme, estamos diante de uma concretude nua e crua, e ela nunca será vivenciada da mesma forma por indivíduos minimamente diferentes.

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Os 20 anos de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain: uma dedicatória aos excêntricos incompreendidos

Cena do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. A imagem mostra Amélie, personagem de Audrey Tautou, sentada numa cama, de frente. A atriz é uma mulher branca, de cabelos lisos curtos, na altura das orelhas, e pretos, e usa uma franja curta no meio da testa. Está de noite e Amélie está dentro de um quarto que é iluminado por dois abajures que estão nas laterais da cama. A parede atrás dela é vermelha, decorada com arabescos finos amarelos e quadros de animais, sendo dois ao centro da parede e dois nas laterais. A cama tem uma cabeceira de madeira escura e Amélie apoia as costas nela, e no meio existe um travesseiro verde. Amélie veste pijama de bolinha e está folheando um livro.
Inicialmente, Audrey Tautou não foi idealizada para o papel; na época, a produção indicava que Amélie teria o pai britânico e, por isso, seria interpretada por Emily Watson (Foto: UGC Fox Distribution)

Bianca Penteado

Se você encontrasse uma coisa de sua infância que guardava como um tesouro, como se sentiria? Feliz? Triste? Nostálgico?

Estamos no dia 31 de agosto de 1997, em Paris. Em um antigo apartamento do bairro Montmartre, Amélie Poulain (Audrey Tautou) não sabe que sua vida está prestes a mudar. Retirada de um esconderijo na parede, em suas mãos há uma antiga caixa de perfume, que armazena todos os restos de uma vivência. Admirada com aqueles tesouros – inestimáveis apenas a quem pertence – Amélie faz uma promessa: devolverá a recordação ao dono e, caso ele se emocione, começará a resolver a vida dos outros.

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Os 45 anos de Cría Cuervos perpetuam uma narrativa melancólica, psicológica e política

A imagem apresenta Ana Torrent, uma criança branca, de cabelos castanhos, lisos e curtos, usando um casaco vermelho. Um pouco atrás, mais para a esquerda da foto está Geraldine Chaplin, uma mulher branca, de cabelos castanhos, lisos, na altura dos ombros, que usa uma vestimenta verde. A expressão de ambas é neutra e o fundo exibe uma parede cinza.
Carlos Saura mistura o passado e o presente da personagem Ana em Cría Cuervos (Foto: Elías Querejeta Producciones Cinematográficas S.L.)

Gabriel Gatti

O corvo é uma ave comumente apresentada como algo negativo. Na Espanha, por exemplo, a frase “cría cuervos y te sacarán los ojos”, utilizada para designar ingratidão, é muito conhecida. Nesse raciocínio, o diretor Carlos Saura faz alusão ao dito popular em Cría Cuervos, que conta a história de três irmãs criadas pela tia após o falecimento dos pais. O longa, de 1976, foi lançado no período da redemocratização espanhola, após 36 anos sob domínio da Ditadura Franquista. Esse contexto histórico serviu de inspiração para Saura na produção do filme. 

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Cineclube Persona – Os Vencedores do Oscar 2021

Arte retangular. Quatro imagens estão distribuídas pelo fundo azul claro: fotos de Chloé Zhao, Daniel Kaluuya, Yuh-Jung Youn e Frances McDormand. Todas estão com uma borda colorida ao redor, e possuem o fundo azul. No canto superior esquerdo, está escrito “cineclube persona” de branco. No centro, há o logo do persona. E no canto inferior direito, o logo o oscar com “os vencedores do oscar 2021” escrito em preto.
Os destaques do Oscar 2021: a histórica vitória de Yuh-Jung Youn; o recorde de Chloé Zhao, que lidera a trupe de Nomadland junto de Frances McDormand; e a genialidade e brilhantismo de Daniel Kaluuya (Foto: The Academy/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Vitor Evangelista)

Perante à situação de uma celebração do Oscar na pandemia, a equipe de produtores de 2021 prometeu que transformaria a experiência em um filme. Eles não mentiram. Começando pela triunfal entrada de Regina King, brilhante como os deuses e confiante como só ela pode ser, caminhando sem pressa pela Union Station, arejada, aberta, com raios solares implorando invadir essa quebra de padrões em formato de cerimônia.

Mas algo soava estranho. Não tinha orquestra, não tinha o filtro plastificado que abraçava as telas dos televisores sintonizados na TNT (ou no Globoplay, ou onde quer que seja) e as bordas pretas, clássicas das telonas, esgueiravam a imagem de uma King lendo no teleprompter um verdadeiro roteiro na hora de premiar, bem, as categorias de Roteiro. Colocando as tradições no bolso do paletó, o Oscar 2021 não nos agraciou com a presença de um de seus atuais Atores Coadjuvantes para premiar sua contraparte deste ano logo de cara.

