Quando o Cavaleiro Verde levantou sua própria cabeça decepada, olhou Gawain nos olhos e disse “Daqui a um ano…”, ele poderia estar se referindo tanto ao golpe mortal destinado ao jovem, quanto à espera estendida que teríamos para ver a nova adaptação cinematográfica do poema medieval. Após ter estreado nos cinemas americanos pouco antes de julho acabar, A Lenda do Cavaleiro Verde chegou em VOD na metade de agosto, para delírio daqueles que esperavam desde 2020 pela visão do diretor David Lowery (Sombras da Vida) sobre a clássica fábula escrita por um autor desconhecido.
A sátira criada e dirigida por Mike White (Enlightened, Escola de Rock), se tornou um completo sucesso em audiência desde seu lançamento pela rede americana HBO, tanto que já tem sua segunda temporada encomendada para o próximo ano, em um formato de antologia, com personagens e histórias diferentes. Toda trama de The White Lotus se passa num resort de luxo no Havaí, de mesmo nome da série, e tem como protagonistas três grupos de pessoas, com algo predominante entre elas: são todas ricas e brancas.
“A vida muda rapidamente A vida muda em um instante Você se senta para jantar, e a vida que você conhecia termina. A questão da autopiedade.”
“Tudo bem. Ela é uma mulher tranquila”. Essa foi a frase utilizada para se referir a Joan Didion no dia em que seu marido morreu. O Ano do Pensamento Mágico é uma autobiografia desenvolvida meses após o falecimento de John Gregory Dunne, em 2003. Dedicada ao luto, é um acalanto para os indivíduos com uma vulnerabilidade similar. Lançado inicialmente em 2005, o livro ganhou uma reedição pela Harper Collins em 2021, e, definitivamente, reafirma sua consagração como uma das grandes obras da escritora norte-americana.
O primeiro Esquadrão Suicida foi lançado em 2016, ainda numa tentativa de construir um universo cinematográfico dos personagens da DC Comics para rivalizar com a Marvel. O filme dirigido por David Ayer foi um sucesso de bilheteria, mas um fracasso de crítica. Em 2018, o diretor James Gunn, conhecido pelos dois Guardiões da Galáxia, foi contratado pela Warner para fazer um novo filme do grupo de supervilões, com liberdade criativa para tomar rumos diferentes da obra de Ayer. Na época, a contratação ocorreu depois da Disney ter demitido Gunn da direção de Guardiões da Galáxia Vol. 3 devido à polêmica envolvendo tweets antigos do cineasta que faziam piadas de mau gosto envolvendo estupro e pedofilia. Em 2019, Gunn foi recontratado pela Disney, mas o diretor já estava envolvido na produção de O Esquadrão Suicida.
Se você encontrasse uma coisa de sua infância que guardava como um tesouro, como se sentiria? Feliz? Triste? Nostálgico?
Estamos no dia 31 de agosto de 1997, em Paris. Em um antigo apartamento do bairro Montmartre, Amélie Poulain (Audrey Tautou) não sabe que sua vida está prestes a mudar. Retirada de um esconderijo na parede, em suas mãos há uma antiga caixa de perfume, que armazena todos os restos de uma vivência. Admirada com aqueles tesouros – inestimáveis apenas a quem pertence – Amélie faz uma promessa: devolverá a recordação ao dono e, caso ele se emocione, começará a resolver a vida dos outros.
É impossível não gostar da Lagum. A chegada da banda ao mundo da Música começou em 2014, em Belo Horizonte, Minas Gerais, e desde então, os mineiros ganham cada vez mais destaque. A origem foi dada pelo Facebook, com um vídeo da composição de uma canção do vocalista Pedro Calais. Nisso, um amigo promotor de eventos incentivou a criação de uma banda. Amém. Atualmente, o grupo conta também com os integrantes Chico, Jorge e Zani, depois do falecimento do baterista Tio Wilson em 2020, que deixou muitos sons para os fãs. Apesar da perda enorme, a banda cresce cada vez mais e inova o estilo de som brasileiro com muita alegria.
