Os Melhores Discos de 2021

Arte retangular na cor azul escuro. No canto superior direito está escrito em branco “OS MELHORES DISCOS DE 2021”. Ao centro na parte inferior da imagem está uma foto da cantora Linn da Quebrada em preto e branco com silhueta azul clara ao redor de seu corpo, enquanto ela olha para frente e tampa o busto com sua mão. Ao lado direito está a figura do cantor Tyler the Creator, também em preto e branco com silhueta azul ao redor de seu corpo, ele está vestindo uma calça, camiseta e um bucket hat. À direita está a imagem da cantora Olivia Rodrigo, segurando um buquê de flores enquanto veste um vestido de festa. Sua maquiagem está borrada aos olhos e seu cabelo está solto na altura do busto. A imagem está em preto e branco e ao redor está também uma silhueta de cor azul escuro. Entre eles estão figuras animadas de estrelas aparecendo e desaparecendo. Um coração sendo partido e refeito e riscas indicando movimento. No canto inferior esquerdo há o logo do Persona, um olho com a íris de cor azul claro.
Entre o melhor da Música em 2021, tivemos os discos de Linn da Quebrada; Tyler, The Creator; e Olivia Rodrigo (GIF: Reprodução/Arte: Ana Clara Abbate/Texto de Abertura: Raquel Dutra)

É um clichê introduzir uma lista de melhores do ano dizendo que o tal período foi “muito rico” ou “memorável” ou “maravilhoso” para a determinada área que a seleção em questão se propõe a registrar. Mas ao fim de 2021, não resta outra conclusão: o ano foi realmente muito especial. É uma série de motivos que sustentam a afirmação para além de uma expressão comum, e o Persona, que acompanhou cada Nota Musical dos referidos 12 meses, não só pode como deve te explicar o porquê o ano que passou ficará marcado na História da Música. Então, para fazer valer o clichê é que estamos aqui com Os Melhores Discos de 2021.

Deixa eu me apresentar, que eu acabei de chegar” foi o verso que a Música brasileira cantou para se introduzir ao novo ano, quando ANAVITÓRIA inaugurou 2021 logo em seu primeiro dia com COR. Já no mês seguinte, a cura rejuvenescedora da Arte se encontrou com Gal Gosta para que Nenhuma Dor estivesse em nosso meio no primeiro ano pós-apocalipse-pandêmico de 2020, anseio que se estendeu ao maravilhoso retorno de Rico Dalasam, assumindo a identidade do nosso Guardião do Alívio

O prenúncio otimista se confirmou, e DUDA BEAT pode declarar o seu Te Amo Lá Fora, enquanto Febem encarou o mundo real sob a perspectiva de JOVEM OG. Aproveitando a liberdade temporária de um país desgovernado, Pabllo Vittar explodiu seu Batidão Tropical, Luísa Sonza celebrou seu DOCE 22 e o PIRATA Jão se lançou em alto mar. No embalo de uma Música que ansiava por novos ares, Juçara Marçal criou uma lenda chamada Delta Estácio Blues, enquanto FBC e VHOOR deram um OUTRO ROLÊ que acabou em BAILE. Já nas estreias, Liniker deu seu primeiro voo solo nas asas de Indigo Borboleta Anil, ao lado das consagradas melhores revelações de 2021: Marina Sena e Tasha & Tracie

Além da nova geração, os nomes precursores da Música brasileira também fizeram o ano valer. A abelha-rainha da MPB entregou um dos melhores discos de sua carreira sob o seu som Noturno enquanto Caetano Veloso revirava seu Coco. O movimento de reinvenção foi seguido por Marisa Monte, que nos abriu suas Portas depois de um distanciamento – também distorcido por idas e vindas temporais assim como é desde março de 2020 – de 10 anos. Assim, de encontros e despedidas se fez 2021: pouco tempo antes de descansar, a Deusa Elza Soares compartilhou a companhia serena de João de Aquino, e a Rainha Marília Mendonça cantou pela última vez com suas fiéis escudeiras.

Mas lá fora, tudo começou com o ano arrancando junto da recém-habilitada mais famosa do mundo. No posto de estrela pop de 2021, está Olivia Rodrigo, perfeitamente acompanhada do lilás ácido de SOUR. Ao lado da novata no hall de maiores sucessos de 2021, o nome só pode ser o dele: Lil Nas X para os mortais, MONTERO para os íntimos. O retrato dos maiores hits do ano ainda é composto pelo planeta de Doja Cat, a trigésima volta de Adele ao redor do Sol, a felicidade incomparável de Billie Eilish e o brilho da noite de Silk Sonic.

Já nos cenários independentes, Lingua Ignota chegou preparada para estar dentre as melhores de 2021, assim como Indigo de Souza em qualquer uma de suas formas ou Arca em qualquer um de seus quatro (!) discos lançados no ano passado. Na mesma direção, o álbum de Aly & AJ fez jus à grandiosidade de seu título, enquanto, por outro lado, Little Simz contrariou as sugestões de seu trabalho com uma Música nada introvertida e Black Country, New Road soou aos nossos ouvidos pela primeira vez com uma maestria de anos. A sensação também surge quando estamos admirando o amanhecer de Yebba ou os prismas poéticos de Arlo Parks.

Ali, Bleachers tirou a tristeza do sábado a noite e Jazmine Sullivan nos contou as melhores histórias de 2021. Juntos, Japanese Breakfast e Arooj Aftab passaram pelos estágios mais profundos da dor, enquanto SPELLLING entrava numa espiral fantasiosa e WILLOW sentia todas as emoções possíveis. Ao mesmo tempo, Tyler, The Creator embarcava em uma nova viagem, Demi Lovato recomeçava sua história e Lucy Dacus via sua vida passar diante de seus olhos. 

O ano também foi para conhecer os desfortúnios de Kacey Musgraves, o poder solar de Lorde e o vermelho inédito de Taylor Swift. Lady Gaga e Tony Bennett colocaram o amor à venda, Selena Gomez encontrou uma revelação e EXO recomendou não lutar contra sentimentos. Junto deles e todos os outros que compõem a nossa seleção dos 89 Melhores Discos de 2021, a comunidade do Persona te espera logo abaixo, a fim de mostrar que o ano especialmente difícil trouxe muita beleza para aqueles que estavam dispostos a parar e ouvi-lo.

Capa do álbum 30, de Adele. Essa é uma foto quadrada. À esquerda da foto é apresentado um close-up do perfil da cantora britânica Adele que toma toda a superfície da imagem. Ela é uma mulher de idade mediana, branca, de cabelos longos e loiros e seus olhos são verde claro. Ao fundo, temos uma visão embaçada com as cores azul escuro e preto. A cantora possui um semblante neutro, sem expressões faciais. 
Se pudéssemos escutar a voz dos anjos, certeza que soariam como Adele (Foto: Columbia Records)

Adele – 30

Desde o lançamento do novo álbum da cantora, em novembro de 2021, Adele já abalou as estruturas das críticas e da indústria musical. Sob o título de 30, em menos de quatro meses o CD também trouxe algumas gratificações para a britânicaNa última edição do Brit Awards, a compositora londrina recebeu os prêmios de Música do Ano por seu single Easy On Me, Álbum do Ano e, talvez o mais especial, o de Artista do Ano. Parece que Mo Gilligan estava realmente certo, Adele é a grande “Rainha dos BRITs”

Não muito diferente dos álbuns anteriores, a cantora transformou as dores e desgostos do seu coração partido em um álbum de busca, gracioso e incrivelmente comovente. De acordo com a própria, este seria a forma de se comunicar com seu filho sobre o divórcio, então não é uma surpresa que tenhamos nos sentido acolhidos com algumas faixas, como My Little Love e Hold On, por exemplo. A questão é que, mesmo depois de 6 anos, ela revelou ser ousada e esperamos que não pare por aqui. O futuro ainda tem muito o que escutar pela voz de Adele. – Vinícius Santos

Faixas Favoritas: My Little Love, Easy On Me e Oh My God


Capa do disco AGROPOC, do cantor Gabeu. A foto mostra Gabeu de lado, segurando um gravador de voz perto do rosto. Ele é branco, usa chapéu de caubói marrom, tem um fone sem fio na orelha, e usa camisa laranja, com calça jeans azul e um cinto escuro. O fundo é na mesma paleta quente, com tons de marrom liso.
Em AGROPOC, Gabeu não leva desaforo para a roça (Foto: Gabeu)

Gabeu – AGROPOC

Bem antes de The Weeknd sintonizar a Dawn FM, Gabriel Felizardo nos convidava a ouvir a Rádio AGROPOC, para curtirmos o som que vem do interior. Filho do cantor Solimões, Gabeu estreia suas composições que misturam o melhor da Música caipira com o mais refrescante que o pop atual oferece, sem tirar nem pôr. Através de trocadilhos astutos, duplo sentido e tiradas cômicas, o disco vai sobrepondo influências e muita personalidade, além de diversificar o ambiente sertanejo nacional, comumente infestado de um discurso machista e homofóbico.

Sem medo ou receio de narrar suas aventuras, o cantor brilha quando incorpora entonações quase teatrais, como em Sugar Daddy e Bailão, o grande destaque do registro. Melodias juninas, sons de rodeios e uma vibração que energizou 2021 se transformam consecutivamente, tornando AGROPOC uma porta de entradas irresistível para o ilimitado queernejo. Em 2021, ninguém chegou de perto de oferecer uma linha tão marcante como “’Vamo’ assumir o nosso amor rural/Sai desse armário e vem pro meu curral/Como ‘nóis’ nunca se viu/Duas potrancas no cio/Num cruzamento adoidado”. – Vitor Evangelista

Faixas Favoritas: Amor Rural, Bailão e Sugar Daddy


Capa do álbum Ain’t It Tragic, da banda de rock Dead Sara. O nome da banda está escrito na parte superior em letras azuis maiúsculas. Na parte de baixo, uma colagem dos rostos dos membros da banda. No resto da imagem, preenchendo toda a capa de forma aleatória, existem outras colagens de  diversas figuras sobrepostas num fundo amarelo. Na parte inferior central da capa, está  o título do álbum, em letras amarelas vazadas sobre um preenchimento azul.
Após uma grande pausa, os roqueiros de Los Angeles voltaram mais inspirados do que nunca (Foto: Warner Records)

Dead Sara – Ain’t It Tragic

O terceiro álbum da banda Dead Sara chegou depois de uma espera agonizante de seis anos, após o rock alternativo estrondoso de Pleasure to Meet You (2015) e a saída do baixista Chris Null, na qual o grupo de Los Angeles precisou se reorganizar para achar uma nova direção para o seu som. Felizmente, os vocais tipicamente roucos de Emily Armstrong vêm com força total em Ain’t It Tragic, revigorado pelo hiato dos músicos e contando com algumas de suas letras mais intensas e explosivas.

Apesar de manter o tom do último EP, há uma energia distinta e raivosa contagiando a nova produção, que consegue se diferenciar de trabalhos anteriores do grupo através da infusão de pop e indie em algumas das faixas mais elétricas e vibrantes, criando uma nova e viciante sinergia entre seus integrantes que reverbera ao longo de todo o disco. Seja no compasso carregado de Heroes ou na franqueza trágica de Uninspired, uma coisa fica clara: Dead Sara voltou mais destemida e inspirada do que nunca. – Gabriel Oliveira F. Arruda

Faixas Favoritas: Hypnotic, Heroes e Gimme Gimme


Capa do disco An Evening With Silk Sonic do grupo Silk Sonic. A imagem é quadrada, com um fundo marrom claro, e o nome do disco se encontra na parte superior em marrom escuro. Um desenho dos rostos de Bruno Mars e Anderson .Paak usando óculos ilustra o centro da imagem, com os nomes dos cantores escritos na parte inferior em marrom escuro.
Desde o primeiro single juntos, o mundo fez questão de deixar a porta bem aberta para o álbum de colaboração do Silk Sonic (Foto: Aftermath Entertainment)

Bruno Mars, Anderson .Paak e Silk Sonic – An Evening With Silk Sonic

“Amigos, espero que vocês tenham algo no seu copo. E senhoritas, não tenham medo de chegar ao palco para uma banda que chamo de Silk Sonic”. O rei está de volta e, muito bem acompanhado. Depois de dançar o R&B de 1980 em 24K Magic lançado em 2016, Bruno Mars retoma o passo em um supergrupo espetacular, ao lado de Anderson .Paak. Com uma fidelidade gigantesca ao funk e soul dos anos 70, nasce An Evening With Silk Sonic. O single responsável pela quebra de recordes históricos, Leave The Door Open, traz à tona o som doce e sedutor que logo arrebatou o sentimento de throwback ao ritmo e blues do novo disco do queridíssimo Silk Sonic.

Mars e .Paak prometem o groove e não deixam esse compromisso de lado. O disco é mais uma experiência – ou melhor, uma noite – do que um álbum contido. A capacidade que a obra tem de proporcionar um bem estar cheio de gingado demonstra que o CD foi feito para divertir. Isto é, essencialmente, o que difere o grande Bruno Mars de outros artistas: o talento em saber como e porquê produzir Música. De qualquer forma, não há dúvidas sobre a dupla Silk Sonic combinar muito e estar subindo as escadas para o sucesso. E no fim da subida, a porta estará aberta. – Leticia Stradiotto

Faixas Favoritas: Fly As Me, Skate e Leave The Door Open


Capa do álbum Any Shape You Take de Indigo de Souza. A imagem é uma pintura que mostra um corpo feminino nu com cabeça de caveira em pé, ao lado de um carrinho de supermercado amarelo com outra pessoa com cabeça de caveira. Ambos se encontram em um corredor de supermercado infinito, com latas caídas ao chão e várias plantas verdes espalhadas no entorno.
Dançando entre o indie rock, bedroom pop, grunge e até o neo-soul, Indigo de Souza abraça qualquer forma que possa tomar em seu segundo álbum, Any Shape You Take (Foto: Saddle Creek)

Indigo De Souza – Any Shape You Take

Não é nada fácil abraçar todas as formas que possamos tomar de maneira sincera, sem julgamentos. Mais difícil ainda é abordar o obscurantismo dos conflitos existenciais internos por meio de uma lente euforicamente colorida, como faz a artista original de Asheville, na Carolina do Norte, Indigo de Souza, no segundo álbum da carreira, Any Shape You Take. Os sentimentos intensos são os mesmos do disco de estreia da carreira I Love My Mom (2018), porém, desta vez, como uma reinterpretação amadurecida e, de certo modo, completamente metamorfoseada: “Eu não sou nada como era antes/Eu não sou nada como a garota que você já amou”.

Morte, dor e angústia encontram cor, ritmo e frenesi. Uma morbidez colorida descreve a preciosa identidade sonora de Souza. São camadas de guitarras irregulares, percussão exaltada, sobreposição de ritmos e gritos, que ecoam diversos gêneros musicais, sem nunca se enquadrar em nenhuma delas. A co-produção com Brad Cook (produtor com colaborações que incluem Bon Iver, Snail Mail e Waxahatchee) integra imaculadamente a melodia inusitada das dez faixas com o lirismo reconfortante da norte-americana, versado pelo enigmatismo suave de sua voz que navega entre as formas mais bonitas dos sentimentos humanos, até as mais sombrias. Encabeçado pela adorável 17 e finalizado pela dolorosa Kill Me, Any Shape You Take é uma experiência catártica, quase terapêutica. – Ayra Mori

Faixas Favoritas: 17, Real Pain e Kill Me


Capa do álbum “a touch of the beat gets you up on your feet gets you out and then into the sun”, do duo pop Aly & AJ. Estilizado como uma colagem, as irmãs Aly e AJ Michalka estão no centro, caminhando para frente, AJ andando um pouco à frente de Aly, com os braços levantados, prestes a comemorar. Atrás delas, uma figura similar, com várias partes rasgadas que revelam diferentes cores por trás: laranja, amarelo e púrpura. Escrito verticalmente na borda esquerda da capa está o título completo do disco.
A espera pode ter sido longa, mas o retorno de Aly & AJ vale por cada faixa (Foto: Aly & AJ Music LLC)

Aly & AJ – a touch of the beat gets you up on your feet gets you out and then into the sun

Quase 14 anos depois de seu último disco e nos calcanhares de dois EPs estelares, o novo trabalho do duo pop Aly & AJ vem carregado de influências country e ritmos lentos vibrando pelo solo californiano. Um álbum de verão em corpo e alma, a touch of the beat… remete, assim como seu título gigantesco sugere, a uma grande caminhada ou road trip pelas planícies ensolaradas que as irmãs habitam. Desde as primeiras notas de Pretty Places até o cadência melancólica de Hold Out, a dupla nos imerge em um sonho há mais de uma década em produção com letras vibrantes e sons sofisticados.

