Cineclube Persona – Dezembro de 2021

Arte retangular na cor verde pastel. No centro há o logo do Persona, um olho com a íris de cor dourada. No canto superior esquerdo está escrito “cineclube” em branco e embaixo “persona” em branco com texto vazado. No canto inferior direito está escrito “dezembro de 2021” com letras pretas. Ao longo da imagem vemos quatro quadros de moldura dourada com fotos do personagem Morpheus, do filme Matrix Ressurections, as personagens Kimberly, Bela, Leighton e Whitney, da série The Sex Lives of College Girls, os personagens Greg, Connor, Tom, Kendall e Logan, da série Succession e os personagens Jack Bremmer e Brie Evantee, do filme Don’t Look Up.
Destaques de Dezembro de 2021: The Sex Lives of College Girls, Não Olhe para Cima, Matrix Resurrections e a 3ª temporada de Succession (Foto: Reprodução/Arte: Vitor Tenca/Texto de Abertura: Vitor Evangelista)

Que soem os sinos natalinos, pois dezembro bateu à porta e já se retirou. No saudoso mês que finaliza um conturbado 2021, o Cineclube se reúne pela última vez no formato atual para debater cada um dos lançamentos audiovisuais dos tempos de Papai Noel. Entre a seleção frutificada do Persona, você encontra candidatos ao careca dourado, séries de prestígio e uma porção de dicas imperdíveis.

Mas, antes de dar início aos trabalhos, é hora de lamentar a morte de Betty White, uma das damas da TV, a Garota de Ouro que, aos 99 anos, se despediu do mundo, deixando-o menos feliz. A menos de vinte dias de seu centenário, a vencedora de 5 Emmys partiu em trinta e um de dezembro. Conhecida pelo humor sagaz e por papéis em Golden Girls, The Mary Tyler Moore Show e A Proposta, Betty viverá para sempre no céu das estrelas.

Como virou costume, dezembro é sinônimo de enxurrada de lançamentos da Netflix. Lá, pudemos conferir a força de Ataque dos Cães, o retorno de Jane Campion ao Cinema e um dos queridinhos do ano. Com chance de brilhar no Oscar, o filme coloca Benedict Cumberbatch, Kodi Smit-McPhee, Kirsten Dunst e Jesse Plemons em papéis desafiadores e muito distintos do comum da indústria. 

Ainda no Tudum, quem estourou foi Adam McKay e seu recheado Não Olhe para Cima. Com Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence liderando um elenco grande demais para esse texto de abertura, a comédia satírica caiu na graça da audiência, alavancando números de exibição e escalando o pódio de mais vistos do catálogo vermelhinho.

Na mesma moeda, A Filha Perdida transformou as palavras de Elena Ferrante em um visual pitoresco e nada convidativo, iluminado pela visão da diretora estreante Maggie Gyllenhaal e pela performance raivosa de Olivia Colman. O italiano Paolo Sorrentino também foi prestigiado com A Mão de Deus, um longa de amadurecimento com toques biográficos que já havia ganhado destaque no Festival de Veneza. 

Larissa Manoela virou médica em Lulli, Sandra Bullock e Viola Davis encararam um drama carregado em Imperdoável e o período de festas finalmente sorriu para a comunidade LGBTQIA+ em Um Crush para o Natal. Na casa do vizinho, Nicole Kidman saiu vitoriosa no papel de Lucille Ball, estrelando Apresentando os Ricardos, o grande candidato do Amazon Prime Video para o Oscar

Quando o assunto é a temporada de premiações, dezembro esquentou as disputas. O contido (mas insuperável) Mass chegou às plataformas de aluguel, debatendo temas sensíveis e com um quarteto principal digno de todas as honrarias da Arte. É sério, os protagonistas exprimem emoções dificílimas e merecem mais destaque do que vem recebendo: se Reed Birney, Jason Isaacs, Martha Plimpton ou Ann Dowd estiverem lendo este Cineclube, saibam que aqui no Persona o prêmio é de vocês.

Wes Anderson continua sua saga de simetria e paz com A Crônica Francesa, enquanto o Disney+ oferece o absoluto The Rescue, documentário realizado pelos responsáveis por Free Solo. Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City saciou a sede dos fãs da franquia, mas não foi além do básico, e Zoey’s Extraordinary Christmas deu fim a jornada da ruiva.

Dezembro também mostrou ao mundo Belfast, projeto do coração de Kenneth Branagh que é um dos favoritos da temporada. Entretanto, o visual arrojado e o elenco alinhado não são o bastante para justificar o amor prematuro pelo filme. No fim, o diretor emula emoções da infância, mas não as ordena para que o público sequer se interesse pelas reviravoltas. 

Quem conquistou o carinho do espectador foi Homem-Aranha: Sem Volta para Casa. Com a expectativa de finalizar a primeira trilogia de Tom Holland na Marvel, o longa dirigido por Jon Watts brinca com as chances do destino mas acerta na loteria ao jogar todas suas fichas na nostalgia e no apreço pelo ontem. O saldo é positivo, por mais que a dominação do aracnídeo no mercado sinalize mais uma das mazelas de um monopólio como a Disney.

A situação ficou tão pesada que o lançamento do Cabeça de Teia acabou com a distribuição de Amor, Sublime Amor, o remake de West Side Story que Steven Spielberg aguardou muitos anos para finalmente rodar. A clássica história, vencedora de dez Oscars nos anos sessenta, foi repaginada e se justifica. Podem anotar: Ariana DeBose, a nova Anita, tem tudo para seguir os passos de Rita Moreno e colocar uma estatueta de Atriz Coadjuvante em sua estante no fim de março.

Quando o assunto é repeteco, Matrix Resurrections dribla qualquer sinal de desgaste. O retorno da franquia, 18 anos depois do terceiro capítulo, conta apenas com a direção de Lana Wachowski, mas não deve nada às sequências de 2003. Claro que o filme de 1999 continua insuperável, afinal, depois de revolucionar a linguagem do Cinema, as Irmãs mais talentosas da ficção científica não operam milagres. Dessa vez, Neo e Trinity retornam em um ambiente familiar, mas distorcido. Resta a eles despertar e botar para quebrar

Na TV, o mês foi menos turbulento. A segunda temporada de Canada’s Drag Race remendou os buracos de 2020 e brilhou, coroando uma das vencedoras mais completas da franquia. O novato Queen of the Universe inovou ao unir drag e Música, dando o prêmio, o prestígio e um cheque de 250 mil dólares para a brasileira Grag Queen. Na Netflix, os Fab 5 se reuniram na sexta temporada de Queer Eye, curando o mundo de todos seus males.

Hailee Steinfeld trabalhou bastante, encerrando a terceira e última temporada da preciosa Dickinson na Apple TV+. Além de trampar como poetisa, a artista viveu Kate Bishop em Gavião Arqueiro, produção do Disney+ que dá continuidade a Fase 4 da Marvel e finalmente injeta personalidade no carrancudo Vingador vivido por Jeremy Renner. Perdidos no Espaço deu adeus, assim como a longeva e lucrativa La Casa de Papel (agora nos resta um spin-off do Berlim e um remake sul-coreano).

The Witcher trouxe de volta o charme de um Henry Cavill de cabelos prateados, A Roda do Tempo não transformou o carisma de Rosamund Pike em uma história cativante e Gossip Girl deu fecho a um ano inicial promissor. No HBO Max, Landscapers colocou Olivia Colman em pele de assassina, Mindy Kaling criou a envolvente The Sex Lives of College Girls, e Succession acabou com qualquer chance de dormirmos tranquilos depois dos capítulos de domingo à noite.

Dezembro de 2021 ainda nos levou para Paris com a Emily, anunciando que a jornada da estadunidense foi renovada para mais dois ciclos. Doa a quem doer, o mês vermelho, verde e cheio de ho ho ho trouxe conteúdo à beça. Agora, pelo olhar apurado da Editoria, o Persona te convida a navegar pelos comentários individuais do Cineclube pela última vez. 

Cinema

Cena do filme Apresentando os Ricardos. A cena mostra o casal sentado à mesa, com placas com seus nomes e o nome dos personagens da série I Love Lucy escritos. Nicole Kidman é ruiva, branca e usa roupas bege, olha para o lado, nos olhos do marido, papel de Javier Bardem, um homem espanhol interpretando um ator cubano, que usa óculos de grau e terno bege. Ele estica a mão e a apoia no braço da esposa.
Na cinebiografia com fome de Oscar, Nicole Kidman e Javier Bardem vivem um dos casais mais icônicos da TV (Foto: Amazon Prime Video)

Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos, Aaron Sorkin)

Pouco tempo depois de estremecer a Netflix com Os 7 de Chicago, Aaron Sorkin migra para o streaming vizinho com o intuito de dramatizar a rotina dos bastidores de uma grande sitcom do século vinte. Em Apresentando os Ricardos, acompanhamos uma semana da vida de Lucille Ball (Nicole Kidman) e Desi Arnaz (Javier Bardem), as mentes por trás de I Love Lucy.

Com pouca inspiração e uma predileção pelo alegórico em detrimento do mundano, o roteiro de Aaron Sorkin se camufla em uma obra insossa e com pouco a acrescentar. Sem conseguir se decidir entre ser uma trama política, uma história de amor e perda ou um olhar minucioso da indústria do entretenimento, Being the Ricardos chega na metade de cada um de seus objetivos.

