Sob o olhar ingênuo de uma criança, Luca é uma aventura na diversidade

Três crianças montadas em uma Vespa verde-água. A primeira é Alberto, garoto de pele parda, cabelo enrolado com um topete, olhos verdes dentes amostras em um sorriso destemido, camisa regata amarela. Atrás está Luca, garoto de pele branca, cabelos ondulados castanho escuro, olhos castanhos claros, expressão feliz, com a cabeça levemente inclinada para trás, camisa social branca com a manga dobrada, e segurando em Alberto. E atrás de Luca está Giulia, garota branca, de cabelos ondulados na altura dos ombros ruivos, com uma touca azul, olhos castanhos, expressão de animação, com uma blusa listrada de laranja e branca, e com as mão levantadas. No fundo, uma ladeira de pedra e a cidade de Portoroso.
O diretor do filme participou de Viva: A Vida é uma Festa (2017) e do subestimado Robôs (2005), no departamento de arte [Foto: Pixar Animation Studios]
Pedro Gabriel

A Pixar é muito conhecida por suas obras carregadas de mensagens profundas, e por sua tentativa de explicação de conceitos complexos para crianças. Durante os 35 anos de existência da empresa, eles trataram sobre depressão em Divertida Mente (2015), amadurecimento nos quatro filmes de Toy Story, o luto em Dois Irmãos (2020) e até o sentido da vida em Soul (2020). Parecia que a aventura era um bônus na história. Mas, eis que surge Luca, em junho de 2021, e os papéis se invertem. A mensagem está lá, mas não é o foco principal.

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Verão de 85: ele só quer, só pensa em namorar

Cena do filme Verão de 85. Nela, dois adolescentes brancos andam em um parque de diversões à noite, eles se olham e sorriem um para o outro.
Além de ter sido parte da Seleção Oficial de Cannes 2020, o penúltimo filme do Festival do Rio 2021 concorreu a 12 prêmios César, o Oscar francês (Foto: FOZ)

Vitor Evangelista

Os anos da adolescência são responsáveis pelo florescer dos mais ardentes sentimentos, para o bem e para o mal. Numa França utópica dos anos oitenta, Alexis (papel do travesso Félix Lefebvre) conhece David (Benjamin Voisin), e o resto é história. História essa contada no danado Verão de 85, filme dirigido por François Ozon e presente na reta final do Festival do Rio 2021.

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Quem pode ser uma Candidata Perfeita?

Foto do filme A Candidata Perfeita. Nela está Mila Al Zahrani, atriz marrom usando hijab prert. A mulher está olhando para a esquerda cm uma expressão preocupada. Na sua mão está uma chave e uma parte da porta de um carro. O fundo é um céu azul.
A Candidata Perfeita presenteia o 13° dia do Festival do Rio com sua honestidade (Foto: Razor Film)

Mariana Chagas

O que faz de alguém uma candidata perfeita? A pergunta não é feita em nenhum momento durante os 101 minutos do longa, mas mesmo assim é respondida. Na reta final do Festival do Rio de 2021, o filme dirigido por Haifaa Al-Mansour não precisa de muitas reviravoltas ou ação para discutir política e feminismo no contexto conversador em que se passa. 

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Ainda Há Tempo: não precisamos perdoar pais monstruosos

Cena do filme Ainda Há Tempo. Podemos ver o pai Willis, idoso, e seu filho, John, adulto, sentados na sala brigando. Willis está com a mão próxima da cara de John e gritando. Ambos são homens brancos de cabelos claros. A sala possui arquitetura rural dos Estados Unidos dos anos 80.
Ainda Há Tempo é o filme em cartaz no décimo segundo dia do Festival do Rio 2021 (Foto: Perceval Pictures)

Jho Brunhara

Viggo Mortensen já é um rostinho conhecido em Hollywood. O ator estadunidense encarnou Ben em Capitão Fantástico, e Tony Lipp no terrível Green Book. Em Ainda Há Tempo, a primeira investida de Mortensen atrás das câmeras, somos apresentados para um filme não só dirigido por ele, mas também escrito, produzido, atuado e embalado por uma trilha sonora composta pelo mesmo. O longa chega de forma muito tardia ao Brasil por motivos pandêmicos (sua primeira exibição foi em janeiro de 2020), através do Festival do Rio 2021, e a qualidade da produção, infelizmente, não é suficiente para compensar a demora.  