Ao invés disso, inaugurando essa leva mais moderninha da Academia, subiu ao palco uma bufante e estonteante Emerald Fennell, feliz que sua dita Bela Vingança foi coroada com o prêmio de Roteiro Original. Ela não preparou um discurso, já adiantou a intérprete de Camilla Parker Bowles, previamente se desculpando com Soderbergh (Steven, diretor responsável pela produção de 2021, aquele que prometeu que essa seria uma experiência de Cinema, e não apenas simples TV).

Regina King continuou fazendo graça e esbanjando talento ao apresentar os nomeados em Roteiro Adaptado, prêmio esse que acabou nas mãos de Christopher Hampton e Florian Zeller, escritores de Meu Pai. Vale a menção de que tanto Fennell quanto Zeller acabaram de estrear no Cinema, e já garantiram a honraria que fez Aaron Sorkin sair de casa apenas para anunciar um relacionamento novo, já que seu Os 7 de Chicago foi o único dos grandes indicados da noite a sair sem Oscar nenhum (e olha que a 93ª edição dividiu muito bem seus 23 prêmios).

E foi sendo assim, dois carecas dourados eram entregues por vez, ocasionalmente misturando uma categoria ‘grande’ com uma ‘nem-tão-grande-assim’. O que, a princípio, é muito bem-vindo, considerando que independente da área de atuação, todo e qualquer Oscar distribuído em 25 de abril de 2021 é importante e merece tal reconhecimento. Mas, quando Chloé Zhao subiu ao palco para receber a estatueta de Direção, precedida pela categoria de Melhor Curta-Metragem em Live Action, o efeito não foi o mesmo.

Zhao se tornou a segunda diretora, a primeira não-branca e a primeira chinesa, a vencer a honraria, 11 anos depois de Kathryn Bigelow quebrar o paradigma masculino, por Guerra ao Terror. Mal posso esperar para o Oscar 2032, quando a terceira mulher diretora subir ao palco. Quem leu o envelope com o nome de Zhao foi um socialmente distante Bong Joon-Ho, campeão do ano passado, diretamente de Seul, falando em coreano num segmento que usou da intimidade dos próprios cineastas nomeados para o anúncio.

Os discursos de agradecimento se alongaram mais que o comum, grande acerto da produção de 2021, evitando a terrível orquestra de subir lentamente o tom dos instrumentos para que a pessoa pare de falar o mais rápido possível. Até mesmo o jogo de câmeras, alocadas em lugares não-convencionais, limpou a lente da premiação. Os discursos variaram entre o tocante (Thomas Vinterberg homenageando a jovem filha que morreu pouco antes de estrelar Druk, vencedor de Filme Internacional) e o cômico (Daniel Kaluuya feliz da vida, agradecendo aos pais por terem concebido-no, enquanto ganhava o prêmio de Ator Coadjuvante). 

Yuh-Jung Youn conseguiu fazer os dois. “Eu sou mais sortuda que vocês”, começou a vovó de Minari e a Melhor Atriz Coadjuvante do ano. A atriz, primeira sul-coreana e segunda asiática a vencer por atuação, agradeceu a Brad Pitt (produtor de Minari) e ficou feliz de finalmente tê-lo conhecido pessoalmente. De longe, a temporada de 2021 vai lembrar com carinho das aparições de Youn, desde a surpresa no SAG, o shade no BAFTA e o riso solto no Oscar.

A Netflix saiu com 7 prêmios entre suas 35 indicações, mas mantém a sombra de nunca ter ganhado Melhor Filme. A Voz Suprema do Blues venceu categorias técnicas, assim como Mank, 2 Oscars para cada. Os curtas Dois Estranhos e Se Algo Acontecer… Te Amo saíram com os louros. Nas categorias de Documentário, Colette surpreendeu, e Professor Polvo triunfou, repetindo uma máxima do ano passado: mais uma vez, o pior dos 5 filmes saiu vencedor.

Lembra da promessa dos produtores de fazer o Oscar 2021 ser um filme? Eles cumpriram-na, para o bem e para o mal. O sorrisão de Riz Ahmed não cabia em seu belo rosto quando leu o envelope de Melhor Som, premiando, adivinhem, O Som do Silêncio, protagonizado pelo próprio. Esse que também triunfou em Montagem, colocando a competição para comer poeira. Soul se enquadrou nas expectativas, recebendo Animação e Trilha Sonora Original. H.E.R., um mês depois de vencer o Grammy de Canção do Ano, ganhou o Oscar de Canção Original. E Tenet, mesmo sem o apoio da Warner, levou a melhor em Efeitos Visuais. 

