Circuito Cineclubes Sesc – Desamparados, os mais fracos fazem a própria lei no Brasil de Pixote

O longa figurou em 12º na lista dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Abraccine, e abriu a Mostra “Cinema é Direito” no Sesc Bauru (Foto: Embrafilme)

Nathan Nunes

Em 25 de Agosto de 1987, morreu Pixote. Fernando Ramos da Silva tinha 19 anos, era casado e pai de uma filha pequena quando foi morto por policiais militares, após ter supostamente assaltado uma empresa em Piraporinha, na região de São Bernardo do Campo. A família viveu para contestar a versão dos agentes, que foram apenas demitidos, mas nunca condenados. 

Anos antes, em 26 de Setembro de 1980, Fernando estava alcançando fama e reconhecimento pelo seu desempenho no papel que dá título a Pixote, a Lei do Mais fraco, de Hector Babenco (Carandiru, 2003). O longa, que abriu a Mostra Cinema é Direito do Persona em parceria com o Sesc Bauru na quinta-feira, dia 2 de Março, não poderia ter se misturado à realidade de forma mais trágica, pois o que aconteceu com o intérprete de seu protagonista pouco se difere do descaso do Estado com a vulnerabilidade social denunciada pelos realizadores. 

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Close nos aproxima da dor das rupturas

Cena do filme Close. Rémi e Léo estão olhando um para o outro. Léo é um garoto branco loiro de olhos azuis, ele está vestindo uma camiseta branca e tem uma mochila azul marinho nas costas. Rémi é um menino branco de cabelos e olhos castanhos, ele veste uma camiseta bordô e usa uma mochila verde musgo. Ambos têm feições sérias
Close é uma coprodução belga, holandesa e francesa, e concorre na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2023 (Foto: A24)

Jamily Rigonatto 

Ceder a pressão social é fácil, quase um instinto do ser humano em busca de aceitação e, por vezes, sobrevivência. O ponto é que tudo pode ser desfigurado para que possamos caber nas caixas ditas como certas: roupas, cabelos e até mesmo os amores. Em Close, filme lançado em 2022 sob a direção de Lukas Dhont, os protagonistas figuram o ato de cortar os laços mais profundos como se fossem uma linha fina – rompem-se com facilidade, mas ficam as pontas esfarrapadas. 

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A Menina Silenciosa tem muito a dizer

Cena do filme The Quiet Girl. Nela, há uma menina branca de olhos azuis e cabelos castanhos, lisos e longos. Ela usa um vestido amarelo listrado, com gola branca, e está em um carro. Ela olha para o lado esquerdo, onde se encontra a janela do veículo. Ao fundo, uma estrada de concreto.
Unindo estreias na direção, no roteiro e no elenco, The Quiet Girl foi lançado no 72° Festival Internacional de Cinema de Berlim e chegou ao Brasil pelo Festival do Rio, em Outubro de 2022 (Foto: Break Out Pictures)

Vitória Vulcano

Nos anos 80, em uma região campestre e isolada no mapa da Irlanda, uma garotinha responde aos estímulos mundanos com o silêncio. Ela não é incapaz de dialogar, nem decisivamente conformada a ponto de abrir mão das palavras, mas veste a capa da invisibilidade como tática de sobrevivência em uma casa apática e disfuncional. Essa é a premissa direta, dolorida e nada despretensiosa de The Quiet Girl, filme inspirado no conto Foster, de Claire Keegan, e dono de uma única e poderosa indicação ao Oscar 2023

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Argentina, 1985 é um grito de basta às mazelas da ditadura