Com uma nova edição Deluxe que expande ainda mais seu escopo com quatro novas faixas, o novo álbum constrói seus temas delicadamente e sem muito alarde, apenas para nos demolir com sua sequência final, entregue com absoluta confiança pelo par de artistas. Das novas músicas, se destaca a brutal Dead on the Beach, que dispensa sintetizadores e encontra sua voz na guitarra enquanto AJ narra uma experiência de quase-morte junto de seu namorado de longa data, o ator Josh Pence. Muito mais do que um comeback, a touch of the beat gets you up on your feet gets you out and then into the sun é uma culminação das vidas de suas artistas, com toda a autoria e personalidade que essa descrição evoca. – Gabriel Oliveira F. Arruda

Faixas Favoritas: Pretty Places, Slow Dancing e Stomach


Capa do álbum Atlantis do grupo sul-coreano SHINee. Na imagem, os quatro integrantes estão num barco antigo de tom marrom situado em uma floresta verde. Onew, um homem branco de cabelo e olhos escuros, aparece duas vezes na foto: uma na parte do meio inferior e outra no canto esquerdo superior. Key, um homem branco de cabelo e olhos escuros, aparece duas vezes na foto: uma exatamente no meio e outra no canto inferior direito, sendo o segundo da esquerda para a direita ali situado. Taemin, um homem branco de cabelo azul e olhos escuros, aparece duas vezes na foto: uma na parte do meio superior e outra no canto inferior direito, sendo o primeiro da esquerda para a direita ali situado. Minho, um homem branco de cabelo claro e olhos escuros, aparece duas vezes na foto: uma na parte do meio superior e outra no canto inferior direito, sendo o terceiro da esquerda para a direita ali situado. Quando estão na parte do meio, os integrantes aparecem em evidência. Quando estão nos cantos, eles aparecem com o tamanho diminuído. Todos vestem roupas claras nos tons azuis e laranjas que combinam com a estética da capa. No canto superior direito, há um selo redondo e verde que leva o nome do álbum e do grupo em amarelo, há também uma rosa dos ventos desenhada no selo.
Com Atlantis, SHINee atraiu os fãs para o fundo do mar (Foto: SM Entertainment)

SHINee – Atlantis

Mergulhando no mundo submerso do SHINee, Atlantis foi a escolha perfeita para ser a faixa-título do relançamento do sétimo álbum de estúdio do grupo já veterano na indústria do K-pop. Se a versão original, Don’t Call Me, traçou caminhos não tão coesos com a sonoridade de Onew, Key, Minho e Taemin, a nova edição trouxe a tona o melhor dos integrantes, em faixas mais convenientes com a identidade visual construída durante 13 anos de carreira. Disponível nas plataformas de streaming em abril de 2021, o projeto retomou a essência artística do SHINee.

Estamos debaixo d’água/Um beijo incompreensível como a profundeza do oceano/Me arrasta para longe. Quem embarcou na aventura aquática do grupo saiu realizado: o videoclipe da faixa Atlantis foi um colírio para os olhos que, graças ao tributo póstumo para o integrante Jonghyun, se encheram de lágrimas. O álbum contou com músicas que fluem de maneira insana, desde o som mais sério até o mais sentimental. Os fãs puderam até mesmo se surpreender com um hino latino, configurado como uma das favoritas. De 2008 para 2021, o modo como a arte é consumida mudou, mas SHINee provou mais uma vez que sempre irá se destacar em meio às infinitas estreias do mercado musical sul-coreano. – Nathalia Tetzner

Faixas Favoritas: Atlantis, CØDE e Body Rhythm


Capa do álbum Bambi do artista sul-coreano Baekhyun. Na imagem, o cantor branco de cabelo e olhos escuros posiciona as duas mãos na altura do lábio. Ele olha para a infinitude do lado esquerdo da foto e a sua vestimenta pouco visível é preta.
Os vocais de Baekhyun soaram como magia em Bambi (Foto: SM Entertainment)

Baekhyun – Bambi

Em clima de despedida, Baekhyun lançou seu terceiro álbum de estúdio, Bambi, pouco tempo antes de precisar vestir a farda do exército da Coreia do Sul, onde o cumprimento do regime militar é obrigatório. O solista de 29 anos sabia que os anos de inatividade musical como servidor público causariam uma saudade imensa nos fãs, então, as 6 músicas do seu último projeto contavam com o propósito de deixar uma marca nos ouvintes. É fácil afirmar que quem escutou a voz angelical e os falsetes perfeitos na faixa-título Bambi, não os esqueceram. 

Dono de uma discografia impecável como integrante do grupo EXO, Baekhyun também está construindo uma trajetória solo extraordinária. Com o seu lançamento anterior, Delight, ele vendeu 1 milhão de cópias pela primeira vez em 19 anos no cenário da música sul-coreana. Em 2021, o cantor reivindicou o título mais uma vez e provou que tem talento para quebrar recordes. Para o público, ficou o sentimento mágico que Bambi proporcionou e a ânsia pela volta de Baekhyun aos palcos. – Nathalia Tetzner

Faixas Favoritas: Bambi, All I Got e Cry For Love


Capa do álbum BAILE, de FBC e VHOOR. Imagem quadrada em desenho e colorida em cores pastéis. Nela, vemos um grupo de jovens no morro de uma favela. Todos têm olhos expressivos, sem pupila, e dentes sorridentes e pontudos. Eles interagem entre si, conversando, correndo e dando risadas. No centro, vemos uma dessas figuras, com um olhar desolador, segurando uma bola de cristal que reflete a imagem de uma mulher dançando. Da bola de cristal, vemos crescendo longas caixas de som e dois jovens, flertando enquanto dança. No canto inferior direito, também vemos a figura de um porco antropomorfizado, segurando uma pistola e vestindo a farda da polícia mineira. Por fim, no topo da imagem, vemos os dizeres em grandes letras garrafais amarelas: BAILE. E acima deles, outras duas figuras: a de um DJ, que aperta os botões de uma mesa de som, e a de um homem com cavanhaque e camisa polo, que dá risada enquanto segura um cigarro e expõe a sola dos seus chinelos “Kenner”. O cenário se passa durante o dia.
Respeita a União da Fé e da Força (Foto: FBC & VHOOR)

FBC & VHOOR – BAILE

A sinergia entre FBC e VHOOR parece de mentira. Antes de BAILE, ainda em 2021, a dupla lançou, em parceria com o selo WRM, o EP OUTRO ROLÊ. Mais próximo das sonoridades que VHOOR já brincava em suas mixtapes solo, as 6 faixas do belo registro mesclavam os graves corpulentos do drill britânico com batidas e samples do funk e da música mineira. Sendo assim, é possível que, quem vá conhecer ambos por essa via, tenha a impressão que os artistas belo-horizontinos são colaboradores de longa data. Mas a realidade é que as parcerias entre os dois são extremamente recentes e, mesmo assim, ocorreu entre eles um magnetismo imediato e praticamente transcendental. Então, depois de uma sintonia que deu tão certo, dificilmente ficaria só por isso. E de fato não ficou. OUTRO ROLÊ é um projeto coeso, mas BAILE é, no mais puro sentido da palavra, inacreditável.

Desta vez, a criatividade astuciosa da dupla os leva para os primórdios do miami bass e do funk dos anos 90. Estruturado como uma verdadeira Ópera Miami, o disco conta uma narrativa trágica e calorosa em cima de uma musicalidade divertida e cativante, baseada na repetição de refrões simples e grudentos. Sem medo de ser nostálgico e explorar os clichês do gênero, FBC consegue, com esmero, equilibrar a leveza de faixas como a viral do TikTok Se Tá Solteira, e o peso de retratos viscerais de violência, como Polícia Covarde – que, nesse caso, subverte com genialidade o artifício das repetições para traduzir um clamor de revolta e lamento. Contudo, não se engane: BAILE não quer nada além de fazer todo mundo rebolar a bunda e se jogar na pista. E é exatamente nessa despretensão – elaborando seus conceitos sem se levar tão a sério – que FBC e VHOOR concebem sua obra-prima e convidam: “Esquece isso tudo e vem pro Baile!” – Enrico Souto

Faixas Favoritas: Não dá pra Explicar, Polícia Covarde e De Kenner


Capa de Batidão Tropical. No centro da foto está Pabllo Vittar, branca e de cabelo loiro. Ela veste um conjunto rosa com detalhes em branco, e está sentada em um banco escuro e segurando uma bolsa rosa brilhante. Ao seu redor dá para ver a parte de baixo se homens, que usam sungas azuis. O fundo é colorido, em tons mais quentes. No canto superior está o nome do álbum, na cor rosa, e no canto inferior está o nome da artista, da mesma cor.
Ultra Som, uma das melhores canções de 2021, explora o hyperbrega que a gente não sabia (ou sabia?) que precisava [Foto: Sony Music]
Pabllo Vittar – Batidão Tropical

A casa de máquinas Pabllo Vittar é um evento por onde passa, desde seu tumultuado início de carreira. Com Batidão Tropical, ela atesta que o synthpop nada mais é que o tecnobrega internacional, e coloca em evidência o valor do forró enquanto gênero pop brasileiro. Vittar vai na contramão do óbvio, e enquanto assistimos diversos artistas copiarem sonoridades estadunidenses, a drag queen arrisca com um disco de ritmos nordestinos, por meio de três canções inéditas e regravações de clássicos que cresceu ouvindo no Maranhão.

Pabllo sabe muito bem que sua singularidade é o que a destaca, além de seu talento como expoente da arte nacional. Seu timbre de voz, seu nome e, principalmente, suas raízes e referências, constituem a forte construção da identidade de sua carreira, que reflete em seu último álbum. A maior prova está além-Batidão Tropical: o remix forró de Fun Tonight, presente no Dawn of Chromatica de Lady Gaga, mostra que Vittar é sim influenciada pelo pop internacional, mas não abandona seu Brasil por nada nesse mundo. – Jho Brunhara

Faixas Favoritas: Triste com T, Ultra Som e Zap Zum


Capa do EP Be Right Back. A imagem mostra Jorja Smith, uma mulher negra e jovem, de cabelos ruivos e longos. Ela é fotografada do busto para cima, mantendo seu olhar direcionado para baixo. Ao fundo, um painel vermelho reflete sua sombra parcialmente.
Em Be Right Back, trabalho lançado para os fãs, o frescor de Jorja Smith provou não ter data de validade (Foto: FAMM)

Jorja Smith – Be Right Back

É insanidade tentar mensurar, mesmo após tantos achados e perdidos, quantos universos Jorja Smith carrega consigo. Nesse sentido, Be Right Back é sintético: nasce para reiterar o domínio da britânica sobre todos, especialmente os que decide contextualizar com música. Alegorizado pelo hipnotismo de narrativas e sentimentos, o EP se constrói em cadências refinadas e experimentais de jazz, R&B e trip-hop, nas quais os vocais de Jorja coordenam da pavimentação ao clímax. O esbanjar de confiança exala já nos instantes iniciais e, perpassando vieses melancólicos, delicados e nostálgicos, sustenta a individualidade do projeto.

E haja individualidade. Em definitivo, a artista prova porque lembra Amy Winehouse e Lauryn Hill sem contradizer suas órbitas próprias. Tangível no coração partido, imprevisível nas mudanças, dilacerante na perda, complacente na autoafirmação – nenhuma caracterização dos desafios cantados é limitante. A bela marca de Smith é saber mergulhar na dualidade emotiva da existência, capturando em suas composições a dedicação que o processo exige. Mas maior do que a busca por ser consumido pela aura do sucesso, só o anseio por mais arte como Be Right Back. Felizmente, sua autora denuncia pelo título que, passado o breve espaço de outras aventuras e conquistas, estará de volta em um segundo álbum. Vitória Vulcano

Faixas Favoritas: Gone, Digging e Weekend


Capa do álbum Blue Weekend. A imagem mostra a banda Wolf Alice, composta por Ellie Rowsell, Joff Oddie, Theo Ellis e Joel Amey, acomodada em um ponto de ônibus recheado de tons de rosa, laranja e verde neon. No entanto, a luz azul, igualmente neon, é a única que cobre os corpos dos quatro integrantes. Todos vestem roupas de mangas longas e escuras.
Aclamado por crítica e público, Blue Weekend coroa o suprassumo criativo de Wolf Alice (Foto: Dirty Hit)

Wolf Alice – Blue Weekend

Pintando céus radiantes ou iluminando as agitações noturnas, o azul é definido pela volatilidade e preenche ambientes em um piscar de olhos – principalmente no fuzuê dos finais de semana. Desmentindo quem pensa que tal instabilidade não permite direcionamento, Wolf Alice usa as nuances da cor justamente para comandar a efervescência mundana, ora corriqueira, ora filosófica, de Blue Weekend. Visual e atmosférica, a produção concebe linhas alternativas do punk ao folk, passando por doses vívidas de pop e rock, para dialogar com provocações e experiências tão duradouras e imersivas quanto seus quarenta minutos de formação. E, apesar da aparência calorosa de revival noventista, o enredo é de maturidade atemporal.

Modelando o ar camaleônico do disco à estética tangível que é tirar dores, medos e prazeres para dançar, Wolf Alice se desdobra entre sutileza e agressividade sem desperdiçar ritmo, engrandecendo também o poder versátil da vocalista Ellie Rowsell. Há palco para dissecar o narcisismo de uma humanidade, submergir na tristeza ouvindo Love Is A Losing Game e, de quebra, fechar ciclos com roupagens distintas da mesma alusão. Até a versão Deluxe, com gravações ao vivo de cinco faixas do projeto original, mantém a primazia dos arranjos da banda. Devidamente nomeado ao Mercury Prize 2021, Blue Weekend faz seu legado encontrando compostura na profundidade e inteligência emocional na jornada de ação. Vitória Vulcano

Faixa Favoritas: Delicious Things e Lipstick On The Glass


Capa do álbum CALL ME IF YOU GET LOST de Tyler, The Creator. A imagem é uma representação da carteira de identidade de Tyler em um fundo branco. Do lado esquerdo, uma foto de Tyler, um homem negro com um chapéu de pele. Do lado direito, informações pessoais dele (nome e data de nascimento, entre outras). No lado inferior direito, há a assinatura de Tyler. A carteira de identidade tem estrelas nas laterais. 
CALL ME IF YOU GET LOST foi o segundo álbum de Tyler a estrear em primeiro lugar na Billboard (Foto: Columbia Records)

Tyler, The Creator – CALL ME IF YOU GET LOST

CALL ME IF YOU GET LOST dá sequência à estética abraçada por completo em Flower Boy e aprofundada em IGOR: um lugar entre o rap e o R&B, que confundiu os críticos e marcou Tyler, The Creator como um dos popstars mais interessantes da história recente. CALL ME é mais rap, da forma ao conteúdo. Começando pela tracklist longa, pontuada pelas tags de DJ Drama (“gangsta grillz!”) e cheia de feats, características que remetem às clássicas mixtapes do gênero. As participações certeiras e os beats versáteis tornam a obra uma jornada, acima de tudo, divertida. 

A extensão dá oportunidade para Tyler mostrar várias facetas, da crítica social aos problemas e prazeres da vida em meio à fama. Ele também produziu todas as 16 músicas, que passeiam pelo trap, R&B, rap old school e dancehall com facilidade. A julgar pelo ecletismo e pelos clipes que marcam essa nova fase, Tyler nunca esteve tão confortável para ser ele mesmo. Isso significa menos da lírica ultra-exagerada dos primeiros álbuns, mas sem perder a irreverência de sempre. Tyler está cada vez mais sólido na posição de rapper com grande apelo popular, seguindo os passos dos ídolos André 3000, Missy Elliott e Pharrell Williams. Assistir a essa ascensão é um grande prazer. – Gabriel Leite Ferreira 

Faixas Favoritas: CORSO, LUMBERJACK e WUSYANAME


Capa do disco Cavalcade. A imagem mostra uma colagem com diferentes formas e imagens, quase todas indistinguíveis, formando uma textura visual com predomínio das cores azul, roxo, laranja, e com pinceladas de vermelho e rosa. 
O caos visual da capa já deixa um aviso: Cavalcade é intenso! (Foto: Rough Trade Records)

black midi – Cavalcade

Como uma metralhadora, guitarra, bateria e baixo disparam as notas que abrem Cavalcade, segundo disco da banda britânica black midi. Em seguida, entram saxofones distorcidos, violinos estridentes e a voz desnorteada de Cameron Picton, disparando os versos de John L, que não abre o disco com o pé na porta, mas como um trator derrubando a parede inteira. Para quem sobreviver à hipnose desse pesadelo frenético e ficar sedento por mais, Cavalcade faz jus à intensidade de sua faixa de abertura, e ainda parte, por vezes, para caminhos mais serenos surpreendentes, mostrando um amadurecimento na sonoridade da banda. 

