I Comete – Um Verão na Córsega é uma viagem ensolarada

Cena do filme Um Verão Na Córsega exibe um homem negro e uma mulher branca sentados à mesa em um jardim na França. Uma árvore faz sombra neles. O homem tem barba grande, cabelo preto e veste uma camiseta, acompanhada de uma bermuda cinzenta. Usa um all star nos pés. A mulher tem cabelo loiro comprido, usa regata preta e está à esquerda do homem. Ambos vestem roupas adequadas para o clima quente da região. Os dois tomam café da tarde enquanto conversam. Ao fundo, vemos um pouco do mar.
Lugares belíssimos inundam o longa que integra a Competição Novos Diretores da Mostra de SP (Foto: 5à7 Films)

Caio Machado

O verão é um terreno fértil bastante explorado pelo Cinema. Os lugares bonitos e ensolarados já foram palco de histórias intensas de amadurecimento, discussões sobre o amor e até mesmo terrores arrepiantes. I Comete – Um Verão na Córsega, filme exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, aproveita a estação do ano para elaborar um mosaico fascinante da vida das pessoas que moram em uma pequena vila da ilha francesa. 

A produção francesa, vencedora do Prêmio Especial do Júri no Festival de Roterdã, não tem uma trama bem definida. O que temos aqui é a junção de fragmentos da vida de vários personagens da região. Observamos as crianças brincarem nas ruas, adolescentes jogarem conversa fora, adultos sofrendo por amor ou discutindo sobre o futuro, e idosos refletindo sobre a passagem do tempo, tudo sob o sol quente do Mediterrâneo.

Cena do filme Um Verão Na Córsega exibe um rapaz branco, encurvado, sentado em uma barra de metal. Ele tem cabelo castanho na altura dos ombros, veste uma camiseta preta estampada e calça jeans. Está com um casaco xadrez enrolado na cintura e usa óculos escuros redondos, com armação branca, como os que Kurt Cobain usava. Atrás dele, três homens brancos conversam.
É ótimo acompanhar a vida de cada personagem, independente do que ele está fazendo (Foto: 5à7 Films)

Por ter essa estrutura mais livre, é fácil ficar perdido no meio de tantos personagens, mas o filme compensa isso ao estabelecer uma atmosfera calorosa e familiar nas situações que exibe. A escolha de deixar a câmera parada na maioria das cenas, sem mexer um milímetro enquanto os personagens falam tudo o que vêm na cabeça, dá à produção uma naturalidade tão grande que parece que estamos vendo um documentário e não uma obra de ficção. 

Durante as mais de duas horas de duração, o espectador se torna um dos moradores da região, deixando-o tão a par da história local e dos relacionamentos ali estabelecidos quanto os personagens. A experiência cinematográfica se torna uma ótima viagem de férias. Naturalmente, algumas das situações não são tão bem trabalhadas quanto outras, e parecem mais aleatórias diante do conjunto, como, por exemplo, as conversas que uma personagem tem com um homem misterioso pela internet, ao ar livre. São cenas curiosas, mas interrompem a experiência que I Comete está tentando oferecer.

Cena do filme Um Verão Na Córsega exibe as costas de um homem branco que olha para o mar, distante de onde está. Ele está olhando por uma abertura retangular, perfeita para uma janela, em uma parede branca descascada. Ele veste uma camiseta e uma bermuda. Uma floresta verde e cheia rodeia a costa do mar que ele observa, reflexivo.
Os silêncios servem como um momento para repensar as escolhas de vida em I Comete (Foto: 5à7 Films)

Outras situações cativam pela sensibilidade, como as cenas de François-Régis (Jean-Christophe Folly) com a avó ou quando uma menina confessa, em uma rua vazia, seu amor por um rapaz popular da cidade. São momentos que transmitem emoções universais, como a paixão e a saudade, e é justamente isso que as tornam tão potentes. É um pequeno enquadramento da vida onde é muito fácil de se identificar com algumas situações.

Com seus altos e baixos, I Comete – Um Verão Na Córsega chama atenção por construir uma atmosfera tão agradável e vívida que transporta o espectador para a região francesa. Seu estilo documental o torna ainda mais imersivo e sensível diante das situações pelas quais os personagens passam. Assim como todos os bons filmes de verão, estabelece um mundo próprio que poderíamos ver por horas, sem cansar. Não dá vontade de ir embora. 

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