Shirley‌ ‌é‌ ‌a‌ ‌angústia‌ ‌de‌ ‌mulheres‌ ‌geniais‌ ‌em‌ ‌um‌ ‌mundo‌ ‌de‌ ‌homens‌ ‌medíocres

Cena do filme Shirley. A esquerda, Elizabeth Moss, uma mulher branca de 38 anos, está de perfil olhando para a direita. Ela usa uma blusa branca de mangas compridas e seu cabelo é loiro e comprido e está solto. Ela segura com a mão direita o rosto de Odessa Young, uma mulher branca de 23 anos. Odessa também está de perfil, seu rosto está levemente levantado. Ela usa uma blusa vermelha. Seu cabelo é castanho claro e está solto. No fundo, há árvores.
Uma cinebiografia de Shirley Jackson não funcionaria sem um pouco de suspense (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

Quando a Netflix lançou A Maldição da Residência Hill em 2018, Shirley Jackson voltou aos trendings 53 anos após sua morte por insuficiência cardíaca. A grandiosa série de Mike Flanagan adaptou o romance mais infame da carreira de Jackson, A Assombração da Casa da Colina, escrito em 1959 e, hoje, considerado uma das maiores obras de terror do século XX. Em 2020, foi a vez da própria autora ganhar uma adaptação de sua vida conturbada, dessa vez pelas mãos habilidosas de Josephine Decker e com produção executiva de Martin Scorsese. Shirley, que conta com o protagonismo de Elizabeth Moss, é uma biografia desconfortável de uma mulher assustadora – no melhor dos sentidos. 

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Uma celebração dos 50 anos de Gillian Flynn e de suas mulheres perturbadoras

Foto em preto e branco da autora Gillian Flynn. Ela é uma mulher de 50 anos branca com cabelos castanhos na altura do ombro, usando um longo vestido branco sem mangas. Gillian Flynn está sentada em uma poltrona de vime, com as mãos entrelaçadas e algumas plantas no fundo. Olha diretamente para a câmera, e está sorrindo sem mostrar os dentes.
“É uma fascinação minha: assassinato, traição, vingança, engano, loucura — todas as minhas coisas favoritas” (Foto: M. Spencer Green)

Carol Dalla Vecchia e Layla de Oliveira 

“Eu estou falando de mulheres violentas, perversas. Mulheres sinistras. Não me diga que você não conhece algumas”. Com dificuldades de se enturmar por conta de sua timidez, a jovem Gillian Flynn encontrou uma fuga na leitura e na escrita, o que a levou a cursar Jornalismo na Universidade do Kansas (KU). Uma vez formada, ela planejava se tornar repórter policial, no entanto, percebeu que era desajeitada para o ramo criminal por querer que toda história tivesse um começo, meio e fim. Assim, começou a trabalhar na Entertainment Weekly, escrevendo críticas de cinema e TV por dez anos.

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Solução de Dois Estados: um país onde não existe reconciliação

A imagem contém a capa do livro, e a versão dela sem o título a frente. Baseada na obra Carteira de Identidade (Auto Polegar Direito), do artista Rubens Gerchman, a capa é verde escura, com um rosto estampado em vermelho escuro, e com o nome do livro e do autor em letras brancas grandes, ao lado está a capa sem as palavras, e o rosto possui tom mais alaranjado.
Com o título como referência ao falho projeto de coexistência entre Israel e Palestina, o romance trata de uma relação familiar conturbada sem uma reconciliação eminente (Foto: Reprodução)

Isabella Siqueira

Dispensando sutilezas e panos quentes, Michel Laub escancara o Brasil com maestria em Solução de Dois Estados. Lançado em outubro de 2020, o premiado escritor traça uma narrativa sobre um problema familiar e privado para abranger todo o ódio existente entre dois lados opostos, mas igualmente raivosos e ressentidos. Apesar das primeiras impressões quanto a sinopse carregada, onde o primeiro pensamento é menos é mais, chega-se à conclusão de que seus exageros são carregados de verdades.