Desde então, o grupo, que é um nome de destaque dentre as bandas que vêm renovando a experimentação no rock, como Squid e Black Country, New Road, lançou um EP com versões ao vivo das canções, saiu em turnê, e os fãs já especulam informações sobre o futuro terceiro álbum. As expectativas altas não existem à toa, afinal Cavalcade foi um dos melhores discos de 2021 ao conseguir dar uma carga emocional densa a um rock experimental de precisão matemática que poderia facilmente ter se tornado excessivamente cerebral e distante. E que carga: Cavalcade oferece uma porrada, e ainda dá de brinde um curativo. – João Batista Signorelli

Faixas Favoritas: John L, Slow e Ascending Fourth


Capa do CD “Chegamos Sozinhos em Casa”, da banda Tuyo. Fotografia quadrada e colorida. Nela, vemos três pessoas em frente a um grande rancho, com telhados marrom e pintura branca. O céu é limpo e azul, e eles se apresentam em pé, num gramado verde-escuro. Os três olham para a câmera, com um semblante sério. Primeiro, à esquerda, está Jean. Um homem negro, de barba cheia, com cabelos crespos da cor preta, raspados nas laterais e com um grande volume no topo, que se divide em dois. Ele veste um sobretudo azul escuro, uma camiseta branca, uma calça azul-escuro e tênis brancos. Ao seu lado, no centro, está Lay. Uma mulher negra, de cabelos crespos raspados e tingidos em loiro. Ela veste uma espécie de quimono azul-escuro, com grandes ombreiras nos braços, e com uma saia que se estende apenas até as coxas. Além disso, ela também veste meias de cano longo brancas e tênis brancos. Por fim, ao lado direito, está Lio. Uma mulher negra, de cabelos crespos volumosos da cor preta. Ela veste um grande vestido azul-escuro de mangas longas, que se estende até seus pés, e que se divide no meio em botões fechados. Nos pés, ela também usa tênis brancos.
Nossa melhor amiga em 2021, a banda Tuyo já antecipava essa postura de acolhimento em Sem Mentir: “Não precisa se assustar/Eu caminho com você/Nesse inferno permanente” (Foto: Tuyo)

Tuyo – Chegamos Sozinhos em Casa

Tuyo nos acompanhou por todo o árduo ano de 2021 com Chegamos Sozinhos em Casa. Do Volume 1 e Volume 2 em maio e julho, a série documental Fragmentos de setembro à novembro, e agora as live sessions do disco sendo progressivamente disponibilizadas nos streamings de Música. É verdade que o projeto de maior projeção da carreira da banda retrata, tematicamente, conflitos terminantemente individuais. Porém, há um fator importante nessa questão. Apesar da ênfase no Sozinhos, Tuyo faz questão de nomear seu álbum na 1ª pessoa do plural: nós Chegamos em Casa. Sendo assim, Lio, Lay e Machado se voluntariam a segurar nossa mão e nos guiar por esse tortuoso processo que é olhar para dentro, ao passo que também sugere que, ao fim dele, o encontro é sempre com outro.

E, acredite, o destino os levou para bem longe. Entre Music Video Awards, Prêmio Multishow, e o fatídico Latin Grammy, Tuyo fez longa viagem pela temporada de premiações em 2021. E, mesmo que não tenha sido contemplada – injustamente – em nenhum dos eventos citados, a banda foi reconhecida e glorificada tanto por crítica quanto por público, e, de qualquer forma, alcançaram espaços que nunca poderiam ser acessados anos atrás. É uma conquista por si só, e que deve ser celebrada. No fim, imputar qualquer tipo de adjetivo a Chegamos Sozinhos em Casa seria, fatalmente, reduzir sua riqueza e potência enquanto obra. A cada reprodução do disco, ele ganha novas camadas e sentidos, em níveis que seria impossível descrevê-las satisfatoriamente. A fonte da Tuyo está longe de secar, e Chegamos Sozinhos em Casa só comprova o quanto o trio ainda tem muito a dizer. Enfim, estaremos sempre aqui para ouvir. – Enrico Souto

Faixas Favoritas: Sem Mentir, Turvo e Chegamos Sozinhos em Casa


Capa do álbum Collapsed in Sunbeams, de Arlo Parks. A imagem é composta por uma fotografia de uma mulher sentada numa cadeira vermelha. Ela é jovem e negra. Ela está com o pé esquerdo estendido sobre uma outra cadeira vermelha, essa tombada no chão de madeira. O fungo é bege, quase branco. Ela é ruiva, de cabelos curtos, e veste camisa estampada, calças curtas e tênis pretos. No canto superior direito, está escrito o nome da artista em fonte simples e em caixa alta em tom de preto. No canto inferior esquerdo, em branco, está a lista de músicas do disco.
Apreciada por Billie Eilish, Lily Allen e Phoebe Bridgers, Arlo Parks sai de um belo 2021 indicada ao Grammy e vislumbrando uma nova era (Foto: Transgressive Records)

Arlo Parks – Collapsed in Sunbeams

Em janeiro de 2021, Arlo Parks já abençoava o âmbito musical do ano com Collapsed in Sunbeams. Como estreia da cantora, produtora, compositora e poetisa britânica, o disco se valoriza no frescor do neo-soul, na riqueza de suas composições e na contemporaneidade de seus temas, que são a identidade constante de cada uma das 12 canções. Entre elas, a novata do sul de Londres canta suas melodias traumaticamente solares sobre amor, vida e amizade no contexto urgentemente realista, ansioso e depressivo do jovem adulto no século 21 – premissa que é intensificada pela versão Deluxe do disco, que complementa a tracklist com 8 canções lo-fi

Se engana quem pensa que tal identidade artística não encontra mais espaço na Música, principalmente com a ascensão de jovens revestidos de coragem e honestidade para encarar a própria geração, e especialmente sob o olhar de Arlo Parks. A artista encontra as contradições de quem representa e os transfere para uma musicalidade poética e perfeitamente adorável, que não se perde em meio às influências palpáveis do bedroom pop. Nada é à toa: ela está dentre os indicados a Melhor Artista Revelação e Melhor Álbum de Música Alternativa no Grammy 2021 desabando em raios de Sol. – Raquel Dutra

Faixas Favoritas: Too Good, Black Dog e Bluish


Capa do álbum COR. Na imagem, em frente a um fundo amarelo claro, vemos, à esquerda, Vitória Falcão, e, à direita, Ana Caetano. Elas vestem o mesmo  suéter amarelo, azul e branco, cada uma ocupando um dos braços desse, dão as mãos e olham para lados contrários. Ambas são mulheres brancas, aparentando cerca de 25 anos, de cabelos castanhos claros presos em um coque, e usando um batom rosado.
No Grammy Latino 2021, a dupla ANAVITÓRIA venceu Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Português, com COR, e Melhor Canção em Língua Portuguesa, com Lisboa, faixa com participação de Lenine (Foto: Anavitória Artes)

ANAVITÓRIA – COR

2021 começou com o pé direito com COR, quarto álbum do duo ANAVITÓRIA. O projeto foi lançado de surpresa logo no primeiro dia do ano passado, dando um pontapé leve e positivo nos 365 dias do ano. Isso porque, cinco anos depois do primeiro lançamento da dupla, a evolução musical é clara, mas a calmaria e o lirismo continuam sendo marca registrada de Ana Caetano e Vitória Falcão. Estreando o selo musical próprio, o Anavitória Artes, elas aproveitaram a liberdade para testarem elementos e instrumentos novos, que foram inseridos discretamente nas 14 canções produzidas por Caetano e Tó Brandileone e mostram a vontade de experimentação, sem jogar fora a identidade pela qual são conhecidas.

As composições, como sempre, são o ponto alto dos trabalhos de ANAVITÓRIA. Já era perceptível a evolução de O Tempo É Agora, álbum anterior, em relação à estreia da dupla, ANAVITÓRIA. Em COR, as duas avançam nas metáforas presentes nas letras, que tangem elementos da natureza e do cotidiano para se referirem ao amor, à conexão e ao sexo, e na profundidade dos sentimentos trabalhados. Os temas permanecem os mesmos – em sua maioria, relacionamentos, no geral -, mas o lirismo de Ana Caetano assume uma maturidade ainda mais notável ao enxergar mais de um lado da situação, em um só álbum. Não há só coração partido, nem só a euforia de uma relação em seu ápice. A participação de Rita Lee, recitando versos na faixa Amarelo, azul e branco, prova, de novo, a habilidade da dupla de articular seus pensamentos e sentimentos, em canções que não poderiam ser de ninguém, além das duas. – Vitória Lopes Gomez

Faixas favoritas: Cigarra, Abril e Te procuro


Capa do álbum Dai a Cesar O Que É de Cesar. Na imagem o rapper Cesar está de costas lapidando uma estátua na favela. No canto esquerdo há o rosto da estátua que é uma mistura da figura de Júlio César e o próprio Cesar Mc, em tons marrons claros. O cantor está no centro da imagem, em cima de uma laje e com uma escada por perto. Ele é um homem negro de cabelo castanho black power alto, veste bermuda preta e uma camiseta branca pendurada no ombro, está descalço e segura objetos de entalhe enquanto uma mão está próxima da estátua e a outra para trás se preparando para bater o entalhe. O fundo é de tons acinzentados que mostram um céu de nuvens e um pedaço da favela no canto direito. No canto direito superior há uma espécie de ticket dourado com a logo de Cesar Mc.
Cesar MC usa 7 músicas para contar uma versão de si em cada, numa clara alusão aos dias que Deus levou para criar a Terra (Foto: Pineapple Storm TV)

Cesar MC – Dai a Cesar o Que É de Cesar

“Disseram que era só mais um n*guin”, mas era, na realidade, um dos principais MCs do rap brasileiro, aquele que não consegue fazer love song. O álbum de estreia de Cesar MC foi um estrondo, abençoado com a participação de Djonga e Emicida, os maiores do cenário, para coroar Dai a Cesar o Que É de Cesar como um dos melhores de 2021. Foi o momento certo para os seus primeiros passos na construção artística, e mesmo só no começo, sua obra esbanja identidade e variações geniais do hip hop

Cesar já mostrou a maestria em rimar com exatidão sobre o mundo conforme sua percepção. O maior mérito de seu disco debut, que o coloca entre os principais no ano, é a forma sincera, de linguagem simples, em dar luz à sua relação como preto pobre e a própria fé, demonstrada em Navega. Cheio de referências, Dai a Cesar o Que É de Cesar mostra as pequenas coisas que o fizeram nascer na batalha e chegar até ali: o boombap, a dureza e a dor da luta preta, o gosto por colocar seus pensamentos na folhinha, e marcar sua presença com um álbum inesquecível. – Nathália Mendes

Faixas Favoritas: Neguin, Antes Que a Bala Perdida Me Ache e Navega


Capa do álbum 'Dancing With The Devil... The Art of Starting Over', de Demi Lovato. Nela, Demi Lovato está com as mãos em sua cintura, e ela usa um vestido kimono vermelho. A imagem é holográfica, e o corpo de Demi se repete três vezes sobre a o fundo verde. Seus cabelos são longos, na altura de sua costela, e sob suas madeixas existem pequenas borboletas de acessório.
Que depressão o que more ela já superou isso (Foto: Island Records)

Demi Lovato – Dancing With The Devil…The Art Of Starting Over

Depois de tanta porrada, depois de tanta cacetada, Demi Lovato finalmente encontrou um pouco de paz. Mesmo que seja vendendo vibradores e tentando se comunicar com ETs, o que importa é que elu dançou com o Diabo mas se libertou e foi capaz de começar de novo por meio de sua arte. Dancing With The Devil…The Art Of Starting Over, lançado durante a exibição da série documental Demi Lovato: Dancing with the Devil, é extremamente pessoal na mesma medida que foi pensado para ser uma coletânea de suculentas músicas pop, e funciona de forma exemplar.

Há espaço para tudo, do melhor jeito Demi Lovato genuíno de ser, mesmo que beirando o cafona aqui e ali. Seja na gritação de Anyone, na nada sutil The Kind of Lover I Am, na participação de Ariana Grande e até mesmo num cover ótimo de Mad World, que poderia ter tudo para dar errado nas mãos de outra pessoa, mas se encaixa perfeitamente na proposta do disco. DWTDTAOSO não quer reinventar a roda ou ser experimental, e sim retornar a sonoridades do início da carreira de Demi para um renascimento e reencontro com seu eu interior. As polêmicas talvez atrapalhem a percepção das pessoas para com Lovato, mas no fim do dia, um bom trabalho ainda é um bom trabalho. – Jho Brunhara

Faixas Favoritas: The Way You Don’t Look at Me, Melon Cake e Carefully


Capa do álbum Dawn, de Yebba. A imagem mostra uma fotografia de um homem segurando uma bebê no colo na frente de uma parede verde escura. O homem é branco, tem um bigode escuro e usa um terno preto. Ele aparece apenas com o lado esquerdo do corpo, de frente, ocupando o lado esquerdo em direção ao centro da imagem. O homem segura em seus braços uma bebê, também branca, que usa um vestido rosa claro e um lacinho no cabelo. A bebê segura as mãos juntas e olha para o lado esquerdo, fora da imagem, e está centralizada. Ao redor da fotografia, existe uma moldura de foto analógica, e no canto inferior direito, na vertical, está escrito o nome do álbum e o nome da artista em caixa alta e em tons de amarelo e branco, respectivamente.
Abbey Smith é um prodígio declarado há pelo menos cinco anos, criando seu nome na Música ao aparecer junto das assinaturas de artistas como PJ Morton, Mark Ronson, Sam Smith, Drake e Ed Sheeran (Foto: RCA Records)

Yebba – Dawn

É difícil acreditar que Yebba está apenas em seu primeiro disco. A experiência da artista, que já levou até a vencer um Grammy em 2019 na mesma categoria em que concorre em 2021, coloca sua estreia oficial em um outro nível dentre os lançamentos do ano. É que Dawn engloba todas as suas experiências de suas andanças pela indústria nos últimos anos em combinação às suas vivências pessoais nada levianas, muito bem referenciado pelas produções contemporâneas do soul, R&B e folk, e muito bem trabalhado por suas profundas composições. Segue a história: aos 26 anos, a artista que aprendeu a cantar numa igreja pastoreada pelo pai processa o fato de ter vivenciado o início de sua carreira ao mesmo tempo em que viveu o suicídio da mãe.

Desde o título, a memória materna é homenageada e uma metáfora é criada, transformando Dawn em uma experiência que, ao contrário do que pode parecer, não faz do disco algo mais ou menos digerível. Entre momentos de luz e escuridão, a artista se expressa nas referências do jazz que criam a diversão de Boomerang, até o toque de gospel que aparece em Distance, terminando nos gracejos dos anos 70 de Stand que reverberam em Far Away, colaboração com A$AP Rocky, um dos melhores destaques do disco e uma das melhores músicas de 2021. As 12 canções de maestria nada pretensiosa só deixam um apelo: que cada segundo sob o amanhecer de Yebba seja apreciado em sua totalidade. – Raquel Dutra

Faixas Favoritas: All I Ever Wanted, Far Away e October Sky


Capa do álbum De Primeira, de Marina Sena. A imagem é composta por uma fotografia de corpo inteiro de Marina em cima de um pódio, sob um fundo vermelho. A artista está de pé e levemente inclinada para o lado esquerdo da imagem, para onde também olha. Marina é uma mulher negra de pele clara e tem cabelos pretos ondulados penteados para o lado direito, deixando o ombro esquerdo à mostra. A artista veste uma faixa grossa tipo de Miss, onde está escrito ‘De Primeira’, uma calcinha preta de cintura alta e um sapato scarpin verde médio de cetim. Ao redor do pódio onde Marina está, existem luzes amarelas redondas, cercando o quadrado. Na lateral esquerda da imagem, está escrito ‘Marina’ dentro de um retângulo preto em fonte branca e caixa alta. Na mesma estilização, no lado direito, está escrito ‘Sena’. A capa do álbum possui ainda alguns selos. O primeiro está no canto superior direito, e é um retângulo pequeno azul, onde está escrito ‘de primeira’ numa fonte de máquina de escrever em preto. O segundo está no canto inferior esquerdo, e é um retângulo pequeno amarelo, que traz a divisão da tracklist do disco em lado A e lado B.
Marina Sena integrava o grupo Rosa Neon (Foto: Marina Sena e Iuri Rio Branco)

Marina Sena – De Primeira

Não há nada que não seja De Primeira no disco de estreia de Marina Sena. Classe, categoria, sonoridade, conceito e efervescência, tudo é primoroso na produção que contou com a parceria de Iuri Rio Branco. A pluralidade de ritmos se entrelaça numa linha psicodélica envolvente que transparece os sentimentos e a bagagem cultural da artista, se tornando a melhor revelação do ano.

Com sua estética pessoal incorporando o melhor de Marisa Monte e a sensualidade de Gal Costa nos anos 80, Marina Sena traz uma performance indiscutível. Munida de sua voz única, a cantora se mostra segura em toda sua audácia. De Primeira é um disco libertador, universal e irresistível, que já aparecia na lista de melhores mesmo antes de Por Supuesto hitar no TikTok. Não há como ficar imune às chamas que aumentam em cada canção. O calor do clima brasileiro faz a gente pedir por mais! – Ana Júlia Trevisan

Faixas Favoritas: Temporal, Tamborim e Amiúde


Capa do álbum Delta Estácio Blues de Juçara Marçal. Uma mulher negra posiciona as duas mãos de forma que só um dos olhos, a boca e uma das orelhas fiquem visíveis. Ela tem cabelo trançado e usa um brinco prata na orelha visível. Os dois ombros e parte dos braços completam a capa, que tem fundo azul claro.
O aguardado segundo álbum solo de Juçara Marçal contou com apoio de edital da Casa Natura Musical (Foto: QTV)

Juçara Marçal – Delta Estácio Blues

Entre o lançamento no fim de 2021 e o início desse ano, Juçara Marçal tem colhido os frutos de um álbum (e de uma carreira) irrepreensível. Delta Estácio Blues foi agraciado com o prêmio de Melhor Disco do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). O Prêmio Multishow também considerou o segundo trabalho solo da cantora o melhor lançado em 2021 e Crash, a melhor canção. São validações importantes para expandir ainda mais o reconhecimento do trabalho de Juçara, cuja obra é das mais versáteis e impactantes da música brasileira atual.