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20 anos atrás, A Viagem de Chihiro ensinava através do silêncio

Cena do filme de animação “A Viagem de Chihiro”. À frente, vemos Chihiro, uma garota asiática, pele branca, bochechas rosadas e cabelo castanho preso em um rabo de cavalo. Ela usa uma camisa branca e verde, um short vermelho e tênis amarelos. Ela está sorrindo eufórica, correndo em cima de uma ponte de madeira, enquanto uma multidão acalorada atrás dela se despede e comemora. Todos estão em um grande prédio de arquitetura japonesa, pintado de vermelho e branco, com os tetos esverdeados. A cena se passa de dia.
Chihiro atesta: ainda vale a pena ser criança (Foto: Studio Ghibli)

Enrico Souto

Entre as jornadas monumentais, épicas e maiores que a vida de Princesa Mononoke e O Castelo Animado, e as histórias mais comedidas, intimistas e descaradamente infantis de Meu Vizinho Totoro e O Serviço de Entregas da Kiki, A Viagem de Chihiro é a amálgama perfeita dessas duas facetas de Hayao Miyazaki. Não que Mononoke não tenha retratos de serenidade e um forte prisma emocional, nem que Kiki não disponha de cenas grandiosas e homéricas – o diretor costuma trabalhar em uma zona cinzenta que uma categorização meramente dualista não seria capaz de cobrir –, porém, olhando para trás 20 anos depois, é indiscutível que, nesse título, essas potências, provenientes do gênero de realismo mágico, encontram seu equilíbrio definitivo, a partir de uma narrativa sensível e tocante sobre os infortúnios de crescer e se tornar adulto, rompendo barreiras culturais e de linguagem como nenhuma outra mídia fez antes.

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DNA e todas as outras coisas que compõem uma identidade

Cena do filme DNA. A imagem é retangular a mostra duas mulheres, dos ombros para cima. É de dia e elas estão numa estação de trem, que aparece no fundo desfocado. As mulheres se olham, uma de frente para a outra e de lado para a imagem, segurando os rostos uma da outra. Ambas vestem camisas jeans e têm os cabelos castanhos levemente ondulados. Elas sorriem.
Singelo e significativo, DNA é um dos destaques do Festival do Rio 2021 (UniFrance)

Raquel Dutra

O décimo primeiro dia do Festival do Rio 2021 ficou por conta da direção e protagonismo da cineasta francesa Maïwenn e seu DNA. Vindo da Seleção Oficial do Festival de Cannes 2020, o filme contempla aspectos da vida de sua criadora no centro de uma família que carrega a ascendência argelina de um amado avô, exilado no colonizador europeu e inflamado de saudade da sua terra natal. Pelo toque diretora, o drama se desenrola com vislumbres políticos e risos sagazes, indo em direção à uma obra rica em camadas que pulsa um desejo de compreensão de origem, herança, laços e identidade.

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Em um Bairro de Nova York sonha alto demais

Cena do filme Em um Bairro de Nova York. Anthony Ramos e Melissa Barrera estão no centro da imagem, de mãos dadas e olhando um para o outro. Ambos são latinos de pele clara com cabelos escuros. Ao fundo, muitas pessoas exibem expressões de animação.
Temos uma bandeirinha brasileira no filme! (Foto: Warner Bros)

Caroline Campos

Não tem como negar que Lin-Manuel Miranda é um fenômeno. Desde que surgiu no mundo da Broadway nos anos 2000, o artista multifacetado de origem porto-riquenha já acumula um Pulitzer, três Grammys, um Emmy, três Tonys e não demorou muito para cair nas graças de Hollywood. Depois de Moana, Mary Poppins, a gravação de Hamilton pelo Disney+ e até uma participação em Brooklyn 99, chegou a vez de Miranda retornar às origens e levar às grandes telas aquele que foi seu primeiro musical. No entanto, é com o protagonismo de Anthony Ramos que Em um Bairro de Nova York chega ao HBO Max e aos cinemas do mundo todo cercado de polêmicas e críticas controversas a respeito da trama.

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A Boa Esposa: às vezes, é melhor ficar para titia

Cena do filme A Boa Esposa. Há duas mulheres na foto, em meio a um jardim de flores. A frente e à direita, uma delas está com os trajes de freira, segurando flores vermelhas e laranjas nas mãos. A outra está à esquerda e mais para trás, usando blusa e saia rosa com uma tesoura em uma mão e flores na outra.
Morno mas divertido, A Boa Esposa não chama muita atenção entre os escolhidos do Festival do Rio (Foto: California Filmes)

Caroline Campos

Pilar nº1: a boa esposa é, antes de tudo, a companheira do marido. Pilar nº 2: uma verdadeira dona de casa deve cumprir suas tarefas cotidianas. Pilar nº 3: ser uma boa dona de casa é saber manter seu orçamento, sempre de olho em uma constante economia. Pilar nº 4: ser dona de casa é ser guardiã da higiene corporal e doméstica de todos na casa. Pilar nº 5: primeira a se levantar, última a se deitar. Pilar nº 6: a boa dona de casa não consome bebida alcoólica. Pilar nº 7: saber que o trabalho representa para o homem, às vezes uma alegria, em geral uma obrigação. 