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Daisy Jones & The Six é a banda que queríamos que existisse

A imagem é uma colagem de diversas capas de álbuns rasgadas. No centro, a capa de Daisy Jones & The Six está escrita em letras pretas, e embaixo está o rosto de uma mulher branca com nariz fino e batom vermelho.
Figuras como Janis Joplin amariam ser amigas de Daisy Jones e Billy Dunne (Foto: Caroline Campos)

Caroline Campos

O mundo nunca foi tão caótico e subversivo quanto nas ruas e bares de Los Angeles em plenos anos 70. Se você estivesse procurando um bom lugar para curtir um som, se drogar ou tentar virar uma estrela internacional, era para lá que você se dirigia. E foi na cidade das estrelas que nasceu uma das maiores bandas de rock ‘n roll que o mundo já havia conhecido: Daisy Jones & The Six. Apesar do premiado e polêmico grupo só poder ser encontrado nas 360 páginas escritas por Taylor Jenkins Reid e traduzidas por Alexandre Boide, sua música e trajetória ecoam por um bom tempo na cabeça dos leitores, e passamos a desejar que tudo não fosse apenas ficção.

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Lupin é uma reinvenção com charme e autenticidade de sobra

Foto promocional da série Lupin. Assane, um homem negro interpretado por Omar Sy, se apoia contra uma escrivaninha. Assane usa um casaco escuro e uma boina que se mesclam com o fundo. Uma única fonte de luz fria o ilumina diagonalmente. Atrás dele há uma estante com livros e alguns papéis presos contra a parede.
Protagonizada por Omar Sy, a nova versão do clássico entrou para o catálogo da Netflix em 8 de janeiro de 2021 (Foto: Reprodução)

Gabriel Oliveira F. Arruda

Uma quasi adaptação dos livros publicadas por Maurice Leblanc entre 1905 e 1935, a nova série francesa da Netflix busca tanto resgatar a figura misteriosa do infame ladrão de casaca, Arsène Lupin, quanto reinventá-la. Quem assume o manto nessa versão da história é Omar Sy, interpretando não o personagem homônimo, mas um ladrão igualmente astuto chamado Assane Diop que se inspira nos contos escritos por Leblanc para elaborar suas próprias escapadas mirabolantes.

Há um elemento de autoconsciência em Lupin que a separa de premissas similares, como Sherlock, da BBC. A existência das obras de Leblanc serve de um ponto chave na narrativa tanto pelas referências que ela proporciona quanto pela importância que o personagem original tem para Assane. Assim, é aberto um caminho para que os roteiristas busquem inspiração no texto original ao mesmo tempo em que tecem uma narrativa autêntica ao redor de um novo personagem.

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Daniela Arbex nos relembra da tragédia na Boate Kiss em Todo dia a mesma noite

A imagem é um mosaico com várias fotografias de pessoas jovens. Essas pessoas são as vítimas do incêndio da Boate Kiss. No canto inferior da imagem há a frase “Todo dia a mesma noite” escrita na cor preta.
O livro se aprofunda na tragédia que aconteceu em Santa Maria (Foto: Reprodução)

Ana Beatriz Rodrigues

242 mortes, 680 pessoas feridas, dor e saudades marcam o dia 27 de janeiro. Isso porque nessa mesma data, em 2013, Santa Maria (RS) e o Brasil presenciaram o segundo maior incêndio do país em número de vítimas fatais. A tragédia da Boate Kiss deixou feridas e cicatrizes que são impossíveis de serem esquecidas. O medo e o desespero dos pais, sobreviventes, bombeiros, e todos os envolvidos no incêndio não deixou de existir quando o outro dia começou, e aquela noite é assistida milhares de vezes por todos que presenciaram os resultados do incêndio. Intencionada a não deixar essas histórias apagadas, a jornalista Daniela Arbex lançou em 2018 o livro Todo dia a mesma noite – A história não contada da Boate Kiss

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O Apanhador no Campo de Centeio: a voz do jovem que nunca se cala

Cultuado livro de J.D. Salinger completa 70 anos em 2021; nova tradução chegou ao mercado editorial em 2019.

