Cinema Almanac é uma coleção enfadonha

Cena do filme Cinema Almanac. Nela, vemos um homem e uma mulher parados ao lado de uma estátua durante o dia. Ambos são brancos. O homem tem barba branca, usa chapéu coco, veste uma camisa bege com terno branco e calça jeans. A mulher tem cabelo ruivo na altura dos ombros, veste uma camisa vermelha e carrega uma bola no braço direito.
O longa faz parte da Apresentação Especial da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: microFILM)

Caio Machado

A produção romena Cinema Almanac (Almanah Cinema, no original), presente na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é apresentada como uma coletânea de seis curtas de Radu Jude (Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental), que assina a direção e roteiro em algo semelhante a quando um escritor publica um volume de seus contos ou poesias. Por estarem reunidos em um mesmo conjunto, faz sentido pensar que possuem características em comum, além da mera aleatoriedade. Cinco dos curtas que a compõem, Caricaturana, Os Potemkinistas, Memórias do Front Oriental, As Duas Execuções do Marechal e Punir e Disciplinar, mostram que o cineasta busca refletir sobre as imagens do passado e o possível impacto que podem causar no observador contemporâneo. Porém, ele próprio mal consegue impactar, devido à forma como utiliza as fotografias. 

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Lua Azul: um fenômeno não acontece uma vez só

Cena do filme Lua Azul. A imagem mostra uma jovem em primeiro plano, de costas e posicionada à esquerda. Ela é branca, tem cabelos lisos castanhos presos numa trança, e olha para frente. À frente dela, existe uma mesa onde uma família faz uma refeição. O lugar é alto e tem vista para montanhas.
Carregado de uma indigesta fábula sobre relações de poder permeadas por questões de gênero, Lua Azul compõe a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Patra Spanou)

Raquel Dutra

A cineasta romena Alina Grigore é precisamente misteriosa ao nomear seu primeiro filme. No evento celeste da Lua Azul e na trama narrativa de Lua Azul, o que manda é o paradoxo que existe entre a riqueza de seus significados e a simplicidade do seu significante. E de fato, o que o drama traz para a 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, depois de sair com o prêmio máximo do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián 2021, é um fenômeno em todos os sentidos. 

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Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental sacaneia os caretas

Cena do filme Má Sorte no Sexo, mostra uma mulher branca atendendo o telefone. Ela usa máscara azul e uma blusa preta.
Exibido após a coletiva de abertura da 45ª Mostra de São Paulo, Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental foi o grande vencedor do Festival de Berlim 2021, levando para casa o Urso de Ouro (Foto: Imovision)

Vitor Evangelista

Com um título desse, é esperado que Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental tenha prazer em chocar, mas ninguém está preparado para o que vem logo que as luzes se apagam. Uma fita de sexo abre a produção romena, que se centra na ruína de uma professora de Ensino Fundamental, a estrela do vídeo adulto, sofrendo as consequências quando a gravação cai na internet e a escola em que trabalha a encontra.

E não havia filme mais propício para abrir os trabalhos da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que em 2021 adota um formato híbrido após sobreviver a um 2020 completamente virtual. Na coletiva de imprensa de abertura, realizada de maneira on-line em nove de outubro, a diretora do evento Renata de Almeida revelou que Pornô Acidental reflete muito como a população enxerga a pandemia e, embora seja rodado na Romênia, assistiríamos por quase duas horas ecos fortes do Brasil. Ela não mentiu.

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Colectiv é pauta quente

Cena do documentário Colectiv, nela vemos a jovem Tedy, uma mulher branca, de toca preta e rosto com cicatrizes de queimadura, manejando uma prótese manual robótica cinza. Ao fundo, homens vestindo camisetas laranjas estão desfocados.
Depois de 36 submissões, Colectiv é o primeiro filme da Romênia que conseguiu ser indicado ao Oscar (Foto: Alexander Nanau Production)

Vitor Evangelista

Em 30 de outubro de 2015, a boate Colectiv, situada em Bucareste, capital da Romênia, pegou fogo. 27 pessoas perderam a vida durante o concerto da banda Goodbye to Gravity, e mais 180 saíram feridas, queimadas e em situação crítica. O documentário de Alexander Nanau leva o nome da casa de shows, mas vai além do traumático evento, investigando uma crise política de corrupção na rede de saúde do país europeu.

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Malmkrog: não tem como argumentar com idiota

Malmkrog faz parte da seção Perspectiva Internacional da Mostra de SP (Foto: Divulgação Imprensa)

Vitor Evangelista

Antes de qualquer coisa, Malmkrog é um capricho cinematográfico. Adaptação do livro Three Conversations do russo Vladimir Solovyov, o filme é centrado num grupo de intelectuais europeus que passam horas e horas debatendo e discutindo os mais diversos temas. Sem muito dinamismo visual, o diretor e roteirista Cristi Puiu traz à 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo uma produção destinada às aulas de Cinema, mas que carrega seu valor de entretenimento.

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