Em Delta Estácio Blues, ela e o parceiro de longa data Kiko Dinucci mergulham nas batidas eletrônicas para conceber uma obra radicalmente acolhedora. Versos de rap e beats sintetizados dividem espaço com cantos afro-brasileiros e referências do samba. O resultado é um disco que se revela mais rico a cada escuta. Juçara segue na proposta de “desconstrução” da canção, agora se valendo de samples (“cacos”, como ela mesmo chama) para dar forma a faixas que borram as fronteiras entre música eletrônica experimental e MPB.  – Gabriel Leite Ferreira 

Faixas Favoritas: Vi de Relance a Coroa e Crash


Capa do álbum Different Kinds of Light, da cantora Jade Bird. A cantora, de pé na frente de um círculo que bloqueia a luz amarela vindo de trás, criando um cone de sombra aos seus pés. Bird é branca e possui cabelos loiros. Ela usa um vestido branco e de mangas longas, e suas palmas estão viradas para frente. Um risco de luz diagonal vai da sua mão direita até seu rosto e atinge o círculo atrás dela. Na sua frente, seu nome e o nome do álbum são projetados sobre si e sobre o círculo: “Jade Bird” e “Different Kinds of Light”.
Jade Bird produz luz através de sua voz em seu novo projeto (Foto: Glassnote Music LLC)

Jade Bird – Different Kinds of Light

A cantora britânica Jade Bird volta mais madura e preparada em seu segundo álbum, Different Kinds of Light, com uma voz talvez menos feroz, mas ainda bela e sensível. Com apenas 23 anos, a cantora e compositora exerce um controle surpreendente sobre seu próprio talento, capaz de transitar entre tons e gêneros diversas vezes durante as 15 faixas do disco, que peca apenas no excesso, nunca na falta. De fato, apenas o canto melódico de Bird acompanhado de seu violão característico às vezes parece simplesmente grande demais para ser contido, dada a natureza expansiva de seu country alternativo.

Ela também transita muito bem entre continentes, abraçando os ritmos do Sul americano e aperfeiçoando suas cordas vocais e sintéticas durante a jornada, e criando um estilo inteiramente seu conforme o tempo passa. Different Kinds of Light parece não como uma evolução linear, e sim como uma adição eclética à carreira de sua artista, que audaciosamente configura os sons do disco anterior junto com um novo repertório de rock alternativo para novamente dar vida aos sons de sua vida. – Gabriel Oliveira F. Arruda

Faixas Favoritas: Trick Mirror, Now is the Time e Candidate


Capa do EP Diretoria de Tasha e Tracie. Com filtro granulado, e em preto e branco, a imagem mostra as irmãs usando tops e adornos carnavalescos, com pedrarias, brilhos e penas. Da direita para a esquerda, Tracie aparece com uma blusa preta sobre os ombros. Há no canto superior esquerdo da imagem, um selo com faixas que também lembra um elemento próprio de Escolas de Samba, contendo o nome da dupla e o título do álbum e trazendo centralizado um ícone vetor de uma adaga sendo cravada por duas mãos pretas em uma mão branca. 
O segundo trabalho de estúdio das gêmeas Tasha & Tracie é considerado um dos melhores e mais expressivos EPs da nova geração do rap brasileiro e foi eleito um dos 50 melhores álbuns de 2021 pela APCA (Foto: Steff Lima/Ceia ENT.)

Tasha & Tracie – Diretoria

Com qualidade inquestionável, a lírica agressiva das gêmeas Tasha & Tracie dão o tom do seu segundo trabalho de estúdio, o EP Diretoria. Lançado em agosto de 2021, o disco que mistura drill com trap e &B, sem deixar o boombap e o grime de lado, traz fortes referências à clássicos do funk consciente e também do funk proibidão, e mostra que são elas quem estão por cima, principalmente quando se fala da liberdade sexual e empoderamento da mulher preta independente e de favela. Tudo isso de maneira explícita, sem meias palavras – o que, claro, incomodou muita gente. Provando porque desafiam o seu ego quando são elas que comandam, como cantam em Amarrou e justificando as suas mais de 1 milhão de visualizações no YouTube.

Apesar das críticas, o álbum das multiartistas, que recentemente vêm recusando qualquer outra denominação que não “ativistas periféricas”,  foi considerado um dos melhores do ano e da nova geração do rap no país, aparecendo na lista dos 50 melhores de 2021 da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), e que, além de figurar no Prêmio Nacional Rap TV, também levou o título de melhor EP do ano passado, assim como as autoras, vencedoras na categoria Melhor MC Feminino.  – Andrezza Marques 

Faixas Favoritas: Amarrou, Lui Lui e Diretoria


Capa do álbum Doce 22 da brasileira Luísa Sonza. Na imagem, a cantora branca de cabelo e olhos claros se apoia no chão com os joelhos e os cotovelos. Ela olha diretamente para a câmera enquanto une as suas mãos que tampam metade da sua cara. Em um fundo escuro, Sonza veste roupas íntimas nas cores rosa e preto.
Luísa Sonza trouxe a genialidade das divas internacionais dos anos 2000 para o pop nacional (Foto: Universal Music)

Luísa Sonza – DOCE 22

Cê acha que eu tô brincando?/Acho que eu sou a mulher do ano!”. No cenário pop brasileiro de 2021 ninguém deu tanto o que falar quanto Luísa Sonza. Ao tentar se recuperar de um fim de relacionamento controverso que atraiu uma avalanche de haters para a sua carreira, Sonza presenteou o mundo com DOCE 22, o seu segundo álbum de estúdio que soou por todos os cantos do país. A intérprete de penhasco. mostrou toda a sua capacidade artística ao reformular a identidade visual: o cabelo platinado, o delineado marcado e os looks da grife Mugler se tornaram símbolo da era. 

Lançado com três faixas indisponíveis, a divulgação contou com a astúcia de liberá-las como singles de forma esporádica. Se os fãs tiveram que esperar para escutar as parcerias com Jão, Mariah Angeliq e Ludmilla, eles posteriormente puderam se deleitar com os videoclipes impecavelmente produzidos. Alcançando feitos inéditos na carreira, DOCE 22 conquistou o título de álbum nacional mais reproduzido no streaming em 2021. Puta, vagabunda, interesseira ou qualquer outro adjetivo que atribuam a ela, uma coisa é fato: Luísa Sonza foi a mulher do ano do pop nacional. – Nathalia Tetzner

Faixas Favoritas: 2000 s2, ANACONDA *o* ~~~ e MULHER DO ANO XD


Capa do álbum Dolores Dala Guardião do Alívio, de Rico Dalasam. Fotografia quadrada com um céu azul ao fundo. Na imagem, ao centro, Rico Dalasam, um homem negro, de barba e cabelo preto em dreads na altura dos ombros, usando uma maquiagem dourada com detalhes em azul. Vestindo um sobretudo branco semitransparente de gola dourada com detalhes em azul, ele ergue os braços esticados para os lados, com as palmas das mãos viradas para frente, enquanto está em cima de um carro pelo teto solar, em movimento. Na parte superior há três símbolos minimalistas em branco: uma lua minguante, uma rosa e uma lua cheia, respectivamente, intercalados por quatro símbolos de espadas, dois com corações na ponta à esquerda, e dois com gotas na ponta à direita. Na parte inferior, centralizado, pode-se ler a sigla “DDGA”, escrita na vertical.
“Que saibam da gente pelos nossos sonhos e não pelos nossos traumas!” (Foto: Rico Dalasam)

Rico Dalasam – Dolores Dala Guardião do Alívio

Diferente de outros projetos mais explosivos de Rico Dalasam, como Balanga Raba – pensado especificamente para as pistas de dança –, Dolores Dala Guardião do Alívio tem um menor escopo. E sem problemas, a narrativa central do LP pede por isso. Porém, após voltar a circular com shows no fim de 2021, Rico presenciou plateias frenéticas e empolgadas projetarem um entusiasmo desproporcional às músicas, gritando os versos íntimos e confidentes do disco, de Expresso Sudamericah a Braille, tal qual os hinos mais enérgicos do pop. Afinal, depois de acumular tantas energias e aflições em quase dois anos de confinamento, a reação não poderia ser outra. Mas, ainda assim, talvez isso não seja tão contraditório quanto se imaginaria.

Em DDGA, Rico Dalasam aborda suas vivências pessoais enquanto um “corpo preto sul-americano”, através de suas experiências em um relacionamento interracial, e todos os traumas que lhe provocaram. Dito isso, apesar de um relato individualizado, irrevogavelmente ele evoca uma extensa e complexa tradição colonial em nosso país, que também afeta outros diversos tipos de corpos – corpos aos quais Rico se comunica. A euforia presente nos retratos do álbum surge, portanto, de uma demanda impreterível – nossa e do artista – por expressar incontáveis dores reprimidas, e que encontra, ali, um canal para manifestação. Entretanto, indo além de reproduzir as violências, cada canção nos guia gentilmente por um processo coletivo de cura. No fim das contas, Dolores Dala Guardião do Alívio é a utopia de Rico Dalasam, onde ele reconstrói o mundo ao seu redor para, assim, reconstruir a si mesmo. E é aí que está a potência de nossas utopias. Pois somente imaginando o futuro é que podemos concretizá-lo. – Enrico Souto

Faixas Favoritas: Última Vez, Braille e Supstah


Capa do álbum Don’t Fight The Feeling do grupo sul-coreano EXO. A imagem ilustra um radar em tons verdes. Quanto às formas, há um fundo quadriculado que é sobreposto por diversos círculos responsáveis por caracterizar o radar.
O lançamento energético de Don’t Fight The Feeling contagiou quem esperou por tanto tempo o retorno do grupo (Foto: SM Entertainment)

EXO – DON’T FIGHT THE FEELING

Prestes a celebrar dois anos desde o último lançamento, EXO voltou com uma missão: animar os fãs ansiosos por um projeto em grupo. Direto de uma base militar intergalática, a faixa-título Don’t fight the feeling carregou a estética visual da nova era com maestria. Apesar da falta dos integrantes Suho e Chen que precisavam cumprir o regime militar obrigatório, a presença do membro chinês Lay através de um chroma key ajudou Xiumin, Baekhyun, Chanyeol, D.O, Kai e Sehun a sustentarem a imagem do EXO como um conjunto que se completa de forma perfeita.

Foi através de um minijogo online chamado EXO-SHIP-SAGA que os teasers foram liberados e o público pôde começar a teorizar conspirações sobre o conceito do álbum. Para a felicidade maior dos fãs, o programa de variedades EXO Arcade ganhou a sua segunda temporada e serviu como uma divulgação especial. As 5 faixas do sétimo EP do grupo sul-coreano foram suficientes para estremecer o cenário da música K-pop: DON’T FIGHT THE FEELING garantiu uma das melhores recepções da carreira do EXO e, por isso, vendeu 1 milhão de cópias somente na primeira semana. – Nathalia Tetzner

Faixas Favoritas: Don’t fight the feeling, Paradise e Runaway


Capa do álbum Donda. Um quadrado preto.
Mais uma vez, Ye fez do rebuliço sua principal arma de divulgação (Foto: UMG Recordings)

Kanye West – Donda

Controvérsias envolvendo uma patética candidatura à presidência, o litígio conturbado com Kim, a errada decisão de rechear a obra com laranjas podres, sua questão com a bipolaridade e os ataques que tem nas redes sociais, incluindo denúncias sérias à gravadora. Esses são os ingredientes que fazem de Donda (para bem e para mal) a consolidação de Ye como performer e personagem fonográfico, além de um impossível exercício de separar obra de artista. Afinal, fica claro que a capa preta do álbum reflete artisticamente Kanye West. O disco, que é uma homenagem póstuma do rapper para sua mãe Donda West, a usa como fio condutor para discussões sobre luto, religião e redenção pessoal. Os constantes adiamentos fizeram com que o artista aflorasse todo seu perfeccionismo característico nesse trabalho. 

Mesmo com tudo indo contra (por culpa exclusiva das intenções de Kanye), isso nos deu um álbum primoroso tecnicamente, fazendo com que, desde suas audições, até escutar a obra em plataformas, sejam experiências únicas. Com participações que vão desde sua desavença JAY-Z, seu mais novo arqui-inimigo Kid Cudi e as execráveis manchas no álbum, Marilyn Manson e DaBaby, Donda é uma síntese de todos os Kanye Wests das eras anteriores, cantadas e produzidas por um Ye cada vez mais megalomaníaco. Se distanciando da persona do álbum antecessor, Kanye ainda quer falar sobre Deus e sobre a influência da fé em sua vida, mas dessa vez sem se dar o aspecto messiânico. Por isso, Donda conseguiu ser o que JESUS IS KING (2019) não foi, um retrato pessoal e humano de Kanye, onde suas fraquezas e dificuldades são expostas, quase que como um grito de socorro para sua mãe. Guilherme Veiga

Faixas Favoritas: Jail, Praise God e Jesus Lord


Capa do disco ELIO and Friends: The Remixes, da cantora ELIO. A capa é branca e tem a lista de faixas e colaboradores listada no lado esquerdo, em fonte branca e verde neon. Na parte direita, vemos o nome do disco e duas imagens, com o nome de Elio. As imagens são recortes de close-ups em efeito negativo.
Fica aqui o aviso para não esquecer o carregador do celular na casa de ninguém (Foto: ELIO)

ELIO – ELIO and Friends: The Remixes

Em via de regra, álbuns de remixes servem como complementos aos trabalhos originais, normalmente servindo como materiais de divulgação para novas turnês ou campanhas de premiações. No caso de ELIO, a máxima é oposta. Poucos meses depois de chegar chegando com um trabalho cheio de vitalidade (o EP Can You Hear Me Now?), a promessa do pop que flerta com a PC Music recrutou a dona do pedaço Charli XCX para aumentar o falatório ao redor do que viria a ser um disco paralelo à sua estreia, mas com ainda mais presença. 

XCX empresta vocais para CHARGER, mas são as demais parcerias que elevam o material final. hurts 2 hate somebody tem o apoio de Chase Atlantic e No Rome, e a magnífica e particular @elio.irl é içada aos céus junto de Adam Melchor. O som é de primeira, as batidas envolvem e a ginga é sinônimo de agitação. ELIO and Friends: The Remixes pode não ter tido a mídia que merecia, mas para os aficionados pela mistura ideal de PC Music e um pop arranhado e efervescente na luxúria, essa é a pedida do momento. – Vitor Evangelista

Faixas Favoritas: hurts 2 hate somebody, @elio.irl e When You Saw Love


Capa do álbum Elza Soares & João de Aquino. Fotografia quadrada, em preto e branco, com borda grossa e branca. Na parte superior, dentro da borda, lemos Elza Soares & João de Aquino em letras pretas, com exceção do &, registrado em cinza. João de Aquino está ao fundo, sentado, com olhar fixo e tocando violão. Elza Soares está sentada na beira do palco. Ela é uma mulher negra, de blusa brilhante, brincos, olhos fechados e segura o microfone com a mão esquerda.
Sem saber, celebramos a inesperada despedida de Elza Soares (Foto: Hipólito Pereira/Deck)

Elza Soares & João de Aquino – Elza Soares & João de Aquino

Antes de qualquer atributo possível, Elza Soares & João de Aquino é o último álbum lançado em vida pela imortal e insubstituível Mulher do Fim do Mundo. É por esse motivo que nem mesmo a excepcionalidade de um disco que honra a responsabilidade e o peso que carrega foi capaz de amenizar a devastação que viria um mês após seu lançamento. A verdade é que o Brasil nunca estaria pronto para perder a Voz do Milênio. Em todo caso, o trabalho em questão não deixa de ser uma dádiva para os seres apaixonados por cultura. Gravado em sessão única, na segunda metade da década de 1990, Elza Soares & João de Aquino é fruto direto da maestria que só cantoras como Elza Soares poderiam alcançar.                 