Cena do filme Argentina, 1985, em que Ocampo (à esquerda) e Strassera (à direita) se reúnem em uma lanchonete para discutir sobre as estratégias de acusação que serão utilizadas no julgamento . Na imagem podemos ver as feições de Moreno Ocampo e Júlio Strassera sentados (um de frente para o outro), lado a lado, enquanto pedem dois lanches em uma bancada de restaurante. Ocampo é um jovem branco (aparentemente com os seus 30 anos de idade), ruivo, cabelo e barba encaracolados. Strassera é um senhor no auge de seus 65 anos, branco, cabelo liso preto, possui bigode denso e usa óculos garrafais. Strassera está com um cigarro aceso em mãos fazendo gestos para chamar a atenção de seu colega promotor, Moreno Ocampo. O jovem está com o olhar fixo prestando atenção nas palavras de Júlio.
Mais do que um filme, Argentina, 1985 é uma aula de dever à cidadania e exemplo de compromisso público com a democracia (Foto: Prime Video)

Gabriel Gomes Santana

Eu não sou advogado de ninguém, meu papel como promotor de justiça é acusar”. Assim se impôs Julio Strassera, responsável por um dos julgamentos mais importantes para a democracia ocidental e protagonista de Argentina, 1985. Baseado em fatos reais, o longa dirigido por Santiago Mitre traz à tona o processo que condenou os crimes contra os direitos humanos cometidos pelos ex-comandantes da ditadura no País. Disponível na plataforma de streaming da Amazon Prime, a obra expõe a coragem e persistência de agentes públicos que se comprometeram a enfrentar um sistema repressivo e assassino.

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Thelma: o terror também é libertador

Cena do filme Thelma. Na imagem, vemos Thelma, dos ombros para cima, deitada em um sofá verde escuro, de ponta cabeça, ao centro. Ela é uma mulher branca, de cabelos loiros escuros, aparentando cerca de 22 anos, e tem seus olhos fechados e a boca aberta. Por sua boca aberta, vemos uma serpente verde escura entrando por sua boca.
“Eu estou brava com você, Deus. Por que você está fazendo isso comigo? O que você quer?” (Foto: Motlys)

Vitória Lopes Gomez

O cenário é uma floresta gelada da Noruega. Pai e filha, de no máximo 6 anos, avistam um cervo durante a caçada. A arma na mão do pai se volta do animal à pequena Thelma, que nunca chega a notar a movimentação. Ele continua firme ali, arma em riste apontada para a menina, até o cervo se dispersar. Dos poucos, mas longos minutos, o filme corta para outra cena e uma Thelma crescida está enfrentando seus primeiros dias na faculdade. É assim que Thelma se inicia: ensurdecedora, impactante e misteriosa, a obra de Joachim Trier exagera para preparar o terreno para o que vem a seguir.

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Os 20 anos de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain: uma dedicatória aos excêntricos incompreendidos

Cena do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. A imagem mostra Amélie, personagem de Audrey Tautou, sentada numa cama, de frente. A atriz é uma mulher branca, de cabelos lisos curtos, na altura das orelhas, e pretos, e usa uma franja curta no meio da testa. Está de noite e Amélie está dentro de um quarto que é iluminado por dois abajures que estão nas laterais da cama. A parede atrás dela é vermelha, decorada com arabescos finos amarelos e quadros de animais, sendo dois ao centro da parede e dois nas laterais. A cama tem uma cabeceira de madeira escura e Amélie apoia as costas nela, e no meio existe um travesseiro verde. Amélie veste pijama de bolinha e está folheando um livro.
Inicialmente, Audrey Tautou não foi idealizada para o papel; na época, a produção indicava que Amélie teria o pai britânico e, por isso, seria interpretada por Emily Watson (Foto: UGC Fox Distribution)

Bianca Penteado

Se você encontrasse uma coisa de sua infância que guardava como um tesouro, como se sentiria? Feliz? Triste? Nostálgico?

Estamos no dia 31 de agosto de 1997, em Paris. Em um antigo apartamento do bairro Montmartre, Amélie Poulain (Audrey Tautou) não sabe que sua vida está prestes a mudar. Retirada de um esconderijo na parede, em suas mãos há uma antiga caixa de perfume, que armazena todos os restos de uma vivência. Admirada com aqueles tesouros – inestimáveis apenas a quem pertence – Amélie faz uma promessa: devolverá a recordação ao dono e, caso ele se emocione, começará a resolver a vida dos outros.

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