Corte de Chamas Prateadas nos mostra o que há de mais humano em personagens mágicos

Foto do livro Corte De Chamas Prateadas, em sua versão original. Em uma superfície branca e lisa, o livro cinza esta apoiado. Na capa há um desenho laranja de uma mascará que segue até a parte de trás. No canto superior até o centro da capa está escrito, em letras brancas, " A Court Of Silver Flames". No canto inferior, também em branco, está o texto 'Sarah J. Maas #1 New York Times bestselling author".
Sarah J. Maas finalmente publica o tão esperado Corte De Chamas Prateadas (Foto: Bloomsbury)

Mariana Chagas

Em maio de 2015, Sarah J. Maas apresentou o começo de sua saga Corte de Espinhos e Rosas. Com um universo mágico cheio de personagens fascinantes  e romances abrasadores, a escritora conquistou um público gigante no mundo todo. A história se tornou a queridinha dos leitores de fantasia e hoje é difícil um bookstan nunca ter, pelo menos, ouvido falar dela. Anos depois de ter lançado o final da trilogia principal, a autora nos leva de volta para Prythian, em uma sequência que, não apenas fez justiça aos livros anteriores, como também conseguiu superar todos eles.

Desde que as irmãs Archeron voltaram à cena no final de Corte de Névoa e Fúria, Sarah já sabia que, em suas histórias, ainda havia muito para ser contado. A escritora comentou diversas vezes sobre o seu apego emocional por Nestha Archeron, e escolheu a feérica-ex-humana para nos guiar em Corte de Chamas Prateadas. Com bastante presença dos personagens já conhecidos e aparição de novas figuras, Sarah discute as questões mais profundas de cada um e nos presenteia com uma obra linda sobre saúde mental e superação.

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O Silêncio das Filhas de Jennie Melamed e o preço do sadismo

Foto em preto e branco de uma mulher branca, de cabelos escuros e curtos, dando um meio sorriso, apoiada em seus braços dobrados sob sua perna direita, sentada em uma poltrona.
Antes de começar a resenha, é importante dar um alerta de gatilho: se você é sensível ou sofreu violência sexual, não leia essa critíca e nem este livro; Jennie Melamed, autora de O Silêncio das Filhas (Foto: Jennifer Boyle)

Letícia Paviani

Bom, a primeira coisa que eu posso dizer de O Silêncio das Filhas, que foi traduzido por Léa Viveiros de Castro e lançado no Brasil em 2021 pela Editora Rocco, é que este é um livro duro. Duro. Difícil. Pesado. Mas é necessário. Por quê? Porque nos mostra até onde o fanatismo pode chegar nas mãos de homens sádicos.

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Klara e o Sol: quando a sensibilidade de um robô supera a nossa

Capa do livro Klara e o Sol. O fundo é laranja, o desenho situado no centro é composto por um borrado dourado em cima, um borrão preto embaixo e um círculo falhado em linhas finas pretas no centro. Na parte inferior está o título em branco, e embaixo o símbolo e nome da editora, o nome do autor “Kazuo Ishiguro” em branco consta na parte de acima.
A obra é o oitavo romance do autor britânico de origem japonesa (Foto: Reprodução)

Isabella Siqueira

Apesar dos ares de preconceito que rodeiam o novo livro de Kazuo Ishiguro, é preciso olhar para Klara e o Sol com a mente aberta. O célebre autor, vencedor do Nobel de Literatura em 2017, lançou neste ano seu oitavo romance, que chegou ao Brasil pela editora Companhia das Letras. O escritor, que muitas vezes teve seu mérito questionado, desenvolve uma trama que é pobre quando se pesa apenas a qualidade da ficção científica, mas satisfatória quando observada através da lente sentimental.

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Evelyn Hugo: a lenda que ganharia o Oscar (se ela existisse)

Colo de uma mulher branca de cabelos curtos, vestindo um colar de pérolas e um vestido de lantejoulas e usando um batom escuro. Um efeito deixa a imagem inteira na cor verde. Em sobreposição, está o título Os sete maridos de Evelyn Hugo, em branco.
O livro Os sete maridos de Evelyn Hugo, publicado pela editora Paralela e traduzido por Alexandre Boide, é o queridinho dos fãs de literatura sáfica (Foto: Reprodução)

Beatriz Luna

Em tempos de Oscar, é preciso conhecer os candidatos, até mesmo os inexistentes. Em meio ao drama da Hollywood do século 20, Evelyn Hugo veio para ficar. Escrito por Taylor Jenkins Reid, autora de Daisy Jones & The Six e Amor(es) Verdadeiro(s), o romance histórico Os sete maridos de Evelyn Hugo traz 360 páginas de uma envolvente trama LGBTQIA+, e emoções são o que não faltam. E alerta de gatilhos: o livro aborda assuntos como violência doméstica, abuso psicológico, homofobia, suicídio e alcoolismo, além de contar as dificuldades e preconceitos vivenciados pela jovem atriz latina. 