Já o talento do violonista João de Aquino, como sinaliza a maior parte dos textos que abordam a obra, é outro destaque raro e único, que contribui muito para a qualidade final do disco. Mas o que mais se destaca em Elza Soares & João de Aquino é, de fato, a fascinante atmosfera de liberdade que paira sobre todo o repertório escolhido no calor do momento. Há muita verdade naquilo que se canta, e o formato voz e violão gera uma crueza sonora que realça e engrandece a figura de uma lenda. Não é de se espantar, portanto, que o último lançamento acompanhado da presença de Elza tenha conquistado uma recepção muito boa da crítica brasileira. – Eduardo Rota Hilário        

Faixas Favoritas: Drão, Hoje e Meu Guri


Capa do disco da Trilha Sonora Original de Encanto. A imagem mostra o pôster do filme Encanto, recortado em formato quadrado. Nele, vemos todos os personagens da história, e na parte de baixo está o logo do filme e a frase: “Original Songs by Lin-Manuel Miranda.
Cantada em espanhol, Dos Oroguitas representa Encanto no Oscar, que ainda concorre como Melhor Animação e Melhor Trilha Sonora Original, com Germaine Franco (Foto: Walt Disney Records)

Encanto (Original Motion Picture Soundtrack)

Lin-Manuel Miranda errou: se tem uma coisa sobre a qual estamos falando, é sobre o Bruno. E também sobre a Mirabel, a Luisa, a Isabela, a Abuela, a Dolores e a Tia Pepa. Afinal, nem mesmo a Disney estava pronta para o tamanho do impacto de Encanto na cultura pop. Além de não licenciar produtos sobre todos os integrantes da vila de superseres, a empresa submeteu a sentimental e melancólica Dos Oroguitas para concorrer ao Oscar de Melhor Canção Original.

Acontece que We Don’t Talk About Bruno, graças à mágica do TikTok, tomou conta dos Estados Unidos e tem quebrado recordes históricos, se mantendo no topo das paradas sem sinal de cansaço. O motivo para tanto retorno e falatório, sem pestanejar, é o poder de Miranda na composição, que entrega corpo e alma nas 8 canções que compõem a Trilha Sonora. Da introdução calorosa em The Family Madrigal, ao lamento de Luisa em Surface Pressure e a libertação de Isabela em What Else Can I Do?, as músicas de Encanto vivem à altura de seu título. – Vitor Evangelista

Faixas Favoritas: Surface Pressure, What Else Can I Do? e All of You


Capa do disco For The First Time. A imagem mostra três homens brancos jovens subindo um morro com vegetação rasteira. Ela se encontra enquadrada por uma moldura branca, com o título do disco alinhado acima, e o nome da banda “Black Country, New Road” abaixo. No canto inferior direito há uma pequena legenda com o texto “Photo from Unsplash by @asafyrov”
Em pouco mais de um ano desde o lançamento deste disco de estreia, o septeto de BC,NR já percorreu um longo caminho (Foto: Ninja Tune)

Black Country, New Road – For the First Time

Faz apenas pouco mais de um ano que um grupo de sete jovens britânicos, todos na casa dos vinte anos de idade, apresentou ao mundo uma coleção de seis peças mirabolantes que fugiam a todo custo da precisão milimetricamente calculada das músicas automatizadas, explorando as possibilidades de uma criação coletiva, espontânea, acústica, elétrica, e carregada de um senso de urgência do aqui-e-agora. E nesse meio tempo, a banda já viveu uma longa saga: da expansão de sua legião de fãs ao lançamento do já aclamadíssimo segundo disco Ants From Up There, passando pela saída do vocalista Isaac Wood, deixando um futuro aberto de possibilidades para a banda. 

É surpreendente observar o desenvolvimento do grupo de For the first time para o mais sensível e menos desesperado Ants From Up There. Mas à luz do segundo, o primeiro parece ainda maior e mais impactante do que era há um ano. As canções conduzem o ouvinte a uma lenta e crescente tensão, prenunciando um desastre iminente, até explodirem em níveis catatônicos, ou ainda levando a versos lamentosos, alternados com energéticos compassos instrumentais ao ritmo de klezmer. A fórmula irresistível unindo um quê de post-punk a uma gama variada de instrumentos rendeu uma obra-prima que já tem lugar marcado na lista de melhores da década. Agora só nos resta torcer para que a primeira vez de BC,NR também não seja a penúltima. – João Batista Signorelli

Faixas Favoritas: Science Fair, Sunglasses e Opus


Capa do álbum FOREVER do Dj Don Diablo. Na imagem, um desenho Dj está no centro sentado em uma cadeira em um planeta alienígena. O desenho de Don Diablo é um homem branco de cabelos e barba castanhos, ambos cortados curtos, com um óculos de sol de lentes azuis no rosto; ele veste um conjunto de jaqueta e calças prateadas e reflexivas e tênis roxo escura, e está sentado do lado errado da cadeira, com uma das pernas por cima do assento. A cadeira é inteira branca e está parada em um chão desértico com rachados em diversas formas geométricas. Ao fundo o céu é um azul forte no topo da imagem e vai mudando para roxo e rosa conforme encontra o horizonte. Uma estrela com anéis, como o planeta Saturno, está posicionada atrás da cabeça do Dj. Parados mais para trás há dois aliens do lado direito e um do lado esquerdo, com corpos bem femininos e inteiros pratas escuro, além de algumas casinhas aliens que tem formato geométrico na cor branca. Na parte superior da imagem está escrito DON DIABLO e logo abaixo FOREVER.
Don Diablo mostra a maestria de poucos ao levar seu estilo futurista para dentro de outros gêneros musicais e contar a história de seu universo (Foto: HEXAGON)

Don Diablo – FOREVER

Don Diablo está numa escalada genial com seu próprio universo futurista e mostrou um trabalho único em 2021. Depois de inaugurar o mundo dos shows em NFT, vendendo o DESTINATION HEXAGONIA por 1,2 milhões de dólares, o holandês decidiu que o álbum FOREVER merecia mais faixas, e lançou sua Deluxe Edition com 29 músicas. A obra é um projeto diferente de qualquer coisa no gênero eletrônico, sendo um dos principais não só entre os lançamentos de 2021, mas uma verdadeira referência do quão bem um DJ consegue comunicar cada devaneio que faz parte da sua Arte, mesmo que seja sem cantar uma palavra. 

Em INFINITE FUTURE é possível ouvir, imaginar e se sentir dentro do mundo que Diablo criou – um exemplo de como o álbum é uma experiência por si só. Seu future house foi muito bem explorado para variar durante as faixas, conseguindo ser combinado com a euforia de Galantis em Tears For Later, o tom melódico de Ty Dolla $ing em Too Much to Ask e a batida profunda em progressive de Bad. A habilidade de mostrar um universo único, em que todos são induzidos a embarcarem na sua viagem futurista, fez com que FOREVER seja um dos melhores álbuns do ano.  – Nathália Mendes

Faixas Favoritas: Bad, Into the Unknown e Hot Air Balloon


Capa do álbum GLOW ON da banda Turnstile. A imagem mostra um céu em tons de rosa com nuvens brancas esparsas.
O disco conta com as participações surpreendentes de artistas fora do cenário de hardcore, como Blood Orange e Julien Baker (Foto: Roadrunner Records)

Turnstile – GLOW ON 

Trazendo um som polido mas ainda violento, doce porém maduro, com influências de Refused à Prince, os meninos do Turnstile parecem ter encontrado um ponto único em que todas essas misturas fazem muito sentido, e com isso, celebram. Isso pode ser visto em faixas como MYSTERY, HOLIDAY e ENDLESS, que trazem o peso dos riffs casados com melodias grudentas e refrões triunfantes. Ou em músicas que escancaram ainda mais as experimentações da banda como UNDERWATER BOI e ALIEN LOVE CALL, com guitarras cobertas de reverb e chorus sobre grooves oitentistas. O que se tem aqui é um elogio à música como um ato coletivo, de convergências de influências diversas e sentimentos universais.

Em GLOW ON, o quinteto de Baltimore conseguiu algo que raramente se vê acontecer em gêneros tão nichados como a cena de pós-hardcore da atualidade: mostraram algo efetivamente novo, experimentando sons sem perder a essência do estilo musical e atraindo um público novo, um público maior, sem perder os velhos fãs. Uma vez que o álbum surge de um cenário tão característico e sonoramente bem definido, é emocionante ver a capacidade da banda de expandir os limites do hardcore de forma tão catártica e original. – Henrique Gomes

Faixas Favoritas: WILD WRLD, HOLIDAY e T.L.C. (TURNSTILE LOVE CONNECTION)


Capa do disco Good Woman, da banda The Staves. Na foto, vemos as 3 irmãs, próximas e olhando para a câmera. As três são brancas, têm cabelos pretos brilhosos e vestem branco. No canto superior direito, está escrito The Staves em fonte branca e Good Woman abaixo, em letras cinzas.
As três irmãs compuseram Good Woman antes de perderem a mãe, mas as letras ganharam significados novos depois do trágico momento (Foto: Atlantic Records)

The Staves – Good Woman

“Não é justo, por que você não se importa?”, cantam as Staves no que se confirmou uma das canções mais impetuosas e brutais do ano. Em Paralysed, meio do caminho da duração de Good Woman, as irmãs se guiam por uma melodia calma e um acompanhamento soturno que, quando eclipsado por sentimentos ariscos, calorosos, vibrantes, explode. Muitas dessas características podem ser listadas na obra como um todo, um disco que passou seis anos em processo de formação, até que finalmente fosse atingido pela dor do luto desavisado. Emily, Camilla e Jessica, maduras, machucadas, cautelosas, se dão as mãos, reconhecendo a força do presente.

Na resplandecente Next Year, Next Time, o trio sorri em meio a uma letra que abraça o fracasso, ao passo que em Failure elas iluminam outro prisma do mesmo núcleo emocional. Good Woman se forma por um conjunto fortuito de inspirações e entrega, em especial àquelas que não necessitam de palavras para serem transmitidas (as letras foram escritas antes da tragédia que levou a mãe da família). Partindo de uma capa convidativa e contemplativa, aliada a uma história de origem devastadora e emocional, a banda The Staves nem precisava cantar sobre uma boa mulher, mas mesmo assim o fizeram. Ainda bem que o fizeram. – Vitor Evangelista

Faixas Favoritas: Paralysed, Nothing’s Gonna Happen e Next Year, Next Time


Capa do álbum GRACINHA, de Manu Gavassi. A imagem é uma pintura e tem o rosto da cantora estampado, ela tem pele clara e cabelo ruivo bem curto. No topo da imagem, lemos GRACINHA em verde neon e Manu Gavassi em cima disso, em fonte menor. O fundo é meio cinza meio azul.
O projeto multimídia de Manu Gavassi é uma das obras mais imperdíveis de 2021 (Foto: Universal Music)

Manu Gavassi – GRACINHA

Ah, as gracinhas de Manu Gavassi… Desde fidelizar uma fan base dedicada até alimentar suas mais severas críticas, a personalidade da artista paulistana sobressaía qualquer um de seus trabalhos artísticos. Até o dia 12 de novembro de 2021, quando ela definitivamente se cansou da identidade que havia construído até então e deu um passo significativo em direção ao avanço de sua carreira. Ainda um tanto engraçado, o álbum mais recente de Manu Gavassi é justamente a maior GRACINHA do pop nacional dos últimos anos.

E a leitura nem é a que surge das mais diversas críticas positivas que o disco ostenta, mas sim da própria voz da artista em seu trabalho metalinguístico e multimídia, desde o primeiro verso da primeira faixa. Ao lado de nomes como Tim Bernardes e Lucas Silveira, ela compõe, interpreta e produz o projeto, que ainda conta com um complemento visual para enriquecer a sua experiência estética. Entre referências da música brasileira, influências do pop europeu e demais gêneros latino-americanos, a GRACINHA de Manu Gavassi encanta sem esforço algum uma lista de melhores do ano. – Raquel Dutra

Faixas Favoritas: GRACINHA, Reggaeton triste e Bossa Nossa


Capa do disco Happier Than Ever. A imagem mostra Billie Eilish, uma mulher branca e jovem, de cabelos loiros. Ela é fotografada do quadril para cima e veste agasalho de lã branco. Suas mãos envolvem seus braços, como se Billie abraçasse a si mesma, e seu olhar está disperso no horizonte. No canto superior esquerdo, o título do álbum está escrito em letra cursiva de cor branca.
Happier Than Ever liderou a Billboard 200 e várias paradas de álbuns em outros 27 países (Foto: Interscope Records/Darkroom)

Billie Eilish – Happier Than Ever

Depois de atingir o topo, o que a vida reserva? Para nossa sorte, Eilish escolheu não enfrentar esse prisma emocional logo de cara. Maturar seu gênio artístico em um novo álbum, alfinetando fantasmas e triunfos, foi a resposta. Respingando sinceridade, vociferando acidez e conquistando libertação, Happier Than Ever surge empoderando as nuances que colocaram a estadunidense em evidência para o mundo – e, agora, em primeiro lugar para si mesma. É o descascar de amor, fama, trauma, poder, mágoa, fúria: toda a miscelânea que impacta Billie no âmago juvenil. Assim, parecendo oráculo, a produção elucida e arrebata minúcias universais que só transbordam singularmente graças ao lirismo magnético da cantora.

Entre o minimalismo e a estridência, a sonoridade do disco rodopia com diversidade e autoria pelas reflexões dispostas. Aqui, o sarcasmo para enterrar um amante patético. Ali, um xeque-mate no body shaming excruciante. Adiante, morte, abuso e feminilidade destrinchados em dores e denúncias virtuosas. Afinal, 16 faixas são mesmo suficientes para revelar a perspicácia múltipla e genuína de Happier Than Ever. Não é segredo entender seus recordes de vendas e reproduções, suas sete nomeações ao Grammy 2022, nem a felicidade aparente da jornada. E não há constatação tão idônea quanto exaltar a (re)invenção de Billie Eilish usando seu ponto de partida: “Estou ficando mais velha/Acho que estou envelhecendo bem”. Vitória Vulcano

Faixas Favoritas: Everybody Dies, Happier Than Ever e Male Fantasy


Capa do álbum Haram do duo de rap Armand Hammer com o produtor The Alchemist. A imagem mostra a cabeça decepada de dois porcos com manchas de sangue, levemente inclinadas para cima em direções perpendiculares sobre uma superfície de metal gasta em frente a uma parede preta.
A dupla de rappers e o produtor foram duramente criticados pela organização de direitos aos animais PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) pelo uso da imagem da capa [Foto: Backwoodz Studioz]
Armand Hammer & The Alchemist – Haram

Os rappers ELUCID e billy woods retornaram como o duo Armand Hammer novamente, para a alegria de uns e temor de outros. Pela primeira vez contando com a produção inteiramente nas mãos de The Alchemist, é essa riqueza lírica inerente à dupla, somada com a sonoridade única trazida pelo produtor, que torna o disco tão especial. O resultado é a ambientação soturna e onírica construída através do uso torto de samples como pano de fundo para letras moldadas por um uso do fluxo de consciência sujo e franco dos rappers. Um disco sutilmente grandioso, onde o que importa não é exatamente o que as palavras e o som indicam, mas as imagens densas que são formadas pelo estilo único de composição do grupo, repleto de referências e metáforas complexas.

Sonoramente, o lendário beatmaker mostra um trabalho bem diferente das colaborações com Boldy James e Freddie Gibbs, com uma certa loucura vista no beat reverso de Peppertree, o peso visto na densa Wishing Bad e a beleza um tanto irônica em Stonefruit, uma das melhores músicas do ano. Liricamente, são barras duras como “Jurei vingança na sétima série/Não contra um homem, contra toda raça humana” e emocionantes como “Eu não quero perder o controle mas/Não consigo limitar um espaço para crescer” que vão revelando a dor e a ira que envolvem a existência de um homem negro no mundo atual como tema do disco. Capazes de provocar, confundir, emocionar e instigar os ouvintes, a dupla entrega um disco único que os eleva ao pódio dos maiores compositores da Música moderna. – Henrique Gomes

Faixas Favoritas: Black Sunlight, Wishing Bad e Stonefruit


Capa de disco Heaux Tales, com fundo preto e o título Heaux Tales em caixa alta, num tom de verde-limão. Ao centro, a foto de uma mulher negra que tem cabelo curto e liso. Ela usa jaqueta de couro e shorts pretos e justos. Mais abaixo, o nome Jazmine Sullivan está no mesmo tom de verde.
Lançado em 8 de janeiro de 2021, o último registro de Jazmine Sullivan é fonte de novas reflexões a cada audição (Foto: RCA Records)

Jazmine Sullivan – Heaux Tales

Em seu lançamento, nos primeiros dias de 2021, Heaux Tales (RCA Records) foi uma surpresa. Mas não pela qualidade, considerando que elegância e bom gosto sempre foram constantes na carreira de Jazmine Sullivan. A verdade é que, de tão complexas e bem contadas, as crônicas de sexo e ambição que habitam este EP não cabem num período fechado de tempo e, treze meses após a estreia, mais e mais camadas do projeto vão se revelando. Aqui, a compositora da Pensilvânia fala diretamente com outras mulheres pretas ao refletir sobre como, para pessoas como ela, solidão, afeto e capitalismo são elementos interligadíssimos. O conflito entre esses pilares é o que dá força à maioria das reflexões que surgem na tracklist.

