The Black Keys volta ao lar com Delta Kream

Capa do CD Delta Kream. Apresenta o título da banda The Black Keys acima. Em uma fotografia quadrada, há um carro branco estacionado no centro, em frente a uma loja chamada Delta Kream, que possui dois símbolos da Coca-Cola ao lado do nome. O chão é de terra batida.
Homenageando suas principais influências, o álbum é o 10º na carreira do duo (Foto: Nonesuch Records)

Bruno Andrade

Parece ser comum vislumbrar nos artistas momentos em que avaliam seus projetos fracassados. Esse costuma ser o enredo de filmes B, geralmente cômicos, sobre musicistas falidos que criam projetos para superar a si mesmos. Não é o caso do The Black Keys, que chega ao seu 10º álbum de estúdio olhando para o passado, sem motivos para se envergonhar. Como homenagem aos artistas que influenciaram a banda, Delta Kream (2021) traz covers de grandes nomes do blues como Junior Kimbrough e R.L. Burnside, adaptando a essência do duo composto por Dan Auerbach e Patrick Carney em canções clássicas na história do gênero.

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De Rainha dos Fluxos a Rainha da Times Square, o novo EP de MC Dricka é revolucionário

Capa do EP Acompanha. Fotografia retangular com a disposição de três imagens da MC Dricka sendo uma na parte superior do lado esquerdo, outra na parte inferior central e uma última na parte superior da lateral direita. Mc Dricka é uma mulher preta de cabelos cacheados com mechas loiras na altura do ombro e corpo tatuado. Na imagem da esquerda ela veste um agasalho preto com o zíper aberto. Usa um óculos com lentes na cor amarela, uma gargantilha brilhante e um colar prata. Na imagem central, a MC veste um top preto de alças finas e os mesmos acessórios citados anteriormente além de um relógio. Seus braços estão erguidos na altura da cabeça e suas mãos estão tocando as hastes dos óculos. Abaixo da imagem pode-se ler “ Acompanha” e “MC Dricka” ambas em tom alaranjado claro. Na imagem da direita, a MC utiliza a mesma roupa e acessórios da imagem anterior. Sua cabeça está inclinada para baixo indicando que ela olha para o relógio em seu pulso direito.
A lupa, as joias e a postura da artista já são uma prévia da força que o funk feminino imprime na atualidade (Foto: GR6)

Julie Anne 

Em 7 de maio de 2021, a funkeira MC Dricka fortaleceu mais uma vez o cenário musical brasileiro ao lançar sua produção artística mais recente, o EP Acompanha. Embora a artista já seja referência para o funk feminino e independente desde 2019, o lançamento do EP se revelou como uma importante ferramenta para consagrar o potencial artístico da cantora, que alcançou destaque até mesmo na cena internacional.

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Os 15 filmes do Festival do Rio 2021

Arte em fundo azul-escuro. Ao lado esquerdo, lê-se em branco: os 15 filmes do festival do rio 2021. No canto inferior esquerdo, está o olho do Persona, com a íris azul. Do lado direto, estão 3 vezes o logo do Festival, em forma do Corcovado, com cenas de 3 filmes: Slalom, DNA e Verão de 85.
Entre os destaques das duas semanas do Festival do Rio, estão Slalom – Até o Limite, DNA e Verão de 85 (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Caroline Campos)

Quando o assunto é Festival, o Persona, em conjunto, clama por um único evento: o dia do Cineclube. E claro, se for em terras cariocas, a empolgação é maior ainda. Depois de 15 dias e 15 filmes, chega ao fim o Festival do Rio 2021, que com uma seleção variada de obras singulares, uniu todas as tribos e agradou até o mais cri-cri dos cinéfilos de plantão.

Da Dinamarca à Costa do Marfim, de indicados ao Oscar até esnobados injustos, um pouquinho do que há de melhor na produção cinematográfica mundial veio visitar remotamente a Cidade Maravilhosa e garantir, diariamente, um descanso fora das amarras das nossas próprias narrativas. Pela plataforma do Telecine, cada filme era disponibilizado por 24 horas e 24 horas apenas, ou seja, chegara o momento de planejar a maratona.

Figurinhas já batidas integraram o catálogo do Festival. Uma nova exibição de Druk – Mais uma Rodada é sempre bem-vinda e o atual vencedor da categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2021 foi o felizardo responsável por iniciar a jornada com muito álcool e uma boa dose de Mads Mikkelsen (ou seria o contrário?). E os donos de estatuetas douradas não pararam por aí: o ácido Bela Vingança, que garantiu o prêmio em Roteiro Original para Emerald Fennell, arrancou exclamações e conquistou uma vaga entre as 15 obras. Excepcionais, sim. Mas, às vezes, poderia ter sido mais produtivo ceder espaço às produções não tão comentadas nos últimos meses.

