Em Noite no paraíso, a vida se celebra na genuinidade do existir

Recebido do Persona na parceria da Companhia das Letras, Noite no paraíso: Mais contos reafirma o senso de humor da contista Lucia Berlin (Foto: Companhia das Letras/Arte: Ana Clara Abbate)

“Ela foi embora. Eu me deitei na terra úmida. Estava cansada. Só queria ficar ali deitada, para sempre, e não fazer absolutamente nada.”

Jamily Rigonatto 

Algumas palavras são capazes de encantar com a sonoridade aconchegante que têm, às vezes – se você souber usá-las – pode transformar o mundo real, cheio de sua concretude bruta, em algo curioso e burlesco. É assim que Lucia Berlin desenvolve os vocábulos em Noite no paraíso: Mais contos, livro publicado pela Companhia das Letras em Agosto de 2022. No texto, a autora explora os aspectos da vida sob seu olhar singular e lança luz à vida – mesmo quando esta parece encoberta por trevas inebriantes. 

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Estante do Persona – Novembro de 2022

Arte retangular de amarelo limão. Ao centro há uma estante branca com três prateleiras. A primeira prateleira é dividida ao meio, a segunda prateleira é dividida em três e a terceira prateleira é dividida em três. Na parte superior lê-se em preto 'estante’, na primeira prateleira lê-se em preto 'do persona', à direita nessa prateleira está a logo do Persona, um olho com íris na cor amarelo limão. Na segunda prateleira, ao meio, está a capa do livro “As intermitências da morte” ao lado de 9 lombadas brancas. Na terceira prateleira, à direita, está o troféu com a logo do persona. Na parte inferior lê-se em branco ‘novembro de 2022'.
Do autor lusitano José Saramago, As Intermitências da Morte foi a provocação em cores fúnebres do Clube do Livro de Novembro (Foto: Companhia das Letras/Arte: Aryadne Xavier/Texto de abertura: Jamily Rigonatto e Vitória Gomez)

“A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu.”

José Saramago

Com as festividades de final de ano quase batendo em nossas portas, o Clube do Livro do Persona não poderia deixar de se encontrar nos aspectos da existência. Apreciando As Intermitências da Morte de José Saramago, nossos leitores se colocaram a refletir sobre as linhas que rondam o fim da vida. A escolha do texto foi ainda mais especial porque o literato completaria 100 anos no dia 16 de novembro de 2022. 

No livro, somos guiados para um cenário em que a morte deixa de chegar, seja para os homens mais velhos ou para as vítimas de acidentes que agonizam em camas de hospital. O autor desenrola reflexões sobre como morrer interfere nas noções humanas de livre arbítrio e continuidade. Aqui, a morte ganha ares personificados e, em certo ponto, da narrativa pode ser tocada como alguém de carne e osso – ou melhor, apenas de osso.  

Entre as significações, Saramago abre um mundo de possibilidades sem fechar nenhum ciclo, mas expõe o quanto as pessoas podem bambear quando a vida se torna um inconveniente. A proposta audaciosa da obra brinca com o papel da religião na sociedade e usa uma linguagem direta para abrir brechas e possibilidades no íntimo de quem o lê. A morte enquanto protagonista é tão real quanto qualquer ser humano: sente, reage e ama. No fim, resta o começo e como um circuito tudo se repete, já vivemos isso antes.  

Se nossos leitores testemunharam os fins, novembro oferece seus cumprimentos aos começos com a entrega troféus aos destaques da Literatura brasileira: o Prêmio São Paulo de Literatura e o Jabuti. Na primeira semana do mês, o Prêmio São Paulo, criado em 2008 e concedido pelo Governo do estado, revelou seus vencedores. Com dez finalistas nas duas categorias, o troféu de Melhor Romance do Ano de 2021 foi para Antonio Xerxenesky, pela obra Uma tristeza infinita, da Companhia das Letras. Rita Carelli levou Melhor Romance de Estreia do Ano de 2021 por Terrapreta, da Editora 34. Em ambas categorias, as escritoras foram a maioria: na primeira, dos 10 concorrentes, somente três são homens; na segunda, quatro.