Em Bodies – Intro, por exemplo, ela repreende a si mesma pelos rumos de sua vida, guiada pelo álcool e baixa autoestima. Enquanto isso, sonha com um marido rico na maravilhosa The Other Side e rende-se a um homem que só quer seu dinheiro em Put It Down. Isso sem nunca julgar as heroínas dessas histórias. Guiadas pelo neo-soul que transformou sua intérprete numa lenda do gênero, essas canções são cartas de amor às vivências de mulheres negras mundo afora, abraçando com força suas falhas, complexidades, vitórias e derrotas. A narrativa vai ainda mais longe com a versão Deluxe do projeto, que mergulha em traumas de infância e busca o olhar masculino para dar continuidade às histórias. – Leonardo Teixeira

Faixas Favoritas: On It, Lost One e The Other Side


Fotografia quadrada. Ao centro, vemos uma janela iluminada de dentro para fora por uma luz neon azul. Para dentro do cômodo, vemos duas pessoas se beijando. Uma tem cabelo comprido e a outra cabelo curto. A pessoa de cabelo comprido está iluminada por uma luz laranja avermelhada. Em volta da janela, tudo está escuro.
Está para ser feita ainda uma capa que capture tão perfeitamente a energia do respectivo álbum quanto essa (Foto: Fortune Tellers Music)

Caroline Kingsbury – Heaven’s Just a Flight

Ela não tem seguidores no Instagram, ela não tem muitos ouvintes mensais no Spotify, ela não tem apoio da crítica especializada, mas ela tem o Melhores do Ano do Persona! Heaven’s Just a Flight é uma joia perdida na prateleira de discos de 2021, apenas esperando para ser descoberta por quem ama música boa. Caroline Kingsbury, compositora e co-produtora do álbum, entrega sua alma e suas memórias para construir uma experiência sensorial, embalada pela sensação nostálgica do indie rock fundido ao dream pop

Kingsbury transforma seu debut em uma máquina do tempo neon por 54 minutos e viaja por um amor queer incandescente, questões familiares e dúvidas existenciais. O ruído das guitarras e vocais que bebem do shoegaze conduzem as 16 faixas, amarrando a experiência numa atmosfera coesa e inebriante. Sabe aquele artista ou álbum que você ouve e pensa: “como o mundo ainda não encontrou isso aqui, meu Deus do céu”? Essa é a melhor condecoração que Heaven’s Just a Flight pode receber.  – Jho Brunhara

Faixas Favoritas: Kissing Someone Else, Give Me a Sign e In My Brain


Capa do disco Home Video, da cantora Lucy Dacus. A imagem mostra uma sala de cinema, com Dacus, uma mulher branca e de cabelos pretos, sentada em uma poltrona. Ela olha para trás, e seu rosto tem um efeito de borrão, em uma faixa. Na tela do cinema, vemos um fundo azul e uma desenho de fita cassete, em branco.
Em um disco repleto de pérolas, Lucy Dacus ridiculariza uma paixão soberba em Brando e depois encontra margem para lamentar uma partida prematura em Please Stay (Foto: Matador Records)

Lucy Dacus – Home Video

Quando decide voltar para sua cidade natal, a cantora Lucy Dacus deliberadamente aceita o caráter intimista que seu terceiro álbum de estúdio irá tomar. Todavia, as crônicas presentes em Home Video se encontram ao lado oposto de um rancor gratuito ou de traumas revisitados sem conclusões. Habilmente, Dacus realiza um espetáculo de autodescoberta, de constatações e muitas emoções ressecadas. Na abertura de Hot & Heavy, ela prenuncia um retorno tardio, enquanto vasculha seus corações partidos em busca de vácuos de amor, paixão, desavenças e muita honestidade. Mais do que um disco para caçar seus fantasmas, Lucy Dacus metamorfoseia sua Arte entre o prazer do hoje e a imprevisibilidade do amanhã

Não à toa, os melhores momentos de Home Video vem embalados em composições ultrapessoais: Thumbs alegoriza um assassinato premeditado, VBS nos transporta para um acampamento religioso (e de forma paralela, excrutina o peso da fé na vida de pessoas que não se conformam com a dita “normalidade”). Visceral e mais madura do que em seus trabalhos passados, Lucy Dacus chega ao ápice em Triple Dog Dare, uma faixa que se estende por quase oito minutos, sem refrão, mas com a certeza de que, quando aceitar o inevitável destino de amores fracassados de outrora, se firmará eterna. – Vitor Evangelista

Faixas Favoritas: Triple Dog Dare, Brando e Please Stay


Capa do disco I dont’t live here anymore, da banda The War On Drugs. Na foto, vemos um homem caminhando em uma neve branca, mas seu rosto está cortado da imagem. Ele veste botas de cor preta, calça de cor preta, jaqueta de cor de preta e uma camisa xadrez de cor vermelha, preta e branca. Ele segura na sua mão direita uma xícara branca com detalhes em cor amarela e vermelha. Sob o braço esquerdo, ele carrega uma guitarra de cor vermelha com detalhes em cor amarela. Na parte superior esquerda, há um triângulo com os escritos The War on Drugs, I Dont’t Live Here Anymore, em fonte de cor branca. 
I Don’t Live Here Anymore é uma ode à resistência em meio aos problemas da vida, e consolida-se como um dos melhores lançamentos do gênero (Foto: Atlantic Recording)

The War on Drugs – I Don’t Live Here Anymore

As composições de The War on Drugs costumam girar em torno dos mesmos temas: solidão, paixões não correspondidas, exaustão, morte – a vida fragmentada de ser um humano consciente no século 21. Mas o tratamento dado a esses temas – responsabilidade majoritariamente atribuída a Adam Granduciel, vocalista e letrista do grupo – acabam sempre voltando ao processo falho da memória e ao exercício errático que ela produz ao tentar armazenar o passado. Em I Don’t Live Here Anymore, a jornada do indivíduo solitário é levada a sério, afirmando o poder musical de The War on Drugs.

Concebido em um intervalo de quase três anos, o trabalho gravado em sete estúdios diferentes – que vai de Electric Lady, em Nova York, ao cultuado Sound City, em Los Angeles – nasce como uma combinação dos sentimentos mais profundos e honestos da banda estadunidense. Esses sentimentos ganham vazão nos personagens assombrados de Granduciel, que são apresentados sem grandes invenções, porém com maestria e competência de quem já recebeu um Grammy de Melhor Álbum de Rock. I Don’t Live Here Anymore é sobre envelhecer e amadurecer, mas é também uma experiência gratificante que qualquer fã de folk rock não poderia deixar passar. – Bruno Andrade

Faixas Favoritas: Change, I Don’t Live Here Anymore e Living Proof


Capa do álbum if i could make it go quiet. A imagem é uma pintura. Ao centro, há uma pessoa sem traços definidos, vestindo um moletom com capuz vermelho e uma calça jeans larga. Ao fundo, vemos o céu pintado em tons de azul escuro e flores vermelhas flutuando nele, um jardim verde com flores vermelhas espalhados e um lago.
girls e we fell in love in october foram alguns dos primeiros sucessos de girl in red (Foto: world in red)

girl in red – if i could make it go quiet

O primeiro álbum de girl in red, if i could make it go quiet, veio ao mundo três longos anos depois de sua estreia. Nesse tempo, mais do que o suficiente para que a guinada na carreira refletisse em sua vida pessoal, a artista norueguesa amadureceu os temas de suas canções e a forma como gostaria de expô-los, assim como repensou a sonoridade que a fez famosa em primeiro lugar. As simples guitarras indie pop do início de carreira continuam – a artista não cedeu aos glamoures da indústria musical e seguiu no seu cativante bedroom pop -, mas a cantora e compositora soube mirar mais alto. Com pianos, sintetizadores e batidas eletrônicas, Marie Ulven, nome real da girl in red, mostra que o álbum não é mais do mesmo.

As letras provam isso, também. Se antes ela cantava sobre relacionamentos românticos, os que deram certo ou errado, sobre a descoberta da sexualidade e as próprias inseguranças, de uma forma polida, apesar de honesta, agora ela é crua e coloca suas cartas na mesa. Saúde mental, inclusive, vira tema no álbum, assim como a fama e suas consequências. girl in red passeia entre os questionamentos, as desilusões e as auto sabotagens que permeiam a mente dela, e cativa pela identificação: entre faixas mais melancólicas e outras animadas, if i could make it go quiet é musicalmente divertido, mas triunfa ao mostrar que tem mais alguém lidando com a bagunça que é viver e sentir. – Vitória Lopes Gomez

Faixas favoritas: Body And Mind, hornylovesickmess e Apartment 402


Capa do álbum Indigo Borboleta Anil. Fotografia quadrada, com fundo azul. No centro do lado esquerdo, lemos Indigo Borboleta Anil em letras brancas. A cantora Liniker ocupa principalmente o meio e o lado direito da foto. Ela é uma mulher negra, de roupa clara e brinco avermelhado, está de costas e olha para trás, deixando todo o rosto à mostra. No canto inferior direito, lemos Liniker em letras brancas.
Em estreia solo, Liniker oferta o melhor disco de 2021 (Foto: Caroline Lima)

Liniker – Indigo Borboleta Anil

Um dos poucos orgulhos do ano foi ver Liniker brilhar e reluzir em seu voo solo. Em junho acompanhamos ela dar vida à Cassandra nas agridoces Manhãs de Setembro, três meses depois fomos atingidos em cheio por um raio afetivo de talento no unânime Indigo Borboleta Anil. Não há conjunções coordenadas adversativas que limitem ou diminuam com a ideia do álbum ser o melhor do ano, ele simplesmente é! A voz hipnotizante de Liniker nos carrega por seu ápice vocal, criativo e emocional. Não há limite que o acalanto da artista não ultrapasse, seu dom único de tocar a alma através da voz se fortalece em meio aos tons de azul.

Indigo Borboleta Anil não é apenas um álbum, é um presente divino. O disco é íntimo em meio sua narrativa sonoro-explosiva, no boníssimo sentido da palavra, que une samba, MPB, groove e blues, marejando poesia em cada sílaba. As faixas, que contam com participações de Milton Nascimento e Tássia Reis, são sinestésicas e com progressão imersiva que fascina pela destreza que a cantora e compositora tem em nos conduzir. A maestria de Liniker para composições não é novidade para quem a acompanhou ao lado dos Caramelows, mas ver sua liberdade em seu primeiro álbum solo é transcendental e entorpecente. – Ana Júlia Trevisan

Faixas Favoritas: Antes de Tudo, Psiu e Lalange


Capa do álbum Inside (The Songs) de Bo Burnham. A imagem mostra um cômodo bagunçado, no centro da capa está uma cadeira, um computador, um teclado e um microfone. Em destaque o nome do álbum em uma fonte grande e de cor branca. No canto inferior direito está o aviso de conteúdo explícito. 
Inside é um clássico instantâneo (Foto: Imperial Ingrooves Republic)

Bo Burnham – Inside (The Songs)

Eu deveria estar fazendo piadas em momentos como esse?” Esse é um dos primeiros questionamentos de Bo Burnham em seu mais recente especial de comédia. Bo Burnham: Inside é escrito, produzido e dirigido por Bo, mas sua versatilidade não é novidade. Bo, que é ator, comediante e músico, consegue flutuar entre diversos gêneros sem dificuldade, desde um papel tenso em Bela Vingança, até incorporar um comediante nato em Doentes de Amor. Seus especiais de comédia convidam o espectador a “olhar através da fechadura” e ver os pensamentos mais profundos de Bo. Make Happy e Bo Burnham: Inside estão disponíveis na Netflix. 

Desde junho de 2021, o álbum especial transitou por diversos cenários, ganhou 3 Emmys, foi lançado em salas de cinema, teve música viralizando no TikTok, e ganhou versões em CD, vinil e nas principais plataformas de streaming. O álbum estreou em sétimo lugar nas paradas da Billboard 200 e se tornou rapidamente um clássico na comédia musical. Diferentemente dos especiais de comédia comuns, Inside carrega com si um clima de melancolia devido ao momento social e político em que foi gravado (durante a pandemia da covid-19 e em ano de eleições estadunidenses). Bo Burnham foi, sem dúvidas um dos grandes nomes de 2021. – Lucca Faustino

Faixas Favoritas: How the World Works, White Woman’s Instagram e All Eyes On Me


Capa do álbum JOVEM OG de Febem.  A imagem mostra uma fotomontagem com bordas de polaroid. Da esquerda para a direita, favela com casinhas de tijolos  sem reboco  ao fundo e céu azul, tons quentes. Homem com rosto pixelado e óculos de sol, tem pele negra  e não está de camisa. Ele tem cabelo raspado, veste calça preta, corrente e pulseira prateadas e tênis azul. Está sentado em  cima de uma moto azul e branca em um campinho de futebol de várzea na frente do gol.  
JOVEM OG é o quinto álbum de estúdio de FEBEM, criador e criação foram finalistas nas categorias Melhor Mc e Melhor Álbum do Prêmio Nacional RAP TV 2021 (Foto: Jef Delgado/Naiche Cardoso/Ceia ENT.)

FEBEM –  JOVEM OG

JOVEM OG é o quarto álbum de estúdio de Felipe Desidério, mais conhecido por FEBEM. Precedendo o aclamado BRIME!, o trabalho mais recente, lançado em abril de 2021, traz em sua narrativa, nuances de intimismo à uma realidade que  segue escancarada todos os dias no Brasil: o genocídio e violação da população negra e periférica. O assassinato brutal do jovem congolês Moïse Kabagambe, que chocou o país em 24 de janeiro de 2022, é só mais uma das inconstetáveis provas de que quase um ano depois, o disco que denuncia e declara “Guerra só com o estado/Que não suporta a vitória de favelado”, na letra da faixa MÉXICO, ainda se mantém indigestamente atual. 

 Pela qualidade técnica, sonora, lírica e artística, e sem deixar as críticas e sátiras do rap protesto de lado, JOVEM OG é considerado um dos melhores trabalhos do rapper, ao que se deve reconhecer também a parceria com o produtor CESRV. Juntos, os dois foram os grandes responsáveis pelo disco ter emplacado tracks nas listas de mais ouvidas no Brasil, como CRIME que ocupou a 29ª posição no Apple Music em março de 2021, mês do seu lançamento como single, e ter concorrido como Melhor Álbum do Ano no Prêmio Nacional RAP TV 2021. – Andrezza Marques 

Faixas Favoritas: CRIME, ÁREA DE RISCO e VAI PENSANDO


Capa do álbum “Jubilee” de Japanese Breakfast. A cantora Michelle Zauner é uma jovem mulher de traços coreanos e está agachada, usando um vestido amarelo, maquiagem artística no mesmo tom e tranças no cabelo. Há caquis desfocados e suspensos por barbantes no primeiro plano e ela segura um na frente do olho direito. O fundo é claro, um amarelo pálido. Há também muitas tatuagens em seus braços. A expressão blasé da artista contrasta com as cores quentes e energizantes da imagem.
Fazendo uma correspondência descaradamente boba com os caquis presentes na capa de Jubilee, 2021 foi o ano em que Michelle Zauner teve a melhor colheita dos frutos de seu trabalho artístico (Foto: Dead Oceans)

Japanese Breakfast – Jubilee

O ano de 2021 representou uma escalada gigante na carreira de Michelle Zauner e seu Japanese Breakfast. A cantora teve um artigo de sucesso na conceituada revista The New Yorker, que se transformou em livro de memórias best-seller e que, por sua vez, teve os direitos vendidos para ser adaptado nas telonas, com trilha sonora assinada pela própria Michelle. Além disso, ainda houve o lançamento de um álbum ao vivo, uma soundtrack de videogame e tudo isso encabeçado pelo lançamento de Jubilee, sua redenção pop e trabalho mais acessível até o momento, que fez muito barulho e figurou nas principais listas de melhores álbuns do ano. 

Todo o sucesso do Jubilee e o ano frutífero de Michelle são méritos da sensibilidade artística e autenticidade da própria artista. A obra de Zauner, seja musicada ou proseada, é um documento sincero de sua própria trajetória de vida. Temas como luto, conflito geracional, choque cultural e relacionamentos no geral, dialogam diretamente com toda uma geração de jovens adultos. A fácil conexão com as temáticas das canções somadas a uma produção açucarada, dançante e inventiva, são a fórmula do sucesso de um álbum que será sempre lembrado como um dos mais marcantes de 2021. – Carlos Botelho

Faixas Favoritas: Paprika, In Hell e Posing In Bondage


Capa do disco KICK ii. A imagem mostra Arca, uma pessoa transfeminina branca com cabelo preto e longo, com dois braços mecânicos amarrados em um harness, dando à luz um ovo derretido. No seu lado direito, um clone de Arca está de cabeça para baixo com seis ventosas no torso. Ao redor de Arca há três manequins com desenhos de músculos em um fundo cinza.
Emoções conflitantes rebatem violentamente entre si dentro de uma obra imprevisível e multifacetada (Foto: XL Recordings)

Arca – KICK ii

KICK ii, obra que marcou o retorno implacável de Arca, é um destaque que mescla sabores e sensações. A inovação presente no álbum conduz o ouvinte a uma viagem frenética e contagiante em uma inversão desconstruída da sonoridade familiar do reggaeton, que vem dominando o pop mainstream há muito tempo. A artista venezuelana nos mostra seu interior ao criar atmosferas sombrias e abstratas com ruídos distorcidos e batidas irregulares em uma caótica melodia que divide espaço com ritmos atraentes e explosivos, além de uma hipnótica performance de vocais ardentes e ferozes.