Pincelando temas dolorosos e desconfortáveis da melhor forma que o Cinema consegue fazer, não faltou sensibilidade para discutir o que de mais horrendo a sociedade já produziu e encarar nossos demônios como espécie humana. Quo Vadis, Aida? e Caros Camaradas! miram no histórico, Slalom – Até o Limite e Ainda Há Tempo desenham o atual. Das mais variadas formas, esta edição do Festival do Rio coloca o espectador frente a frente com o espelho e exige reflexão; exige autoconsciência.

É óbvio que, no meio de tudo isso, sobra espaço para o cômico, o lúdico e até para o fantástico. No entanto, não se engane – como toda forma de expressão, o Cinema é um produto de seu tempo, dialogando com seu tempo e, muitas vezes, questionando na mesma medida. Por baixo do prédio ficcional de Edifício Gagarine ou das histórias arrebatadoras de Noite de Reis, há sempre uma lente que foca no que somos ou no que deveríamos ser.

Depois de uma cobertura completa da leva de filmes 2021, a Editoria do Persona embaralha os papéis e comenta obra por obra, loucura por loucura, apresentada na fresquíssima edição do Festival do Rio. Para quem já está com saudades das narrativas diárias, os textos abaixo revivem parte do caos latente proporcionado durante esses últimos 15 dias pelo maior festival de Cinema da América Latina.

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Mostrando uma versatilidade de ritmos, Doja Cat nos convida a aventurar-se por Planet Her

Capa do álbum Planet Her, da cantora Doja Cat. A foto mostra a cantora Doja Cat, uma mulher negra de olhos castanhos e cabelos vermelhos, e ela está deitada de lado. Ao fundo há a representação do espaço sideral.
Doja Cat lançou seu novo álbum em grande estilo, alcançando em menos de uma semana o título de rapper feminina com maior número de streams em um debut no Spotify (Foto: Kemosabe Records/RCA Records)

Gabriel Brito de Souza

Planet Her é o terceiro álbum da carreira de Doja Cat e sucede o aclamado Hot Pink, disco que alavancou o nome da rapper norte-americana nos últimos tempos. Pelas suas redes sociais, a cantora anunciou o lançamento do disco que estreou em grande estilo no cenário pop, atingindo a 2ª posição no ranking das paradas da Billboard. E em menos de uma semana, o crescente número de streams no Spotify garantiu a Doja Cat o título de rapper feminina com maior número de reproduções em um debut, além das faixas Kiss Me More e Need To Know terem proporcionado a artista emplacar mais dois hits no Top 100 Mundial da plataforma.

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O espetáculo narrativo de Noite de Reis

A imagem retangular é uma cena do filme. Ao centro vemos um homem negro jovem de cabelos pretos raspado. Ele olha para frente e usa uma camisa aberta roxa e maior que seu corpo e uma calça jeans preta. Ao seu lado há outro homem negro jovem mais baixo e de cabelo preto raspado. Ele usa uma camiseta branca e shorts branco e segura um lampeão. Ao redor há uma multidão de homens negros ajoelhados, no formato de um círculo ao redor dos dois de pé.
Noite de Reis teve sua estreia no Festival de Veneza e fechou o Festival do Rio 2021 (Foto: Neon Films)

Caroline Campos

Há algo de especial na forma com que tradições orais são transmitidas. Através da força de contadores de histórias, impérios foram criados, sociedades foram destruídas e lendas foram moldadas. Na África Ocidental, esse papel fica a cargo dos griots, guardiões milenares do passado, sagrados para a preservação da tradição. Em Noite de Reis, o mensageiro é personificado na figura do Roman, escolhido durante a Lua de Sangue para cumprir o ritual em La Maca. E assim, chega ao fim o Festival do Rio 2021.

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Sob o olhar ingênuo de uma criança, Luca é uma aventura na diversidade

Três crianças montadas em uma Vespa verde-água. A primeira é Alberto, garoto de pele parda, cabelo enrolado com um topete, olhos verdes dentes amostras em um sorriso destemido, camisa regata amarela. Atrás está Luca, garoto de pele branca, cabelos ondulados castanho escuro, olhos castanhos claros, expressão feliz, com a cabeça levemente inclinada para trás, camisa social branca com a manga dobrada, e segurando em Alberto. E atrás de Luca está Giulia, garota branca, de cabelos ondulados na altura dos ombros ruivos, com uma touca azul, olhos castanhos, expressão de animação, com uma blusa listrada de laranja e branca, e com as mão levantadas. No fundo, uma ladeira de pedra e a cidade de Portoroso.
O diretor do filme participou de Viva: A Vida é uma Festa (2017) e do subestimado Robôs (2005), no departamento de arte [Foto: Pixar Animation Studios]
Pedro Gabriel

A Pixar é muito conhecida por suas obras carregadas de mensagens profundas, e por sua tentativa de explicação de conceitos complexos para crianças. Durante os 35 anos de existência da empresa, eles trataram sobre depressão em Divertida Mente (2015), amadurecimento nos quatro filmes de Toy Story, o luto em Dois Irmãos (2020) e até o sentido da vida em Soul (2020). Parecia que a aventura era um bônus na história. Mas, eis que surge Luca, em junho de 2021, e os papéis se invertem. A mensagem está lá, mas não é o foco principal.

