Há 5 anos, Linn da Quebrada cristalizou o Pajubá

Capa do CD Pajubá, de Linn da Quebrada. Imagem quadrada e colorida. Em foco, está uma travesti negra, usando um vestido branco florido e chinelos brancos nos pés. A câmera a capta somente do pescoço para baixo, de forma que seu rosto não esteja à mostra. Ela se apoia em uma mesa branca, enquanto passa uma peruca de cabelos escuros e lisos com um ferro de passar. O cenário é uma casa humilde, com chão e portas de madeira.
Aniversariante do mês de outubro, Pajubá é o primeiro álbum de estúdio da cantora, rapper, atriz e agitadora cultural Linn da Quebrada (Foto: Linn da Quebrada)

Enrico Souto

Não adianta pedir, que eu não vou te chupar escondida no banheiro”. É com este primeiro verso, na faixa (+ Muito) Talento, que Linn da Quebrada abre as cortinas de Pajubá, instituindo desde o princípio o tema central que perdura por todo o projeto: ela não será mais escusa. Rejeitando um posicionamento conciliador e desafiando o conservadorismo, é declarado que, não interessa o incômodo e constrangimento que lhe cause, a sociedade será obrigada a enxergá-la. Lançado em 6 de outubro de 2017, o primeiro álbum de estúdio da artista completa cinco anos em 2022 e, depois de fazer seu nome na Música, reivindicando espaços que corpos trans nunca ocuparam, se ressignifica no próprio tempo.

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60 anos depois, ainda queremos saber: O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

Cena em branco e preto do filme o que terá acontecido a baby jane que apresenta uma senhora branca, de meia idade, com cabelos escuros presos, usando um vestido longo preto. Ela está sentada em uma cadeira de rodas e apresenta expressões de sofrimento. Ao fundo, no canto direito da imagem, há outra mulher de meia idade, loira, usando um vestido branco. Ela está apoiada numa cama e expressa um olhar de indiferença. Ambas estão em um quarto mal iluminado com móveis antigos.
Carreiras fracassadas e uma estrutura familiar abalada são o pivô do caos de O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (Foto: Warner Bros.)

Gabriel Gatti

O confronto pelo papel de destaque em obras cinematográficas não é novidade. Porém, a inveja por sua irmã ter se destacado no cinema enquanto sua carreira declina pode contribuir para desavenças familiares profundas, como é o caso da trama de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?. Dirigido e produzido por Robert Aldrich, o filme contou com Bette Davis e Joan Crawford no elenco, duas atrizes largadas às traças por Hollywood, que retornavam às telonas para um thriller audacioso para seu ano de lançamento e icônico para a história do Cinema após 60 anos de sua estreia.

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A Saída Está À Nossa Frente: as portas de emergência não se abrem para todos

Cena do filme A Saída Está À Nossa Frente. Na imagem, Tracy Staggs aparece de costas colocando uma mesa desmontável no chão. A personagem é branca e está de pé. Ela veste um conjunto de calça e casaco de moletom, as peças de roupa são cinza com detalhes em rosa e preto. O cabelo é loiro e está preso. Ao redor há grama e uma árvore seca, também aparecem uma bicicleta rosa e uma azul no canto inferior direito. No lado esquerdo há alguns objetos atulhados.
A Saída Está À Nossa Frente aborda a vida norte-americana de uma perspectiva alternativa; o filme fez parte da Competição Novos Diretores na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Hamilton Film Group)

Jamily Rigonatto 

A narrativa do modo de vida americano presente em comerciais, produtos culturais e campanhas estadunidenses nos mostram uma realidade brilhante – moldada pela visão liberal do que isso significa. A ideia de desenvolvimento e sucesso escondem realidades nas quais o luxo e a tecnologia não estão presentes. Em A Saída Está À Nossa Frente, do diretor Rob Rice, o valor das pessoas que não vivem sob os holofotes de Hollywood caminha em linhas retas, sem possibilidades de pontos de fuga. A produção independente fez parte da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na Competição Novos Diretores, e com imagens tremidas e baixo orçamento, invade um horizonte tão real quanto cruel. 