 

A imagem é uma foto da capa do livro O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger. Na capa, há o desenho de um cavalo vermelho, com uma lança atravessando o seu corpo. Na parte superior, acima do cavalo, há o título do livro, escrito em um fundo vermelho com uma fonte de cor amarela. Abaixo do cavalo, na parte inferior direita, sob um fundo branco, está o nome do autor em fonte de cor preta.
A mais recente edição brasileira foi publicada pela editora Todavia, em 2019, com tradução de Caetano Galindo e capa da 1ª edição (Foto: Reprodução)

Bruno Andrade

“Se você quer mesmo ouvir a história toda…” — então lá vai. Em 1951, um certo feito literário mudou os rumos da literatura produzida nos EUA e, posteriormente, na literatura mundial. Jerome David Salinger, veterano de guerra e já conhecido no cenário literário após a publicação de alguns contos, lançou O Apanhador no Campo de Centeio, livro que, em pouco tempo, se transformou em um clássico norte-americano, e que completa 70 anos no dia 16 de julho.

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A família Bridgerton sai das páginas para ganhar as telas e seu coração

Foto de divulgação da série Bridgerton. Na imagem vemos oito personagens que pertencem à família protagonista da série. Eles estão posando para a foto na escada da frente de sua casa. As roupas e o cenário reproduzem características de 1800. Na extrema esquerda temos Hyacinth, que é uma menina de 13 anos, branca e com cabelos castanhos encaracolados, usa um vestido rosa claro com babados e luvas brancas, está de pé com as mãos em frente ao corpo. Ao seu lado está Colin, que é um homem de 23 anos, branco e com cabelos castanhos escuros e curtos, usa um casaco azul marinho sobre camisa e colete brancos e uma calça preta, está em pé, com as mãos ao lado do corpo e com o pé esquerdo apoiado sobre um degrau. Alguns degraus acima, está Violet, que é uma mulher de 54 anos, branca e com cabelos castanhos escuros presos em um coque, usa um vestido branco com apliques florais e uma faixa rosa, usa luvas brancas, um colar, brincos e uma tiara no penteado, está de pé com as mãos em frente ao corpo. No topo da escada, à direita de Violet, vemos Eloise, que é uma mulher de 31 anos, branca e com cabelos castanhos escuros que emolduram o rosto com uma franja, usa um vestido rosa claro com botões na frente e uma flor, usa luvas brancas e um adorno floral rosa na cabeça, está de pé com as mãos em frente ao corpo. Em sua frente, na base da escada, está Daphne, que é uma mulher de 25 anos, branca e com cabelos castanhos claros presos em um coque e com uma pequena franja, usa uma capa azul claro sobre um vestido azul claro e usa luvas brancas, está de pé com as mãos em frente ao corpo. À sua direita, alguns degraus acima, está Anthony, que é um homem de 32 anos, branco e com cabelos castanhos escuros e curtos, usa um casaco azul escuro sobre camisa e colete brancos e uma calça preta, está em pé com a mão direita ao lado do corpo e a mão esquerda apoiada no corrimão da escada. Na sua frente, na base da escada, está Gregory, que é um menino de 14 anos, branco e com cabelos castanhos claros curtos, usa um casaco azul marinho sobre um colete azul ciano e uma camisa branca e usa calças azul acinzentadas, está em pé, com as mãos atrás do corpo. Na extrema direita, temos Benedict, que é um homem de 32 anos, branco e com cabelos castanhos escuros curtos, usa um casaco preto fechado sobre camisa e colete brancos e calças cinza escuro, está de pé, com o braço direito apoiado sobre o corrimão da escada e o braço esquerdo ao lado do corpo, sua perna direita está cruzada sobre a perna esquerda. Ao redor da família vemos partes de sua casa, algumas flores azuis, duas janelas bege que emolduram a porta verde no topo da escada cinza, o corrimão é de cimento cinza largo com dois vasos de cimento com flores brancas, alguns tijolos expostos aparecem ao redor da escada. A imagem é clara, com tons frios.
A família mais aclamada dos romances de época ganha vida no serviço de streaming (Foto: Reprodução)

Carol Dalla Vecchia

Em 2000, Julia Quinn (pseudônimo de Julie Pottinger) dava um dos maiores passos de sua carreira como escritora ao lançar o primeiro livro da série Os Bridgertons. Mais tarde, ela seria mundialmente reconhecida como um dos maiores nomes no gênero romance de época, com seus diálogos efervescentes, personagens petulantes e intrigas polêmicas que estavam presentes desde O Duque e Eu, volume que dá início à coleção. Mesmo com tanto sucesso, foram necessários vinte anos para que a autora realizasse o sonho de ver sua obra adaptada para outras plataformas: a série Bridgerton chegou à Netflix em 25 de dezembro de 2020 e já divide opiniões.