Porém, quando o assunto é a recepção da indústria, o original da Amazon parece ter se dado bem. Kidman saiu vitoriosa no Globo de Ouro, enquanto tanto ela quanto Bardem apareceram na lista dos Melhores Atores do SAG Awards. No contexto em que a aparente favorita Kristen Stewart (Spencer) foi passada por cima nas nomeações do Sindicato dos Atores, 2022 pode ser o ano de Kidman colocar mais um Oscar em sua estante. – Vitor Evangelista


Cena do filme Matrix Resurrections apresenta um homem branco de cabelos pretos, lisos, na altura do pescoço, vestindo um casaco preto e uma calça jeans, olhando para outro homem. Este é negro, careca, veste um terno azul e está mexendo nos objetos de um armário vermelho. O ambiente em que eles estão é inteiro branco com apenas duas poltronas no fundo.
Durante o quarto filme da saga, Matrix Resurrections mantém de pé o convite ao telespectador sobre qual pílula tomar (Foto: Warner Bros.)

Matrix Resurrections (The Matrix Resurrections, Lana Wachowski)

Após quase 20 anos de espera, Matrix lança o quarto filme dessa produção de alcance estratosférico. Durante o regresso para o mundo apocalíptico da saga, Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) são postos de volta à aventura em um ponto mais fundo na toca do coelho. Essa continuação da saga apresenta aos telespectadores uma realidade já familiar e, a partir daí, a trama tenta se desenrolar explorando elementos subjetivos a respeito do que é realidade ou não. 

A retomada da saga das irmãs Lana e Lilly Wachowski, dessa vez dirigida apenas pela primeira, marca o retorno de diversos atores que ficaram consagrados após o longa de 1999, como Reevese e Moss, porém deixa a desejar com a ausência de Laurence Fishburne, que passou o papel de Morpheus para Yahya Abdul-Mateen II. Além disso, a trama na continuação ainda mantém viva as referências adotadas pelas irmãs na construção do mundo de Matrix, como a influência do mangá e anime Ghost in the Shell e dos livros Neuromancer, de William Gibson, e Simulacros e Simulações, do filósofo Jean Baudrillard, que ainda apareceu como easter egg ao longo do primeiro filme. – Gabriel Gatti


Cena do filme Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City. Chris (Robbie Amell) e Claire (Kaya Scodelario) Redfield olham para o chão, dentro de um armazém sujo e pouco iluminado. Chris (a esquerda) é um homem caucasiano de cabelos pretos e curtos, usando um colete verde por cima de uma camiseta clara e calças pretas. Ele segura uma escopeta apontada para o chão. Claire (a direita) é uma mulher caucasiana usando uma jaqueta de couro vermelha e calças jeans. A direita deles, podemos ver prateleiras cheias de itens mecânicos e mundanos, peças de reparo, uma escada apoiada contra a parede. A direita, uma porta entreaberta que deixa um pouco de luz amarela entrar para dentro do recinto.
O reboot de Resident Evil nos cinemas chega bem a tempo de celebrar os 25 anos da franquia (Foto: Sony Pictures)

Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City (Resident Evil: Welcome to Raccoon City, Johannes Roberts)

Após o capítulo final dos filmes de Paul W. S. Anderson estrelados por Milla Jovovich, a famosa franquia de terror volta às suas raízes com Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City, escrito e dirigido por Johannes Roberts (Medo Profundo). Dessa vez buscando ser fiel aos clássicos que marcaram época, o novo longa mescla as tramas dos primeiros dois jogos da série, Resident Evil (1996) e Resident Evil 2 (1998), introduzindo vários dos personagens icônicos que fizeram parte de sua gênese e apostando no clima de terror ao invés da ação desenfreada e farofeira de adaptações anteriores.

Visualmente, a produção da Sony Pictures se inspira diretamente no aclamado remake de Resident Evil 2 lançado em 2019, desde seus cenários até sua iluminação sombria e trancando suas personagens dentro da misteriosa Mansão Spencer e a delegacia de polícia de Raccoon. A narrativa trabalha até que bem com a junção das tramas e as reinterpretações de suas personagens: o Leon Kennedy de Avan Jogia é bastante diferente do protagonista hiper competente de Resident Evil 4 (2005), e abraça com força o papel de policial novato e inexperiente tendo que lidar com mortos-vivos mutantes.

Contudo, o apego ao passado faz com que Bem-vindo a Raccoon City às vezes pareça um museu da franquia ao invés de uma adaptação. Vemos Leon no icônico uniforme de polícia e Claire (Kaya Scodelario) em sua jaqueta vermelha, mas a trama não explora ou expande a icônica parceria entre os dois, que dependem unicamente da química entre seus atores para que a audiência se importe com eles. O mesmo vale para o Chris de Robbie Amell e a Jill de Hannah John-Kamen. Ao final das contas, o longa de Roberts é um tímido passo para a frente e uma divertida aventura de terror, apesar de seus relacionamentos rasos. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Cena do filme Belfast exibe, em preto e branco, um menino branco, de 9 anos, maravilhado ao assistir a um filme no cinema. Ele tem cabelo loiro, curto e está boquiaberto. Ao fundo, vemos a luz do projetor e os outros espectadores, desfocados.
O amor pela Sétima Arte é um dos grandes temas de Belfast (Foto: TKBC)

Belfast (Idem, Kenneth Branagh)

Filmes feitos a partir das experiências de vida dos próprios cineastas podem dar origem a experiências cinematográficas maravilhosas, o que não é o caso de Belfast. Na trama, inspirada pelas memórias da infância de Kenneth Branagh, acompanhamos um menino de 9 anos, Buddy (Jude Hill), e sua família enquanto presenciam os eventos tumultuosos que agitaram a capital da Irlanda do Norte no final da década de 1960. 

Vencedor do Festival de Toronto, Belfast é um filme apressado, com coisas demais acontecendo ao mesmo tempo para uma obra tão curta. Não sobra tempo para desenvolver os dramas que estabelece, relegando-os à superficialidade. A câmera caótica de Branagh parece perdida em relação ao estilo que quer adotar e gera alguns planos que parecem aleatórios, sem uma razão para estarem ali. A melhor qualidade do filme está nas atuações: os pais de Buddy, interpretados por Caitriona Balfe e Jamie Dornan, tem uma presença tão magnética em cena que é impossível tirar os olhos deles e as conversas entre os avós de Buddy (vividos por Ciarán Hinds e Judi Dench) carregam uma ironia e leveza deliciosas de acompanhar. As tocantes cenas no cinema emocionam ao mostrarem o quanto os filmes podem ser mágicos para uma criança que tem a imaginação como melhor amiga. – Caio Machado


Cena do filme Ataque dos Cães que mostra um homem parado de lado e com o rosto virado para a câmera. Ele é um homem branco de barba castanha bem feita, camisa de manga comprida cinza escura e chapéu marrom. Ao fundo dele há uma paisagem de campo e altas montanhas ao fundo.
Em quase 80 anos da premiação, Jane Campion é a terceira mulher ganhadora do Globo de Ouro de Melhor Direção, por Ataque dos Cães , e qualquer semelhança com o longa é sua imaginação (Foto: Netflix)

Ataque dos Cães (The Power of the Dog, Jane Campion)

Nem toda a água doce e cristalina do mundo seria capaz de inundar o faroeste dramático e minucioso de Jane Campion. A diretora criou uma atmosfera tão áspera em seu premiado Ataque dos Cães que dá para sentir a secura na boca. O aspecto de algo seco e ríspido não está só na areia varrida pelo vento, ou no sol que arde no céu desvanecido, mas num corte de câmera de uma mosca pousada no dorso de um cavalo de pelos duros. Tudo é pressuposto para ter um encaixe perfeito, por isso as falas de seu roteiro, adaptado do livro de Thomas Savage, são tão curtas, inclusive aquelas que deixam transparecer as questões profundas que esbarram na sexualidade de seus personagens.

A genialidade de Campion foi enxergar que quando o mundo é convergente, o diferente grita em desespero. Dessa forma, os detalhes de seu filme estão alinhados em perfeição com a sociedade machista que odeia mulheres, e sugere atenção ao simples movimento que descarrilhe o trem da masculinidade. O filme se passa em 1925 e conta a história de Phil (Benedict Cumberbatch) lidando com a “perda” do irmão George (Jesse Plemons) para uma mulher – a nova cunhada Rose (Kirsten Dunst) – e seu enteado Peter (Kodi Smit-McPhee) com seu comportamento que destoa do que é “ser homem”. E é com o mesmo olhar sagaz da diretora que o caubói sabe esconder sua sexualidade: revestido de uma raiva violenta por qualquer coisa que se aproxime do feminino. Um século depois ainda é preciso olhos e ouvidos atentos para enxergar que Phil não é um escroto: Phil odeia mulheres. – Nathália Mendes


Imagem de divulgação do documentário The Rescue. A imagem mostra um caminho de uma caverna, como se estivesse cortada na lateral. As rochas da caverna preenchem a linha inferior e superior da imagem de forma irregular. Ao centro, existe um caminho colorido em tom de azul, por onde nada um mergulhador, que está no canto esquerdo, aparecendo apenas com o seu contorno escuro chapado. Do outro lado do caminho, no extremo direito, está um grupo de 13 pessoas, também mostrando apenas os seus contornos chapados em preto.
Dos diretores de Free Solo, o vencedor do Oscar de Melhor Documentário de 2019, a novidade para a temporada de 2022 é The Rescue (Foto: Disney+)

The Rescue (Idem, Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi)

Em julho de 2018, o mundo todo acompanhava as tentativas de resgate de um grupo de 12 meninos que ficaram presos numa caverna submersa da Tailândia. Entre as coberturas jornalísticas, diários das pessoas envolvidas na delicada operação de resgate e depoimentos de familiares das crianças, era difícil entender exatamente o que aconteceu naquela zona da província de Chiang Rai para que o grupo fosse resgatado com vida de uma situação tão hostil. Hoje já não é mais assim, graças aos serviços prestados pelo documentário The Rescue, produção do National Geographic que foi a escolha do público para o prêmio do gênero no Festival de Toronto 2021.

