5 anos depois, Dangerous Woman ainda é o maior feito pop de Ariana Grande

Capa do álbum Dangerous Woman. Ariana Grande se revela na imagem, de tronco para cima, inclinada para o lado. A imagem está em preto e branco. Ariana é uma mulher branca, de cabelo castanho claro. Ela usa um vestido de látex preto e uma máscara preta com orelhas de coelho.
Cantora se reinventou com o seu terceiro álbum de estúdio, lançado em 2016 (Foto: Matt Barnes)

Laís David

Um rito de passagem natural da indústria da música é a popularização das ‘eras good girl gone bad. Se distanciando de letras reverentes e se aproximando de um conteúdo mais adulto, esses lançamentos são marcados pela ascensão da persona Femme Fatale e a maturação de suas narrativas. Essa transição é referência para artistas que começaram cedo: Miley escandalizou com Bangerz, Taylor declarou a morte de sua antiga versão em reputation e Aguilera esteve à frente de seu tempo com Stripped. Em 2016, foi a vez de Ariana Grande e o majestoso Dangerous Woman.

Depois de dois álbuns de sucesso massivo, foi difícil enxergar qual direção Grande iria seguir. Com My Everything, ela conseguiu estabelecer seu nome como artista pop, emplacando mais de cinco sucessos consecutivos dentro da Billboard Hot 100. O desenrolar bem-sucedido entre Problem, Bang Bang e Break Free foi surpreendente dentro da indústria, e não demorou muito para que a Republic Records começasse a preparar o lançamento do disco subsequente. 

O início da era foi conturbado. Focus, o primeiro single, soava como uma versão Walmart de Problem e não agradou o público ou a crítica especializada. Para ajudar, Grande viu seu primeiro escândalo explodir nas revistas ao afirmar em um vídeo que odiava a América enquanto lambia um donut da prateleira de uma padaria. Com o single mais falho de sua carreira e a demissão de seu empresário Scooter Braun, parecia o fim ridículo da era de ouro da cantora.

Gravação do clipe Dangerous Woman. Um diretor segura uma grande câmera na parte esquerda. Apenas seus braços aparecem. Ariana está virada, de perfil. Seus cabelos estão soltos e são longos. Ela veste uma lingerie preta.
Mesmo com uma era instável, Dangerous Woman é um de seus maiores sucessos (Foto: Republic Records)

Foi reinventando o conceito do disco que ela conseguiu salvá-lo. O romantismo do trabalho original, que iria se chamar Moonlight, foi totalmente descartado. Grande deixou os vestidos longos de lado e aderiu às roupas de látex; as orelhas de gatinho foram substituídas por orelhas de coelho, à la Playboy; sua sonoridade já não remete a inocência de seu passado, e sim a confiante feminilidade de seu presente. Nasce, então, o seu trabalho mais pop: Dangerous Woman.

Para um álbum recheado de canções dançantes, era impossível não contar com a participação do gigante Max Martin. O produtor trabalhou em quase todo o disco, dividindo o espaço no trabalho com o parceiro onipresente na carreira de Ariana, Tommy Brown. A produção do LP é bem mais consistente que o nada coeso My Everything, e Grande se mostra uma vocalista ilustre em todo o trabalho.

Se, até então, a floridense tinha experimentado pouco dentro do R&B, ela mergulha de vez nesse ritmo dentro do disco. Moonlight abre o álbum com sua serenidade romântica e angelical reverência – que são refutadas com a canção seguinte, a sensual  faixa-título Dangerous Woman. Essa mudança radical é precursora do trabalho extrovertido e nada ortodoxo que vem a seguir.

Ariana Grande se revela na imagem, de tronco para cima, abraçando seus ombros. A imagem está em preto e branco. Ariana é uma mulher branca, de cabelo castanho claro. Ela usa um vestido de látex preto e uma máscara preta com orelhas de coelho. Sua expressão é séria.
A identidade visual da era foi extremamente marcante (Foto: Matt Barnes)

A americana conseguiu reunir um compilado de proficiência pop em um único álbum. Into You é talvez o maior feito de sua carreira: a construção do refrão e a mistura entre o dance pop e o R&B carregam a faixa para a lista de canções pops atemporais da década passada. O mesmo pode ser dito da memorável Side to Side, que é a mistura perfeita entre reggae, pop e o flow vultoso da rainha do rap, Nicki Minaj. Tais canções foram fundamentais para a consolidação de Ariana Grande como artista pop naquele ano.

Ela também passeia por sons retrôs de forma formidável. Leave Me Lonely é um soul moderno e polido, trazendo para Ariana o desafio (bem realizado) de colaborar com a prolífica vocalista Macy Gray. Já Greedy precedia a volta do disco com a produção recheada de pitadas de funk e motown: a mudança de tom no último refrão é inesquecível. A comparação com Mariah Carey, muito comum no começo de sua carreira, já não é mais tão comum aqui: sua sonoridade é muito mais original.

Dentro da discografia de um artista, é normal que músicas sejam esquecidas ou pouco trabalhadas. No entanto, é quase criminoso ver canções como Bad Decisions serem escondidas em tracklists deluxe e versões especiais. O mesmo acontece com a obra prima Touch It, um synth-pop proficiente e a melhor canção do disco.

Foto da turnê Dangerous Woman. Ariana está sentada, e uma fumaça cobre parte de suas pernas. Ariana é uma mulher branca, seus cabelos são castanhos e estão presos em um rabo de cavalo pela metade. Ela veste um cropped branco e dourado e segura um microfone. Sua expressão é serena e seus olhos estão fechados.
Dangerous Woman precedeu uma turnê homônima (Foto: Republic Records)

Uma crítica comum dentro da indústria musical é que artistas mulheres sentem a pressão da reinvenção de seu conteúdo mais do que artistas homens. Por mais que válida, essa realidade não se aplica para Grande: essa reinvenção foi necessária para colocá-la no status que ocupa. A persona romântica e delicada do passado se transformou em uma mulher envolvente e confiante. Mais que tudo, Dangerous Woman consolidou Ariana Grande como uma artista de destaque e traçou o caminho para trabalhos ainda mais autênticos em sua discografia. 

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