Já no Jabuti, as 20 categorias, divididas em quatro Eixos que abarcam a totalidade do processo de produção editorial, tiveram seus finalistas anunciados na segunda semana de Novembro. Aqui – e aparentemente em 2021 no geral -, o destaque foi para o protagonismo feminino: na categoria Romance Literário, no Eixo Literatura, as cinco concorrentes eram escritoras. Natalia Borges Polesso, com A extinção das abelhas, Andréa Del Fuego, com A pediatra, Micheliny Verunschk, com O som do rugido da onça, Aline Bei, com Pequena coreografia do adeus, e Tatiana Salem Levy, com Vista chinesa, disputaram a estatueta – as cinco também foram concorrentes em Melhor Romance do Ano de 2021 no Prêmio São Paulo.

Com a disputa estabelecida, no dia 24 foi a vez da jornalista e apresentadora Adriana Couto chamar os vencedores ao palco do Theatro Municipal de São Paulo para receber o troféu em formato de jabuti. O grande destaque da noite foi para Luiza Romão, com Também guardamos pedras aqui, consagrado como o Livro do Ano de 2021. A obra também conquistou a categoria de Poesia. Em Romance Literário, uma das modalidades de maior destaque na premiação, o nome chamado foi o de Micheliny Verunschk, pelo seu O som do rugido da onça.

A cerimônia ainda contou com uma homenagem à Sueli Carneiro. Com o troféu de Personalidade Literária do Prêmio Jabuti 2022, a escritora, filósofa e ativista, uma das maiores representantes do feminismo negro no Brasil, é a primeira fora do eixo Literatura a receber a honraria.

As celebrações resolveram se estender e, em clima festivo, a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty – trouxe diversas personalidades do nicho para conversas acaloradas e conexões ímpares. Em sua 20ª edição, o festival seguiu a linha do Jabuti e contou com presença feminina em peso. A argentina Camila Sosa Villada esteve presente no evento e participou de uma Mesa sobre questões de gênero. A autora de O parque das irmãs magníficas trouxe interpretações importantes sobre o cenário do ativismo e os estigmas vinculados às travestis.

Um dos destaques entre os convidados foi a francesa Annie Ernaux, autora de O Acontecimento e vencedora do Nobel de Literatura em 2022. A escritora, que chama atenção com a ascensão do gênero da autossociobiografia, trouxe reflexões importantes em um bate papo ocorrido depois da exibição do filme Os Anos do Super 8

E se o jeito transgressor de Annie teve voz no festival, os aspectos subversivos nunca se fazem faltantes no Persona. Agora, veja mais das linhas fora da curva indicadas pela nossa Editoria no Estante do Persona e aproveite o fim do ano para se deliciar nos tons vibrantes daqueles que as pintam.

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As convidadas de Silvina Ocampo são as reviravoltas

As convidadas foi um dos livros recebidos pelo Persona na parceria com a Companhia das Letras, e foi a leitura do Clube do Livro em Outubro (Foto: Companhia Das Letras/Arte: Ana Cegatti)

Jamily Rigonatto 

“Poucas pessoas vão acreditar neste relato. Às vezes seria preciso mentir para que as pessoas admitissem a verdade; esta triste reflexão eu fazia na infância por razões fúteis; agora as faço por questões transcendentais.”

O que delimita a linha do absurdo? Em que momento fomos ensinados a ler algo e dizer o quanto aquilo é distante do lógico? São respostas presas ao inconsciente, o tipo de habilidade praticamente instintiva na mentalidade humana. Mas é lendo Silvina Ocampo e sua audácia singular que essas fronteiras parecem se diluir sem precisar de muitas páginas. Em As convidadas – livro publicado pela Companhia das Letras em Maio de 2022 –, a mente e o mundo são peripécias capazes de causar desconforto arrebatador e crença no irreal. 