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Garota, Mulher, Outras e a sonoridade de cada pessoa

Capa do livro Garota, Mulher, Outras. A capa do livro apresenta um desenho de uma mulher negra que veste uma roupa preta e cinza estampada com flores e plantas. A mulher possui olhos pretos e cabelos pretos curtos, e usa ainda um brinco de pérola. O título do livro está no canto inferior direito em branco, e o nome da autora, Bernardine Evaristo, está na cor verde água. O cenário atrás da mulher é uma parede verde com estampa de folhas, e uma moldura de quadro. O selo da editora, Companhia das Letras, está em escritos brancos no canto superior esquerdo.
Garota, Mulher, Outras foi trazido ao Brasil pela Companhia das Letras com a cuidadosa tradução de Camila Von Holdefer (Foto: Reprodução)

Isabella Siqueira

A partir de uma narrativa quase poética e única, Garota, Mulher, Outras já pode (e deve) ser considerado um clássico da literatura britânica. Sua autora, Bernardine Evaristo, traça com cuidado as histórias de 12 protagonistas diferentes, que são ligadas por um fio condutor que compreende todo o século XX no Reino Unido. Indo além da riqueza de referências culturais, políticas e sociais que a obra apresenta, é no âmbito sentimental que a trama floresce.

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O ódio que você semeia: uma história sobre o preço de ser preto hoje em dia 

Fotografia do livro O ódio que você semeia, em formato brochura e com a capa na cor branca com a atriz Amandla Stenberg na capa, segurando um cartaz com o título do livro. Amanda é uma mulher negra, com cabelos pretos e longos, ela veste um moletom vermelho, uma calça escura e tênis brancos. Ao lado do livro, há uma xícara de café e flores vermelhas ao lado; é possível ver a lombada de outro livro, com o título A Hora da Virada.
Angie Thomas inspirou-se em Oscar Grant para criar o personagem Khalil; ele era um negro de 22 anos, assassinado a tiros no Ano Novo, em 2009, por um policial de trânsito de Oakland (Foto: Reprodução)

Kayane Cavalcante 

Em um mundo que rotula as pessoas, que as faz se sentirem estranhas, mal vistas e menosprezadas por serem quem são, levantar sua voz e usá-la como uma arma é um ato de coragem. Nesse contexto, o livro O ódio que você semeia, da magnífica autora afro-americana Angie Thomas, me deu uma lição que vou levar pelo resto da minha miserável vida de leitora, que é: minha voz é importante e não devo permitir que alguém tente me silenciar, pois quando nos calamos permitimos que um ciclo de injustiças criado pela sociedade elitizada continue e evolua. Assim, quando vamos às ruas em manifestações e escrevemos tweets cobrando pelos nossos direitos como seres humanos,  estamos quebrando esse ciclo preconceituoso que já dura séculos.

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Precisamos conversar sobre o polêmico O Duque e Eu, de Julia Quinn

descrição visual: fotografia de 3 versões de capas de O Duque e Eu. No meio, um livro rosa com uma pintura de uma debutante lendo; à direita, outra versão com duas fotografias de uma jovem no estilo de época e de uma casa no campo; e outra no canto direito, atual capa do livro com o casal da adaptação da série, sendo eles um homemnegro de terno preto posicionado de perfil e uma mulher branca, com cabelos ruivos, olhos claros e um vestido granco, com o corpo de perfil e o rosto para frente.
O Duque e Eu foi publicado aqui no Brasil pela Editora Arqueiro com tradução de Cássia Zanon (Foto: Reprodução)

Juliana Dal Ri Galina

Mesmo com o sucesso da série Bridgerton, da Netflix, criada por Chris Van Dusen e produzida por Shonda Rhimes, a autora Julia Quinn já era muito recebida e aclamada por fãs ao redor do mundo. A coleção, contendo nove livros, apresenta romance numa idealizada aristocracia londrina por volta de 1800. Com um extra, cada conto foca em um dos 8 jovens da família. No entanto, hoje vamos levar em pauta o primeiro e mais querido da escritora, O Duque e Eu.