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Verão de 85: ele só quer, só pensa em namorar

Cena do filme Verão de 85. Nela, dois adolescentes brancos andam em um parque de diversões à noite, eles se olham e sorriem um para o outro.
Além de ter sido parte da Seleção Oficial de Cannes 2020, o penúltimo filme do Festival do Rio 2021 concorreu a 12 prêmios César, o Oscar francês (Foto: FOZ)

Vitor Evangelista

Os anos da adolescência são responsáveis pelo florescer dos mais ardentes sentimentos, para o bem e para o mal. Numa França utópica dos anos oitenta, Alexis (papel do travesso Félix Lefebvre) conhece David (Benjamin Voisin), e o resto é história. História essa contada no danado Verão de 85, filme dirigido por François Ozon e presente na reta final do Festival do Rio 2021.

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Quem pode ser uma Candidata Perfeita?

Foto do filme A Candidata Perfeita. Nela está Mila Al Zahrani, atriz marrom usando hijab prert. A mulher está olhando para a esquerda cm uma expressão preocupada. Na sua mão está uma chave e uma parte da porta de um carro. O fundo é um céu azul.
A Candidata Perfeita presenteia o 13° dia do Festival do Rio com sua honestidade (Foto: Razor Film)

Mariana Chagas

O que faz de alguém uma candidata perfeita? A pergunta não é feita em nenhum momento durante os 101 minutos do longa, mas mesmo assim é respondida. Na reta final do Festival do Rio de 2021, o filme dirigido por Haifaa Al-Mansour não precisa de muitas reviravoltas ou ação para discutir política e feminismo no contexto conversador em que se passa. 

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Ainda Há Tempo: não precisamos perdoar pais monstruosos

Cena do filme Ainda Há Tempo. Podemos ver o pai Willis, idoso, e seu filho, John, adulto, sentados na sala brigando. Willis está com a mão próxima da cara de John e gritando. Ambos são homens brancos de cabelos claros. A sala possui arquitetura rural dos Estados Unidos dos anos 80.
Ainda Há Tempo é o filme em cartaz no décimo segundo dia do Festival do Rio 2021 (Foto: Perceval Pictures)

Jho Brunhara

Viggo Mortensen já é um rostinho conhecido em Hollywood. O ator estadunidense encarnou Ben em Capitão Fantástico, e Tony Lipp no terrível Green Book. Em Ainda Há Tempo, a primeira investida de Mortensen atrás das câmeras, somos apresentados para um filme não só dirigido por ele, mas também escrito, produzido, atuado e embalado por uma trilha sonora composta pelo mesmo. O longa chega de forma muito tardia ao Brasil por motivos pandêmicos (sua primeira exibição foi em janeiro de 2020), através do Festival do Rio 2021, e a qualidade da produção, infelizmente, não é suficiente para compensar a demora.  

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20 anos atrás, A Viagem de Chihiro ensinava através do silêncio

Cena do filme de animação “A Viagem de Chihiro”. À frente, vemos Chihiro, uma garota asiática, pele branca, bochechas rosadas e cabelo castanho preso em um rabo de cavalo. Ela usa uma camisa branca e verde, um short vermelho e tênis amarelos. Ela está sorrindo eufórica, correndo em cima de uma ponte de madeira, enquanto uma multidão acalorada atrás dela se despede e comemora. Todos estão em um grande prédio de arquitetura japonesa, pintado de vermelho e branco, com os tetos esverdeados. A cena se passa de dia.
Chihiro atesta: ainda vale a pena ser criança (Foto: Studio Ghibli)

Enrico Souto

Entre as jornadas monumentais, épicas e maiores que a vida de Princesa Mononoke e O Castelo Animado, e as histórias mais comedidas, intimistas e descaradamente infantis de Meu Vizinho Totoro e O Serviço de Entregas da Kiki, A Viagem de Chihiro é a amálgama perfeita dessas duas facetas de Hayao Miyazaki. Não que Mononoke não tenha retratos de serenidade e um forte prisma emocional, nem que Kiki não disponha de cenas grandiosas e homéricas – o diretor costuma trabalhar em uma zona cinzenta que uma categorização meramente dualista não seria capaz de cobrir –, porém, olhando para trás 20 anos depois, é indiscutível que, nesse título, essas potências, provenientes do gênero de realismo mágico, encontram seu equilíbrio definitivo, a partir de uma narrativa sensível e tocante sobre os infortúnios de crescer e se tornar adulto, rompendo barreiras culturais e de linguagem como nenhuma outra mídia fez antes.

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