A família Bridgerton sai das páginas para ganhar as telas e seu coração

Foto de divulgação da série Bridgerton. Na imagem vemos oito personagens que pertencem à família protagonista da série. Eles estão posando para a foto na escada da frente de sua casa. As roupas e o cenário reproduzem características de 1800. Na extrema esquerda temos Hyacinth, que é uma menina de 13 anos, branca e com cabelos castanhos encaracolados, usa um vestido rosa claro com babados e luvas brancas, está de pé com as mãos em frente ao corpo. Ao seu lado está Colin, que é um homem de 23 anos, branco e com cabelos castanhos escuros e curtos, usa um casaco azul marinho sobre camisa e colete brancos e uma calça preta, está em pé, com as mãos ao lado do corpo e com o pé esquerdo apoiado sobre um degrau. Alguns degraus acima, está Violet, que é uma mulher de 54 anos, branca e com cabelos castanhos escuros presos em um coque, usa um vestido branco com apliques florais e uma faixa rosa, usa luvas brancas, um colar, brincos e uma tiara no penteado, está de pé com as mãos em frente ao corpo. No topo da escada, à direita de Violet, vemos Eloise, que é uma mulher de 31 anos, branca e com cabelos castanhos escuros que emolduram o rosto com uma franja, usa um vestido rosa claro com botões na frente e uma flor, usa luvas brancas e um adorno floral rosa na cabeça, está de pé com as mãos em frente ao corpo. Em sua frente, na base da escada, está Daphne, que é uma mulher de 25 anos, branca e com cabelos castanhos claros presos em um coque e com uma pequena franja, usa uma capa azul claro sobre um vestido azul claro e usa luvas brancas, está de pé com as mãos em frente ao corpo. À sua direita, alguns degraus acima, está Anthony, que é um homem de 32 anos, branco e com cabelos castanhos escuros e curtos, usa um casaco azul escuro sobre camisa e colete brancos e uma calça preta, está em pé com a mão direita ao lado do corpo e a mão esquerda apoiada no corrimão da escada. Na sua frente, na base da escada, está Gregory, que é um menino de 14 anos, branco e com cabelos castanhos claros curtos, usa um casaco azul marinho sobre um colete azul ciano e uma camisa branca e usa calças azul acinzentadas, está em pé, com as mãos atrás do corpo. Na extrema direita, temos Benedict, que é um homem de 32 anos, branco e com cabelos castanhos escuros curtos, usa um casaco preto fechado sobre camisa e colete brancos e calças cinza escuro, está de pé, com o braço direito apoiado sobre o corrimão da escada e o braço esquerdo ao lado do corpo, sua perna direita está cruzada sobre a perna esquerda. Ao redor da família vemos partes de sua casa, algumas flores azuis, duas janelas bege que emolduram a porta verde no topo da escada cinza, o corrimão é de cimento cinza largo com dois vasos de cimento com flores brancas, alguns tijolos expostos aparecem ao redor da escada. A imagem é clara, com tons frios.
A família mais aclamada dos romances de época ganha vida no serviço de streaming (Foto: Reprodução)

Carol Dalla Vecchia

Em 2000, Julia Quinn (pseudônimo de Julie Pottinger) dava um dos maiores passos de sua carreira como escritora ao lançar o primeiro livro da série Os Bridgertons. Mais tarde, ela seria mundialmente reconhecida como um dos maiores nomes no gênero romance de época, com seus diálogos efervescentes, personagens petulantes e intrigas polêmicas que estavam presentes desde O Duque e Eu, volume que dá início à coleção. Mesmo com tanto sucesso, foram necessários vinte anos para que a autora realizasse o sonho de ver sua obra adaptada para outras plataformas: a série Bridgerton chegou à Netflix em 25 de dezembro de 2020 e já divide opiniões.

Para falar sobre a nova produção original do serviço de streaming, é necessário se aprofundar no conceito entregue por Quinn em seus romances. São oito livros, cada um trazendo um relato separado dos oito irmãos Bridgertons se apaixonando. Eles podem ser lidos em sequência (minha recomendação) ou não, e depois que o leitor acabar todas as histórias, ele pode se deliciar com um nono livro. O último é um bônus de pequenos epílogos nos quais a autora fala o que aconteceu depois do ‘felizes para sempre’, além de se aprofundar na matriarca da família (basicamente, a própria autora escreveu fanfics sobre seus livros).

