Cineclube Persona – Maio/2019

Os diretores de Bacurau, Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, posam ao lado do Prêmio do Júri. O terceiro longa de Kléber estreia nos cinemas brasileiros em 29 de agosto. (Foto: Reprodução)

Mesmo com cortes na cultura, educação, nossa agência do audiovisual parada, o Brasil saiu vitorioso no mês passado. Bom, ao menos lá fora. O festival mais importante do cinema, a 79ª edição de Cannes, homenageou Agnés Varda na capa e ocorreu entre os dias 14 e 25 e premiou e muito o cinema nacional.

Todo mundo esperava por um protesto (e até teve!) à altura do de 2016, quando o elenco de Aquarius levantou cartazes denunciando a situação de impeachment que acontecia no Brasil, com a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Esse ano, Kléber já anunciava: Bacurau é o protesto e fala sobre o Brasil. Surpreendeu e agradou, levando o prêmio do Júri e dividindo a honraria com o francês “Les Miserables”. Fazendo companhia, A Vida Invísivel de Eurídice Gusmão, de Karim Aïnouz levou venceu a Mostra Um Certo Olhar, paralela à oficial, com filmes mais experimentais.

Nos bastidores, a RT Features, importante produtora brasileira, lançou 3 títulos, entre eles o já mencionado de Aïnouz, o psicóligoco thriller estrelado por Robert Pattison e Willem Dafoe, The Lighthouse e Port Authority, drama queer da nova iorquina Danielle Lessovitz.

Enquanto o caos aqui ainda reina, podemos afirmar: nosso cinema ainda vive! Sem mais delongas, seguimos com nossa tradicional seleção de destaques do mês na sétima arte, dessa vez com adição de duas séries de TV que se despediram em maio, confiram!

Ana Laura Ferreira, Egberto Santana Nunes, Gabriel Soldeira, Jho Brunhara, Vitor Evangelista

 

Pokémon: Detetive Pikachu (2019, Rob Letterman)

(Foto: Reprodução)

A primeira investida live-action da saga Pokémon chegou aos cinemas carregada de fofura e uma dose de nostalgia. Com Ryan Reynolds como voz do icônico Pikachu e Justice Smith como seu parceiro por acidente, Tim Goodman, o longa aposta em um roteiro menor e enxuto.

Ao investigar a morte de seu pai, Tim encontra Pikachu no apartamento que morava na infância, e descobre que os dois trabalhavam juntos como parceiros em investigações criminais. A partir daí o filme se desenrola sobre plot twists de vilões e um humor comentado a la Deadpool – censurado, é claro.

Detetive Pikachu diverte, mas se explica demais. Claro que é um filme direcionado para crianças, mas em alguns momentos a classificação indicativa cai para cinco anos. Tudo tem que ser repassado, todas as informações são relembradas a todo momento e o potencial de fazer um live-action que agrade tanto os fãs mais novos e os mais antigos se perde.

Apesar de todas as frustrações, vale o entretenimento. Alguns Pokémon são fofos, e o mundo fantástico criado no longa que une humanos aos parentes do Pikachu resgata o sonho de todas as crianças. Mas vá sabendo que algumas cenas poderiam estar também em Dora, A Aventureira.  – Jho Brunhara

 

Godzilla II: Rei dos Monstros (2019, Michael Dougherty)

Sequência do filme de 2014, Godzilla 2 falha em mesclar os enfadonhos dramas humanos com o UFC de monstros (Foto: Reprodução)

Godzilla é um ícone pop incontestável. Criado para metaforizar ataques nucleares e a radiação do Oriente, Gojira ganha seu segundo filme do universo compartilhado dos Kaijus (os Grandes Titãs, monstrões).

Com um extenso e mal aproveitado elenco, o filme não se sustenta em ponta alguma. Enquanto o núcleo humano é antipático e cheio de firulas de roteiro, Rei dos Monstros faz pouquíssimo uso do que poderia ser sua salvação: a treta de Titãs.

As lutas são bem fotografadas e iluminadas, mas não compensam a investida de duas horas. Vera Farmiga e Sally Hawkins não têm quase nenhum material para trabalhar; Charles Dance é raso como uma piscina infantil e Milly Bobby Brown ainda não desabrochou. Pode esperar tranquilo o torrent. – Vitor Evangelista

 

A Gente Se Vê Ontem (2019, Stefon Bristol)

(Foto: Reprodução)

É bem triste que o único longa de viagem no tempo protagonizado por pessoas negras tenha como principal acontecimento e causa a salvação de um dos personagens de ser morto pela polícia. É gritar por mais escritores e diretores negros produzindo. Mas, ao mesmo tempo, é bom ter essa ideia, esperta e genial, trazida para as telinhas.