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Em Estado elétrico, Simon Stålenhag ilustra um apocalipse contemporâneo

Estado elétrico, graphic novel de Simon Stålenhag, está em adaptação para os cinemas pela Netflix (Foto: Companhia das Letras/Quadrinhos na Cia/Arte: Bruno Andrade)

Bruno Andrade

Somos rostos em meio à multidão, mas dificilmente pensamos naquilo que torna a multidão real. Sistemas de armas termonucleares coexistem com comerciais de refrigerante em um ambiente dominado pela publicidade, no qual é possível enxergar apenas pequenas frações de uma realidade mais ampla, dominada pelo inalcançável. Na tentativa de reunir o maior número de consumidores sob as armas da especulação, da alienação e de tudo que o dinheiro pode comprar, os donos do poder tecnológico resumem a grande trama neoliberal da contemporaneidade: tentar concentrar o máximo de atenção e especulação às empresas, às redes sociais e aos produtos. É sob esse contexto que Estado elétrico (2017), de Simon Stålenhag – lançado no Brasil em Maio deste ano pelo selo Quadrinhos na Cia da Companhia das Letras, sob tradução de Daniel Galera – ganha novos e assustadores contornos.

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As muitas fugas ousadas de Dishonored

Cena do jogo Dishonored. Estamos na visão em primeira pessoa do protagonista, Corvo. Vemos sua mão direita horizontalmente segurando uma o cabo de uma lâmina virada para a esquerda, se estendendo além da tela, e sua mão esquerda segurando uma pequena besta metálica com uma flecha preta engatilhada. Suas mãos são brancas e pálidas. Corvo parece estar empertigado em cima de um edifício de mármore, olhando para uma varanda abaixo dele onde dois guardas conversam ao lado de uma pequena mesa. Os guardas usam um uniforme azul escuro com ombreiras pretas e detalhes vermelhos. Abaixo da varanda, um pátio ensolarado se estende alguns metros adiantes, onde um há um portal sem grades com a efígie metálica de um gato em cima, e os dizeres invertidos: “The Golden Cat”. Um guarda caminha para o lado de fora, onde já existem outros dois guardas. No pátio, alguns arbustos com frutas vermelhas decoram o ambiente e, à direita, uma escada murada dá para um nível acima, ao lado da varanda. Do lado de fora do ambiente, na frente do portão, podemos ver um tipo de veículo mecânico sobre trilhos e um edifício de tijolos vermelhos na frente.
Um marco nos jogos de furtividade imersivos, Dishonored se esgueira sorrateiramente entre gêneros com graça sobrenatural (Foto: Bethesda Softworks)

Gabriel Oliveira F. Arruda

Em 2012, às vésperas do fim da sétima geração de consoles, um pequeno jogo de ação e furtividade em primeira pessoa foi lançado no dia 9 de outubro com o curto e simples nome “Dishonored. O videogame foi disponibilizado inicialmente para PlayStation 3, Xbox 360 e PC, e a Crítica foi rápida em apontar suas semelhanças com Thief e Deus Ex, franquias famosas por formar as bases do gênero que hoje conhecemos como “immersive sims” (simuladores imersivos, em tradução livre), principalmente pela presença de Harvey Smith, diretor criativo de Dishonored e um dos designers do Deus Ex original. Desenvolvido pela Arkane Studios e publicado pela Bethesda Softworks (Fallout, The Elder Scrolls), o jogo angariou uma onda de resenhas positivas e se tornou o maior lançamento original do ano.

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reputation: 5 anos da inquisição de Taylor Swift

A imagem mostra Taylor Swift, mulher branca e loira. Ela está de perfil e tem os cabelos médios e cacheados, e usa um batom escuro. A foto é em preto e branco e não há nada ao fundo.
“Eles estão queimando todas as bruxas, mesmo que você não seja uma” (Foto: Mert and Marcus)

Ana Laura Ferreira

O mundo gira, outro dia, outro drama” é apenas uma das frases do single de abertura da era reputation que, há 5 anos, revolucionou tudo que sabíamos – ou pensamos saber – sobre Taylor Swift. E ela não poderia ser mais franca. Drama é uma palavra recorrente na vida da cantora, mas que ganhou novos fins ao ser transformado em um dos maiores álbuns pop de todos os tempos. A fama de reputation foi um tanto tardia, com a crítica especializada da época defendendo que ela poderia ter feito mais. Mas como qualquer grande obra de arte, foi apenas depois de anos que nos encontramos maduros o suficiente para apreciar sua grandeza.