Parece algo saído diretamente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de Damares Alves, não é? Na verdade, essa é a base curricular da Escola de Moças Van der Beck, internato no interior da França administrado pelo senhor Robert Van der Beck e sua belíssima esposa, Paulette. De lá, saem apenas jovens moldadas para se tornarem donas de casa esplêndidas e dedicadas exclusivamente à suas famílias; a verdadeira nata da sociedade. Direto da Alsácia para a Cidade Maravilhosa, A Boa Esposa foi o décimo filme exibido no Festival do Rio 2021.

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Os 35 anos de Karatê Kid II – A Hora da Verdade Continua: a viagem a Okinawa permanece um ícone

Foto retangular de uma cena de Karatê Kid II. Pat Morita e Ralph Macchio estão na foto, próximo a direita. Os dois estão de perfil, sentados. Pat está mais distante da foto. Ele tem 54 anos, é nipo-americano, com poucos cabelos brancos ao redor da cabeça. Ele tem barba e bigode branco. Veste uma regata branca, uma calça bege e um cinto preto. Ele olha para frente e suas mãos se apoiam nos joelhos. Ralph está do seu lado esquerdo. Ele tem 23 anos e cabelos curtos pretos. Ele veste uma camisa xadrez vermelha, de manga comprida, dobradas até o antebraço. Ele olha para frente, seus braços estão apoiados nas pernas, com as mãos cruzadas. O fundo é escuro, com poucos pontos com luz. Vem uma luz amarela de frente para eles, como uma fogueira acesa. 
“Para alguém que não tem piedade, viver é um castigo pior do que morrer” (Foto: Sony Pictures)

Júlia Paes de Arruda

Que a história de Karatê Kid é um marco da cultura dos anos 80, ninguém tem como negar. Dois anos depois do sucesso do primeiro filme, John G. Avildsen lança a continuação da aventura de Daniel LaRusso e seu sensei Miyagi, com um toque mais íntimo e mais carismático. Completando 35 anos, Karatê Kid II – A Hora da Verdade Continua é uma referência para muitos adolescentes e, particularmente, o mais especial de toda a série. 

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As experiências visuais do 5º Festival Ecrã

Entre longas, médias, curtas, videoartes, artes imersivas e games, Julho de 2021 nos trouxe as experimentações artísticas e sensoriais do 5º Festival Ecrã (Arte: Vitor Tenca/Texto de Abertura: Caio Machado e João Batista Signorelli)

Depois da jornada através do Cinema Fantástico que foi o Fantaspoa XVII, o Persona volta para o mundo dos festivais de Cinema, mas desta vez se aproximando ainda mais do experimental e incomum. A 5ª edição do Festival Ecrã de Experimentações Audiovisuais nos levou por caminhos dos mais abstratos, passando pelo intrigante, profundo, ou simplesmente incompreensível. De narrativas estruturadas à experiências puramente estéticas, o Ecrã foi online, gratuito e apresentou, além de longas e curtas, outras das inúmeras possibilidades proporcionadas pelo audiovisual: videoartes, performances, instalações, artes interativas e até mesmo games marcaram presença no festival que aceita tudo, menos o convencional e o conformista. 

O Festival surgiu timidamente em 2017, com apenas 10 obras ao longo de 2 dias, e cresceu a cada ano até explodir em 2020, em sua primeira edição online, quando deu a uma enorme quantidade de cinéfilos, órfãos das salas de cinema e sedentos por novidades, a chance de descobrir dezenas de obras audiovisuais inovadoras. Em sua 5ª edição, realizada de 15 a 25 de julho, o jovem festival permanece independente de patrocinadores e sem cobrar um único centavo de seus espectadores, o que significa que o evento precisa buscar meios alternativos para se manter financeiramente. Por isso, o Ecrã abriu uma campanha de financiamento coletivo para esta edição, com a qual é possível contribuir até o dia 15 de agosto. 

Através de uma plataforma própria, a quinta edição teve uma curadoria heterogênea como toda seleção de um Festival experimental deve ser. Trazendo desde obras de cineastas essenciais para o Cinema de vanguarda mundial, como James Benning e Ken Jacobs, à produções estudantis saídas diretamente das universidades brasileiras, o Ecrã ofereceu um panorama amplo de produções nacionais e internacionais das mais diversas, que buscam romper as fronteiras e arrebentar as caixinhas do tradicional e do óbvio. 

Das 120 produções presentes na programação do Festival, o Persona assistiu 40, todas comentadas a seguir por Caio Machado, Caroline Campos, Gabriel Gatti, Gabriel Oliveira F. Arruda, João Batista Signorelli e Vitor Evangelista. Nos 10 dias de Festival, vimos um pouco de tudo: filmes macabros, engraçados, surpreendentes, incômodos, ou apenas abstratos demais para serem descritos. Se você quer sair do óbvio e passar longe do previsível, pode ter certeza que logo abaixo encontrará material de sobra para se interessar. 

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