Entre as jornadas monumentais, épicas e maiores que a vida de Princesa Mononoke e O Castelo Animado, e as histórias mais comedidas, intimistas e descaradamente infantis de Meu Vizinho Totoroe O Serviço de Entregas da Kiki, A Viagem de Chihiroé a amálgama perfeita dessas duas facetas de Hayao Miyazaki. Não que Mononoke não tenha retratos de serenidade e um forte prisma emocional, nem que Kiki não disponha de cenas grandiosas e homéricas – o diretor costuma trabalhar em uma zona cinzenta que uma categorização meramente dualista não seria capaz de cobrir –, porém, olhando para trás 20 anos depois, é indiscutível que, nesse título, essas potências, provenientes do gênero de realismo mágico, encontram seu equilíbrio definitivo, a partir de uma narrativa sensível e tocante sobre os infortúnios de crescer e se tornar adulto, rompendo barreiras culturais e de linguagem como nenhuma outra mídia fez antes.
O décimo primeiro dia do Festival do Rio 2021 ficou por conta da direção e protagonismo da cineasta francesa Maïwenn e seu DNA. Vindo da Seleção Oficial do Festival de Cannes 2020, o filme contempla aspectos da vida de sua criadora no centro de uma família que carrega a ascendência argelina de um amado avô, exilado no colonizador europeu e inflamado de saudade da sua terra natal. Pelo toque diretora, o drama se desenrola com vislumbres políticos e risos sagazes, indo em direção à uma obra rica em camadas que pulsa um desejo de compreensão de origem, herança, laços e identidade.
Não tem como negar que Lin-Manuel Miranda é um fenômeno. Desde que surgiu no mundo da Broadway nos anos 2000, o artista multifacetado de origem porto-riquenha já acumula um Pulitzer, três Grammys, um Emmy, três Tonys e não demorou muito para cair nas graças de Hollywood. Depois de Moana, Mary Poppins, a gravação de Hamilton pelo Disney+ e até uma participação em Brooklyn 99, chegou a vez de Miranda retornar às origens e levar às grandes telas aquele que foi seu primeiro musical. No entanto, é com o protagonismo de Anthony Ramos que Em um Bairro de Nova York chega ao HBO Max e aos cinemas do mundo todo cercado de polêmicas e críticas controversas a respeito da trama.
Pilar nº1: a boa esposa é, antes de tudo, a companheira do marido. Pilar nº 2: uma verdadeira dona de casa deve cumprir suas tarefas cotidianas. Pilar nº 3: ser uma boa dona de casa é saber manter seu orçamento, sempre de olho em uma constante economia. Pilar nº 4: ser dona de casa é ser guardiã da higiene corporal e doméstica de todos na casa. Pilar nº 5: primeira a se levantar, última a se deitar. Pilar nº 6: a boa dona de casa não consome bebida alcoólica. Pilar nº 7: saber que o trabalho representa para o homem, às vezes uma alegria, em geral uma obrigação.
Parece algo saído diretamente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de Damares Alves, não é? Na verdade, essa é a base curricular da Escola de Moças Van der Beck, internato no interior da França administrado pelo senhor Robert Van der Beck e sua belíssima esposa, Paulette. De lá, saem apenas jovens moldadas para se tornarem donas de casa esplêndidas e dedicadas exclusivamente à suas famílias; a verdadeira nata da sociedade. Direto da Alsácia para a Cidade Maravilhosa, A Boa Esposafoi o décimo filme exibido no Festival do Rio 2021.
Que a história de Karatê Kid é um marco da cultura dos anos 80, ninguém tem como negar. Dois anos depois do sucesso do primeiro filme, John G. Avildsen lança a continuação da aventura de Daniel LaRusso e seu sensei Miyagi, com um toque mais íntimo e mais carismático. Completando 35 anos, Karatê Kid II – A Hora da Verdade Continua é uma referência para muitos adolescentes e, particularmente, o mais especial de toda a série.
Depois da jornada através do Cinema Fantástico que foi o Fantaspoa XVII, o Persona volta para o mundo dos festivais de Cinema, mas desta vez se aproximando ainda mais do experimental e incomum. A 5ª edição do Festival Ecrã de Experimentações Audiovisuais nos levou por caminhos dos mais abstratos, passando pelo intrigante, profundo, ou simplesmente incompreensível. De narrativas estruturadas à experiências puramente estéticas, o Ecrã foi online, gratuito e apresentou, além de longas e curtas, outras das inúmeras possibilidades proporcionadas pelo audiovisual: videoartes, performances, instalações, artes interativas e até mesmo games marcaram presença no festival que aceita tudo, menos o convencional e o conformista.