O ano era 2020. Mês de abril. Foi nas primeiras semanas presos em casa que a Netflix veio ao nosso resgate com o seguinte convite: viajar para uma ilha paradisíaca com adolescentes decididos a achar um tesouro e quebrar todas as regras possíveis. Para aqueles que aceitaram e deram play na recém-chegada série, a vida nunca mais seria a mesma. Uma vez que você conhece Outer Banks, é impossível sair. Afinal, estamos falando do paraíso na terra, como diria John B.
Afogados em um mar de reprises, o público do sofá esperava ansiosamente por uma trama inédita para chamar de sua. Pausadas desde o início da pandemia do novo coronavírus, as narrativas que integravam as noites da comunidade noveleira foram substituídas por teledramaturgias de sucesso que já haviam sido transmitidas pela Rede Globo em outros anos. Com a sensação de estar em um looping eterno de Vale a Pena Ver de Novo, os telespectadores aguardavam os desfechos de Salve-se Quem Puder e Amor de Mãe como uma criança aguarda o término de um pudim que é cozido lentamente em banho-maria.
O felizes para sempre teve vez na última temporada de The Bold Type. Com fechamento de ciclos, remember de cenas icônicas da série e mais reflexões de problemas da atualidade, o gostinho de final para as garotas da grande Nova York foi completo, conciso e deixará saudades. A série, que chegou este ano no catálogo da Netflix, está conquistando os amantes de uma boa comédia, principalmente aqueles que sentem saudade das primas, Gossip Girle Girl Boss.
O segundo Emmy em tempos pandêmicos chegou e já foi embora. Com a retomada das atividades presenciais, sem máscaras à vista e com muitas vacinas no braço, o prêmio da Academia de TV adotou um formato mais intimista em 2021, coroando os melhores do ano sob a apresentação do rapper Cedric the Entertainer. A festa começou com um karaokê bem animado, na paródia de Just a Friend, em tributo a Biz Markie, falecido alguns meses atrás. O anfitrião puxou a canção, que foi entoada por uma porção dos nomeados da noite, incluindo os sempre estonteantes Anthony Anderson e Billy Porter.
Longe das reuniões em salas do Zoom e dos troféus entregues por funcionários vestidos como sobreviventes de um apocalipse nuclear, a edição de 2021 recebeu seus nomeados em dois lugares. Nos Estados Unidos estava a concentração de estrelas, enquanto o Reino Unido abrigava as joias da Coroa: boa parte do elenco de The Crown que, alerta de spoiler, quebrou uma porrada de recordes.
No ano em que uma maoria de artistas negros apareceu nas categorias de atuação, a Academia de Artes e Ciências da Televisão premiou 12 pessoas brancas, entre atores principais e coadjuvantes, nos campos de Drama, Comédia e Série Limitada. O retrocesso de diversidade acontece uma edição após a performance gloriosa de Watchmen, e no mesmo ano em que produções como Lovecraft Country, I May Destroy You, black-ish e The Underground Railroad se destacaram pela excelência técnica e artística.
Em Drama, The Crown se junta ao grupo de Angels in America e Schitt’s Creek, que agora são as três únicas séries a vencerem todas as categorias em uma noite. O episódio War, o final da quarta temporada, rendeu um prêmio de Roteiro (para o criador Peter Morgan) e outro de Direção (para Jessica Hobbs, em uma vitória histórica para as mulheres). Gillian Anderson (que foi perguntada, depois de vencer, se havia conversado com Margaret Thatcher sobre o papel na série) saiu como a Melhor Atriz Coadjuvante, enquanto a avalanche da Rainha premiou também o Ator Coadjuvante Tobias Menzies.
O grande favorito na disputa, entretanto, era Michael K. Williams, que morreu no começo do mês e entregou em Lovecraft Country uma das interpretações mais fortes do ano passado. Antes de anunciar o destino, Kerry Washington honrou o amigo, lembrando de sua luz e presença com amor e saudade. Sua derrota evidencia uma frequente nada positiva: depois do Oscar fazer uso da imagem de Chadwick Boseman para atrair audiência e, na sequência, premiar um ator branco em seu lugar, o Emmy faz igual.