Na produção original da Netflix produzida por Spikee Lee, C.J. Walker (Eden Duncan-Smith) e Sebastian Thomas (Dante Crichlow) são dois amigos prodígios que estão montando uma pequena máquina do tempo para a feira de ciência, quando na volta de uma festa, o irmão de CJ, Calvin Walker (Astro) é confundindo com um ladrão e morto por um oficial. A partir daí, eles enxergam como uma oportunidade de testar o empreendimento e mudar o passado.

O que se segue são sequências de viagens, entre falhas e aprendizado. A dinâmica entre os amigos é bem desenvolvida, porém nas poucas horas do longa, as viagens cansam e se esgotam, terminando em um final nada memorável e incerto. No entanto, esses defeitos não sobressaem o objetivo principal da obra: discutir os efeitos que a violência policial tem na população negra jovem.

A curta duração também age de bom feito, sendo assim, atinge todos os públicos e acaba sendo uma boa pedida para quem se perde no catálogo de mesmice da Netflix. Uma boa direção, que não explora além do suficiente e entrega a mensagem da maneira correta. – Egberto Santana Nunes

 

Cemitério Maldito (2019, Kevin Kölsch, Dennis Widmyer)

(Foto: Reprodução)

Depois de 30 anos mais uma adaptação de “O Cemitério” de Stephen King foi lançada. O livro é ótimo e muito sombrio, faz incríveis leituras sobre luto e como lidar com a finitude da vida. A adaptação de 1989 é um tanto limitada, talvez devido a algumas atuações ruins ou à falta de sensibilidade do roteiro e direção que causa falta de empatia com aquela família e não um real senso de perigo quanto a ameaça do filme, porém não é de toda ruim, tendo sido elevada a um clássico pelos cults de plantão. Mas o que os diretores Kevin Kolsch e Dennis Widmyer conseguiriam trazer de novo para essa história. (?)

Bem, o filme tem momentos bem tensos e um senso de urgência nos instantes críticos. Mesmo anunciando o que vai acontecer ele ainda o faz de uma forma que incomoda quando o fato realmente acontece na sua frente. E faz uma mudança muito acertada quanto ao antagonismo, que no livro funciona muito, mas no filme de 89 é complicado. A mudança da personificação do mal e de como ela afeta e ataca os personagens fez a história cair muito melhor numa tela de cinema.

As atuações são eficazes, você sente muito mais peso nas ações dos personagens e se importa muito mais com o que acontece a eles (destaque para Jeté Laurence e John Lithgow). Por mais que o arco da mãe não tenha ficado bem resolvido é muito útil ao terror. Os diretores usam cenas meio jogadas com alucinações no meio do segundo ato que mesmo assim te fazem se segurar na cadeira. E por mais que tenha problemas, o arco é bem utilizado pelo antagonismo no terceiro ato. É importante destacar que as crianças mascaradas que foram muito usadas nas publicidades do filme são totalmente sem propósito e na história servem apenas como um artifício barato e injustificado.

É uma adaptação muito mais fiel ao clima do livro que necessariamente tudo o que acontece nele, tendo mudanças significativas no enredo, o que é compreensível quando se trata de adaptações para o cinema. Porém, talvez não tenha trabalhado ao máximo o material fonte como Stanley Kubrick fez com “O Iluminado” de 1980, que mesmo com muitas mudanças (tendo conseguido até o ódio de Stephen) o verdadeiro terror do livro foi totalmente exposto nas telas.

Cemitério Maldito é um mergulho um pouco mais intenso na obra original de Stephen King, mas mesmo tendo pontos positivos quanto a atmosfera e atuação, é mais um filme de terror esquecível e mediano na lista imensa de adaptações do autor. Dá pra passar o tempo, mas não traz nem de longe o pessimismo e o peso dramático do livro que King quase não publicou. – Gabriel Soldeira

 

Nosso Último Verão (2019, William Bindley)

(Foto: Reprodução)

Mais uma vez, a Netflix aposta em um filme adolescente que poderia facilmente estar na Sessão da Tarde. Simples, Nosso Último Verão tenta seguir os passos de A Barraca do Beijo e Para Todos os Garotos que Já Amei, mas dessa vez o plano não foi tão bem executado. O roteiro fraco, que tenta acompanha várias histórias simultaneamente, se perde ao nunca se aprofundar em alguma.