Mas qualquer pessoa que se interessar pelos detalhes da operação de resgate trazidos pelo filme precisa saber que ele não entrega o que promete logo de início. Assim como o objeto com o qual trabalha, os caminhos de The Rescue são inconstantes, mesmo valendo-se de uma formulação tradicional do gênero documental. Usando como fio narrativo a contagem dos dias da operação, a direção de Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi demora a encontrar uma forma de combinar os fatos da história de forma acessível para quem o assiste numa perspectiva distante da local. 

O grande acerto do filme é se concentrar nos operadores de resgate, que se revestiram de coragem e solidariedade para se envolver no arriscado salvamento dos meninos, e agora podem detalhar cada aspecto da operação. No entanto, é deste ponto também que surge o maior incômodo do filme: o discurso dos salvadores estadunidenses e ingleses numa terra asiática, que acaba também por ignorar a presença dos tailandeses ali. Obviamente que, no tema de The Rescue, a vida é o elemento mais inegociável e prioridade antes de qualquer outro discurso. Mas o casal vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2019 sabe como agradar sua Academia natal – e tem tudo para fazê-lo novamente em 2022. – Raquel Dutra


Cena de A Filha Perdida. Nela está Olivia Colman. Uma mulher branca de cabelos curtos e pretos. Ela veste um maiô preto e uma camisa azul por cima. O fundo é areia da praia
Antes de assistir o filme, leia o livro (Foto: Netflix)

A Filha Perdida (The Lost Daughter, Maggie Gyllenhaal)

Disponibilizado na Netflix no último dia do pavoroso 2021, A Filha Perdida é a adaptação do homônimo livro de Elena Ferrante. A escritora italiana vive sob pseudônimo, mas é dona das obras mais populares da atualidade. A mais nova produção é dirigida por Maggie Gyllenhaal e coloca a inebriante Olivia Colman no radar da Academia de Cinema. À primeira vista a história parece simples: acompanhar a viagem de férias de uma professora universitária de 48 anos, Leda.

Já adianto que a experiência de assistir o filme fica mais esclarecedora após a leitura da obra original. Não que as camadas das personagens não sejam bem trabalhadas durante a produção, mas a imersão provocada pela leitura treina o olhar do espectador para os sentimentos nem sempre verbalizados pelas atrizes. É na praia que a protagonista conhece Nina (Dakota Johnson) e sua filha Elena. Aqui, o ponto mais forte da construção narrativa é a observação.

Todo o assunto maternidade que vai de flashbacks bravamente atuados por Jessie Buckley até as situações na qual os personagens são inseridos. Diferente do livro, nada fica subentendido pelo fluxo de pensamento de Leda. Quem está assistindo precisa de uma certa sagacidade para entender as entrelinhas. Nada disso tira o mérito de Colman, que entrega sua adaptação completa num dos filmes mais assistidos na Netflix e vem pelo título na corrida do Oscar. – Ana Júlia Trevisan

Cena do filme Amor, Sublime Amor mostra um homem branco, de cabelos castanhos claros curtos, vestindo uma camisa azul e uma jaqueta marrom, ao lado de uma mulher latina de cabelos castanhos na altura dos ombros, vestindo uma camisa vermelha. Ambos estão se olhando com uma aparência de apaixonados. Ao fundo do ambiente está uma rua com outros homens brancos.
Nas escadarias do lado oeste de Nova Iorque, Amor, Sublime Amor apresenta uma nova versão do clássico (Foto: 20th Century Studios)

Amor, Sublime Amor (West Side Story, Steven Spielberg)

Em 1957, o lado oeste de Nova York era marcado pela rivalidade feroz entre os Jets, de origem anglo-saxonica, e os Sharks, de origem porto-riquenha. No meio dos duelos dos clãs, apresentados artisticamente por meio de coreografias musicais, surge uma paixão entre Maria (Rachel Zegler) e Tony (Ansel Elgort), sendo que cada um fazia parte de um grupo distinto, o que acirra ainda mais a disputa entre os guetos. Essa trama se desenvolve ao longo do remake de Amor, Sublime Amor, inspirado no clássico homônimo de 1961.

A narrativa se destaca por apresentar uma trama similar ao clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare, porém modernizado e contextualizado para uma realidade bem diferente da criada pelo dramaturgo inglês. Além disso, o remake, dirigido por Steven Spielberg, foi bem recebido, chegando a levar os  prêmios de Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante (para Ariana DeBose) nas categorias de Comédia ou Musical na 79ª edição do Globo de Ouro. – Gabriel Gatti


Cena do filme Lulli. A cena mostra a personagem de Larissa Manoela, uma mulher branca e ruiva que se veste com jaleco médico, dentro de um consultório, com a sobrancelha esquerda arqueada e expressão pensativa.
Larissa Manoela fica ruiva para sua nova aventura cômica no Tudum (Foto: Netflix)

Lulli (César Rodrigues)

Depois de terminar o namoro, a estudante de Medicina Lulli (Larissa Manoela) leva um choque e, de uma hora para a outra, consegue ouvir o pensamento das pessoas, basta tocá-las. Navegando entre os amores da juventude, a responsabilidade da faculdade e os recém-adquiridos poderes sobrenaturais, resta à garota balancear cada um dos cantos de sua vida.

Cheio de bom humor e leveza, o novo produto nacional da Netflix surpreende pela simplicidade. Além de Manoela, que está prestes a debutar na Rede Globo, o elenco de apoio brilha sob os olhos atentos do diretor César Rodrigues. Vale o destaque para a representação queer de Sergio Malheiros, um atleta refém das expectativas da sociedade, mas que encontra leveza na aceitação de seus amigos. – Vitor Evangelista


Cena do filme A Mão de Deus. A imagem mostra a família que protagoniza o filme à frente de uma mesa de madeira clara, sentados lado a lado, olhando para frente. Atrás, existe uma parede também de madeira clara amarelada enfeitada por pratos decorativos ao redor de uma cabeça de alce. A família está abaixo dessa decoração e tem quatro membros. Primeiro, à esquerda, está um jovem, que tem cabelos cacheados castanhos, usa camisa verde e fones de ouvido ao redor do pescoço. Ao lado dele, está a mãe, que tem cabelos cacheados em tom de castanho claro dourado e usa uma regata florida azul e branca. Depois, está mais um filho, um pouco mais velho que o primeiro, mas ainda jovem, de cabelos lisos e camisa amarela desabotoada. Por fim, No lado direito, está o pai, que tem cabelos grisalhos ao redor da cabeça e usa uma camisa branca.
A principal constante do novo filme de Paolo Sorrentino é a memória do futebolista Diego Maradona, e a família do falecido jogador não gostou muito da ideia (Foto: Netflix/Gianni Fiorito)

A Mão de Deus (È stata la mano di Dio, Paolo Sorrentino)

Dentre os lançamentos de dezembro da Netflix, estava a escolha da Itália ao Oscar 2022. A Mão de Deus, novo filme de Paolo Sorrentino, saiu premiadíssimo e ovacionado do Festival de Veneza 2021 e já foi definido como o candidato italiano para a estatueta de Melhor Filme Internacional na premiação da Academia. Por enquanto, o filme se mantém na corrida, figurando nas listas prévias dos indicados divulgadas no final do ano. Entretanto, pode ser que o mesmo apreço pelo filme não seja encontrado no público que for conferir as novidades do streaming e/ou nos apreciadores da filmografia do diretor. 

É que a manifestação da história de mais de 2h de A Mão de Deus é complexa, embora parta de uma atraente simplicidade. Estamos na cidade de Nápoles, na década de 80, dentro do núcleo familiar de Fabietto Schisa (um maravilhoso Filippo Scotti). Vivendo o final de sua adolescência e procurando seu lugar no mundo, o centro do filme tem como única certeza sua paixão por futebol e o desejo de ser cineasta, quando uma tragédia o faz repensar seus caminhos – e aprofunda sua adoração pelo “melhor futebolista da história”.

Na trama repleta de traços autobiográficos, Sorrentino cria cada cena com uma profunda paixão, que infelizmente, não floresce plenamente no espectador. O problema não está na ambientação, já que o trabalho de caracterização do lugar e do tempo da narrativa são perfeitamente acolhedores. Também não é no elenco, que conta com a experiência de Toni Servillo, a graciosidade de Teresa Saponangelo e a inteligência de Luisa Ranieri para transformar os momentos familiares nas melhores cenas do filme. A Mão de Deus parece ter dificuldade em coordenar tantos elementos, personagens e eventos em um roteiro que procura acima de tudo a espontaneidade. – Raquel Dutra


Cena do filme Um Crush para o Natal. Dois homens olhando para cima em um ambiente externo com fundo desfocado de luzes de natal. A direita, um homem negro, de cabelos curtos, barba e olhos marrom escuro, ele está usando uma camisa listrada cinza e vermelha e um casaco marrom por cima. Ao seu lado, um homem branco de cabelos curtos e olhos castanhos, está usando uma proteção de frio para os ouvidos com chifres de rena e um suéter preto.
Clichê com orgulho (Foto: Netflix)

Um Crush para o Natal (Single All the Way, Michael Mayer)

Um Chush para o Natal conta a história de dois melhores amigos, Peter (Philemon Chambers) e Nick (Michael Urie) que passam o natal juntos na família do primeiro, com a tentativa de fingir que são um casal. O plano não dá certo, mas os familiares de Peter se encantam com Nick e percebem que o que existe entre eles pode se tornar muito mais do que amizade. 

