Nimona ri na cara do perigo, da Disney e de qualquer um que não aceita quem é diferente

Cena de Nimona. Nimona, uma garota jovem branca de cabelo rosa raspado na nuca, com cota de malha e túnica também rosa está no centro da imagem com semblante feliz e braços levantados comemorando. A menina está cercada por animais em que ela pode se transformar, todos na cor rosa também. Da esquerda para a direita há uma baleia, cavalo, rinoceronte, rato, raposa, urso, tubarão, passarinho, lontra, peixe, tatu, gato, gorila, dragão, veado e ema.
Nimona é um rinoceronte, um dragão e, só às vezes, uma menina (Foto: Netflix)

(Alerta de gatilho: O texto a seguir contém discussões sobre tópicos sensíveis  abordados no filme, como homofobia, transfobia e ideações suicidas)

Iris Italo Marquezini

“A todas as garotas monstros” é a sensível dedicatória que abre a graphic novel Nimona, vencedora de um Prêmio Eisner em 2016. Essa frase já de cara recepciona e prepara o leitor para o que vai vir: uma história feita para enaltecer pessoas enérgicas que definitivamente não se encaixam. Ao longo dos anos, cada vez mais pessoas foram descobrindo o quadrinho de ND Stevenson e se apaixonando pelo jeito frenético e violento da metamorfa mais pilantra dos últimos anos. A adaptação, lançada pela Netflix, fez a personagem cair no gosto popular de vez e com absoluta razão: é um filme fantástico e mágico em todos os aspectos.

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Persona Entrevista: Tobias Carvalho

Autor de As Coisas, obra vencedora do Prêmio Sesc de Literatura que debate a sexualidade de homens gays na contemporaneidade, o escritor porto-alegrense surge como guia de uma viagem onírica em Visão Noturna

Arte retangular horizontal de fundo vermelho. No lado esquerdo, foi adicionado o texto "PERSONA ENTREVISTA" na vertical, repetidas vezes. No centro, foi adicionada uma foto em preto e branco do autor Tobias Carvalho. No lado direito, foi adicionada uma imagem da capa de seu livro "Visão Noturna", e acima, foi adicionado seu nome, "tobias carvalho".
“Nós estamos criando Literatura, a gente não quer que a bandeira ou a temática fique na frente do nosso projeto, da nossa obra, do nosso trabalho”, diz Tobias Carvalho (Foto: Applause Produtora e Todavia/Arte: Vitória Vulcano)

Bruno Andrade e Enzo Caramori

Visão Noturna é um daqueles livros que fechamos com certa melancolia. Suspiramos lentamente e refletimos sobre as palavras ali dispostas, as ideias ocultas por trás de cada linha, sem a vontade de ter terminado a leitura – mas talvez ela nunca termine, talvez permaneça em nossas cabeças por dias até ser esquecida e lembrada em um sonho distante. Meses depois do lançamento da obra, Tobias Carvalho vem ao Persona Entrevista contar sobre seu processo de escrita e as questões que cercam suas concepções literárias.

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A comunidade queer invade sua mente em Sense8

Cena da série Sense8. Na imagem, os oito protagonistas da série estão um ao lado do outro se abraçando e com expressões de carinho e felicidade. Todos estão na faixa dos 30 anos. Da esquerda para a direita: Capheus é um homem queniano, negro, é careca e veste uma camiseta cinza de mangas azuis, e está com a cabeça encostada em Nomi. Nomi é uma mulher americana, branca, seu cabelo é loiro na altura abaixo dos ombros e usa um óculos quadrado preto. Acima de Nomi, está Will, que também é americano, branco, está vestindo uma camiseta marrom e tem o cabelo loiro. Ao lado de Nomi está Sun, que é uma mulher coreana, veste uma regata preta de gola alta e com detalhes amarelos, e tem o cabelo preto na altura do queixo. Riley é uma mulher islandesa, veste uma regata que não é possível identificar a cor pois outra pessoa está na frente, e seu cabelo é loiro na altura do pescoço. Abaixo, está Kala, que é uma mulher indiana e está de costas para a foto, podendo ser possível ver apenas seu cabelo preso em um rabo de cavalo e um brinco de várias argolas unidas na orelha. Lito é um homem mexicano, está vestindo uma camiseta de manga curta com estampa militar e seu cabelo é curto e castanho escuro. Por último, Wolfgang é um homem alemão, veste uma camiseta de manga curta cinza e seu cabelo é curto e castanho claro. A iluminação é muito forte e amarelada, eles estão contra a luz. Ao fundo, é possível ver um cemitério vertical, com várias gavetas enfeitadas com guirlandas de flores.
O apoio e compreensão dos amigos nunca foram tão necessários quanto em Sense8 (Foto: Netflix)

Maria Vitória Bertotti 

Compartilhando as mentes uns dos outros e vivendo experiências de maneira onipresente, a série estadunidense Sense8 inova na ficção e nos mostra que o espaço é apenas um detalhe para se viver inteiramente. Lançada em junho de 2015, a produção trouxe a temática LGBTQIA+ para o mundo do streaming, o que chocou parte do público da Netflix. Por essa razão, tantas pessoas se renderam à trama revolucionária dos sensates e suas habilidades de conexão mental.

