Todos somos Criaturas do Senhor

Criaturas do Senhor estreou no Festival de Cannes em 2022 e chegou nos cinemas brasileiros em abril, seis meses após o lançamento global (Foto: A24)

Vitória Gomez

A Irlanda tem sido palco de produções interessantes e diversas. Longe dos conflitos amistosos e de uma bela ambientação folclórica, ou até da sensibilidade tocante de uma tal menina silenciosa, a ilha também abriga as Criaturas do Senhor e seus lados sombrios e humanos. Na obra, produzida pela oscarizada A24, a decisão de uma mãe entre proteger seu filho ou deixá-lo aceitar as consequências de suas próprias ações norteiam um dilema sem volta, capaz de alterar a trajetória da cidade inteira e de um patriarcado atemporal.

Estrelado pelos indicados ao Oscar Emily Watson e Paul Mescal, o filme demora a mostrar a que veio. Brian (Mescal) retorna ao lar, uma ilha não nomeada da Irlanda, depois de anos morando na Austrália. Sua partida é um mistério e seu retorno, mais ainda. Mesmo assim, o homem, na casa dos seus vinte e tantos anos, é bem recebido pela irmã Erin (Toni O’Rourke) e principalmente pela mãe, Aileen (Watson). O menino de ouro da mulher, porém, não é bem como ela o vê e, ao longo dos 100 minutos, se revela.

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Cuidado: Aftersun causa enjoo emocional

Cena do filme Aftersun, mostra pai e filha dançando abraçados. Ao fundo, vemos pessoas desfocadas.
Irlandesa radicada em Nova Iorque, Charlotte Wells impressionou Cannes e Toronto antes de trazer Aftersun para vencer a Competição Novos Diretores da 46ª Mostra de SP (Foto: MUBI)

Vitor Evangelista

Trabalhar o conceito da memória na Arte é uma artimanha e tanto. Para evocar o sentimento que viveu há cerca de duas décadas, é atrás das lembranças que vai a cineasta Charlotte Wells na confecção de Aftersun. A trama reflete um episódio experienciado pela irlandesa no fim dos anos noventa: uma viagem de férias à Turquia ao lado do pai, e seu apreço pela imagem como instrumento de ternura e captura do tempo.

A pequena Sophie (Frankie Corio) é a bússola do longa de estreia de Wells, parte da Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e eleito o Melhor Filme pelo Júri com o Troféu Bandeira Paulista. Ao lado do pai Calum (Paul Mescal), ela comemora o aniversário de 11 anos entre o quarto de hotel, a piscina, o oceano e as muitas caminhadas pelo ensolarado país euro-asiático, gravando as aventuras por meio de uma filmadora miniDV.

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Para Sally Rooney, o mundo é repleto de Pessoas normais

Arte com fundo roxo. No canto superior esquerdo, vemos o olho do Persona com a íris da mesma cor do fundo. Ao centro, vemos a capa do livro Pessoas normais, e uma borda laranja do lado direito da capa, formando uma sombra. No canto inferior direito vemos escrito Clube do Livro Persona
O Clube do Livro do Persona começou 2022 acompanhado por Pessoas normais, romance escrito por Sally Rooney e traduzido por Débora Landsberg (Foto: Companhia das Letras/Arte: Ana Júlia Trevisan)

Vitor Evangelista

Na escola, no interior da Irlanda, Connell e Marianne fingem não se conhecer. Orbitando em mundos diferentes, os estudantes do Ensino Médio acabam se esbarrando quando ele busca a mãe, que trabalha como faxineira na casa da garota. As rápidas trocas de olhares acabam se transformando em pequenas conversas sobre os livros e os gostos pessoais um do outro. O problema é que, em público, Connell invisibiliza Marianne, por vergonha, por culpa, por egoísmo. Mas está tudo bem, afinal, eles não passam de pessoas normais.

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