Com perseguições em aeroportos, neve, festas temáticas decoradas, o filme é lotado de clichês românticos e natalinos, mas usados de uma forma que não cansa, mas encanta. Além disso, é pioneiro no gênero filme de romance LGBTQIA+ natalino, junto de Happiest Season (2020), trazendo a perspectiva alegre e otimista das festas de fim de ano para uma temática que muitas vezes é abordada com muita tristeza e tragédias. – Marcela Zogheib


Cena do filme A Última Noite. Diversos personagens estão sentados ao longo de uma mesa retangular para comer uma ceia de Natal. Na ponta direita da mesa, Simon (Matthew Goode) se levanta para fazer um brinde. Simon é um homem caucasiano de cabelos pretos e curtos, usando um smoking preto aberto e levantando uma taça com a mão direita. A esquerda dele, sua esposa, Nell (Keira Knightley) e dois de seus três filhos pequenos o acompanham no brinde, erguendo taças e copos. Todos são caucasianos, Nell possui cabelos castanhos e os filhos, loiros. O filho do meio, Art (Roman Griffin Davis), olha cabisbaixo para frente sem erguer nada. Do outro lado da mesa, outras pessoas erguem suas taças, fora de foco. A sala em que eles ceiam é vermelha e decorada com luzes natalinas. A mesa também é decorada com velas e luzes.
Keira Knightley e Matthew Goode estrelam uma noite de Natal peculiar (Foto: Paris Filmes)

A Última Noite (Silent Night, Camille Griffin)

Nesta comédia natalina recheada de grandes nomes e um senso de humor sombrio, Nell (Keira Knightley) e seu marido Simon (Matthew Goode) reúnem seus amigos mais próximos para as festividades, mas com um único porém: todos estão prestes a morrer. Dirigida e escrita por Camille Griffin, a sátira social de A Última Noite é apresentada com mais nuance do que o contemporâneo Não Olhe para Cima, de Adam McKay, além de oferecer bem mais risadas em sua humilde uma hora e meia de duração.

Grande parte dessa sátira é sustentada por seu grande elenco, que complementa a dinâmica problemática entre o grupo de amigos, marcada por revelações chocantes, danças descontraídas e um profundo sentimento de que essas pessoas simplesmente não gostam tanto assim umas das outras: uma festa de Natal comum. Apesar de seu roteiro às vezes falhar no balanço sutil entre tragédia e farsa, suas intenções e as boas atuações marcadamente impedem que a experiência se torne enfadonha, entregando um filme compacto e mordaz. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Cena do filme Zoey’s Extraordinary Christmas mostra uma família comprando árvores de natal. À frente, vemos Zoey, uma mulher branca, com cabelo ruivo na altura dos ombros, vestindo uma blusa vermelha com botões pretos. À esquerda, vemos a mãe dela, uma mulher branca com cabelo castanho na altura dos ombros que veste uma jaqueta vinho em cima de uma camiseta laranja. À direita, vemos o namorado de Zoey, um homem branco com a barba feita e que veste uma jaqueta cinza em cima de uma camiseta preta. Ao fundo, vemos o irmão e a sogra de Zoey levando o filho num carrinho.
A empatia de Zoey ganha ainda mais força no Natal (Foto: Lionsgate)

Zoey’s Extraordinary Christmas (Idem, Richard Shepard) 

Depois do cancelamento prematuro de Zoey e sua Fantástica Playlist devido à baixa audiência, a série retornou com um filme natalino lançado pelo The Roku Channel. Na trama de Zoey’s Extraordinary Christmas, em suas primeiras férias depois do falecimento do pai, a protagonista quer celebrar o Natal do mesmo jeito mágico que o homem comemorava, mas diversos imprevistos acontecem enquanto Zoey tenta recriar as memórias afetuosas do passado da família.

O clima natalino, com a neve, Papai Noel e presentes, combinou perfeitamente com o mundo de Zoey. O filme celebra essa data de uma forma calorosa, repleta de emoção e números musicais fantásticos. Rever cada um dos personagens traz uma sensação de acolhimento muito bem-vinda e o final que o filme oferece às tramas de todos é bem satisfatório, ao mesmo tempo em que deixa aberta a possibilidade de uma terceira temporada. É um daqueles filmes que te deixa com um sorriso no rosto quando sobem os créditos finais. – Caio Machado 


Cena do filme Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa que mostra o super-herói agachado com uma mão no chão e amparado por 4 pernas metálicas que saem de suas costas. O fundo tem uma ponte e árvores mais atrás.
Alerta de spoiler, mas se você não assistiu esse filme ainda, você está lelé (Foto: Sony Pictures)

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (Spider-Man: No Way Home, Jon Watts)

Fanservice. Dói assumir que Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é do começo ao fim um presentinho para os fãs do super-herói? Nem um pouco. Não é atoa que a bilheteria do longa segue batendo recordes: já é a 8ª maior do mundo com 1 bilhão e meio de dólares no total – e o longa ainda está no cinemas. O filme é uma sequência de cenas enérgicas, nostálgicas e emocionantes, entretenimento puro do começo ao fim com direito a memes. Mas a verdade é que parece um sonho de criança assistir Tobey Maguire, Andrew Garfield e Tom Holland com seus uniformes, cara a cara contracenando nos grandes momentos de ação contra todos os vilões que compõem os 20 anos de história do Homem-Aranha no cinema.

Sem o saudosismo, o filme de Jon Watts se baseia em um falho arco emocional com o Peter Parker de Tom Holland tentando tirar leite de pedra – e conseguindo! Para se conectar com as versões de si próprio em outras dimensões ele precisou se perder, por isso o enredo apelou para a morte da Tia May (Marisa Tomei) sem que o público houvesse se conectado o suficiente com ela para se comover. Ainda assim, a proposta estava bem amarrada, já que ela influencia o sobrinho a ajudar o próximo – mesmo que seja o fabuloso e alucinado Duende Verde de Willem Dafoe – o que mostrou quem havia plantado a sementinha do espírito Amigo da Vizinhança no Peter dessa dimensão.

Em meio a tantos momentos referenciais e de tirar o fôlego, há no filme uma forma espantosa em saber reviver para continuar. A verdadeira perda e lição veio pela escolha do Peter de Tom em terminar sozinho num mundo que ninguém o conheça ou o ame, e isso é indispensável para a formação e continuidade da história. Mesmo que a dramatização do contexto tenha deixado a desejar, os problemas foram sufocados por cenas inesquecíveis com doses marvelísticas de comédia. Num belo equilíbrio em segurar tantas expectativas e pontas vindas de filmes diversos, Sem Volta para Casa é o melhor filme de 2021 e um marco na trajetória das histórias em quadrinhos dentro do Cinema. – Nathália Mendes


Cena do filme Não Olhe Para Cima exibe um homem e uma mulher sentados em cadeiras no salão da presidente, na Casa Branca. Ambos são brancos. Ele tem cabelo liso, curto, com uma mecha na testa. Usa óculos redondos, tem barba curta nas bochechas e grande no queixo. Veste um paletó preto por cima de uma camisa xadrez azul e usa calça jeans. No paletó, há um crachá com seu nome. A mulher, à esquerda, é ruiva, com cabelo liso na altura dos ombros e usa uma franja na testa. Veste uma jaqueta verde-escura por cima de uma blusa amarela. Também usa calça jeans. No canto inferior direito, vemos um buquê de rosas.
Como avisar do fim do mundo para autoridades que não estão dispostas a ouvir? (Foto: Netflix)

Não Olhe para Cima (Don’t Look Up, Adam McKay)

Depois de dirigir Vice, um dos filmes com o maior número de indicações ao Oscar em 2019, Adam McKay retorna com a sátira Não Olhe para Cima. Na trama que parece próxima da realidade até demais, os astrônomos Randall (Leonardo DiCaprio) e Kate (Jennifer Lawrence) descobrem um meteorito que destruirá o planeta Terra em poucos meses. A partir dessa descoberta assustadora, os dois tentam utilizar a mídia para alertar a humanidade sobre o perigo que se aproxima. 

Engana-se quem diz que Não Olhe Para Cima é um filme sutil. Muito pelo contrário: todas as críticas que faz, indo desde o nepotismo na Casa Branca ao estado atual da mídia norte-americana, são feitas da forma mais óbvia possível, para não deixar nenhuma dúvida ao espectador. A direção ansiosa de McKay se aproveita dessa obviedade para gerar situações absurdas e cômicas, sem ignorar todo o drama que há no fim do mundo. É um filme que se estende demais em alguns momentos, mas funciona como um bom comentário sobre a mídia contemporânea, incapaz de tratar com a devida seriedade os assuntos que são mais do que puro entretenimento. – Caio Machado 


Cena do filme Shaun, o Carneiro: Aventura de Natal em que há uma ovelha preta de lã branca, feita de massinha, em pé ao lado da árvore de natal. O ambiente é bem colorido e repleto de presentes no canto direito e, ao fundo, há uma porta aberta com uma sobra de um humano se aproximando.
O Papai Noel atendeu o nosso pedido e trouxe de presente o especial Shaun, o Carneiro: Aventura de Natal (Foto: Aardman Animations)

Shaun, o Carneiro: Aventura de Natal (Shaun the Sheep: The Flight Before Christmas, Steve Cox)

O Natal é uma época especial no ano, que fica ainda melhor com o especial Shaun, o Carneiro: Aventura de Natal. O curta-metragem narra a história das preparações para o evento de fim de ano, até que, por engano, o Fazendeiro (John Sparkes) entrega para uma criança uma caixa de presente em que Timmy (Justin Fletcher), a ovelha bebê, está dentro. O engano toma proporções gigantescas, uma vez que Shaun (Justin Fletcher) e seus amigos entram nessa aventura para resgatar o jovem carneiro.