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Genera+ion trata do amadurecimento na língua da Geração Z

cena da série Generation, com todo o elenco principal da série: Chloe East, Uly Schlesinger, Nathanya Alexander, Haley Sanchez, Lukita Maxwell, Chase Sui Wonders, Justime Smith, e Sydney Mae Diaz. Todos olham na direção do espectador.
Genera+ion retrata um grupo de adolescentes que exploram suas relações e sexualidade enquanto se aproximam dos novos amigos (Foto: HBO Max)

Maju Rosa

Pesquise no Google: como dar à luz?”. É assim que somos apresentados ao caótico episódio piloto da série teen do HBO Max, Genera+ion (escrita dessa forma mesmo). Lançado em março de 2021 (e em junho, no Brasil), é uma aposta para captar o público jovem LGBTQIA+, e levá-lo para a fase que todos passamos em algum momento: os dramas adolescentes sobre dificuldades adolescentes – e que apenas os adolescentes entendem. E apesar de ter conquistado um espectador que se identificou com a história de Chester, interpretado por Justice Smith (também protagonista de Detetive Pikachu e The Get Down), e seus novos amigos, a produção não foi renovada pelo streaming.

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The Owl House escancara o dilema da representatividade LGBTQIA+ na Disney

Cena da série The Owl House. Amity, adolescente de cabelo lilás e curto, beija a boca de Luz, adolescente de cabelo castanho e curto. Luz está com seus olhos abertos e apresenta expressão de surpresa. Amity veste um vestido preto e calça vinho. Luz veste uma jaqueta marrom e bege e uma calça bege e tem uma mochila azul nas costas. Ao fundo vemos uma porta de sacada rodeada por galhos verdes e flores rosas.
The Owl House segue padrões bastante similares a Gravity Falls em sua construção e estética (Foto: Disney)

Marina Llata

The Owl House (A Casa Coruja) é uma série animada criada por Dana Terrace. Lançada em janeiro de 2020, acompanha a trajetória de Luz Noceda (Sarah-Nicole Robles), uma adolescente que tem dificuldade de se encaixar e fazer amigos e, ao encontrar um portal para as Ilhas Escaldadas, localizadas em uma dimensão habitada por bruxas e demônios, escolhe passar um tempo nesse mundo fantástico ao invés de ir ao Acampamento de Realidade no verão. Lá, ela encontra Eda (Wendie Malick), uma bruxa rebelde, e seu amigo King (Alex Hirsch), um demônio muito fofo, sendo acolhida pelos dois e se tornando aprendiz de Eda. 

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Com um olhar aconchegante, Crush é uma revolução espontânea dos jovens queer nas telas do cinema

Jovens abertamente queer, medos e um amor fofo preencheram a narrativa de Crush e o coração do telespectador (Foto: Hulu)

Monique Marquesini

Os romances adolescentes nas telas são como deliciosas histórias confortáveis, com seus clichês e casais. Na comédia romântica Crush, a narrativa é centrada em uma receita antiga: aquela em que a personagem busca atenção de sua suposta alma gêmea, quando, na verdade, seu amor está mais perto do que se imagina. Porém, seu grande diferencial é que somos transportados para as aventuras e amores do Ensino Médio ao lado de uma jovem queer.

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Conectadas não é apenas sobre romance entre jovens da Geração Z

A imagem é a capa do livro Conectadas, o fundo é azul marinho e azul turquesa. Na frente da capa está ilustrada Ayla, uma menina com traços asiáticos, usando um vestido rosa, meia branca e tênis marrom, com cabelo preto e longo. Um pouco mais acima tem uma ilustração de cabeça para baixo de Raíssa, uma menina de pele escura, cabelo cacheado, usando uma camisa verde turquesa, uma calça jeans e um tênis vermelho. Raíssa segura um notebook com a imagem de um menino branco, de cabelo preto e blusa turquesa. Um pouco acima está escrito o nome da obra, Conectadas, e da autora, Clara Alves
Clara Alves contou em entrevista que Conectadas foi o livro que ela escreveu mais rápido, em cerca de dois meses (Foto: Editora Seguinte)

Ana Nóbrega

Clichê de reparação. Clara Alves dispõe em seu livro Conectadas, publicado em 2019 pela Editora Seguinte, tudo que qualquer menina queer sonhou enquanto assistia à comédias românticas adolescentes em sua infância. Jogos, romance, juventude, cultura pop e a realidade de muitas garotas são alguns dos pontos abordados por Clara em sua obra, feita  para garotas jovens que ainda estão se descobrindo em um mundo tão violento, e também para mulheres adultas que foram roubadas de seus clichês juvenis. 