Durante a cerimônia, 2 prêmios Humanitários Jean Hersholt foram entregues. O primeiro homenageou a Motion Picture & Television Fund. Enquanto o segundo, apresentado por Viola Davis em sua única aparição no palco do Oscar, foi dado à Tyler Perry. Importante apontar as mudanças estruturais da premiação deste ano, que viu seus convidados sem máscara frente às câmeras, dividiu a galera entre os Estados Unidos, Londres e Paris e esbanjou um ar mais descontraído que a habitual sisuda entrega de prêmios no Dolby Theatre. Sem os habituais pares de artistas entregando os Oscars e com as músicas indicadas sendo performadas antes da cerimônia, essa edição ficará marcada na história. Foi uma senhora mudança de ares, que ainda precisa de melhorias no futuro.

Quando foi anunciado que a categoria de Melhor Filme não seria a última da noite, um gosto estranho já nos subiu à boca. Rita Moreno apareceu majestosa, citou Amor, Sublime Amor e relembrou os velhos tempos, onde ela própria venceu um Oscar pelo filme. Assim como a divina aparição de Jane Fonda ano passado para premiar Parasita, Moreno leu o nome de Nomadland no envelope colorido. Chloé Zhao, recebendo o segundo prêmio da noite, agradeceu aos nômades da vida real, acompanhada de Frances McDormand, vencendo o terceiro Oscar da carreira e o primeiro por produção. A veterana uivou no palco, homenageando Michael Wolf Snyder, editor de som de Nomadland falecido em março.

O comercial que sucedeu Melhor Filme pareceu mais anticlimático que o necessário. Começando pela aparição de Zhao em Melhor Direção no meio do nada, Nomadland saiu sem o triunfo que grandes vencedores do passado, como Moonlight e o próprio Parasita, puderam saborear. Melhor Atriz desempatou bolões, premiando Frances McDormand, em seu terceiro Oscar na categoria, quarto na carreira, se aproximando mais do recorde de Katharine Hepburn. 

Então, chegou a hora de Melhor Ator. Depois de um ‘In Memorian’ de qualidade questionável, batida agitada, ausências notáveis e aparição relâmpago dos homenageados, a categoria para honrar Chadwick Boseman acabou sendo entregue para outra pessoa. É claro que a vitória de Anthony Hopkins, por Meu Pai, é mais que merecida e merece ser aplaudida, benzida e santificada. A questão não é mérito, não é cota ou homenagem. 

O Oscar 2021 se rearranjou por completo para que acabasse em nota de sensibilidade e felicidade, para que a esposa de Boseman, Taylor Simone Ledward, agradecesse da maneira que fez no Globo de Ouro, no Critics Choice e no SAG. Era o momento do Oscar, depois de ter capitalizado em cima da morte do jovem talento, finalmente premiar atores negros nas categorias principais, era a hora de marcar na história aquele que já seria eterno de qualquer modo, mas merecia a honraria do troféu.

Joaquin Phoenix leu o nome de Hopkins, a tela cortou para uma foto do ator, que não estava presente e o Oscar acabou. No susto, sem comemoração, sem homenagem, sem ter valido o rearranjo de categorias. Foi dito que Olivia Colman subiria ao palco em caso de vitória do companheiro de tela, mas nada aconteceu. O temido anticlímax do filme. 29 anos depois de sua vitória por O Silêncio dos Inocentes, Anthony Hopkins se tornou o ator mais velho a vencer o Oscar. Chadwick morreu sem nenhum.

Concluindo a extensa cobertura do Oscar 2021, o Persona prepara o texto final da edição. A Editoria se juntou aos colaboradores para discutir, de uma vez por todas, o que rolou na 93ª edição dos prêmios da Academia, os recordes, as loucuras, a Glenn Close rebolando e as esnobadas que ficarão para a história. Seja bem-vindo ao Cineclube Especial dos Vencedores do Oscar 2021.

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Colectiv é pauta quente

Cena do documentário Colectiv, nela vemos a jovem Tedy, uma mulher branca, de toca preta e rosto com cicatrizes de queimadura, manejando uma prótese manual robótica cinza. Ao fundo, homens vestindo camisetas laranjas estão desfocados.
Depois de 36 submissões, Colectiv é o primeiro filme da Romênia que conseguiu ser indicado ao Oscar (Foto: Alexander Nanau Production)

Vitor Evangelista

Em 30 de outubro de 2015, a boate Colectiv, situada em Bucareste, capital da Romênia, pegou fogo. 27 pessoas perderam a vida durante o concerto da banda Goodbye to Gravity, e mais 180 saíram feridas, queimadas e em situação crítica. O documentário de Alexander Nanau leva o nome da casa de shows, mas vai além do traumático evento, investigando uma crise política de corrupção na rede de saúde do país europeu.