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O amor líquido cabe dentro de um Copo Vazio

Imagem capa do livro Copo Vazio. Composta totalmente por uma pintura. Em primeiro plano temos uma mesa cor de rosa e em cima um copo de vidro vazio. Ao fundo temos um cenário todo pintado de azul. No canto inferior direito pode-se ler “Copo Vazio e logo abaixo “Natalia Timerman”
Lançado em 2021 pela editora Todavia, Copo Vazio estabelece uma conversa sincera, e talvez até difícil, com todos aqueles que já foram abandonados (Foto: Todavia)

Isabella Lima 

Em 2004, o filósofo Zygmunt Bauman utilizou o termo “Amor líquido” para se referir aos relacionamentos constituídos na pós-modernidade, um período caracterizado pelo rápido padrão de mudança e adaptação. Coube a ele se questionar: como se dá o amor e as conexões afetivas dentro desse mundo fluido? Para essa pergunta, Bauman comenta que a necessidade de praticidade na vida fez o amor se tornar descartável e as relações, superficiais. Queremos estar com alguém, mas, ao mesmo tempo, também não queremos o compromisso de um relacionamento profundo. Na prática, esse conceito é notório quando observamos temas sobre responsabilidade afetiva ganhando cada vez mais visibilidade nas redes sociais. Entre eles, encontramos a narrativa de Copo Vazio, livro ficcional de Natalia Timerman, escritora e psiquiatra responsável por colocar em foco uma das consequências desse amor líquido, o ghosting

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Don’t Worry Darling: nós não nos preocupamos o suficiente

A imagem mostra Florence Pugh, mulher branca, de cabelos loiros e olhos claros, em um close. Seu rosto está enquadrado bem ao centro da imagem e suas duas mãos aparecem na frente. Ela tem os cabelos bagunçados e suados.
Não Se Preocupe, Querida chegou aos cinemas brasileiros no dia 22 de setembro (Foto: Warner Bros.)

Ana Laura Ferreira

Para além de roteiro, atuação, direção e produção, parte importante do que faz um filme ser ou não um sucesso quando entra em cartaz é o seu marketing. Mas o que acontece quando aqueles que encabeçam a obra estão tão preocupados com sua imagem na mídia que o longa fica em segundo plano? A resposta para isso pode ser facilmente vista e destrinchada com o desenvolvimento de Não Se Preocupe, Querida, dirigido por Olivia Wilde e protagonizado por Florence Pugh, que tem seus pontos positivos contados nos dedos de uma mão.

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A Mãe: nas periferias de São Paulo, a ditadura nunca acabou

Presente na seção Mostra Brasil da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, A Mãe estreou nacionalmente no Festival de Gramado (Foto: CUP Filmes)

Vitória Gomez

A ditadura nunca acabou. A ditadura só vai acabar com o fim da Polícia Militar, porque ela é muito presente dentro do cotidiano da periferia”, defende Débora Maria da Silva, fundadora do grupo Mães de Maio, em sua participação em A Mãe. Integrante da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Mostra Brasil, o longa mescla ficção à realidade para escancará-la: para Maria (Marcélia Cartaxo), mãe solo e residente da periferia, o desaparecimento do seu filho pelas mãos da polícia e a burocracia para encontrá-lo se assemelha a incontáveis outros casos do cotidiano da Grande São Paulo.

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A beleza de Pedro repousa no retrato bruto da vida

Cena do filme Pedro. Na imagem, o personagem Pedro, um homem indiano de cabelos e olhos escuros, aparece contemplando algo com um olhar longínquo. A suas vestes são tecidos de cores neutras como o marrom. O cenário é um matagal verde iluminado por uma chama no período noturno. A fotografia captura a cintura, sentado no matagal onde apoia as mãos para trás.
Originário da Índia, Pedro participa da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo na seção Perspectiva Internacional (Foto: Rishab Shetty Films)

Nathalia Tetzner

Obra do Cinema indiano, Pedro conta a história de um homem de casta inferior que se vê perdido ao acidentalmente matar uma vaca, símbolo sagrado da sua cultura. O ato somente ocorre porque o protagonista tenta incessavelmente encontrar o responsável pelo assassinato de seu cachorro e fiel escudeiro, em uma das tragédias envolvendo animais mais tristes desde a cadela Baleia de Graciliano Ramos. Estreia do diretor Natesh Hegde frente a longa-metragens, a obra foi exibida no festival IndieLisboa e, agora, participa da seção Perspectiva Internacional na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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