O curta spin-off da série Shaun, o Carneiro, apresenta aos telespectadores uma narrativa eletrizante movida unicamente por sons de ovelha. Essa ausência de falas faz com que a estética da narrativa, desenvolvida em stop motion, se torne muito mais chamativa. Produzido pela premiada Aardman Animations, o filme se desenvolve bem dentro do curto limite de tempo e ainda mata a saudades dos personagens já conhecidos. Com toda a nostalgia presente na série original, a narrativa eletrizante e a estética impecável, Shaun, o Carneiro: Aventura de Natal é um presente de Natal. – Gabriel Gatti


Cena do filme Imperdoável. Ambiente externo. Uma mulher é levada por dois policiais com roupas de proteção, capacete e óculos. Ela é uma mulher branca, de cabelos e olhos castanhos, está usando uma blusa de frio verde, calça jeans e um casaco bege.
A venda de Birdbox seria bastante útil ao assistir esse filme (Foto: Netflix)

Imperdoável (The Unforgivable, Nora Fingscheidt)

Imperdoável conta a história de Ruth Slater (Sandra Bullock), uma ex-presidiária que, após 20 anos de cadeia, é solta e precisa lidar com um mundo que ela não conhece e as consequências de seus crimes. Após sua soltura, ela busca encontrar a irmã (Aisling Franciosi), que não vê desde que foi presa e embarca em uma viagem pelo seu passado e traumas causados pelo ocorrido.

O longa tenta mostrar muitas faces da vida da personagem, mas falha ao não aprofundar em nenhum dos temas que traz. Vemos Ruth buscando emprego, encontrando oportunidades, indo atrás de respostas, procurando sua irmã, tudo ao mesmo tempo sem que nada realmente se desenvolva. Além disso, em alguns momentos, o filme busca trazer uma espécie de alívio cômico totalmente descabido com o tom do restante das cenas. Enfim, com um enredo que promete, mas não entrega e uma atuação mediana de Bullock, a execução da história é sim imperdoável. – Marcela Zogheib


Cena de A Crônica Francesa. A imagem é um frame em preto e branco do rosto do ator Timothée Chalamet. Ele é um homem jovem e seu cabelo é liso. Há um cigarro em seus lábios.
O filme acompanha a última edição de um jornal e as três crônicas que serão publicadas (Foto: Searchlight Pictures)

A Crônica Francesa (The French Dispatch, Wes Anderson)

Moonrise Kingdom, O Grande Hotel Budapeste e agora A Crônica Francesa, esses são três filmes básicos para conhecer toda a excentricidade do cineasta Wes Anderson. O último é o mais recente trabalho do diretor e conta com um elenco de milhões. Bill Murray, Timothée Chalamet, Frances McDormand, Tilda Swinton, Benicio del Toro, Jeffrey Wright, essa não é nem metade da lista dos rostos que vemos no elenco. Basta conhecer pelo menos parte dele para calcular o tamanho do trabalho que seria lidar com tantos figurões, logo, fica claro que não há como ter expectativas altas em relação a atuação ou tempo de tela.

A magnitude de A Crônica Francesa está em sua produção artística que oferece um banquete. As quase duas horas de filme são de pura obra prima visual. Outro ponto que alinha a assinatura de Wes Anderson é seu mergulho pela nostalgia. O filme soa quase como uma ode ao antigo formato do Jornalismo. The French Dispatch é simplesmente cativante por conta de seu deslumbre visual. – Ana Júlia Trevisan


Cena do filme Mass. A imagem mostra, de lado, um grupo de quatro pessoas, dois homens e duas mulheres, que conversam ao redor de uma mesa redonda. Eles estão organizados por casais, um à frente do outro. A sala é clara, com paredes em cor creme e uma janela em cada lateral, a mesa é branca. Todos são brancos e usam roupas formais. Em cima da mesa, há uma caixinha de lenços.
O diretor de Mass conta que foi difícil promover o filme, por conta de sua produção independente e seu tema delicado (Foto: Bleecker Street)

Mass (Idem, Fran Kranz)

Segundo levantamento do The Washington Post, o número de tiroteios registrados em escolas nos Estados Unidos em 2021 é o maior em 22 anos. Desde o Massacre de Columbine, que resultou na morte de 12 alunos e 1 professor em abril de 1999, a incidência de tragédias e os problemas sociais oriundos do american way of life é objeto de estudo das mais diversas áreas. Inclusive, no Cinema, em obras reconhecidas pela sua capacidade de estudar o comportamento de quem realiza os disparos da destruição (como o premiado por Cannes Elefante, de 2003), e em filmes documentais que procuram entender as raízes de tamanha violência (como o vencedor do Oscar Tiros em Columbine, de 2002). A esse grupo, Mass se junta para inaugurar um novo formato narrativo, capaz de compreender a fundo o que significa ser atingido por tamanha e violência e tentar continuar a vida assim. 

O pretexto do drama é simples, e quanto menos você souber sobre ele, melhor será. Dois casais de pais (visceralmente interpretados por Jason Isaacs e Martha Plimpton de um lado, e Reed Birney e Ann Dowd de outro) se encontram regularmente, como parte de uma iniciativa para familiares que tiveram seus filhos envolvidos em tiroteios escolares. O roteiro de Fran Kranz testemunha uma das reuniões, que acontece no meio do processo realizado com aquelas duas famílias. Em longos planos carregados de densidade emocional, entendemos a tragédia pelo que restou dela. Isto é, algumas memórias, muita revolta, uma parte de culpa e muita dor.

A força do filme está na combinação do roteiro forte com o elenco afiado e a direção, completamente sintonizada com a força da representação que acontece na frente das câmeras. De tamanha naturalidade, Mass não parece exprimir o esforço que foi necessário para que fosse concretizado, e o resultado do filme é um dos melhores trabalhos conjuntos do ano. Conforme apontado pelos números, é cada vez mais urgente refletir sobre os problemas sociais causados pela vida nos Estados Unidos do século 21. E o filme de Fran Kranz certamente nos ajudará nisso. – Raquel Dutra

 

 

TV

Cena da segunda temporada de Canada’s Drag Race, mostra a drag queen Icesis Couture desfilando pela passarela. Ela é branca, careca e usa roupas brancas, com uma espécie de aparelho bucal que abre sua boca mostrando a gengiva. O visual ainda tem uma auréola acima da cabeça.
Viva o gelo! (Foto: Crave)

Canada’s Drag Race (2ª temporada, Crave)

Corrigindo os erros crassos de seu ano inaugural, a segunda temporada de Canada’s Drag Race estourou a boca do balão, garantindo sucesso entre as inúmeras investidas mundiais da franquia em 2021. Com um painel quase inédito de jurados (apenas Brooke Lynn Hytes manteve o emprego), os novos capítulos escalaram drags competentes e distintas entre si, dando oportunidade de explorar cantos empolgantes da arte canadense. Vale destacar um elenco enorme de estrelas, mas o derradeiro top 3 da temporada, com Kendall Gender, Pythia e Icesis Couture, merece um bocado mais de atenção. 

Gender se apossou de um gás tardio na Corrida, esbanjando carisma e uma beleza monumental. Pythia surpreendeu por apresentar um senso de moda tão aguçado quanto seu humor e por pouco não ficou com a Coroa. O título de segunda Super Estrela Drag Canadense repousou no colo de Icesis Couture, uma das competidoras mais vorazes da franquia e dona de momentos imbatíveis do ano 2, de seu visual na passarela de estreia, passando pelo Makeover e pela Dublagem na semifinal. Vida longa à Rainha do Gelo! – Vitor Evangelista


Cena da série Gossip Girl. Três pessoas abraçadas no centro da imagem em uma rua com um fundo de prédios. A esquerda do abraço, um homem de cabelo rosa, ao centro uma mulher de cabelos loiros e a direita um homem de cabelos castanhos com sorriso no rosto.
As coisas esquentam no paraíso dos upper east siders (Foto: HBO Max)

Gossip Girl (Parte 2 da 1ª temporada, HBO Max)

A segunda parte da primeira temporada do novo Gossip Girl finalmente chegou ao fim em dezembro para o alívio dos fãs. A série continua acompanhando as tramas deixadas em aberto em sua primeira parte, com os dramas familiares de Julien (Jordan Alexander) e Zoya (Whitney Peak), abordando as consequências das ações do pai da primeira. A relação entre Audrey (Emily Alyn Lind), Max (Thomas Doherty) e Akeno (Evan Mock). E os conflitos internos da professora Kate (Tavi Gevinson), que mais uma vez perde o controle do que fazer com a Gossip Girl e acaba revelando mais do que deveria para os seguidores.