O segmento In Memoriam, apresentado pela ternura de Uzo Aduba e guiado pelas cordas sensíveis de Jon Baptiste e Leon Bridges, finalizava-se com um depoimento em vídeo de Williams, discursando sobre a sustentação que atores negros criam um para o outro. No fim das contas, a diversidade da lista de 2021 foi propaganda enganosa. Tobias Menzies venceu um Emmy pelo papel quase imperceptível do Duque de Edimburgo na 4ª temporada de The Crown. Michael K. Williams viveu Montrose Freeman com a garra de um campeão, e morreu sem prêmio algum da Academia.
A categoria de Ator, que deveria reconhecer Billy Porter pelo ano final de Pose (que só venceu na cerimônia técnica), acabou chamando o nome de Josh O’Connor, que deu vida ao monstruoso Príncipe Charles. Seu par, a Lady Di de Emma Corrin, foi surpreendida pela zebra Olivia Colman, a Toda-Poderosa-Rainha. Assustada, surpresa, emocionada e galante, Colman discursou com o magnetismo que virou sua marca registrada, mas a amargura de não poder assistir Mj Rodriguez fazer história no palco da Academia é grande demais para sorrir do “Michaela Coel, fuck yeah!”, que Colman soltou logo após homenagear o pai, vítima da pandemia.
Na semana anterior, The Crown havia vencido um importante indicativo do apoio da Academia: o Emmy de Atriz Convidada, para Claire Foy, que retornou em um flashback como a jovem Rainha (o episódio em questão, 48:1, também rendeu o prêmio de Olivia Colman). Contrariando especialistas, Charles Dance perdeu a categoria de Ator, que premiou Courtney B. Vance, na única lembrança “grande” de Lovecraft Country.
Melhor Série de Drama, que ano após ano fecha a cerimônia, foi a penúltima das categorias anunciadas em 2021. Na acertada decisão de reconhecer o prestígio das Séries Limitadas, o Emmy finalmente se curvou à Netflix e chamou a equipe de The Crown ao palco britânico, rendendo à pioneira do streaming seu primeiro prêmio de Série. Viu? Só precisou de uma pandemia, de atrasos gigantescos de produção e da HBO quase que de folga, para a Netflix ganhar os prêmios grandes. De fato, a emissora do ‘Tudum’ conseguiu 44 estatuetas e se igualou a um recorde da CBS, que venceu o mesmo número em 1974.
A categoria de Série Limitada dividiu mais suas honras que a de Drama, mas ainda assim houve uma aglomeração na cidadezinha de Easttown. Kate Winslet, Julianne Nicholson e Evan Peters subiram ao palco, agradeceram à HBO e ao elenco formidável de Mare of Easttown, sensação de 2021. Winslet venceu uma década depois de triunfar por Mildred Pierce, outra original da HBO com quem ela faz par romântico com Guy Pearce. Nicholson e Peters, nas categorias de Coadjuvante, venceram os primeiros Emmys da carreira.
A zebra veio em Ator, com o Visão levando rasteira do estilista mais sexy da Netflix: o próprio Halston. Em mês de Met Gala, Ewan McGregor foi recompensado por sua atuação extravagante e deliciosa na minissérie de Ryan Murphy. Com apenas essa nomeação na noite principal, McGregor exibiu seu charme inebriante, e na quarta nomeação, adicionou um Emmy à estante.
O prêmio de Roteiro em Série Limitada nos mostrou que ainda há bem no mundo. Michaela Coel, que sangrou suas dores em toda a concepção de I May Destroy You, confirmou um dos favoritismos mais merecidos do ano, e discursou sua poesia bruta e sincera. A festa parecia estar indo muito bem, até que Scott Frank foi chamado para receber o troféu de Direção, por seu trabalho milimetricamente calculado na desgastada O Gambito da Rainha.