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Quo Vadis, Aida? e a impotência perante um genocídio

Cena do filme Quo Vadis, Aida?. Nela vemos Aida, uma mulher branca, de olhos claros e cabelo castanho curto. Ela veste roupa azul claro e um crachá azul escuro. Ela está olhando fixamente para frente. Na sua frente há grades marrons. O fundo é desfocado em tons de azul.
A potente atuação de Jasna Djuricic nos coloca em movimento mesmo assistindo a tela estáticos no candidato da Bósnia ao Oscar 2021 (Foto: Condor Distribution)

Ana Júlia Trevisan

O que seria das premiações sem os filmes de guerra? Em 1971, Patton venceu a categoria de Melhor Filme do Oscar; em 1994 foi vez do genial A Lista de Schindler levar a estatueta, e em 1999 O Resgate do Soldado Ryan garantiu a indicação no prêmio mais importante da noite; já em 2018, dois filmes bateram ponto no tapete vermelho: Dunkirk e O Destino de uma Nação. Em 2020, o Globo de Ouro até tentou emplacar os soldados de 1917, mas não ficou nem com cheiro perto do imbatível Parasita. No atípico 2021, temos escassez nos filmes de confronto armado, mas Quo Vadis, Aida? vem pra cobrir essa lacuna e impactar a quem assiste. 

Baseado em fatos reais, a história se passa em Srebrenica, uma pequena cidade do leste da Bósnia e Herzegovina onde, em 1995, houve um massacre de civis. A produção faz um recorte focado nesse genocídio que ocorreu no município. Não há breve introdução ao assunto, somos colocados no meio da guerra e podemos esperar o pior, com famílias completas se refugiando na base da Organização das Nações Unidas, para escapar da ameaça de morte da Sérvia, que militarizava várias regiões do país.

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O debate importante criado com o filme Better Days

Aviso: esse texto pode conter gatilhos de suicídio e bullying

Cena do filme Better Days. Na imagem vemos os atores da esquerda para direita Jackson Yee, um homem jovem amarelo e Zhou Dongyu, uma mulher jovem amarela. Jackson veste uma blusa amarela xadrex e está com o rosto machucado. Ele possui cabelo preto liso e está preso em um rabo de cavalo. Zhou veste um casaco cinza claro e possui cabelo curto preto liso. Eles estão em cima de uma moto e Zhou apoia a cabeça no ombro de Jackson. O fundo da imagem é uma ponte e há vários pretos desfocados.
Better Days concorre no Oscar 2021 na categoria de Melhor Filme Internacional (Foto: Shooting Picture)

Ana Beatriz Rodrigues

A escola dificilmente é um lugar tranquilo. A pressão e a preocupação são sentimentos que cercam os jovens durante o Ensino Médio. Além disso, o bullying ainda é presente e muitas pessoas ainda sofrem com isso. Better Days (少年的你) retrata esse momento e as consequência desses atos. O longa é uma adaptação de Li Yuan, Wing-sum Lam e Xu Yimeng do livro Young and Beautiful, de Jiu Yuexi, e ainda explora a questão do vestibular chinês e a violência das ruas. Com essa história, a produção de Derek Tsang repreenta Hong Kong no Oscar 2021, junto com o curta documentário Do Not Split, por mais que a premiação tenha sido boicotada na região

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O Homem que Vendeu Sua Pele e a mulher que não negocia sua visão

O Homem que Vendeu Sua Pele (The Man Who Sold His Skin) é a primeira indicação da Tunísia ao Oscar (Foto: Cinétéléfilms)

Raquel Dutra

O nome dele é Sam Ali e o nome dela é Kaouther Ben Hania, e a riqueza metafórica de O Homem que Vendeu Sua Pele (الرجل الذي باع ظهره) é o lugar perfeito para criatura e criador se aproximarem, ao mesmo tempo em que se distanciam completamente. É algo realmente complexo, porque o terceiro longa-metragem da cineasta tunisiana cresce em muitas direções enquanto suscita reflexões críticas sobre cultura, política, sociedade, ética e arte, traz visibilidade para o Cinema do eixo Oriente Médio – Norte da África e faz história no Oscar 2021.

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