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David Grossman gargalha até doer a barriga em A Vida Brinca Muito Comigo

O Persona também pode esboçar um riso frente ao pranto da vida graças a parceria com a editora Companhia das Letras (Foto: Companhia das Letras/Arte: Ana Cegatti)

Nathalia Tetzner

Sabe aquela pessoa que, quando está calma, os trovões de tempestade podem ser ouvidos ao longe? Que tem o prazer de encher os teus pulmões, mas também sufocá-los? Ela é a perfeita personificação da vida em seu estado mais bruto. Alguns a conhecem precocemente, outros, no tempo certo, e há ainda aqueles que preferem ignorar a sua face áspera e se resumem a dizer “ah, ela é brincalhona assim mesmo”. Na trama de A Vida Brinca Muito Comigo, de David Grossman, três gerações de mulheres procuram digerir as consequências do encontro fúnebre com a origem de tudo.

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A estratégia do charme merece tanto amor quanto seus protagonistas

A estratégia do charme foi publicado em 2022 no Brasil e é um dos livros recebidos pelo Persona na parceria com a Companhia das Letras (Foto: Paralela/Companhia das Letras/Arte: Ana Clara Abbate)

Jamily Rigonatto 

Eu não acho que felizes para sempre é uma coisa que acontece com a gente, Dev, acho que é uma coisa que a gente escolhe fazer acontecer.

Príncipes e princesas são protagonistas quando o assunto são amores perfeitos. Por baixo das coroas, os relacionamentos são fixados em sorrisos brilhantes e atitudes cavalheirescas. Isso é tudo o que Dev Deshpande vê aos 10 anos de idade ao assistir Para Todo o Sempre na televisão da sala e se imaginar fazendo parte daquele universo mágico. O reality show tem uma proposta simples: colocar várias mulheres para conquistar um príncipe e a mais sortuda ganha o casamento dos sonhos. Em A estratégia do charme – livro publicado sob o selo Paralela pela Companhia das Letras – os encantados perdem a pose e a verdadeira trama prova que imperial é ser de verdade. 

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Entre a cruz e a espada, Carrie performa o retrato sangrento do fanatismo

Capa do livro Carrie. Na imagem há o desenho de uma garota com sangue escorrendo pelo rosto. Toda a composição da capa é roxa e deixa os traços não muito claros. Os olhos ficam em destaque por mostrarem a parte branca e as pupilas. Na porção superior estão as palavras Biblioteca Stephen King. Já na parte inferior o título do livro. O logo da editora aparece na parte superior esquerda. Todos os textos estão grafados em branco.
Em sua nova edição, Carrie faz parte da Coleção Biblioteca Stephen King e ganha conteúdo extra (Foto: Companhia das Letras/Suma/Arte: Ana Clara Abbate) 

Jamily Rigonatto 

Quão longe um lar instável e um vasto universo de microviolências podem levar alguém? Carrie não se dispõe a responder essa pergunta com plenitude, mas estrutura um argumento definitivamente cinético. No clássico de Stephen King, a personagem que se tornou um ícone do terror, dá vida a um misto de acontecimentos hiperbólicos para eventos reconhecíveis na realidade. A edição especial – publicada pela Companhia das Letras este ano sob o selo Suma – torna o relato perturbador da história da garota que fez pedras choverem e sangue jorrar tão sólido quanto uma imagem de Jesus pendurada na parede da sala. 

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O rei pálido é o The Office existencialista de David Foster Wallace

Finalista do prêmio Pulitzer, O rei pálido chegou ao Brasil em março de 2022 e foi um dos recebidos do Persona na parceria com a editora (Foto: Companhia das Letras/Arte: Ana Clara Abbate)

Bruno Andrade

“Autor aqui. Ou seja, o autor de verdade, o ser humano vivo que segura o lápis, não alguma persona narrativa abstrata. […] Este aqui sou eu enquanto pessoa real, David Wallace, quarenta anos, RG 975-04-2012, que me dirijo a você da minha casa dedutível em Formulário 8829 no número 725 do Indian Hill Blvd., Claremont 91 711 CA, neste quinto dia da primavera de 2005, para lhe informar o seguinte: Tudo aqui é verdade. Este livro é real de verdade” (pág. 79-80).