O Festival surgiu timidamente em 2017, com apenas 10 obras ao longo de 2 dias, e cresceu a cada ano até explodir em 2020, em sua primeira edição online, quando deu a uma enorme quantidade de cinéfilos, órfãos das salas de cinema e sedentos por novidades, a chance de descobrir dezenas de obras audiovisuais inovadoras. Em sua 5ª edição, realizada de 15 a 25 de julho, o jovem festival permanece independente de patrocinadores e sem cobrar um único centavo de seus espectadores, o que significa que o evento precisa buscar meios alternativos para se manter financeiramente. Por isso, o Ecrã abriu uma campanha de financiamento coletivo para esta edição, com a qual é possível contribuir até o dia 15 de agosto.
Através de uma plataforma própria, a quinta edição teve uma curadoria heterogênea como toda seleção de um Festival experimental deve ser. Trazendo desde obras de cineastas essenciais para o Cinema de vanguarda mundial, como James Benning e Ken Jacobs, à produções estudantis saídas diretamente das universidades brasileiras, o Ecrã ofereceu um panorama amplo de produções nacionais e internacionais das mais diversas, que buscam romper as fronteiras e arrebentar as caixinhas do tradicional e do óbvio.
Das 120 produções presentes na programação do Festival, o Persona assistiu 40, todas comentadas a seguir por Caio Machado, Caroline Campos, Gabriel Gatti, Gabriel Oliveira F. Arruda, João Batista Signorelli e Vitor Evangelista. Nos 10 dias de Festival, vimos um pouco de tudo: filmes macabros, engraçados, surpreendentes, incômodos, ou apenas abstratos demais para serem descritos. Se você quer sair do óbvio e passar longe do previsível, pode ter certeza que logo abaixo encontrará material de sobra para se interessar.
Meu Amigo Bussunda chega ao catálogo do Globoplay provocando um mix de emoções no espectador, na mesma sintonia da música Não Aprendi Dizer Adeus. Composta por quatro episódios, esta minissérie documental resgata depoimentos, vídeos, fotos e trabalhos exclusivos da vida do icônico humorista brasileiro que nos deixou cedo: Cláudio Besserman Vianna, o Bussunda.
O documentário nada mais é do que um mergulho na vida pessoal do artista, referência máxima para muitos comediantes no jeito de se fazer humor para a televisão. Conduzido por Cláudio Manoel, parceiro de longa data de Bussunda, Júlia Besserman (filha de Vianna) e Micael Langer, o roteiro mais parece uma grande roda de amigos que se juntam em um domingo para dar boas risadas com memórias marcantes sobre a vida de um colega que se foi. A obra é uma homenagem do melhor amigo e de uma filha que viram em Bussunda muito mais que um gordinho divertido. Ele era uma pessoa apaixonante em vários aspectos.
De Volta à Itália, drama cômico que coloca pai e filho na vida real para contracenarem uma história quase biográfica, recebeu a cruel tarefa de se fazer presente na seleção do Festival do Rio 2021. Cruel pois, espremido entre os inquestionáveis, magnânimos e escaldantes Quo Vadis, Aida? e Dias Melhores, o filme de Liam Neeson soa como um exercício fracassado de emoção, entrega e conclusão.
Em 1963, o astronauta soviético Yuri Gagarin, primeiro homem a realizar uma viagem espacial, foi à França com uma missão: participar da inauguração de um moderno conjunto habitacional que levava o seu nome, erguido pelo Partido Comunista Francês. Décadas depois, acompanhando o declínio do partido, o enorme edifício sem manutenção entrou em decadência, até vir a ser demolido entre 2019 e 2020, em um longo processo que durou cerca de 16 meses. Em meio à destruição, a dupla Fanny Liatard e Jérémy Trouilh encontrou a delicadeza, que tomou a forma de filme em Edifício Gagarine, filme francês exibido no quinto dia do Festival do Rio 2021.
“Essa é uma história real” é a frase que ocupa a tela enquanto Mohamedou Ould Slahi, interpretado por Tahar Rahim, caminha em uma praia no que seriam seus últimos momentos de liberdade por 14 anos. O quarto longa exibido no Festival do Rio 2021, O Mauritano traz à tona a história de Slahi, que, suspeito de recrutar terroristas para o atentado às Torres Gêmeas, foi capturado e enviado à Prisão de Guantánamo, onde permaneceu por anos sem nenhuma prova apresentada contra ele.