Os conflitos se intensificam e novos personagens são apresentados, mas a série começa a se tornar um pouco repetitiva em suas questões abordadas, especialmente quando se trata do triângulo Julien, Zoya e Obie (Eli Brown). Mas o show se mantém interessante e continua trazendo novas faces de seus protagonistas. Dando destaque para algo que já era marcante na versão original, o uso de músicas se encaixam muito bem com o enredo, trazendo canções de artistas em alto para compor a ambientação dos adolescentes descolados do Upper East Side. Outra surpresa deliciosa foi ver rostinhos familiares de personagens icônicos da família Waldorf. E, no fim, a série mantém os fãs ansiosos pelos próximos passos dos estudantes nas temporadas que estão por vir. – Marcela Zogheib


Cena da série Perdidos no espaço que mostra um robô alienígena olhando para o relógio no pulso de um garoto humano que está ao seu lado. O robô tem uma armadura de metal e luzes brilhantes azuis no lugar do rosto e do coração. O menino ao lado é um adolescente branco de cabelos loiros curtos, usa um uniforme cinza escuro e está levantando o braço para mostrar o que está em seu pulso para o robô. O fundo é o interior de uma nave espacial.
Perdidos no Espaço chega ao fim com pressa demais, e dando pouca glória para os personagens mais valiosos além dos protagonistas – como a Dra. Smith e a raça alienígena (Foto: Netflix)

Perdidos no Espaço (Lost in Space, 3ª temporada, Netflix)

Confiar, Will Robinson. Essa foi a última frase que nosso amado Robô disse para seu amigo humano enquanto transferia a si próprio para dentro de Will. A beleza do seu desfecho está, justamente, no pequeno aprofundamento da espécie alienígena – com um enredo muito mais peculiar sobre confiança do que a visão simplista de vilões. E, por muito pouco, Perdidos no Espaço conseguiu concluir sua história na Netflix de forma meia boca: parando antes de que se desgastasse, e cedo demais para que os robôs da galáxia ganhassem o palco que mereciam.

Will é agora um adolescente na 3ª temporada da série, que pulou um ano temporal decorrido desde os últimos episódios para justificar um Maxwell Jenkins mais alto e diferente. Ele e Robô são as grandes estrelas no quesito desenvolvimento do personagem – e morreram na praia, sozinhos, com o potencial desperdiçado no enredo preocupado em mostrar ação demais, ou humanos demais, já que a jornada da perdida família Robinson em encontrar a colônia Alfa Centauri, e a si próprios, sempre derrapou em superficialidade.

Porém, a sensibilidade de seus alienígenas foi jogada na lama ao desperdiçar o arco fantástico do robô SRA: o vilão que os comandava revela uma busca insaciável pela controvérsia liberdade, ou pelo medo de que qualquer um deles voltasse a ser programado por um mestre. Por isso, foi difícil engolir a chocha e simulada confiança dos humanos tanto em Espantalho – o robô que havia sido preso e destroçado para levar os humanos até a colônia – e com o resto da espécie em seu último episódio. Mas, Perdidos no Espaço conseguiu encerrar de forma satisfatória, ainda que pautado no umbigo da humanidade e pelo ápice da exploração espacial – mesmo não chegando aos pés da cinematografia de Fundação. Nathália Mendes


Cena da segunda temporada de The Witcher. Ciri (Freya Allan), virada para frente, olha para a direita, com uma expressão pensativa. Ciri é uma criança caucasiana de cabelos brancos amarrados em uma trança, com diversos fios soltos voando através de sua face. Atrás dela, um boneco de palha preso por cordas e vestindo trapos e o resto do pátio onde ela treina, coberto por neve e destroços. Ciri veste um colete marrom por cima de uma camiseta cinza de mangas longas.
O Tempo do Desprezo se aproxima (Foto: Netflix)

The Witcher (2ª temporada, Netflix)

A segunda temporada da adaptação dos livros de Andrzej Sapkowski na Netflix voltou em dezembro com fôlego renovado, após o anime Lenda do Lobo ter satisfeito parte da sede que os fãs sentiam de se afundar nas tramas políticas do Continente. Ainda estrelada por Henry Cavill no papel do bruxo Geralt de Rívia, o novo capítulo da narrativa (que adapta o terceiro livro da série, O Sangue dos Elfos) começa com ele tendo que aprender a cuidar da órfã Ciri (Freya Allan), uma princesa exilada de grandes habilidades e destinada a trilhar um caminho perigoso.

Diferente da primeira temporada, essa segue linearmente os passos de Geralt junto com Ciri, ao invés da estrutura atemporal de sua antecessora, que procurava traduzir os livros de contos que deram início ao fenômeno literário polonês. Isso se reflete na melhora do pacing entre os episódios e um ritmo em geral mais compreensível e acessível, movimentando entre suas tramas de maneira sagaz e impedindo que o foco saia do desenvolvimento da relação paternal entre seus protagonistas. Durante seus novos capítulos, somos também apresentados a algumas das mais importantes figuras desse universo em expansão, tais como o espião Dijkstra (Graham McTavish) e a sinistra Perseguição Selvagem, além de um novo teaser para a série prequel estrelada por Michelle Yeoh, The Witcher: A Origem.

No entanto, nem tudo muda para melhor. O foco em sua trama infelizmente acaba por sacrificar caracterizações importantes de suas personagens e reduzindo o impacto emocional que elas têm umas sobre as outras. Diferente da relação maternal que o romance de Sapkowski descreve, Yennefer (Anya Chalotra) e Ciri não tem quase nenhum espaço para se conhecerem fora da trama imediata que às move para frente, dividindo momentos que não vendem a conexão expressada ao final da temporada. The Witcher triunfa em sua fantasia medieval sangrenta, mas peca ao focar mais em seu futuro do que no presente. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Cena da 3ª temporada de Succession, mostra o interior de uma sala corporativa. Vemos várias pessoas de terno sentadas à mesa, mas o foco é em Roman, um homem adulto, branco e de cabelos pretos, usando camisa social de manga, azul clara, e com uma expressão de vergonha no rosto. Ele olha para baixo, com postura retraída.
Foto de pinto? Foto de pinto! (Foto: HBO)

Succession (3ª temporada, HBO)

Dois anos depois de Kendall (Jeremy Strong) se virar contra Logan (Brian Cox) e consumar seu papel de Judas Iscariotes, Succession retorna carregada. A trama, obviamente, tem seu pontapé no banho de sangue da coletiva de imprensa e, a partir daí, somos espectadores de uma batalha de tortura psicológica, muitas ameaças vazias e uma porrada de tensão familiar. Como de costume, a série de Jesse Armstrong é mestre na criação de causa e consequência, não poupando ninguém do espetáculo de terror social. Afinal, se os ricos não tem escrúpulos, imagina os bilionários.

Enquanto Kendall se isola, ruindo seu mundo e suas verdades, Shiv (Sarah Snook) permanece batalhando pelo posto de sucessora (ou apenas de filha amada pelo pai), e Roman (Kieran Culkin) vai variando entre pirocudo e pobre coitado. A consumação de seu arco de oscilações acontece no momento mais emblemático da terceira temporada: depois de fechar um acordo de prestígio, o caçula se confunde e, ao invés de mandar uma foto da berinjela para sua amante às avessas Gerri, o arquivo chega no celular do Poderoso Chefão Logan. 

Ademais, a tempestade de merda atinge Connor (Alan Ruck), personagem escanteado pela família e que busca migalhas para se contentar com o prestígio de ser um Roy. Tom (Matthew Macfadyen) parece ser o candidato à salvação, e o primo Greg (Nicholas Braun) vai comendo pelas beiradas. Se não tomarmos cuidado, logo ele estará sentado à ponta, devorando o peru de Natal. O texto de Armstrong dá todas as batidas para que o time de diretores sacie sua fome de grandeza (esse ano, além de Mark Mylod, somam os trabalhos de Lorene Scafaria e Cathy Yan). Passada a carnificina, é hora de esperar o Emmy 2022. – Vitor Evangelista


Cena da terceira temporada de Dickinson. Na imagem, ao centro, vemos a atriz Hailee Steinfeld, que interpreta a protagonista, do busto para cima. Ela é uma mulher branca, de cabelos castanhos, lisos e longos, aparentando ter cerca de 25 anos e vestindo uma roupa bege, abotoada no pescoço. Ela tem sua mão direita sob o peito e sorri. Ao fundo, vemos uma paisagem desértica e o céu azul, de dia.
Após o encerramento de Dickinson, o documentário From Dickinson, With Love mostra os bastidores da série (Foto: Apple TV+)

Dickinson (3ª temporada, Apple TV+)

Não matem os poetas. Eles precisam estar vivos para contar a história”. A realidade já deu spoiler do final de Emily Dickinson. Mesmo assim, a terceira e última temporada da série inspirada na vida da poetisa teve a difícil e delicada tarefa de concluir sua história à altura de sua musa – e de seus dois anos anteriores. Nessa leva de 10 episódios, Dickinson continua (e se destaca mais ainda) com sua inovadora proposta: ao mesmo tempo que se mantém fiel aos eventos reais, toma a liberdade de retratar os dilemas e desafios da época de uma forma contemporânea e atual. 

Em um dos capítulos mais divertidos da temporada, inclusive, a série da Apple TV+ se supera em conciliar passado e presente. O sétimo episódio, mostra Emily e sua irmã Lavínia (Anna Baryshnikov) avançando no tempo e descobrindo a influência que a escritora teve na Literatura norte-americana. Isso tudo durante a Guerra Civil Americana, o importante pano de fundo do novo ano. Enquanto a segunda temporada dividiu a protagonista entre publicar ou não seus poemas, a terceira a retrata em seu momento mais criativo e produtivo, em que o luto e as divisões internas provocadas pelo combate a fazem refletir sobre a importância de suas obras. Legado esse que inclui sua família: a cisão das tropas estadunidenses é acompanhada de conflitos entre os Dickinson e é Emily quem se vê na posição de conciliá-los. 