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Você tem medo de quê?

Capa do livro Uma lista (quase) definitiva de piores medos. A capa é representada pelo título do livro escrito numa fonte cursiva em caixa alta em branco sob e um fundo lilás. No alto da lateral direita, existe uma lagosta e no lado direito, a mão de um esqueleto entre as letras. O nome da autora está escrito em preto, também numa fonte cursiva em caixa alta, no canto inferior direito da capa.Do lado esquerdo, uma prancheta rosa com estampa de poá colorido, com os dizeres lagostas, mariposas, raios, em preto numa fonte cursiva, em caixa baixa. Acima da prancheta, há uma luminária quadrada, preta, com pequenas luzes em seu interior. No lado direito do livro e embaixo, há flores em tons de rosa, roxo e branco. Os objetos estão posicionados sob um tapete felpudo cinza.
Uma lista (quase) definitiva de piores medos é o segundo livro de Krystal Sutherland, autora de A Química que Há Entre Nós (Foto: Reprodução)

Letícia Paviani

Você, caro leitor, já se sentiu paralisado de medo diante alguma dificuldade ou de algo que te assustou tanto, mas tanto, que você se sentiu fora do controle de sua própria vida? Bem, eu sempre me sinto assim quando vejo uma barata… Mas Esther Solar, bem, Esther Solar vive com medo… 

É possível alguém viver à mercê do próprio medo? Bom, os Solar, centro de Uma lista (quase) definitiva de piores medos, vivem… Todos os Solares. E quando eu digo todos, quero dizer a família inteira. O pai de Esther tem agorafobia. O irmão, medo do escuro. A mãe, medo do azar. O avô, de água. E assim ocorre com toda a árvore genealógica de Esther. Menos ela. Porque Esther tem medo do próprio medo, se é que vocês me entendem.

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Skyward: uma jornada arrebatadora pelas estrelas

Ilustração de capa do livro Skyward. No centro da ilustração vemos uma garota de cabelos soltos, de costas e olhando para o céu. Ao redor, há vários destroços de espaçonave. Mais acima uma nave corta os céus, deixando um rastro branco, rumo a um céu estrelado. Toda a ilustração é composta por tons diferentes de cinza e preto.
“Conquiste as estrelas, Spensa” (Foto: Reprodução)

Beatriz Sabino

Brandon Sanderson, autor da renomada série de livros Mistborn, surpreendeu o público mais uma vez trazendo uma space-opera com protagonismo feminino jovem, muitos alienígenas, frases históricas e guerras no espaço. Skyward é seu livro de estreia nesse subgênero da ficção científica que marcou gerações, tendo como exemplo: Star Wars, Duna (livro de Frank Herbert) e a mãe da fanzine: Star Trek. Geralmente, essas obras possuem batalhas espaciais épicas que ignoram as leis da física, jornadas a inúmeros planetas exóticos, alienígenas parecidos com os seres humanos e, claro, um protagonista invencível. Mesmo fazendo parte desse grupo de histórias, a narrativa de Sanderson tem um pouco menos opera, e mais space.

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Os 60 anos de Chico Bento e a religiosidade do Brasil profundo

Desenho de um quadro das histórias do Chico Bento. A personagem Chico Bento ajoelha-se, rezando e chorando, enquanto seus pais olham preocupados.
Desolado pela maldade humana, Chico (ch)orou (Foto: Chico Bento, 144ª Edição, Editora Globo, 1992)

Carol Dalla Vecchia e Mateus Conte

A década de 60 no Brasil foi tortuosa. Naquela época, o país vivia uma crise política sem precedentes: a posse e repentina renúncia de Jânio Quadros abalava as bases democráticas da nação. Enquanto isso, a mil quilômetros do centro do planalto vazio, um ex-repórter policial iniciava uma das suas criações mais memoráveis.

Começos raramente são pomposos. Não foi diferente com o interiorano Mauricio Araújo de Sousa, convidado pela conhecida Cooperativa Agrícola de Cotia para desenvolver uma nova obra dos quadrinhos: os caipiras Zezinho e Hiroshi. Hiro, como é conhecido, representava os funcionários e familiares da CooperCotia, formada quase exclusivamente por isseis e nisseis. Dois anos depois, surgia o hoje famoso Chico Bento. Ou seja, ainda que Francisco Antônio Bento tenha surgido apenas em 1963, sua turma nasceu há exatos 60 anos. 

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