Foto retirada de um cena da série Bridgerton. Na imagem vemos a personagem Daphne, que é uma mulher jovem branca, com cabelos castanhos claros, ela possui uma pequena franja e metade do seu cabelo está preso num coque com uma presilha enquanto a outra metade está solta. Ela usa um vestido azul com apliques florais que reproduz as vestimentas do século dezenove, usa luvas brancas que cobrem quase todo seu braço. Está dançando de perfil e sua mão direita está segurando a mão esquerda de Simon. Ele é um homem jovem negro, com cabelos casranhos escuros curtos e barba castanha escura curta. Ele usa um casaco comprido preto, sobre um colete estampado com adornos dourados e uma calça cinza que reproduz vestimentas do século dezenove. Ao redor do casal, vemos fogos de artifício com tons azulados e rosados, além de outros casais figurantes que também estão caracterizados como personagens do século dezenove e também estão dançando.
Daphne Bridgerton e Simon Basset fingem estar apaixonados (Foto: Reprodução)

A irmã escolhida para ser a primeira protagonista é Daphne Bridgerton, a mais velha entre as filhas mulheres que sonha em seguir os passos de sua mãe, Violet: debutar na sociedade, casar-se por amor e constituir uma família com um bom número de filhos. No meio do caminho, ela encontra Simon Basset, o jovem Duque de Hastings que sonha em não se casar e jamais ter filhos. Como os dois encontram dificuldades para alcançar seus objetivos, eles decidem fazer um acordo que seria proveitoso para os dois lados, mas é claro que eles se apaixonam em um clichê de amor por conveniência e ambos os planos são destruídos.

Os outros livros da série seguem no mesmo formato, focalizando um casal principal e mostrando pequenos quadros do restante da família. Ao longo da leitura, isso traz benefícios, como o bom desenvolvimento do relacionamento entre os pares românticos, e malefícios, como o mau desenvolvimento dos irmãos mais novos, que não tem tanto espaço nas páginas das obras que os precedem. Particularmente, acredito que esse seja o motivo pelo qual os fãs tendem a preferir os primeiros cinco livros aos quatro últimos.

De toda forma, a série televisiva era esperada com altas expectativas, tanto pela aclamação dos livros, quanto por ser o primeiro projeto da produtora Shonda Rhimes (Grey’s Anatomy, Scandal e How to Get Away with Murder) dentro da Netflix. A produção foi anunciada em 2018, sob a criação de Chris Van Dusen (que já trabalhava em parceria com Rhimes), e o elenco só foi divulgado um ano mais tarde, trazendo Phoebe Dynevor no papel de Daphne e Regé-Jean Page como Simon, o Duque de Hastings.

O roteiro fez algumas mudanças em relação à O Duque e Eu, o primeiro livro da série, transformando a jornada do casal principal em uma parte de um enredo mais complexo e que desenvolve os personagens ao redor. Nos livros, se o leitor quiser conhecer o Visconde Bridgerton, Anthony (Jonathan Bailey), é preciso ler o segundo volume. Na série, a dinâmica muda, fazendo com que o personagem seja construído desde o primeiro episódio. Assim, todos os irmãos que não tiveram uma boa evolução ao longo da trama agora podem ter seu espaço e crescer diante dos espectadores.

Além de Anthony, Benedict (Luke Thompson), Colin (Luke Newton) e Eloise (Claudia Jessie) também ganham tempo de tela, construindo personalidades mais verídicas e preparando o público para as próximas temporadas, que mudarão o foco da série cada vez que um Bridgerton se apaixonar. O único ponto negativo dessa introdução é que a série traz alguns spoilers dos livros ainda não adaptados, principalmente do quarto volume (Os Segredos de Colin Bridgerton), que tem uma de suas principais reviravoltas reveladas.

Foto animada retirada de uma cena da série Bridgerton. Na animação, vemos a personagem Rainha Charlotte abaixando um folhetim de fofocas. Assim que o folheto é abaixado, vemos Charlotte com uma expressão inconformada no rosto e segurando uma xícara de chá azul marinho e branca. A rainha é uma mulher negra que está usando um vestido rosa e amarelo acetinado e jóias vermelhas. Ela usa uma peruca branca, alta e com uma tiara de pedras vermelhas. Ela está sentada em um sofá com braços de madeira e tecido vermelho. O cenário ao seu redor está esmaecido, mas percebe-se que há molduras com adornos dourados na parede interna de um castelo.
Rainha Charlotte é fissurada pelas fofocas da sociedade publicadas no jornal de Lady Whistledown (GIF: Reprodução)

Porém, a família Bridgerton não é a única com melhorias na série. Alguns personagens que não existiam nos livros foram adicionados, como a Rainha Charlotte (Golda Rosheuvel) e outros tiveram suas histórias alteradas para trazerem discussões mais variadas, como Marina Thompson (Ruby Barker) e Siena Rosso (Sabrina Bartlett). Outros ganharam aprofundamento em personalidades que não podiam ser tão exploradas dentro das páginas originais, como as mulheres da família Featherington e Lady Danbury (Adjoa Andoh).