Seja discutindo com seu pai e irmão ou se preocupando com seu legado, a intérprete da protagonista continua brilhando. Hailee Steinfeld incorpora a poeta e, mesmo mais introspectiva, transparece sua evolução pessoal, amadurecimento e resiliência. Outros personagens também têm a chance de se sobressairem, como Henry (Chinaza Uche), que se destaca em sua trama de lutar ao lado de outros soldados negros, e Sue (Ella Hunt), lidando com a maternidade e com sua nova formação familiar. Como a produção sabe bem fazer, os acontecimentos históricos se entrelaçam aos personagens e agregam em seu desenvolvimento – isso principalmente com a grande estrela da série. A complexa e intensa Emily Dickinson ganha um retrato respeitoso e devidamente profundo ao longo dos três breves anos de exibição e a conclusão de história cresce à altura: Dickinson se encerra poética, delicada, profunda e sensível como começou. – Vitória Lopes Gomez


Cena da série Queer Eye que mostra 4 homens e uma pessoa não binária parados em pé, um ao lado do outro, mostrando seus figurinos country. À esquerda há um homem afro-americano de camisa cinza, calça e botas pretas, cinto de fivela prata e chapéu preto na cabeça que está de braços cruzados com expressão séria. À sua direita há um homem branco de camisa branca floral, calça jeans e botas marrons altas, e chapéu marrom, que está com parte das mãos no bolso da calça e expressão séria. À sua direita está um homem branco com chapéu bege, camisa estampada preta sob um colete marrom de franjas, calça jeans e botas marrons. À sua direita há uma pessoa não-binária branca sorridente, com cabelos castanhos compridos presos em coque e barba cheia, vestido preto e floral com franjas e botas marrons. No canto direito está um homem asiático-americano de cabelos cinzas vestindo camisa e calças jeans com botas brancas. O fundo é um parque à céu aberto.
Nem o silêncio de uma pandemia conseguiu minar a alegria dos 5 Fabulosos vestidos de cowboy (Foto: Netflix)

Queer Eye (6ª temporada, Netflix)

É impossível se cansar de Queer Eye. Por mais que uma nova temporada signifique uma dose de conforto conhecida, a série não deixa de emocionar, nem de trazer situações e pessoas mais diversas a cada episódio. No seu 6º volume, os 5 Fabulosos vão para Austin, no conservador estado do Texas – e que alívio poder assisti-los distribuírem amor próprio ao mesmo tempo que Karamo faz twerk e Jonathan usa um vestido inteiro de paetês brilhantes, tudo dentro de uma região mais amigável com o preconceito do que com a liberdade, e assolado pela pandemia.

Essa foi, de fato, a temporada mais comovente até agora, pois as gravações foram interrompidas em março de 2020 durante o primeiro episódio. Foi necessário esperar um ano para ver Terri novamente, o furacão sulista que perdeu um pai amável, extremamente texano, e quem havia abraçado os 5 gays que entraram em sua porta. Além das lições de cuidado e empatia de sempre, o Fab5 precisou lidar com o desgaste emocional de uma pandemia, e justamente por isso, as histórias estão mais conectadas conosco do que nunca. Prepare os lencinhos, pois você precisa assistir mais uma coleção de decoração do Bobby para aceitar o cenário difícil do mundo lá fora. – Nathália Mendes


Cena da série Gavião Arqueiro. Vemos uma jovem mulher e um homem mais velho com arco e flecha nas mãos, atirando contra inimigos em uma pista de patinação no gelo. A jovem é branca, com cabelo preto longo e veste uma roupa roxa, justa. Carrega flechas nas costas. O homem é branco, tem cabelo curto com um topete em cima e veste uma roupa justa, também roxa. Carrega mais flechas nas costas, assim como a jovem. Ao fundo, na pista, vemos alguns corpos dos inimigos caídos.
Na série do Disney+, o Gavião Arqueiro de Jeremy Renner finalmente teve sua chance de brilhar (Foto: Disney+)

Gavião Arqueiro (Hawkeye, 1ª temporada, Disney+) 

Depois de uma enxurrada de séries da Marvel no Disney+ ao longo de 2021, Gavião Arqueiro chegou sem grandes pretensões, no final de novembro. Afinal, o que teria de interessante numa série de um personagem que atira flechas e quase sempre foi deixado de lado ao longo do universo cinematográfico da Marvel? A resposta está nela: Hailee Steinfeld. 

Na trama, o ex-Vingador Clint Barton (Jeremy Renner) tem uma missão: voltar para casa para celebrar o Natal com a família. Barton precisa adiar sua ida depois que conhece Kate Bishop, uma arqueira de 22 anos que sonha em se tornar uma super-heroína, e ambos são forçados a trabalhar juntos quando alguém do passado de Clint ameaça bagunçar mais do que o espírito natalino

Gavião Arqueiro brilha ao não precisar lidar com várias consequências de filmes anteriores, como foi o caso de Wandavision e Falcão e o Soldado Invernal. É uma aventura urbana sucinta e divertida, onde o carisma apaixonante de Hailee Steinfeld é capaz até mesmo de transformar a atuação apática de Jeremy Renner em algo simpático quando interage com ele. A dinâmica de mestre e aprendiz que se estabelece entre eles é maravilhosa de acompanhar, com um humor que é realmente engraçado e cenas de ação boas para o padrão da Marvel. A série mostra que uma trama não precisa ser grandiosa para ser bom entretenimento. Às vezes, a qualidade vive na simplicidade. Tomara que as próximas produções do MCU se lembrem disso. – Caio Machado 


Cena da primeira temporada de A Vida Sexual das Universitárias. Da esquerda para a direita, Bela (Amrit Kaur), Whitney (Alyah Chanelle Scott) e Kimberly (Pauline Chalamet) estão no meio de uma festa universitária, lado a lado, na frente de uma mesa improvisada com alguns copos plásticos contendo bebida. Bela é indiana, tem cabelos longos e pretos, usando um blazer cinza por cima de uma camiseta vermelha e uma gravata rosa. Whitney é negra, de cabelos longos e trançados puxados para trás, usando um moletom branco com padrões retangulares rosas, azuis e marrons e calças jeans. Kimberly é caucasiana, de cabelos curtos e castanhos penteados para trás, usando uma blusa de lã rosa com listras azuis por cima de uma camiseta rosa de gola V e calças jeans. Atrás delas, outras pessoas conversam e bebem. Do lado direito, fora de foco, uma prateleira com garrafas de bebida ordenadas.
A Vida Sexual das Universitárias é uma das últimas (e melhores) surpresas do ano [Foto: HBO Max]
A Vida Sexual das Universitárias (The Sex Lives of College Girls, 1ª temporada, HBO Max)

Com talvez o pior/melhor título de qualquer série de 2021, a primeira temporada de A Vida Sexual das Universitárias estreou em novembro no HBO Max, lançando vários episódios semana após semana: uma boa estratégia, já que a nova série de Mindy Kaling é instantaneamente encantadora e viciante. Acompanhando um jovem grupo de universitárias de origens diferentes tendo que partilhar um dormitório, os 10 primeiros episódios se sobressaem tanto em nos fazer rir quanto nos imergir na vida privada e pública de suas caóticas protagonistas.

A todo momento, a produção parece saber exatamente as expectativas de sua audiência sobre os clichês do gênero, e se delicia a todo momento ao subvertê-los da maneira mais engajante possível, sob um viés feminista e empoderador. Com subtramas que passeiam por importantes tópicos, o roteiro mordaz nunca deixa de surpreender, validando a complexidade de cada um deles através de um olhar unicamente feminino. Seja na busca de Bela (Amrit Kaur) para se tornar uma roteirista de comédia ou na jornada de Kimberly (Pauline Chalamet) em se libertar de suas pré-concepções sexuais, A Vida Sexual das Universitárias nunca esquece de colocar as mulheres de seu elenco em primeiro lugar. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Cena da série La Casa de Papel que mostra um homem ajoelhado e rendido com as mãos para cima, tendo a mira de um laser sobre o coração. Ele é um homem branco de cabelos e barba castanhos, óculos preto, está usando camisa bege e gravata preta, e sua expressão é de um silencioso choque. Ao fundo, outras pessoas também estão rendidas.
Uma das maiores falhas do final de La Casa de Papel é a presença de Rafael (Patrick Criado), o filho de Berlim, que rouba todo o ouro da Espanha e devolve ao tio por pura compaixão (Foto: Netflix)

La Casa de Papel (Volume 2 de Parte 5, Netflix)

 A era de La Casa de Papel chegou ao fim e o sentimento predominante era de que deveríamos ter dado bella ciao na segunda temporada. Um assalto genial com altas doses anarquistas havia sido o suficiente para saciar o verme revolucionário que mora em nossas barrigas, mas é claro que a Netflix vinha para mais. Mesmo assim, arrastando nossa gangue favorita para um roubo absurdo, o Professor (Álvaro Morte) nos guiou para botar as claras os pedestais ilusórios que seguram a estrutura imbecil da sociedade – e, também, que a economia é baseada em uma riqueza fantasma. 

Ali, dentro do Banco da Espanha, o caos desenhou a realidade por vezes demais, e por outras quis explodir o limite. Parece improvável que militares transtornados assumam um assalto e percam a briga. Mas, por outro lado, esses recursos foram efetivos para mostrar que o Coronel Tamayo (Fernando Cayo) subia a escada infinita da crueldade para saciar o seu ego ferido. Até que consegue, e cabe ao Professor o xeque-mate: entrar no Banco, sabendo que homens como o Coronel funcionavam segundo o poder, para contar a ele que todo o ouro do país não precisava ser verdadeiro, o resto do mundo só precisava acreditar que existia. Genial? Sim.