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Um brinde às batalhas internas e memórias da juventude em 15 anos de Skins UK

Fotografia da série Skins. A foto mostra quatro personagens principais da primeira temporada, da cintura para cima. Eles estão sentados, próximos da câmera, e todos são jovens. Da esquerda para a direita: Chris é interpretado por Joe Dempsie, um homem branco, de cabelos castanhos-claros, lisos e médios. Ele está sorrindo, usa uma camiseta cinza sobre uma blusa branca de mangas compridas e segura um jarro de vidro, que contém um líquido laranja, em uma das mãos. Ao seu lado está Sid, interpretado por Mike Bailey, um jovem branco. Ele tem cabelos lisos e escuros, que vão até a altura dos ombros. Usa um gorro preto sobre a cabeça e óculos retangulares. Ele tem um rosto fino, um nariz pontudo e usa uma camiseta azul. Ao seu lado está Maxxie, interpretado por Mitch Hewer. Mitch é um homem branco, de pele bronzeada, olhos azuis, rosto fino e cabelos loiros e lisos, com uma franja que cai sobre os olhos. Ele usa um moletom branco com listras. Por último, está Tony, interpretado por Nicholas Hoult. Ele é um homem branco, de olhos azuis, rosto fino e cabelos castanhos. Ele usa uma blusa preta de frio, com as mangas arregaçadas.
Oh baby, baby, it’s a wild world (Oh baby, baby, é um mundo selvagem) (Foto: E4)

Mariana Nicastro

A juventude é a fase da intensidade. De dramas, sensações, desejos e sonhos. Nela, as amizades são eternas, os amores são infinitos num dia, efêmeros no outro, e os problemas são o fim do mundo. É a fase da rebeldia e das descobertas. Há 15 anos, Skins (UK), ou Juventude à Flor da Pele, explorou tudo isso de forma intimista, sob perspectivas de distintos jovens ingleses que tinham uma coisa em comum: a consciência de que crescer não é fácil, mas que amizades, família e empatia tornam o processo menos cruel.

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As Mulheres do Grammy 2022

Onde estamos depois de tantas mudanças para contemplar as mulheres no lugar de reconhecimento mais importante da Música mundial? Uma seleção de 12 nomes para entender o passado, o presente e o futuro das mulheres no Grammy

Arte retangular. O fundo é lilás. No lado esquerdo, existe uma foto de Nathy Peluso. Ela é uma jovem branca, de cabelos castanhos presos, e usa uma franjinha sobre a testa. Nathy veste uma blusinha branca de alças e uma jaqueta preta por cima. Do lado esquerdo dela, existe uma foto de Olivia Rodrigo. Ela é uma jovem de cabelos castanhos longos e usa um vestido lilás. Ao lado dela, existe uma foto de H.E.R.. Ela é uma jove negra, de cabelos longos ondulados e pretos, e usa um vestido cor de vinho e óculos transparentes roxos. Por fim, no lado direito da imagem, existe uma foto de Arooj Aftab. Ela é uma mulher paquistanesa, de cabelos escuros curtos, e está usando uma jaqueta prateada.
O Persona preparou uma seleção de 12 artistas que se destacaram nas indicações do Grammy 2022, que se revela com uma temporada complexa para o avanço das mulheres na Música (Foto: Reprodução/Arte: Jho Brunhara/Texto de abertura: Raquel Dutra)

Se a edição de 2022 da premiação mais importante da Música mundial apresenta um cenário interessante para as mulheres, é como o resultado árduo de uma longa caminhada. Em 2019, o Grammy inaugurou um marco para as artistas reconhecidas pela Academia de Gravação sediada na Califórnia: vindo de um controverso 2018, onde era possível contar nos dedos de uma mão as artistas consideradas para as 4 categorias principais da premiação, assim como as dos gêneros de mais destaque, como rap, rock, R&B e country, a premiação se envergonhou de seu conservadorismo e atraso em se adaptar ao novo ambiente musical. Para trabalhar a situação, a premiação mudou sua forma de reconhecer “o melhor da Música”, ampliando o número de indicados em suas categorias centrais (o chamado ‘Big 4’: Álbum do Ano, Gravação do Ano, Canção do Ano e Artista Revelação) e instaurando comitês específicos para acompanhar as nomeações nichadas.

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Freaks ensina: quem vê cara, não vê coração

Cena em branco e preto do filme freaks apresenta um grupo de dez artistas de circo. Com exceção da mulher branca e loira, que usa um longo vestido branco e apresenta um olhar sério, todos os outros apresentam expressões de descontração.
Ao longo de pouco mais de uma hora de filme, Freaks provoca angústia, revolta e empatia (Foto: Metro-Goldwyn-Mayer)

Gabriel Gatti

A padronização da beleza é um fenômeno muito comum e normalizado na sociedade. Ao longo das décadas, o rótulo daquilo que é bonito ou feio vai se alterando, mas sempre continua vigente para julgar quem vai aparecer diante das telas. Se esse cenário já é tão presente nos dias de hoje, imagine ir ao cinema há 90 anos e, ao invés de ver pessoas como o rosto entupido de pó de arroz, se deparar com um grupo de artistas com deficiência. Esse é justamente o caso de Freaks, um clássico de Tod Browning, que estreou em 1932 com muita polêmica.

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