Lady Whistledown (originalmente narrada por Julie Andrews) também se torna um ponto focal do enredo, com Eloise Bridgerton tentando descobrir sua verdadeira identidade. Ela é uma mulher que usa esse pseudônimo para escrever um jornal de fofocas e bagunçar a temporada social, num estilo Gossip Girl de época. Nos livros, trechos de suas colunas aparecem como epígrafes no começo de cada capítulo e sua personalidade só é explorada no quarto volume, entretanto, na série ela se torna uma peça influente e fundamental para a reputação dos protagonistas.

Como pode ser notado, há uma pluralidade de vozes femininas que estão em evidência dentro do seriado. O protagonismo feminino é um fato que foi muito elogiado pela crítica, juntamente à representatividade de pessoas negras e asiáticas dentro da sociedade britânica. Tudo se potencializa com a figura prestigiada da Rainha Charlotte, que historicamente era descendente de africanos e que na série tem mais força e significado do que o próprio rei. 

Foto retirada de uma cena na série Bridgerton. Na imagem vemos a personagem Eloise, que é uma mulher jovem branca, com cabelos castanhos escuros e uma franja que enquadra seu rosto. Ela usa um vestido cinza que reproduz as vestimentas do século dezenove, além de um lenço cinza ao redor do pescoço. Ela está sentada de forma relaxada no sofá enquanto come os chocolates de uma caixa metálica dourada, que está sobre seu colo. Ao seu lado está a Penelope, que é uma mulher jovem branca, com cabelos ruivos que estão adornados com flores amarelas e rosas. Ela usa um vestido de renda amarela e rosa que reproduz as vestimentas do século dezenove. Ela também está sentada de forma relaxada no sofá enquanto come os chocolates da caixa de Eloise. O sofá onde elas estão sentadas possui uma estampa de listras e arabescos em tons de azul e creme. O cenário ao redor está esmaecido, mas percebe-se que ele representa uma casa do século dezenove.
Eloise Bridgerton e Penelope Featherington são melhores amigas, mesmo defendendo opiniões muito diferentes (Foto: Reprodução)

Mesmo com o avanço dentro de debates atuais e necessários, a série ainda se perde um pouco em seus posicionamentos. Em alguns pontos é possível perceber falas que não se encaixam no contexto idealizado do gênero: os livros de época naturalmente são romantizações de um momento histórico.

Por isso, não vemos pessoas amputando pernas apenas porque bateram o dedinho no pé da cama, como poderia acontecer antigamente. Mas também, vemos coisas que estão muito distantes da verdade daquele período: como alguns figurinos usados pelas atrizes da série, cenários extremamente coloridos e artificiais, e cenas que mereciam uma classificação indicativa para maiores de dezoito anos (tirem as crianças da sala antes do sexto episódio, Farfalhar).

As condições de romance de época nas quais a produção televisiva está embasada fazem com que discursos valorosos se percam, e a série continue sendo um conteúdo de entretenimento acima de qualquer reflexão. Isso pode ser considerado positivo ou negativo, tudo depende do que o espectador está buscando.

Foto animada retirada de uma cena da série Bridgerton. Na animação, vemos a personagem Daphne fazendo uma reverência, abaixando o tronco e mexendo os braços para os lados como se segurasse uma saia imaginária. Há uma legenda em inglês que indica a fala da personagem. Ela diz “vossa graça” com ironia. Daphne é uma mulher jovem branca, com cabelos castanhos claros, ela possui uma pequena franja e seu cabelo está solto. Ela usa uma camisola branca sem mangas e com uma pequena fita branca transpassando a cintura. O cenário ao seu redor representa um quarto antigo, com castiçais com velas, móveis de madeira escura, um espelho com moldura dourada sobre uma lareira e percebe-se que ela está em frente à uma cama desarrumada.
Todas as personagens de Julia Quinn tentam misturar as cordialidades da época com uma pitada de humor (GIF: Reprodução)

Em síntese, a primeira temporada de Bridgerton é uma expansão do universo criado dentro dos livros e uma atualização de perspectivas sobre o gênero. Sempre haverá fãs dos livros que ficaram chateados com a adaptação, no entanto, é preciso reconhecer que foi alcançado o objetivo de trazer essa amada família para as telas. A série literária já havia conquistado milhões de corações, e agora essa nova plataforma abre oportunidades para que os Bridgertons sejam plenamente conhecidos através do mundo. Assim como cada um dos irmãos, você também pode se apaixonar.

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