O excesso de personagens, que não ganham o devido tempo de tela, faz com que o filme se torne superficial e um pouco entediante por consequência. Com grandes estrelas teen do momento como KJ Appa de Riverdale, Tyler Posey de Teen Wolf e Maia Mitchell de The Fosters no elenco, o longa desperdiça todo o potencial dos atores. Outro grande problema aqui é o desenrolar da trama, que parece se dar apenas por obra do acaso, sem nenhuma consequência para as ações dos personagens.

Sem muitos pontos positivos para serem destacados, Nosso Último Verão cumpre sua proposta de apresentar diversas histórias de verão, mas, assim como aconteceu com Sierra Burgess é uma Loser, tem tudo para ser rapidamente esquecido. – Ana Laura Ferreira

 

Meu Eterno Talvez (2019, Nahnatchka Khan)

(Foto: Reprodução)

Essa é mais uma comédia romântica que entra para o catálogo da Netflix. Porém, diferente das que já estamos acostumadas, Meu Eterno Talvez traz novos elementos que complementam o clichê do filme. Com uma trama coesa, que se desenvolve rápido mas sem atropelos e com personagens carismáticos, o filme é uma das melhores produções originais do mês.

O elenco, quase que inteiramente composto por atores asiáticos, e o humor do filme lembram o sucesso Podres de Ricos (2018). Mas, neste caso, o grande destaque cômico fica por conta de Keanu Reeves, que interpreta ele mesmo no filme, ou pelo menos uma versão excêntrica de si mesmo. Mostrando que o John Wick também tem talento para a comédia, ele é responsável pelos momentos mais engraçados.

O roteiro simples ajuda o longa que consegue desenvolver bem os personagens e suas relações em pouco tempo. Sem excessos ou desperdícios, Meu Eterno Talvez peca um pouco nas incríveis coincidências que desencadeiam os acontecimentos do filme, mas ainda assim ele cumpre bem o que promete sem nunca perder seu característico humor sarcástico. – Ana Laura Ferreira

 

Veep – 7ª Temporada (2012 – 2019, Armando Ianucci)

A comédia mais relevante e enraçada da década acabou! (Foto: Reprodução)

Faltam palavras para descrever a genialidade pessimista de Veep, mas vamos lá. Após um hiatus maior (por conta do câncer da protagonista), a comédia chefe da HBO se despediu em um ano menor mas vigoroso e irreverente como sempre.

Enquanto Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus) luta para recuperar o cargo maior do EUA, sua trupe lida com todos os pepinos e abóboras que a ex-Veep coloca em seu caminho. Todo o elenco brilha. Não há sequer um ator ali no meio que não esteja no auge das personagens.

O Emmy, sem dúvida, voltará para as mãos da recordista Dreyfus e de Armando Ianucci, o criador do seriado. Não me surpreenderia se a brilhante Anna Chlumski também saísse premiada por sua hilária Amy Brookheimer. As piadas continuam ácidas e depreciativas, rápidas e cheias de camadas. Ninguém sai ileso.

Até mais, Veep. E obrigado por tudo. – Vitor Evangelista

 

The Big Bang Theory – 12ª Temporada (2007 – 2019, Chuck Lorre e Bill Prady)

O sofá ficou pequeno ao longo desses doze anos (Foto: Reprodução)

Maio foi mês de chororô e despedidas. Game of Thrones se foi, Gotham e Veep também. E também chegou a hora da sitcom mais assistida da TV americana, The Big Bang Theory.

Uma das comédias mais longas da TV, a história dos cientistas da Califórnia cresceu pra se tornar uma celebração da cultura nerd. Sempre referenciando o que reverberava aqui no mundo real, Leonard (Johnny Galecki), Sheldon (Jim Parsons), Penny (Kaley Cuoco) e companhia alongaram sua estadia na rede CBS, visto que a ideia inicial eram apenas dez temporadas.

O décimo segundo ano não foi bom. Cheio de tramas paralelas e que atrasavam o passo narrativo dos amigos e suas esposas, Big Bang parecia acanhado e acovardado de entregar o que os fãs esperaram por tantos anos. O plot do Prêmio Nobel de Sheldon e Amy (Mayim Bialik) era cada vez mais escanteado ou repuxado para dar lugar a releituras de conflitos passados, como a relação Howard (Simon Helberg) e Raj (Kunal Nayyar) ou a amizade de Penny, Amy e Bernadette (Melissa Rauch).

Mas o final compensa, ou pelo menos adoça. A series finale abraça aqueles que persistiram e assistiram aos duzentos e setenta e nove capítulos entoando a clássica abertura na cabeça. Foi uma baita jornada. – Vitor Evangelista

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