O tédio é o pássaro que choca os ovos da experiência”, escreve Walter Benjamin no ensaio O narrador. Mesmo que o tédio ressoe no cotidiano, talvez seja no imprevisível best-seller de Byung-Chul Han que diversas sensações contemporâneas tenham sido melhor delimitadas. Em Sociedade do Cansaço (2010), o filósofo sul-coreano traça um poderoso diagnóstico dos nossos tempos: cada época tem suas “enfermidades fundamentais”; enquanto a passada sofreu com crises biológicas, a atual sofre com adoecimentos neuronais (depressão, síndrome de Burnout, TDAH, etc.). Estamos mentalmente debilitados, quebrados por um excesso de positividade.

A resposta original a essa condição é uma reação existencial, mas não exatamente algo espetacularizado, e sim o silêncio, o ócio, a “capacidade de refletir” em contraste a um mundo que exige discursos infinitos, respostas imediatas e desejos efêmeros. Mas como não confundir reflexão com o tédio? Numa sociedade dominada pela indústria cultural, sentir-se entediado não seria, por si só, uma reivindicação da consciência? Esse é o objeto da tese que David Foster Wallace expõe no inacabado O rei pálido (2011), romance publicado após sua morte.

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A beleza de Vinco está na incerteza de si

Livro recebido através da parceria do Persona com a Companhia das Letras, Vinco é o primeiro romance da autora a ser publicado pela editora (Foto: Companhia das Letras)

Enzo Caramori

‘‘(…) para lugar algum meu filho, tu podes

ir e ainda que se mova o trem

tu não te moves de ti.’’

    – Hilda Hilst

O celebrado livro Orlando, de Virginia Woolf, que de tudo tem um pouco — biografia, romance histórico e carta de amor — afirma-se na Literatura enquanto um marco zero. Mesmo às lentes críticas do filósofo Paul B. Preciado, que, ao ler os diários de Woolf, destaca o caráter classicista da escritora, reside um deslumbramento acerca do afeto em suas palavras à transitoriedade materializada no corpo do texto. A história de personagens em estado de trânsito, seja entre diferentes espaços ou no limiar de construções como nacionalidade e gênero, são temas costurados à escritura de si. Para narrativas como as de Orlando, Muriel — alter-ego da cartunista Laerte que enquadra sua transição social — e Manu, protagonista de Vinco (2022), o terceiro romance da escritora gaúcha Manoela Sawitzki, Preciado possui um questionamento chave: ‘‘O que acontece com o relato de uma vida quando é possível modificar o sexo do personagem principal?’

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Estante do Persona – Outubro de 2022

Com tradução de Livia Deorsola, As convidadas foi a aventura do Clube do Livro em Outubro de 2022 (Foto: Companhia das Letras/Arte: Nathália Mendes/Texto de abertura: Vitória Gomez)

“Você me disse que o medo sempre foi uma das minhas distrações favoritas. Essas loucuras minhas são das que você mais gosta, porque demonstram que ainda resta em mim algum resquício de infância. Não sou corajosa, mas em minha inconsciência jamais recuso o perigo, eu o busco para brincar com ele.”

– Silvina Ocampo

O final do ano se aproxima e o Clube do Livro não deixou a peteca cair. Se as relações humanas já permearam mais debates do que conseguimos contar em uma mão, a escolha do mês remexeu a abordagem do tema e desafiou os leitores do Persona. As convidadas, leitura selecionada para Outubro, tem as relações amorosas como ponto central da maioria de seus 44 contos de duração. O livro de Silvina Ocampo, porém, leva o absurdo a sério e o extrapola para explorar os tais relacionamentos.

Publicado no Brasil em 2022 pela Companhia das Letras, a coletânea de curtas histórias é tão surpreendente quanto é chocante. Ora sombria, ora cômica, Ocampo invade o costumeiro com o extraordinário e o inesperado. Na subjetividade de deixar seus pontos emaranhados em situações peculiares, escondidos sob o véu da interpretação de cada leitor, a escritora argentina rende material para teorias e debates através da lente do realismo mágico e da literatura fantástica, levando sua testemunha a apenas um passo de descobrir o que não pretende desvendar.