Apesar de moldado de forma desordenada, a não-linearidade intencional da obra a transforma em um genial labirinto de melodias sintetizadas guiado através de contrastes. Se desintegrando e reconstruindo seu espaço, KICK ii é uma brilhante experiência da reinvenção do pop atual que não perde o equilíbrio e o sabor agridoce das emoções e mutações do estilo único de Arca, com uma frenética e precisa integração entre tradicional e experimental. – Bruno Alvarenga

Faixas Favoritas: Tiro, Luna Llena e Araña


Arca – KicK iii

No eufórico KicK iii, Arca apresenta sua forma mais extravagante e divertida. Os primeiros segundos explosivos de sua faixa de abertura, Bruja, mostram o que está por vir no restante da obra. Com batidas experimentais dignas de um ball, as faixas energéticas surpreendem ao revelar o lado festivo da artista venezuelana, que inova suas produções com uma atmosfera embaçada e rodopiante, como um alegre caos, através de texturas sonoras e refrões de tirar o fôlego.

As músicas, saídas diretamente de um “clube mutante”, transbordam ousadia e se lambuzam na fonte do IDM com batidas explosivas que soam como tiros e ruídos metálicos agitados e sobrepostos. O destaque absoluto vai para os vocais inquietos e distorcidos de Arca, que criam uma inovadora forma de rap industrial e explícito. O design de som gutural, mecânico, sujo e estridente faz com que o álbum se sobressaia em relação ao conjunto lançado, apresentando uma fórmula coesa e contagiante. – Bruno Alvarenga

Faixas Favoritas: Bruja, Electra Rex e Señorita


Capa do disco kick iiii. A imagem mostra Arca, uma pessoa transfeminina branca com cabelo preto e longo, deitada de lado e apoiada em uma estrutura de andaimes metálicos. Ela usa um traje robótico rosado e suas pernas terminam em uma cauda de sereia. Seu braço esquerdo é uma arma de fogo com pente azulado. Abaixo dela, há uma pilha de corpos cinzentos. Ao fundo há um cenário composto por nuvens arroxeadas em um céu rosado.
Em kick iiii, Arca utiliza temáticas tecnológicas e alienígenas para derreter a binaridade de gênero (Foto: XL Recordings)

Arca – kick iiii

Quebrando totalmente o clima de confiança inesgotável crescente ao longo dos álbuns anteriores, kick iiii sofre uma queda de energia pesada e se esvazia. No entanto, apesar da quebra de ritmo, Arca oferece uma obra mais contemplativa e intensa em relação ao seu interior. Mesmo que apostando alto com a abordagem introvertida e sonoridade espacial, a artista venezuelana propõe com sucesso uma ênfase na melodia sobre o ritmo, apresentando uma ternura na sonoridade mansa de suas composições.

Arca compõe uma paisagem eletrônica alienígena, característica de um cenário futurístico de uma ficção científica, que oscila de forma melodramática de uma atmosfera calmante para ameaçadora. Os vocais recitados são surpreendentemente imersivos e contribuem para a experiência íntima e direta de suas letras bonitas e enervantes que entram e saem do tom. Apesar de soar quase vazio em comparação a suas contrapartes, o álbum lenta e precisamente recontextualiza o trajeto de Kick para encaminhar a majestosa conclusão do ciclo. – Bruno Alvarenga

Faixas Favoritas: Queer e Lost Woman Found


Capa do disco kiCK iiiii. A imagem mostra Arca, uma pessoa transfeminina branca com cabelo preto e longo, nua e montada sobre uma anta branca. Ela está sobre um pedestal retangular preto decorado com tecido. Abaixo está um pedestal circular  rodeado por faixas finas de lava. Ao fundo há um cenário preto. A cena simula a escultura venezuelana de María Lionza.
Parte do reconhecimento do ‘alienígena interior’ é abraçar todas as partes de si mesma, ‘fundindo vários monstros’ em uma união instável (Foto: XL Recordings)

Arca – kiCK iiiii

Lançado sem aviso prévio, kiCK iiiii traz um fechamento discreto e pensativo para a série de cinco volumes. Apresentando um techno ambiente suave e doce, o álbum não alcança a energia e diversidade do restante do ciclo, apesar do grande nível de refinamento. A artista venezuelana nos dá um espaço para respirar e contemplar de forma lenta a sensação confortável que traz em suas melodias cintilantes e inusitadas que homenageiam Aphex Twin.

O nostálgico desenvolvimento de peças líricas e belos estudos de piano, que lutam suavemente entre si, constroem uma atmosfera inigualável de ternura entorpecente e meditativa. O conjunto se destaca pela sua coesão de sensações, soando como lindas canções de ninar sintetizadas e futurísticas que expressam intimidade e vulnerabilidade. O despejo dessa obra é como uma declaração de domínio e maestria musical de Arca, demonstrando o poder de Kick. – Bruno Alvarenga

Faixas Favoritas: Chiquito, Sanctuary e Músculos


Capa do álbum MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui) da banda Lagum. A capa é uma pintura. À frente de um horizonte alaranjado e montanhas roxas e verdes, ao fundo, vemos as pinturas dos membros da Lagum. Da esquerda para a direita, vemos Zani, Jorge, Tio e Chico em pé, e Pedro, agachado. Eles seguram um espelho emoldurado. No chão, vemos a sombra deles refletida.
Em 2021, Lagum lança seu novo disco celebrando a vida, impulsionando sonhos e se perdendo em memórias de lugares que nunca fomos (Foto: Sony Music Entertainment)

Lagum – MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui)

Depois de tanta espera, finalmente, a Lagum chega com o álbum novo. Assim, fica claro: esse é só o começo e eles não vão parar por aqui. Após a triste notícia do falecimento de Tio Wilson, o baterista, o disco propõe uma homenagem e resulta em uma reflexão abrangente sobre os momentos da vida entre as paranoias, amores e curtições. Em MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui), Lagum nos apresenta novamente a experiência de liberdade encontrada em outros discos. Ao tocar das faixas, não nos resta outro sentimento se não o desejo de aproveitar e sonhar, porque a vida é boa pra caralh*.

Sem censuras e sem padrões a serem seguidos, o disco é uma grande representação do jovem brasileiro e ao mesmo tempo, oferece os mais diversos estilos e letras para quem quer que esteja ouvindo. A Lagum é dona de uma originalidade gigantesca e logo, a faixa NINGUÉM ME ENSINOU ganhou grande repercussão nas redes sociais, como o TikTok. A capacidade que o som produzido tem de encaixar em qualquer momento do dia, nas mais diferentes vivências, faz com que a obra seja usada para registrar aquilo que seu título promete: memórias, de sonhos que ainda não conhecemos. – Leticia Stradiotto

Faixas Favoritas: VEJA BABY, FESTA JOVEM e NÃO VOU FALAR DE AMOR


Capa do álbum Meu Coco. Fotografia quadrada, com fundo branco. Na parte superior da capa, vemos um espelho arredondado, com vários reflexos de Caetano Veloso. Sobre esse espelho, lemos Caetano Veloso em letras brancas, cortadas pela metade. No meio da capa, vemos Caetano Veloso de costas. Ele é um homem branco, idoso, de roupa preta. Na parte inferior da capa, vemos a testa e a cabeça de Caetano Veloso, com cabelos grisalhos. Sobre a testa, lemos Meu Coco em letras brancas. 
O coco de Caetano Veloso entra aos poucos em nossas cucas (Foto: Sony Music Entertainment Brasil)

Caetano Veloso – Meu Coco

Desvendar as camadas criativas presentes nas obras de Caetano Veloso é um processo que costuma levar muito tempo. Quando estamos diante de seus melhores trabalhos, então, essa jornada torna-se ainda mais longa. Não é de se espantar, portanto, que Meu Coco seja formado por incontáveis elementos e trajetórias. E é justamente o aprofundamento do novo disco de Caê que dá frescor à sonoridade desse artista único, revigorando também sua incontestável excelência enquanto compositor. Por isso, é extremamente justo que, assim como sua irmã Maria Bethânia, Caetano tenha chegado aos importantes cadernos de cultura dos jornais Folha de S.Paulo, O Globo e Estadão – embora não tenha sido capa em todos eles.       

De qualquer forma, é através de Meu Coco que Veloso ilumina o tempo presente, esbanjando sua crença mais eclética na Música brasileira – seja por meio de veteranos, como Naras, Bethânias, Elis e Miltons Nascimentos, ou das Glorias Grooves e DUDAS BEATS da atualidade. Conquistando o público desde Anjos Tronchos, lead single do projeto, Caetano Veloso nos fascina com inestimável intensidade quando chega à queridinha Não Vou Deixar, faixa que também integra a vertente mais política do novo disco. No fim, é mais do que certo que, se um dia Meu Coco concorrer a alguma premiação, as chances de levar algum troféu para casa são altas. – Eduardo Rota Hilário 

Faixas Favoritas: Meu Coco, Anjos Tronchos e Não Vou Deixar         


Capa do álbum lately I feel EVERYTHING da cantora WILLOW (Willow Smith). A imagem mostra o foco aprofundado e centralizado no rosto da cantora, uma mulher jovem e negra. Ela está com as duas mãos apoiadas em seu queixo, e o olhar voltado para cima. Ela usa sombra forte ao redor dos olhos e um piercing no septo. No canto inferior esquerdo, vemos o aviso de conteúdo explícito. 
Grande fã do gênero pop-punk e emo, a vontade de WILLOW apostar nessa nova fase não veio à toa (Foto: Roc Nation Records)

WILLOW – lately I feel EVERYTHING 

Surfando na onda nostálgica de 2021, WILLOW resgata toda a estética emocore para dar luz ao seu quinto álbum de estúdio. A cantora, que já havia caminhado muito bem pelo R&B, agora decide trilhar seu destino na sonoridade punk rock, e a escolha não poderia ter sido mais precisa. Talento a família Smith tem de sobra, mas parece que a caçula finalmente se encontrou no lugar que desejava estar em lately I feel EVERYTHING. E ela não embarcou sozinha nessa jornada, reunindo parte da realeza do gênero musical com Travis Barker, baterista do blink-182 e que se tornou um fiel escudeiro nesse trabalho, e, ninguém mais, ninguém menos, que a princesa do pop-punk, Avril Lavigne, originando uma das faixas mais espirituosas do disco

Em meio à bateria potente de Travis e guitarras estridentes, WILLOW explode em xingamentos, fala sobre relacionamentos frustrados, ansiedade e mostra que está, literalmente, sentindo TUDO. Mesmo em meio a tantas parcerias, ela continua sendo a estrela principal. A fluidez como a jovem passeia por diferentes sonoridades, unida a uma deliciosa rebeldia, é o que torna o álbum um trabalho tão atrativo, e também um dos grandes destaques do ano. Além de que a cantora não poderia estar se divertindo mais ao assumir o posto de novo ícone do pop-punk, tocando guitarra com suas amigas, raspando a cabeça no meio de performances e tudo mais que o estilo permite fazer. – Vitória Silva

Faixas Favoritas: Come Home, XTRA e Gaslight


Capa do álbum Love For Sale. Arte digital quadrada, com fundo bege. No canto superior direito, lemos Tony Bennett & Lady Gaga em letras pretas. No canto esquerdo, de cima para baixo, lemos Love For Sale em letras também pretas. Lady Gaga e Tony Bennett ocupam o meio da capa numa fotografia em preto e branco. Lady Gaga é uma mulher branca, de cabelos loiros e veste um vestido tomara que caia. Tony Bennett é um homem branco, idoso, de bigode e veste um terno. Lady Gaga arruma a gravata borboleta de Tony, enquanto ele segura um desenho representando a cantora. Atrás dos dois, há uma sombra humana, com decorações abstratas.
Lady Gaga e Tony Bennett formam uma dupla musical perfeita (Foto: Columbia Records/Interscope Records)

Tony Bennett & Lady Gaga – Love For Sale

Love For Sale foi indicado seis vezes ao Grammy 2022, e isso nada tem a ver com sorte. Basta olhar para as indicações e veremos, dentre elas, algumas das principais categorias da premiação – incluindo Álbum do Ano e Gravação do Ano, essa última por I Get A Kick Out Of You. Antes mesmo de chegar às plataformas de streaming, o novo álbum de Tony Bennett e Lady Gaga recebeu admiráveis cinco estrelas do jornal britânico Financial Times. Gostar ou não de Gaga no jazz é uma particularidade de cada um, mas acreditar que tantos reconhecimentos são injustos beira a incoerência. Ainda mais em relação a Tony, que se despede dos discos com este álbum.        

No entanto, não é só por causa de todo esse agito que Love For Sale merece ser considerado um dos melhores discos de 2021. Dotado de um repertório bastante rico, vocais impecáveis, uma ‘fraternidade’ emocionante e conciliando muito bem presente e passado, o novo trabalho de Tony e Gaga nos surpreende nos mais variados níveis. Alcançando perfeitamente o objetivo de ser um tributo ao compositor norte-americano Cole Porter, Love For Sale, mesmo sem precisar, ainda inova algumas obras clássicas, imprimindo em cada música a roupagem característica da dupla estadunidense. – Eduardo Rota Hilário

Faixas Favoritas: Love For Sale, Do I Love You e I Get A Kick Out Of You


Capa do álbum MONTERO. Nela, Lil Nas X, um homem negro e de cabelo médio aparece nu e centralizado na imagem. Ele flutua como se estivesse se esticando enquanto deitado, sua perna  direita está dobrada e seu braço direito está esticado como se estivesse tocando algo. Atrás dele tem uma circunferência formada por um arco-íris. Ainda mais atrás, há duas construções com arquitetura grega uma em cada lado. Abaixo de Lil, corre um rio que deságua em uma cachoeira. Esse rio tem suas laterais cobertas por gramas. Na lateral esquerda, há algumas árvores com folhas rosas, enquanto na direita, tem somente uma árvore de tronco retorcido e sem folhas. No fundo da imagem, há uma imagem de um céu. Espalhadas pela imagem, estão também algumas gotículas de água e algumas borboletas nas cores cinza.
O queridinho de 2021, em meio a algumas esnobadas, foi indicado em 5 categorias do Grammy, mas já é o campeão moral de muita gente (Foto: Columbia Records)

Lil Nas XMONTERO

Em 2021, Lil Nas X deu à luz (literalmente) ao seu primeiro álbum de estúdio e exorcizou de vez os fantasmas de um one hit wonder. MONTERO é um perfeito retrato do artista que nos ajuda a entender quem foi e o que se tornou Montero Lamar Hill, seu nome de batismo. Desde seus problemas na infância, até o choque da fama repentina e a decisão de se assumir em meio a uma indústria tão conservadora, tudo é muito bem colocado em um álbum que passeia pelo pop, rap, trap e R&B. Subvertendo o cenário do hip-hop hétero, Nas se prova o mais rebelde em um gênero de rebeldia.

Abusando de suas referências que permeiam de Outkast a Elton John e lotando a obra de grandes nomes como o feat com Doja Cat e Kanye West na produção do maior hit do disco, MONTERO mostra um Nas maduro que não precisou passar por um processo de amadurecimento ao longo de seus lançamentos, mas sim durante sua própria vida. Nas X soube transformar os infortúnios vividos em um álbum contagiante e instigante, ao mesmo tempo em que ele dosa a extravagância com momentos intimistas. Assim como uma borboleta, o disco quebra os casulos dos quais o artista não cabe para o nascimento de um novo Lil, mais colorido e mais livre. – Guilherme Veiga

Faixas Favoritas: INDUSTRY BABY,TALES OF DOMINICA e AM I DREAMING


Capa do disco Nenhuma Dor. A arte é uma montagem de fotos da cantora Gal Costa. Nos quatro cantos temos pedaços de fotos dela em preto e branco. Na parte central vemos uma foto do rosto de Gal em preto e branco, ela tem expressão séria e seu cabelo está armado. No canto esquerdo lê-se em vermelho “NENHUMA DOR”. Na parte superior lê-se em vermelho “Rodrigo Amarante, Silva, Criolo, António Zambujo, Zé Ibarra, Seu Jorge, Tim Bernardes, Rubel, Jorge Drexler, Zeca Veloso” também lê-se em preto “GAL”. No lado esquerdo lê-se em vermelho “Avarandado, Só Louco, Paula e Bebeto, Pois É, Meu Bem Meu Mal, Juventude Transviada, Baby, Coração Vagabundo, Negro Amor, Nenhuma Dor”. Na parte inferior nota-se manchas de aquarela nas cores vermelho, laranja e amarelo”
“Obrigado Gal, jamais poderia imaginar te servir, sou pura gratidão. Espero de coração poder um dia te dar esse abraço que sinto me dás quando te ouço” (Foto: Thereza Eugenia/Arte: Omar Salomão)

Gal Costa – Nenhuma Dor

Tropical, plural, fatal, Gal! A cantora, que é uma das maiores vozes da música nacional, hipnotiza e inspira gerações desde a década de 60. Na pandemia, sua influência se fez mais forte e seus discos foram ouvidos como nunca, e cultuados como sempre. Os mais jovens redescobriram na voz de Gal Costa um conforto carregado de inconformismo, e ela, percebendo a importância do movimento, celebrou seus 75 anos lado a lado de quem segue os caminhos abertos pela Mãe de Todas as Vozes.