O discurso do diretor, que também criou e escreveu a série, se estendeu por três minutos e meio, e sua falta de carisma tornou a leitura do papel uma das experiências mais desgastantes de acompanhar na noite. Na mesma semana em que a Netflix é processada por uma enxadrista por difamação, Frank achou de bom tom evidenciar a força feminina da produção.
Quando um produtor subiu ao palco, no fim da noite, para receber o Emmy de Melhor Série Limitada ou Antologia, ninguém aguentava o homem branco falando de diversidade, além de reduzir a atriz principal, dizendo que “Anya Taylor-Joy trouxe o sexy de volta ao xadrez”. Que sonho seria se Beth Harmon estivesse ali presente, para de uma vez por todas, dar, a mais um de seus adversários machistas, um xeque-mate.
Nos prêmios fora dos gêneros grandes, Last Week Tonight with John Oliver venceu Programa de Entrevistas e Variedades e Roteiro no segmento. O Saturday Night Live ficou, para surpresa de ninguém, com a categoria de Série de Esquetes, enquanto o programa eleitoral de Stephen Colbert triunfou na categoria de Especial de Variedades (Ao Vivo). Na parte de Variedades (Pré-Gravado), não deu outra: Alexander Hamilton!O musical filmado do Disney+ adicionou o Emmy à prateleira que já conta com 11 Tonys, 1 Grammy e 1 Pulitzer.
Em Programa de Competição, RuPaul’s Drag Race venceu. RuPaul, premiado com seu 11º Emmy, se tornou a pessoa negra com mais estatuetas, e agradeceu à juventude, ao lado de Gottmik e Symone, os grandes destaques da décima terceira temporada do reality. A grandiosa Debbie Allen, atriz, diretora, coreógrafa e lenda da Televisão, foi homenageada com o Governors Award, prêmio que honra a excelência em carreiras. Allen se tornou a segunda pessoa negra a receber tal honraria, depois de Tyler Perry no ano passado, e a primeira mulher negra. No discurso, ela foi enfática: o futuro está na juventude.
Chegando, enfim, na parte de Comédia, o Emmy 2021 dividiu seus prêmios principais entre duas fortes produções. Hacks, original do HBO Max, ficou com Roteiro e Direção (marcando a primeira vez em 73 anos que diretoras vencem juntas em Comédia e Drama), além da vitória de Jean Smart como Melhor Atriz. Ovacionada, aplaudida de pé e feliz da vida com o reconhecimento de sua outra “família” (Mare of Easttown), Smart dedicou o Emmy ao marido, falecido meses atrás, no processo de filmagens da produção.
O resto dos troféus do gênero foi para Ted Lasso. Abrindo a noite, Hannah Waddingham e Brett Goldstein não esconderam o sorrisão ao ouvirem seus nomes chamados como os Melhores Coadjuvantes de 2021. O senso de companheirismo reinou na equipe esportiva da Apple TV+, que ainda foi celebrada em Melhor Ator (para o majestoso Jason Sudeikis) e em Melhor Série de Comédia, com direito a abraços e lágrimas, e claro, muito amor pelo AFC Richmond.
Com a promessa da diversidade, que ia da maioria negra em atuação principal de Drama à ascensão dos heróis, o Emmy 2021 jogou seguro. O conservadorismo dos votantes resultou na ausência de vitórias significativas para The Boys, The Mandalorian e WandaVision, expoentes da fantasia que lotaram a lista de indicados, para saírem com quase nada embaixo do braço.
A oportunidade de fazer história com vitórias de Billy Porter, Mj Rodriguez, Michael K. Williams e I May Destroy You não foi páreo para a familiaridade da Coroa britânica ou do olhar masculino que hipnotiza uma partida de xadrez. Que o Emmy melhore, que o Emmy evolua e que o Emmy mostre, na prática, que as minorias que eles insistem em chamar para perder, enfim merecem a vitória. Abaixo, você lê tudo que aconteceu na 73ª edição do Oscar da TV pelas palavras da Editoria do Persona, que mergulha no passado, presente e futuro da televisão, comemorando recordes e lamentando injustiças. Até logo, Emmy 2021.