A Roda do Destino é feita de acasos

Cena do filme Roda do Destino exibe duas mulheres japonesas paradas em frente a uma porta de vidro. A mulher à direita veste uma camiseta azul larga e tem cabelo curto. A mulher à esquerda tem cabelo preto de tamanho médio e veste uma blusa branca.
As mulheres são surpreendidas por coincidências no longa que faz parte da Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Neopa)

Caio Machado

A vida é imprevisível demais para ser controlada, por mais que tentemos dar ordená-la através da rotina. Com o passar dos dias, nos deparamos com surpresas que podem ser boas ou ruins, como reencontrar uma velha amiga da época da escola ou descobrir que um conhecido está melhor de vida do que você. Roda do Destino, filme exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, se aproveita da imprevisibilidade da vida para proporcionar belíssimos diálogos, carregados de uma intensidade que expõe os sentimentos de seus personagens com uma sinceridade encantadora. 

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Faz escuro quando Eu Vejo Você em Todos os Lugares

A imagem é uma cena do filme Eu Vejo Você em Todos os Lugares. Nela, há uma mão de um senhor apoiada em uma poltrona, com a mão de uma jovem tocando-a.
O filme de Bence Fliegauf integra a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Fraktál Film)

Vitória Silva

De todos os dilemas que transpassam a humanidade, o diretor e roteirista Bence Fliegauf selecionou sete dos mais particulares e angustiantes para compor sua nova produção. Compondo a seleção da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Eu Vejo Você em Todos os Lugares acompanha narrativas completamente distintas e desconexas, ambientadas em relacionamentos entre familiares, amigos e amantes, e que permeiam um peculiar caleidoscópio da substância humana. 

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A Mulher que Fugiu retorna à praia, sozinha

Cena do filme A Mulher que Fugiu. Gam-hee, interpretada por Kim Min-hee, é uma mulher coreana de cabelo curto preto com cerca de 39 anos. Ela veste uma blusa preta de gola alta e está sentada dentro de uma sala de cinema vazia. As poltronas da sala de cinema são vermelhas.
Premiado com Urso de Prata de Melhor Direção no Festival de Berlim 2020, A Mulher que Fugiu compõe a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Jeonwonsa Film)

Ayra Mori

Se ele apenas se repete, como pode ser sincero?”. Entre galinhas, conversas, álcool, carne, maçãs, gatos, câmeras de vigilância, montanhas, salas de cinema e até o oceano, Hong Sang-soo inaugura mais um capítulo de sua contínua série cinematográfica com A Mulher que Fugiu, presente na Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Acompanhando a crônica contemporânea de Gam-hee, uma mulher que decide visitar três amigas nos arredores de Seul, são nas variações, simples ou não, que o cineasta sul-coreano encontra recurso para remodelar sutilmente cada nova história, ao mesmo tempo que caminha por repetições.

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Madeira e Água: entre aquilo que temos e o que nos falta

Cena do filme Madeira e Água. A imagem mostra à distância uma mulher branca de meia idade na frente de uma densa floresta de pinheiros e de frente para um lago de água cristalina. Na água, vemos o reflexo da floresta e a mulher.
A produção integra a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Trance Films)

João Batista Signorelli

Uma viúva de meia-idade se aposenta de seu trabalho em uma igreja numa cidadezinha no sul da Alemanha, e aproveita o momento para reencontrar sua família na região onde outrora viveram à beira-mar. Como um de seus filhos se vê impossibilitado de viajar à Alemanha, ela decide ir a Hong Kong onde ele mora e trabalha para encontrá-lo, porém, ele não está lá para recebê-la. Madeira e Água, exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é um filme contemplativo de poucos diálogos, mas cujas imagens dizem muito. 

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Não há salvação para o homem problemático em Higiene Social

Cena do filme Higiene Social exibe um homem e uma mulher, brancos, parados no meio de uma grama alta. O homem, à esquerda, veste um terno preto e tem cabelo loiro curto. A mulher à direita, mais velha, tem cabelo ruivo comprido e veste um terno rosa. Carrega uma bolsa da mesma cor nas mãos.
O artista em crise no longa que integra a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Inspiratrice & Commandant)

Caio Machado 

Um homem e uma mulher estão parados em um campo. A grama verde reluz ao sol. Pela distância, não conseguimos ver direito o rosto de nenhum dos dois. Parecem estátuas paradas em um palco e conversam, imóveis. Esses são os minutos iniciais de Higiene Social, filme francês exibido pela 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. 