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Homossexualidade e racismo velado: os 125 anos do pioneiro e controverso Bom-Crioulo

 Capa do livro Bom-Crioulo. O desenho de um homem da cabeça até a altura da metade da barriga trajando uma regata preta. Sua pele está pintada em tons laranjas em contraste dos sombreados pretos. Na altura de seu peito, o título do livro ‘Bom-Crioulo’ e abaixo o nome do autor ‘Adolfo Caminha’ a fonte é branca e de tamanho médio. O fundo da imagem é escuro, pintado de preto com algumas manchas brancas
A obra naturalista foi publicada em 1895 pelo escritor brasileiro Adolfo Caminha (Foto: Reprodução)

Giovanne Ramos

Desde a primeira manifestação literária no Brasil, o Quinhentismo, muitos temas foram inspirações para nortear clássicos da literatura. Os indígenas, a vida interiorana, o adultério, a miséria e a decadência humana são apenas algumas das premissas que se repetiram em diversas obras brasileiras. Mas ao que se diz respeito à homossexualidade, poucos foram os autores renomados a ousarem em se aventurar em escrever algo próximo do cotidiano romântico entre dois homens ou duas mulheres. Até 1895, no Brasil, era praticamente impossível. Mas foi Adolfo Ferreira dos Santos Caminha, um dos expoentes da escola naturalista, o pioneiro em retratar sobre o assunto com a obra Bom-Crioulo, até hoje considerada por muitos como o primeiro romance desta temática em toda literatura Ocidental.

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Os Piores Lançamentos de 2020

Arte com fundo roxo. No canto superior esquerdo, foi adicionado os escritos "OS PIORES LANÇAMENTOS DE 2020" em letras roxas e possui um fundo retangular de cor preta, para destaque. Ao lado direito, foi adicionado o logo do Persona. O logo do Persona é o desenho de um olho com um botão de play no lugar da pupila, e com a íris de cor roxa. Foi adicionado na parte inferior da arte as imagens de personagens de alguns lançamentos de 2020. As imagens foram divididas em duas fileiras. Na fileira superior, em ordem: uma mulher branca e suja de sangue, Laurel da série How to Get Away With Murder, uma mulher latina de pele clara e cabelos escuros, Coriolanus Snow de Cantigas de Pássaros e Serpentes. Já na parte inferior, foram adicionados: Sabrina de O Mundo Sombrio de Sabrina, Justin Bieber e Katy Perry.
Gosto é pessoal: só porque alguma obra está na lista, não quer dizer que é horrível ou não possui nada de aproveitável; o Persona sempre indica que tudo seja consumido, ouvido, assistido e apreciado (Foto: Reprodução)

Conseguir a alcunha de ‘pior do ano’ em 2020 é um feito e tanto. Em meio à pandemia e ao isolamento social, a arte se transformou em confidente e melhor amiga. Assistimos séries repetidas e começamos novas, maratonamos filmes de tudo que é gênero. Foi o momento de reacender a chama da nostalgia, o momento de descobrir novos artistas e se apaixonar por canções inéditas. 

Então, se algo conseguiu desagradar nessa hora de tanta empatia e conforto com os clichês, o erro parece ter sido crasso. Antes de fechar o amaldiçoado 2020 com as tradicionais listas de Melhores do Ano, a Editoria do Persona se reuniu para prestar a última condolência, jogar a última pá de terra no que teve de mais assombroso (mas nem sempre descartável) nos 12 meses que, por si só, já merecem o título de tenebrosos.

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