Também era impossível que a série arruinasse seu fim. Por isso, sustentados em excelentes atores, amados personagens e ao som de revolução, o enredo é emocionante – sem deixar de notar suas falhas. Não ao acaso, o intimismo de cada um da gangue os norteou desde o começo do 2º assalto, e tomou a função principal de terminar desmembrando o que havia de mais profundo no Professor. Ao assumir suas motivações internas, quem ele era brilhou em cena: um ladrão, filho de um ladrão. Então, todo o heroísmo criado por terceiros caiu por terra – inclusive no mundo real, lembrando que a dualidade é a essência que mora em nós para que desejemos arduamente transformar o sistema em pó. – Nathália Mendes


Cena da série A Roda do Tempo. Ao fundo da imagem, vemos, desfocado, um ambiente iluminado por tochas e quatro pilares branco, com quatro mulheres, cada uma ao lado um. Também em desfoque, a mulher da direita veste um manto vermelho, as duas do meio vestem mantos azuis, e a da ponta direita, um branco. Em um primeiro plano ao centro, vemos, dos ombros para cima, a protagonista interpretada por Rosamund Pike. Ela é uma mulher branca, aparentando cerca de 40 anos, com cabelos castanhos presos, usando um adereço em sua cabeça, que tem um pingente com uma jóia azul pendendo sobre sua testa, e veste um traje azul escuro. Ela tem uma expressão preocupada.
Estrelada e com produção de Rosamund Pike, A Roda do Tempo foi adaptada da série de 14 livros de Robert Jordan (Foto: Amazon Prime Video)

A Roda do Tempo (The Wheel of Time, 1ª temporada, Amazon Prime Video)

A apresentação da mitologia e do cenário é parte fundamental em qualquer obra de Fantasia. A geopolítica de Westeros, as diferentes raças e línguas da Terra Medieval, as guerras de um passado menos solitário para Geralt de Rivia (entre intermináveis outros exemplos) nos inserem em mundos desconhecidos, fascinantes e complexos. Para além do contexto, porém, a quem acompanhamos em cada uma dessas histórias também importa – e muito. Em A Roda do Tempo, produção de fantasia medieval do streaming da Amazon, a interessante premissa e a atenciosa contextualização despertam a curiosidade, mas caem por terra quando toda a ação é vivida por personagens, no mínimo, ‘tanto faz’.

Na trama, Moiraine (Rosamund Pike) é parte das Aes Sedai, uma organização de mulheres que dominam a magia e comandam o poder local. Há anos, ela viaja em busca do Novo Dragão, o homem ou a mulher em que uma entidade antiga reencarnaria para alterar o equilíbrio entre a Luz e as Trevas e provocar a destruição do mundo. Ou, do contrário, salvá-lo de uma vez por todas. Quando ela chega a um vilarejo e encontra os cinco jovens com as idades indicadas pela profecia, ela tem de recrutá-los para descobrir quem é o verdadeiro Dragão profetizado.

Só que tudo isso acontece logo no primeiro episódio e, durante o restante da temporada de 8 capítulos, nem o quinteto, nem Moiraine – os protagonistas de A Roda do Tempo – ganham o aprofundamento necessário para prenderem o interesse. Apesar de abordar os relacionamentos pessoais, sejam românticos, de amizade ou entre as Aes Sedais, e pincelar as contradições de cada um, a série não faz o suficiente para estabelecer uma conexão, o que culmina em personagens tão heroicos e corajosos que chegam a serem insossos. Confirmado antes mesmo da estreia, a torcida é para que o segundo ano de The Wheel of Time assimile que, antes de chegar à grande batalha com o Rei da Noite, primeiro temos que nos interessar por quem mora e luta para sobreviver em Westeros. – Vitória Lopes Gomez


Cena da série Landscapers mostra uma mulher branca de meia idade, com um gorro na cabeça e um casaco cinza de mãos dadas com um homem branco de meia idade, calvo, que usa óculos e veste um casaco marrom e uma calça e está segurando itens de papelaria e uma bolsa. Ambos estão olhando para frente com uma expressão de espantados.
Landscapers provoca risos e arrepios ao mesmo tempo (Foto: HBO)

Landscapers (Minissérie, HBO)

Tendo como fonte de inspiração eventos reais, Landscapers conta a história de Susan Edward (Olivia Colman), uma mulher que aparenta ser amigável, e seu marido, Christopher Edwards (David Thewlis). A trama se desenvolve ao narrar um assassinato cometido pelo casal, em que a família de Susan foi massacrada e enterrada no quintal de sua casa. Passado um tempo, a polícia descobre os corpos sob a terra e, durante as investigações, o casal Edwards passa a se desdobrar para explicar como duas pessoas mortas foram enterradas em sua casa sem que ambos desconfiassem.

A premissa da minissérie de quatro episódios da HBO apresenta uma narrativa aparentemente macabra, no entanto, o roteiro expõe diversos momentos cômicos com as ótimas atuações de Olivia Colman e David Thewlis. Além disso, Landscapers teve Ed Sinclair como roteirista e Will Sharpe, como diretor da série, que se inspiraram nos crimes cometidos pelo casal William e Patricia Wycherley, em 1998. – Gabriel Gatti


Cena do reality Queen of the Universe. A cena mostra a drag queen brasileira Grag Queen, de pele clara, peruca marrom e roupas roxas, com plumas de carnaval acima da cabeça e ao redor do corpo, cantando. Ela sorri, segura o microfone e sua roupa tem uma porção de detalhes, como joias e adereços, todos em tons de roxo e lilás. O fundo é da mesma cor.
De Amy Winehouse à Cindy Lauper, a campeã Grag Queen dominou todas as músicas que cantou, não deixando brecha para qualquer outro resultado na Final contra Ada Vox e Aria B. Cassadine (Foto: Paramount+)

Queen of the Universe (1ª temporada, Paramount+)

Depois de produzir 9 temporadas de Drag Race em 2021, RuPaul decidiu tirar sua figura de foco e apenas atuar como produtor do novo reality Queen of the Universe. Unindo o mundo drag com a Música, a competição reuniu artistas de diversos cantos do mundo, colocando-as para batalharem cantando. Dessa vez, como anuncia o apresentador Graham Norton, nada de Lip Syncs!

A bancada de juradas, que julgava desde o visual das rainhas até suas técnicas vocais e presença de palco, trouxe Vanessa Williams, Leona Lewis, Michelle Visage e Trixie Mattel, vencedora da terceira edição do All Stars. Entre as talentosas competidoras, haviam representantes da Índia, Reino Unido, Estados Unidos e Austrália, mas a vencedora, claro, veio do Brasil. Surpreendendo o mundo todo, a sensacional Grag Queen levou para casa o título e o cheque de 250 mil dólares. – Vitor Evangelista


Cena de Emily em Paris. Nela, ao centro, está Emily. Uma jovem branca. Ela veste vestido preto e um casaco xadrez amarelo. Ela usa também uma boina e uma bolsa amarela. Seu cabelo é castanho e um pouco abaixo dos ombros. Ao seu lado há um homem negro. Ele está com o braço direito envolvido no pescoço de Emily e está beijando a bochecha dela. Ele veste uma camiseta azul. O fundo é uma construção branca desfocada.
Emily em Paris – ou em qualquer outra cidade – é lavagem de dinheiro (Foto: Netflix)

Emily em Paris (Emily in Paris, 2ª temporada, Netflix)

Passou uma temporada, veio a segunda e Emily continua em Paris. O novo ano da queridinha da casa começou exatamente de onde sua estreia encontrou um fechamento. Com Emily fingindo dar aulas de marketing e sendo pilar de um triângulo amoroso, a nova season deixa muito a desejar. Sem tempero, Emily em Paris ainda sofre o agravante de ter decaído em relação a sua carismática – sim, apenas carismática – primeira temporada.

Os personagens já conhecidos pouco mudaram e evoluíram, enquanto os que foram introduzidos nesse novo ano tiveram um espaço escasso para conquistar a trama por inteiro. A decisão de continuar do mesmo ponto do ano anterior prejudica o compasso da série ao ponto que os acontecimentos se dão de maneira apressada ou vagarosamente, perdendo o ritmo de episódio para episódio. Mas isso parece não atrapalhar a sequência de produção, afinal, a indicada ao Emmy 2021, foi renovada para mais duas temporadas. Minha dica é: assista Emily em Paris. – Ana Júlia Trevisan


Cena da série Gente Ansiosa. Em um ambiente inteiro, duas pessoas de costas olhando para uma pessoa vestida com uma fantasia de coelho branco com um chapéu, luvas e faixas de couro preto pelo corpo.
O caos se instaura na cidade mais pacata da Europa (Foto: Netflix)

Gente Ansiosa (Folk med ångest, Minissérie, Netflix)

Gente Ansiosa é uma adaptação do livro de mesmo nome do autor Fredrik Backman e conta a história dos habitantes de uma pequena e calma cidade da Suécia que, após um assalto, precisam lidar com seus traumas e se apoiar no processo. O acontecimento surpreende a todos, em especial os policiais Jack (Alfred Svensson) e Jim (Dan Ekborg), que além de tudo são pai e filho e buscam lidar com a situação inusitada da forma que podem. 

A série é deliciosa de acompanhar, os personagens, com todas as suas questões, são muito carismáticos e conquistam o coração dos espectadores. Além de que, apesar de ser uma série de comédia alto astral, ela trabalha muito bem os seus momentos de drama e mistério policial, com reviravoltas e surpresas que deixam o show ainda mais interessante. – Marcela Zogheib

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