A partir do afrofuturismo, Dirty Computer mantém seu impacto político intacto mesmo após 5 anos

Capa do álbum Dirty Computer. Nela está a cantora Janelle Monáe, uma mulher negra de cabelos curtos que veste uma burca feita de joias brilhantes interligadas por correntes. Apenas seus olhos não estão cobertos. A burca é de metal e vazada. Sua pele é iluminada por uma forte luz vermelha enquanto ao fundo está um círculo que se assemelha a um planeta com árvores ao redor de sua cabeça. Este é preenchido por um degradê que vai do vermelho ao amarelo. Ao fundo, tons de azul que se assemelham a nuvens e à esquerda o texto Janelle Monáe - Dirty Computer.
Dirty Computer foi anunciado com um trailer, exibido nas sessões do filme Pantera Negra (Foto: Bad Boy Records)

Henrique Marinhos

Baseado em uma história distópica que transforma aqueles que não se conformam em computadores sujos, Dirty Computer é o terceiro álbum de estúdio da cantora, compositora e atriz Janelle Monáe. Lançado em 2018, a obra-prima não se destaca apenas por sua sonoridade, mas também por sua narrativa visual e conceitual, unidas em um audiovisual de 48 minutos emocionante.

Desde o lançamento de seu primeiro álbum, The ArchAndroid, em 2010, Monáe tem sido aclamada pela crítica e pelos fãs por sua originalidade e inovação na Música. Ela mistura elementos de R&B, soul, funk e rock, além de ser conhecida por suas performances energéticas e hipnotizantes, que cativam a audiência em seus shows ao vivo. Hoje, ela pode comemorar a realização de um manifesto impactante que comemora cinco anos de existência.

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Argentina, 1985 é um grito de basta às mazelas da ditadura

Cena do filme Argentina, 1985, em que Ocampo (à esquerda) e Strassera (à direita) se reúnem em uma lanchonete para discutir sobre as estratégias de acusação que serão utilizadas no julgamento . Na imagem podemos ver as feições de Moreno Ocampo e Júlio Strassera sentados (um de frente para o outro), lado a lado, enquanto pedem dois lanches em uma bancada de restaurante. Ocampo é um jovem branco (aparentemente com os seus 30 anos de idade), ruivo, cabelo e barba encaracolados. Strassera é um senhor no auge de seus 65 anos, branco, cabelo liso preto, possui bigode denso e usa óculos garrafais. Strassera está com um cigarro aceso em mãos fazendo gestos para chamar a atenção de seu colega promotor, Moreno Ocampo. O jovem está com o olhar fixo prestando atenção nas palavras de Júlio.
Mais do que um filme, Argentina, 1985 é uma aula de dever à cidadania e exemplo de compromisso público com a democracia (Foto: Prime Video)

Gabriel Gomes Santana

Eu não sou advogado de ninguém, meu papel como promotor de justiça é acusar”. Assim se impôs Julio Strassera, responsável por um dos julgamentos mais importantes para a democracia ocidental e protagonista de Argentina, 1985. Baseado em fatos reais, o longa dirigido por Santiago Mitre traz à tona o processo que condenou os crimes contra os direitos humanos cometidos pelos ex-comandantes da ditadura no País. Disponível na plataforma de streaming da Amazon Prime, a obra expõe a coragem e persistência de agentes públicos que se comprometeram a enfrentar um sistema repressivo e assassino.

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O movimento de Olga é cravado: o pessoal é político

Cena do filme Olga.
Antes de chegar à 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o drama venceu o Prêmio SACD na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2021 e foi escolhido para representar a Suíça no Oscar 2022 (Foto: Pulsar)

Raquel Dutra

Em novembro de 2013, a população civil da Ucrânia entrou em conflito direto com o governo de Víktor Yanukóvytch. Numa onda de protestos liderados por jornalistas e estudantes que se estendeu até fevereiro de 2014, o povo denunciava a corrupção, o abuso de poder e a violação dos direitos humanos cometidos pelo governo. O estopim, de maneira geral, foi a frustração de um pedido popular por maior integração com União Europeia, que aconteceu quando o bloco se recusou a firmar acordos com o país aliado da Rússia enquanto ele não resolvesse a sua “deterioração flagrante da democracia e do Estado de Direito”. No meio do movimento que ficou conhecido como Euromaidan – ou, mais significativamente, Revolução da Dignidade – está o drama de amadurecimento de Olga e a sua participação na Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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As faces do Cinema do Golpe, o lado oculto da primeira presidenta do Brasil e a Alvorada de Dilma Rousseff

Cena do filme Alvorada. A imagem é retangular e mostra o lado esquerdo do rosto de Dilma Rousseff. Ela é uma mulher branca, de olhos castanhos e cabelos também castanhos curtos. Dilma usa maquiagem preta no contorno dos olhos e um batom rosa cor de boca. Dilma está olhando para fora da imagem, para o lado esquerdo, com o rosto inclinado. Na diagonal direita, da metade da foto em diante, existe uma sombra escura.
Alvorada, o novo filme de Anna Muylaert e Lô Politi, registra o processo de impeachment de Dilma Rousseff de dentro do palácio presidencial (Foto: Vitrine Filmes)

Raquel Dutra

A história da política brasileira é cinematográfica por si só. Quem dera tudo o que assistimos acontecer através dos telejornais diários fossem apenas loucuras roteirizadas por mentes ardilosamente férteis, e não tema de análises profundas e urgentes de diversas produções de não-ficção. Dentre todos os eventos surreais e reviravoltas cabulosas que acontecem na capital do país e em seus centros políticos derivados, algo em específico perturba os corajosos que se dispõem a interpretar essa realidade maluca definitivamente deflagrada em 2016. Afinal, mesmo na terra conhecida por seus mandatos presidenciais inacabados, o angu da queda de Dilma Rousseff ainda tem alguns caroços. 

Aos olhos da produção documental brasileira, a análise do processo que tirou a primeira mulher eleita à presidência do Brasil de seu exercício não é resultado de obras isoladas, mas sim o centro de todo um movimento. É o chamado Cinema do Golpe, construído nos últimos anos através de uma série de produções que se propõem a abordar a queda de Dilma Rousseff e toda a crise social e política que a acompanha. Cinco anos e alguns filmes depois, a decadência do nosso ambiente democrático permanece deixando o melhor roteirista de House of Cards boquiaberto e mostrando que ainda existe o que se discutir sobre o início do declínio, desde seus ocasos, até a sua Alvorada. 

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Decadente, alarmante e polarizada: a Democracia em Vertigem de Petra Costa

O longa foi apontado pelo The New York Times como um dos melhores filmes do ano, e é o queridinho latino-americano para o Oscar 2020 (Foto: Netflix)

Raquel Dutra 

Polêmico e contundente, o documentário Democracia em Vertigem chegou à sua terra natal pela Netflix no dia 19 de junho, depois de seu aclamado lançamento no Festival de Cinema Sundance de 2019. Mergulhado nas memórias pessoais e no passado político de sua diretora e roteirista, o filme relembra os contextos sociais e políticos em que a figura de Luís Inácio Lula da Silva emergiu, passando pelas eleições ganhas por sua sucessora, Dilma Rousseff, e seu controverso processo de impeachment. O documentário também trata da presidência de Michel Temer, construindo um fio narrativo que busca entender a crise política do país, agravada pelos movimentos de 2013.

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