Assim como na obra, selecionada graças a parceria do Persona com a Companhia das Letras, Outubro talvez tenha sido o mês da antecipação no campo literário. Anunciada como convidada da Festa Literária Internacional de Paraty – tema garantido no próximo Estante -, a francesa Annie Ernaux recebeu o Nobel de Literatura pela “coragem e acuidade clínica com que descobre as raízes, os distanciamentos e as restrições coletivas da memória pessoal”. Uma das favoritas ao prêmio, Ernaux se tornou apenas a 17ª mulher a vencer a honraria, de 119 ganhadores desde 1901. Após a vitória, ela destacou que deve poder testemunhar “uma forma de equidade, justiça, em relação ao mundo”.

A mente por trás de Les Armoires Vides (1974), Os Anos (2008) e O Acontecimento (2000) – esse último, experienciado pelo Clube do Livro em Julho -, foi honrada pela forma com que mescla suas experiências de vida a temas de interesse coletivo, cunhado como “autosociobiografia”. Na primeira obra, por exemplo, a escritora reflete sobre classes sociais em uma inconstante França ao passo que narra seu próprio cotidiano no empreendimento da família no interior do país. A linguagem simples e direta, “cristalina”, de Ernaux também pode ser mencionada com um dos motivos do envolvimento arrebatador de seus textos.

Do âmbito global ao nacional, a antecipação se estendeu ao Prêmio Jabuti: um dos maiores reconhecimentos da Literatura e do mercado editorial brasileiro revelou seus finalistas na última semana do mês. Dentre os 10 concorrentes em cada categoria, divididas nos eixos de Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação, a de Romance Literário se destacou. Com 8 dos 10 nomes que chegaram ao corte final sendo autoras mulheres, a lista dos 5 indicados ao troféu foi ainda mais positivo. Mas isso é tema para o próximo mês. Dentre as menções, Natalia Borges Polesso concorreu pela terceira vez (a segunda na categoria), agora com A extinção das abelhas. Andréa del Fuego, por A pediatra, e Aline Bei, por Pequena coreografia do adeus, ambas conhecidas do Persona, também integraram a lista.

Já na língua portuguesa como um todo, o Prêmio Camões 2022 laureou o ensaísta e poeta Silviano Santiago. Autor dos ensaios O entre-lugar do discurso latino-americano, O cosmopolitismo do pobre e As raízes e o labirinto da América Latina, o escritor mineiro levou seis vezes o Prêmio Jabuti e o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. Agora, soma o Camões a sua estante, pelo conjunto de sua obra. Dentre os cotados do Brasil, Portugal e países africanos de língua portuguesa, Santiago é o 14º brasileiro a fazer parte da curta lista de vencedores; em 2021, quem recebeu a honraria foi Paulina Chiziane, de Moçambique.

Entre reconhecimentos e antecipações, o Clube do Livro segue atento aos próximos destaques vindos do Jabuti e aos debates fundamentais suscitados na Flip 2022, que pautarão a Literatura pelos próximos meses. Enquanto isso, é a Editoria do Persona quem indica as leituras do final do ano.

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Sob um jaleco alvejado, A pediatra é tão humana quanto qualquer um

A pediatra foi um dos finalistas da categoria de Romance Literário do Eixo de Literatura do Prêmio Jabuti 2022 (Foto: Companhia das Letras)

Jamily Rigonatto

As mulheres devem ser doces, gentis o suficiente para servirem um homem de meia idade com reclamações diárias sobre um trabalho medíocre e o resultado de um jogo de futebol igualmente irrelevante. Quanto aos filhos: a gestação é a maior benção permitida aos corpos femininos, quem não iria querer isso? Caso Cecília pudesse ser resumida a uma palavra, “antônimo” seria um termo interessante. Ela não é doce e não pretende ser, afinal açúcar é combustível diabético, afeta o funcionamento pancreático e escraviza. Seu papel em A pediatra – livro publicado pela Companhia das Letras em 2021 – é performar o descontrole da autoridade dentro de si. 

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