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Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental sacaneia os caretas

Cena do filme Má Sorte no Sexo, mostra uma mulher branca atendendo o telefone. Ela usa máscara azul e uma blusa preta.
Exibido após a coletiva de abertura da 45ª Mostra de São Paulo, Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental foi o grande vencedor do Festival de Berlim 2021, levando para casa o Urso de Ouro (Foto: Imovision)

Vitor Evangelista

Com um título desse, é esperado que Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental tenha prazer em chocar, mas ninguém está preparado para o que vem logo que as luzes se apagam. Uma fita de sexo abre a produção romena, que se centra na ruína de uma professora de Ensino Fundamental, a estrela do vídeo adulto, sofrendo as consequências quando a gravação cai na internet e a escola em que trabalha a encontra.

E não havia filme mais propício para abrir os trabalhos da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que em 2021 adota um formato híbrido após sobreviver a um 2020 completamente virtual. Na coletiva de imprensa de abertura, realizada de maneira on-line em nove de outubro, a diretora do evento Renata de Almeida revelou que Pornô Acidental reflete muito como a população enxerga a pandemia e, embora seja rodado na Romênia, assistiríamos por quase duas horas ecos fortes do Brasil. Ela não mentiu.

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Bem-vindo à Chechênia: quando vamos parar de matar LGBTs?

Aviso: o texto a seguir apresenta conteúdos sensíveis sobre violência, LGBTQIA+fobia e suicídio, que podem servir de gatilho para alguns leitores.

Cena do filme Bem-vindo à Chechênia exibe uma pessoa de costas, usando casaco e calça preta e arrastando duas malas. O cenário é de casas e algumas árvores cobertas de neve.
O indicado ao Emmy 2021 Bem-vindo à Chechênia nos apresenta à realidade daqueles que devem fugir para sobreviver (Foto: Public Square Films)

Gabriel Gatti

A Chechênia é uma das repúblicas da Federação da Rússia, localizada na região do Norte do Cáucaso, onde a maioria da população é muçulmana sunita. Esse ambiente peculiar é governado sob punhos de ferro pelo tirano Ramzan Kadyrov, a quem o presidente russo Vladimir Putin apoia. A gestão do governante tornou o local em um triângulo das bermudas dos direitos humanos para LGBTs, em que as famílias são incentivadas a matar seus parentes que não sejam heterossexuais. Desse modo, os hábitos doentios dos chechenos serviram de inspiração para o diretor David France no documentário Bem-vindo à Chechênia, indicado ao Emmy 2021 na categoria de Mérito Excepcional em Documentário

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Não Há Mal Algum: a tirania em 4 atos

Um dos filmes mais comentados de 2020 chega ao Brasil na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos e Raquel Dutra

A filmografia do diretor iraniano Mohammad Rasoulof não tem sido uma empreitada fácil. Em seus filmes, Rasoulof critica explicitamente o autoritarismo e a tirania que se apossaram de seu país, e isso já lhe rendeu alguns problemas com seu governo. Não seria diferente com Não Há Mal Algum (Sheytan Vojud Nadarad), seu longa mais recente que chega ao Brasil como uma das obras mais esperadas da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Com uma forte narrativa sobre as consequências de ser um executor de penas de morte no país, o filme venceu o Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival de Berlim, mas o diretor não pôde agradecer presencialmente a honraria pois o governo do Irã não permitiu seu comparecimento à cerimônia por ter feito “propaganda contra o sistema”.

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Malmkrog: não tem como argumentar com idiota

Malmkrog faz parte da seção Perspectiva Internacional da Mostra de SP (Foto: Divulgação Imprensa)

Vitor Evangelista

Antes de qualquer coisa, Malmkrog é um capricho cinematográfico. Adaptação do livro Three Conversations do russo Vladimir Solovyov, o filme é centrado num grupo de intelectuais europeus que passam horas e horas debatendo e discutindo os mais diversos temas. Sem muito dinamismo visual, o diretor e roteirista Cristi Puiu traz à 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo uma produção destinada às aulas de Cinema, mas que carrega seu valor de entretenimento.

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