Sra. Harris Vai a Paris e a classe trabalhadora vai às ruas

Cena do filme Sra. Harris Vai a Paris. Na imagem está Ada Harris provando um vestido Dior. Ela é uma mulher branca de cabelos loiros presos em um lenço, o vestido é verde esmeralda com bordados dourados e uma saia irregular com estrutura de trapézio. Ao fundo estão Marguerite, Fabre e uma costureira analisando a prova da roupa.
30 anos depois, Sra. Harris Vai a Paris reescreve a história de Um Sonho em Paris e conquista um lugar no Oscar 2023 (Foto: Universal Studios)

Jamily Rigonatto

Arrumar a bagunça de patricinhas pomposas, fazer camas com edredons importados e esperar a boa vontade de megeras para receber o próprio pagamento são algumas das normalidades do dia a dia de Ada Harris (Lesley Manville). A viúva trabalha como faxineira e, apesar das inconveniências da rotina, leva a vida com um bom humor ímpar. Mas a satisfação com o mediano muda quando seu caminho veste toda a elegância da moda parisiense e a habitualidade dá lugar aos sonhos. Em uma aventura à francesa, Sra. Harris Vai a Paris costura entre rendas e bordados uma história brilhante. 

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Flux Gourmet é um delicioso banquete difícil de digerir

Cena do filme Flux Gourmet. Nela, vemos os três integrantes que compõem o coletivo artístico-culinário. Ao centro temos o personagem Billy interpretado por Asa Butterfield, um jovem branco de cabelos pretos com uma grande franja. Ele usa uma jaqueta jeans, camiseta vinho e calça jeans. Sua cabeça está arqueada e sua boca levemente aberta. Mais atrás, dos lados direito e esquerdo, temos duas mulheres, a da direita, loira e a da esquerda, de cabelo castanho cor de mel. As duas estão de costas, fazem movimentos com as mãos na altura do rosto e vestem uma espécie de vestido fúnebre na cor preta. Ao fundo, há uma parede que reflete uma luz azul.
O filme chega em terras brasileiras através da seção Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Bankside Films)

Guilherme Veiga 

Cozinhar, definitivamente, é uma Arte. Mesmo não estando inclusa entre as sete, a gastronomia sabe emular todas as sensações que as outras conseguem, às vezes de forma mais impactante e convincente que as demais. Seja pelo conforto e ternura de uma comida feita pela mãe, seja pela explosão sensorial do prato principal feito em um restaurante três estrelas Michelin ou até mesmo pela agonia que é experimentar algum ingrediente exótico. São essas experiências que Flux Gourmet, co-produção entre Reino Unido, Estados Unidos e Hungria, em cartaz na Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, e que estreou no Festival de Berlim, busca instigar.

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Faz escuro quando Eu Vejo Você em Todos os Lugares

A imagem é uma cena do filme Eu Vejo Você em Todos os Lugares. Nela, há uma mão de um senhor apoiada em uma poltrona, com a mão de uma jovem tocando-a.
O filme de Bence Fliegauf integra a seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Fraktál Film)

Vitória Silva

De todos os dilemas que transpassam a humanidade, o diretor e roteirista Bence Fliegauf selecionou sete dos mais particulares e angustiantes para compor sua nova produção. Compondo a seleção da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Eu Vejo Você em Todos os Lugares acompanha narrativas completamente distintas e desconexas, ambientadas em relacionamentos entre familiares, amigos e amantes, e que permeiam um peculiar caleidoscópio da substância humana. 

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Fantaspoa XVII: os filmes e curtas do Festival Fantástico

Arte em amarelo-mostarda. À esquerda, o símbolo do persona está distorcido acima do texto "Os filmes e curtas do fantaspoa XVII". À direita, a arte do festival está numa moldura dourada.
Com arte oficial de Renan Santos, o XVII Fantaspoa foi sucesso de público (Arte: Vitor Tenca)

E foi no meio da loucura da maratona do Oscar 2021 no Persona, que trombamos com o maior festival de cinema fantástico da América Latina. Chegando na sua 17ª edição, o Fantaspoa, Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, foi realizado entre os dias 9 e 18 de abril, acumulando mais de 160 filmes entre longas e curtas para os amantes do gênero fantástico – que abrange o horror, o thriller, a ficção-científica e a fantasia. Pela segunda vez, o festival foi virtual, em decorrência da interminável pandemia de coronavírus, e gratuito, para que todos pudessem assistir as obras provenientes de mais de 40 países do globo. 

Em um mundo pré-apocalíptico, o Fantaspoa ocorria anualmente na cidade de Porto Alegre desde o ano de 2005. Em 2021, quase completando a maioridade, o festival ofereceu debates com cineastas, discussões sobre a inclusão no audiovisual, exposição a respeito do trabalho de mulheres no mundo do fantástico e até uma festa online. A arte da vez, utilizada para a própria arte desse post, foi criada pelo artista Renan Santos como uma referência aos 17 aninhos do festival, intitulada Reflexo. Já o lettering foi desenvolvido pelo diretor de arte Thalles Mourão, que também usou um aspecto refletido para retomar o gênero do evento.

Através da plataforma Wurlak/Darkflix, assistimos um pouco de tudo: filmes nacionais, internacionais, animados, psicodélicos, bizarros, medonhos e hilários. A curadoria trouxe peças singulares, inclusive a tão esperada disponibilização da obra Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado, a quase folclórica produção de Felipe M. Guerra que, no seu aniversário de 20 anos, ganhou uma reedição só para o festival. Entre os premiados, O Cemitério das Almas Perdidas recebeu do júri a consagração de Melhor Diretor para Rodrigo Aragão dentro da Competição Ibero-Americana e História do Oculto levou Melhor Filme e Melhor Roteiro. 

A cobertura foi singela – cerca de ¼ do Fantaspoa está registrada abaixo pelas palavras de Caroline Campos, Vitor Evangelista e Vitor Tenca. O material disponível sobre as produções é escasso, então angariar informações se tornou uma parte extra da cobertura na hora da realização dos textos. O resultado, no entanto, foi divertido e satisfatório, especialmente pela oportunidade de se deparar com tantas obras únicas, sejam elas maçantes ou extraordinárias. Abaixo, você confere um pouquinho da grandiosidade criativa da 17ª edição do Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre.

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A dor separa e consome em Pilatos

A obra, que aborda uma relação conturbada entre mãe e filha, faz parte da 44ª Mostra de SP na seção Novos Diretores (Foto: Reprodução)

Isabella Siqueira

Pilatos, dirigido por Linda Dombrovszky, é um filme que remete principalmente ao luto e as diferenças. O longa, que estreou na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é a aposta da Hungria para o Oscar 2021. Com sua premissa relativamente simples, ele desdobra perfeitamente relações familiares abaladas. A trama, baseada no romance psicológico de mesmo nome da escritora húngara Magda Szabó, conta a história de uma mãe e de uma filha, estremecidas pela dor e que não se encontram, mesmo morando na mesma casa.

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