Rodrigo Amarante, Zeca Veloso, Seu Jorge, Zé Ibarra, Jorge Drexler, Rubel, Tim Bernardes, Criolo, António Zambujo e Silva, esses foram os nomes escolhidos para dividir as canções de Nenhuma Dor. O nome do álbum soa como um presságio faixa após faixa, cumprindo seu objetivo de estancar o mal estar que perpetua em tempos de isolamento. O espaço que a artista cede a cada um é bem aproveitado em cada particularidade, com arranjos pessoais o disco funciona como um apanhado de singles, sem perder a harmonia quando as músicas se juntam. O projeto de Gal realmente acabou com a dor. – Ana Júlia Trevisan

Faixas Favoritas: Avarandado, Juventude Transviada e Nenhuma Dor


Capa do disco Long Leg de Dry Cleaning. A imagem é formada por quatro fotografias em tamanhos diferentes. A maior, no lado esquerdo, mostra a sombra de uma perna sobre um piso de cimento cinza intertravado. Em ⅓ do lado direito, está uma fotografia irreconhecível pela saturação quase branca, sendo possível ver apenas pequenas manchas em preto. Entre as duas imagens maiores estão outras duas menores de mesmo tamanho. A superior é uma fotografia que mostra um caminhão amarelo com guindaste em uma paisagem com entulhos de concreto e vegetação ao fundo. A inferior mostra um caminhão vermelho com guindaste em uma paisagem com morros e caminhos de terra em tons diferentes de marrom. No espaço entre as duas menores fotografias está o nome da banda em fonte preta caligráfica e a frase “NEW LONG LEG” em fonte maiúscula preta não serifada.
New Long Leg é a estreia triunfante da banda inglesa Dry Cleaning, fundada em 2017 através do convite de Tom Dowse à sua ex-amiga de escola de arte Florence Shaw, ainda bem (Foto: 4AD Ltd)

Dry Cleaning – New Long Leg

Através de uma coleção surreal de imagens, o cotidiano se torna poesia pela narração obsessivamente apática de Florence Shaw (vocalista): são braços fracos, Kung Fu, um sanduíche velho, um sapato de cerâmica, uma bola pula-pula de Tóquio, Oslo e até do Rio de Janeiro. Narrada totalmente pela voz inalterada de Shaw, que se recusa a cantar, a irreverência quase dadaísta desse lirismo descritivo revela um intimismo inesperado. Ela fala, sussura, simula instrumentos, mas cantar, ela não canta. E se isso parece não fazer sentido nenhum, bom, realmente não faz. Mas é exatamente por meio de uma experimentação tortuosa que Dry Cleaning produziu um dos melhores registros de 2021, logo no álbum de estreia.

Em comparação com os EPs anteriores da banda inglesa de noisy rock Sweet Princess e Boundary Road Snacks and Drinks, ambos de 2019 –, a produção encabeçada por John Parish (produtor com colaborações que incluem desde PJ Harvey até Aldous Harding) elevou New Long Leg ao seu máximo. Há um contraste tenso entre o tom meditativo da vocalista com a sonoridade industrial conduzida por Lewis Maynard (baixo), Nick Buxton (bateria) e Tom Dowse (guitarra), que carregam uma soma de reminiscências do post-punk da década de 80, sem nunca deixar de se ser, em primeiro lugar, um ponto de vista de Shaw – ou qualquer outro enigmático protagonista criado por sua narrativa lírica rara. – Ayra Mori

Faixas Favoritas: Scratchcard Lanyard, Her Hippo e John Wick


Capa do álbum Noturno. Arte digital quadrada, com fundo branco. Quase no centro do disco, posicionado mais à direita, está o título Noturno, escrito em letras de fôrma maiúsculas azuis. Um pouco abaixo, lemos Maria Bethânia em letras cursivas de outra tonalidade azul.
Resgatando Nora Ney, valorizando Adriana Calcanhotto ou perpetuando Tim Bernardes, Maria Bethânia é luz soberana nos percursos de Noturno (Foto: Biscoito Fino)

Maria Bethânia – Noturno

Eu quero vacina, respeito, verdade e misericórdia”. Pouco tempo depois de emocionar o Brasil com um verdadeiro sucesso de live, a primeira da carreira, Maria Bethânia entregou ao mundo um dos discos mais primorosos de 2021. Elaborado do início ao fim com um inteligente jogo de luzes e sombras, Noturno atravessa, por necessidade e convicção, as dores e as delícias de se estar vivo em tempos tão conturbados, abrindo, com essa viagem, os caminhos mais ricos e fartos até uma rara esperança. De mãos dadas com a transmissão do Globoplay, o álbum de Bethânia foi com certeza “uma pequenina luz bruxuleante” para todos aqueles que habitaram o medo.

Precisamente dramático, Noturno não surpreendeu ao obter um reconhecimento considerável logo nos primeiros dias de existência. Ao estampar as capas dos principais cadernos de cultura do país, em jornais como Folha de S.Paulo, O Globo e Estadão, a nova obra da eterna Abelha Rainha nada mais fazia do que ser devidamente prestigiada. Foi com o mesmo merecimento, aliás, que Noturno recebeu excelentes notas de importantes críticos, como o experiente jornalista Mauro Ferreira. Com tamanha qualidade, não restam dúvidas de que o lirismo, a entrega performática e até mesmo o lado mais político de Maria Bethânia foram revigorados por meio desse lançamento. – Eduardo Rota Hilário   

Faixas Favoritas: Bar da Noite, Lapa Santa e Prudência


Capa do álbum Nu de Djonga. Na imagem a cabeça do rapper aparece servida em uma bandeja de prata redonda com sangue respingado. Ele é um homem negro de cabelo raspado, usa piercing no nariz, e sua expressão é séria. No fundo, há uma mão de luvas brancas segurando a bandeja, e atrás há pessoas apontando para ele, usando o celular para filmar e mostrando o dedo do meio na sua direção. No canto inferior direito está escrito “Nu”.
O Menino Que Queria Ser Deus agora encara o medo de morrer sozinho (Foto: Ceia Ent.)

Djonga – NU

Entre os 5 excelentes álbuns de estúdio de Djonga, nenhum é tão intimista quanto NU – dá para entender pelo nome o objetivo de se despir por completo, olhar para si. Assim como a capa que o ilustra, com sua cabeça em uma bandeja, as 8 faixas o deixam servido de corpo e alma pelas suas verdades dolorosas. Esse é um ápice artístico de introspecção tão profunda que as músicas tomaram ritmos variados – algo incomum para ele. Mais do que isso, as rimas que escancaram a dúvida, a culpa, o medo e o julgamento consigo mesmo, tornam NU o melhor disco de rap de 2021. 

Djonga entende que sua vida depende de ter coragem, e Me Dá a Mão ilustra brilhantemente o que é encarar a própria vulnerabilidade. Diante de tudo o que construiu, ele se sente caindo do topo de um precipício, 1% a menos humano por dia, tão só, tão ele. Do grito assíduo da cultura preta em Nós, até o conflito daquele que faz o dinheiro girar, em Ricô, o álbum é uma conversa extraordinária entre Djonga e Gustavo. NU é exatamente sobre o atrevimento de assumir ser frágil no meio da pressão e dos estereótipos, deixando claro que não existe nenhum disco no cenário como esse. Muito menos um rapper no Brasil como ele. – Nathália Mendes

Faixas Favoritas: Nós, Xapralá e Eu


Capa do álbum OUTRO ROLÊ de FBC. Um homem de costas olha para a câmera com os olhos semicerrados. Ele está vestindo um casaco de pele enquanto anda por uma estrada de asfalto. Na beira da estrada há vegetais e árvores secas. Há um lago ou um rio mais à frente.
OUTRO ROLÊ marca a primeira colaboração entre o rapper FBC e o beatmaker VHOOR (Foto: WRM)

FBC & VHOOR – OUTRO ROLÊ

O hit viral Se Tá Solteira consagrou FBC como um dos maiores rappers em atividade no Brasil. Ele já vinha lançando trabalhos notáveis antes, como S.C.A (2018), mas a união de forças com o produtor VHOOR permitiu que alçasse voos ainda mais altos. OUTRO ROLÊ, o primeiro dos dois álbuns que a dupla gravou em 2021, é uma aula de destreza lírica e versatilidade. A curta tracklist é mais do que suficiente para o duo demonstrar uma sinergia absoluta, seja em faixas mais dançantes (Champs-Élysées e Baile de Ladrão) ou em canções reflexivas (Gameleira e Sincero Foda-se).

Embalado pelas batidas de drill habilmente construídas por VHOOR, FBC elabora cenários caóticos que misturam passado, presente e futuro para dar conta de sentimentos contraditórios. Um aperitivo: “A vida tem seus mistérios/me pôs de frente os estéreos/fiz música, ministérios/levando esperança até quando não tinha um centavo no bolso pro Minister“. A consagração total veio com BAILE, mas em OUTRO ROLÊ a dupla de Minas Gerais já mostra a que veio como poucas vezes se viu no rap brasileiro contemporâneo. Pra ouvir alto e aguardar ansiosamente pelos próximos passos de FBC e VHOOR. – Gabriel Leite Ferreira 

Faixas Favoritas: Champs-Élysées, Gameleira e Sincero Foda-se


Capa do disco Patroas 35%. Maiara, Marília e Maraisa, três mulheres brancas, estão de olhos fechados e chorando lágrimas douradas. Na parte superior, está escrito “Patroas 35%” em dourado, com um fundo preto. Elas também utilizam brinco e anel dourado.
O projeto Patroas seguirá mesmo após a morte de Marília Mendonça, porém a turnê está cancelada (Foto: Som Livre)

Maiara & Maraisa e Marília Mendonça – Patroas 35%

2021 ficará para sempre marcado no universo do sertanejo. Isso porque, sua maior expoente feminina, Marília Mendonça, faleceu num trágico acidente de avião. Mas Marilinha não deixou o gênero órfão: em parceria com as gêmeas Maiara & Maraísa, ela lançou o álbum Patroas 35% menos de um mês antes de morrer. O projeto marcava o início de um sonho das líderes do feminejo, que mais uma vez revolucionariam o universo onde antes apenas homens tinham voz e poder de composição.

O trabalho já chegou gigante nas plataformas digitais. Um de seus singles, Esqueça-Me Se For Capaz, ganhou um clipe cinematográfico – com referência ao Prenda-Me se For Capaz do Spielberg – para marcar o próspero início das Patroas. Não demorou muito para Motel Afrodite e Fã Clube caírem nas graças do povo e nos botecos da cidade, entrar num Uber sem estar tocando uma das faixas do disco era, e ainda é, quase impossível. O Brasil canta as Patroas e sente falta da imensidão de Marília. – Ana Júlia Trevisan

Faixas Favoritas: Motel Afrodite, Presepada e Fã Clube


Capa do álbum Pirata. Na imagem, em frente a um fundo em tons de azul, vemos, dos ombros para cima, o cantor Jão de perfil, mas com o rosto virado para a câmera. Jão é um homem branco, de cabelos pretos lisos penteados para cima, barba preta rala, aparentando ter cerca de 25 anos, vestindo uma blusa vermelha de gola alta e usando um tapa olho preto sob o olho esquerdo.
A faixa Olhos Vermelhos, a décima e último do álbum Pirata, foi inteiramente composta e produzida por Jão (Foto: Universal Music)

Jão – PIRATA

PIRATA, terceiro álbum de Jão, já começa com surpresas: a primeira faixa, Clarão, é algo completamente diferente de tudo que o cantor paulista já fez. Se antes o boato era que ele só lançava música igual, o artista aposta em uma batida eletrônica e letras positivas logo de cara, o que pode soar estranho, à princípio, mas cai no gosto em pouco tempo. Na sonoridade e nos instrumentais, características de trabalhos anteriores de Jão reaparecem aqui, mas com um ar novo – com exceção de Você Me Perdeu, todas as canções soam frescas. A inovação dá as caras ao longo dos 30 e poucos minutos de duração do álbum, que passam até rápido demais. 

Jão se mostra mais confiante, experiente, aberto e mais otimista. Não só a musicalidade do cantor comprova a vontade de explorar novos cantos, mas as letras também seguem essa ânsia. Apesar da temática abordada continuar a mesma, majoritariamente, vem mais amadurecida. Em LOBOS, ele misturou o sofrimento com a insegurança com si próprio e seus sonhos; em ANTI-HERÓI, o coração partido foi o foco; em PIRATA, o cantor continua nos contando sobre seus relacionamentos de todos os tipos. Agora, porém, compõe e canta sobre suas descobertas e decepções despreocupadamente, comemora o término, em vez de lamentá-lo, e afirma com convicção que já não ama mais. Com as letras e melodias, o artista nos dá sua visão dos eventos de uma maneira mais sensual e divertida – e bem mais convidativa para quem já ouviu os chororôs de Jão. – Vitória Lopes Gomez

Faixas favoritas: Idiota, Santo & Meninos e Meninas


Capa do disco Planet Her. A imagem mostra Doja Cat, uma cantora de altura mediana, deitada de lado,  nua, com algumas manchas por seu corpo, com uma das pernas sobrepondo a outra, com os cabelos longos e ruivos jogados contra o fundo, enquanto apresenta uma feição de felicidade. O fundo é uma mistura líquida que imita uma galáxia, com alguns tons de verde, roxo, rosa, azul, preto e branco. Ao centro, em vertical, temos a apresentação textual do nome do álbum e o nome da cantora. 
Doja Cat sabe exatamente do que nós precisamos e é impossível não quer passear pelo seu planeta (Foto: Kemosabe Records/RCA Records)

Doja Cat – Planet Her

Ousada… Versátil… Talentosa… Doja Cat consegue ser tudo e muito mais. A prova disso, é claro, está no seu terceiro álbum de estúdio, Planet Her.  Lançado no dia 24 de junho de 2021, a obra veio como uma estratégia da cantora em consolidar os recordes que ela já havia estabelecido com o sucesso do seu antecessor, Hot Pink. Com direito a uma nova versão Deluxe, o disco mostrou ainda mais sua capacidade de se adaptar aos gêneros com fluidez e leveza. Inclusive, é muito interessante observar a aptidão dela de se transformar, desde as apresentações do do seu último lançamento, que sempre traziam uma nova versão de suas músicas, aqui ela só prova que consegue fazer de tudo um pouco, sem perder a qualidade.

Desde sua estreia, o álbum trouxe grandes frutos para nossa alienígena preferida. Além do prêmio de Melhor Álbum de Soul/R&B no American Music Awards 2021, a artista conquistou a categoria de Rapper Feminina do Ano no XXL Awards 2022. Agora, surpreendendo ainda mais seus fãs, a cantora já pode comemorar mais um marco que nenhuma rapper do mesmo gênero conseguiu algum dia. Ela é, oficialmente, a primeira rapper feminina a permanecer no top 10 da Billboard 200 por 25 semanas por conta de seu novo álbum. Agora é esperar para saber em qual novo planeta Doja Cat vai decidir se aventurar e quais recordes ela ainda vai quebrar. – Vinícius Santos

Faixas Favoritas: Ain’t Shit, Kiss Me More e You Right


Capa do disco Portas. Ao centro vemos uma pintura da cantora Marisa Monte, uma mulher branca de cabelo castanho e médio. Ela veste um vestido branco, uma tiara de flores rosas na cabeça e óculos escuros. Ela está sentada num banco de madeira pintado de amarelo. Suas pernas estão viradas para a esquerda e seu pé esquerdo está em cima da cadeira. À direita, apoiado em sua mão, está um violão marrom. Na mão esquerda há uma chave. Há asas azuis de borboleta nas costas de Marisa. No canto inferior esquerdo há uma cesta de frutas. À esquerda há várias espadas de São Jorge. No canto direito há um bicho preguiça e mais elementos da natureza em tons de verde, gelo e vermelho. O fundo é azul escuro com algumas constelações.
Marisa lançou Portas após quase uma década sem um álbum de inéditas (Foto: Marcela Cantuária)

Marisa Monte – Portas

Independente do que Marisa Monte lançasse esse ano, era fato que ela apareceria nas listas de Melhores de 2021. Em mais de 30 anos de carreira, sendo uma das vozes mais ímpares da Música Popular Brasileira, ela sempre entregou projetos completos dentro de suas singularidades. Portas vem para quebrar as barreiras de um ambiente claustrofóbico causado pela pandemia, e, aqui, Marisa se permite andar descalça pelos campos e pelas praias, conversar com animais e ter experiências táteis com elementos abstratos.

Pelas portas que a cantora abriu, novas e antigas parcerias entraram. Arnaldo Antunes, presente em toda discografia de MM, assina três faixas do álbum; Nando Reis, que lapidou Gerânio – do disco Infinito Particular -, retoma a colaboração com Praia Vermelha. Os novos ventos trazem Marcelo Camelo, presente em três canções; e Chico Brown que assume o lugar do pai, Carlinhos Brown, e se torna o nome que mais aparece na lista de compositores. Todos os detalhes se unem para formar um disco coeso e com a implacável singularidade da cantora. – Ana Júlia Trevisan

Faixas Favoritas: Fazendo Cena, A Língua dos Animais e Medo do Perigo


Capa do disco Promises. A imagem mostra três trapézios, alinhados um acima do outro, cada um deles com predomínio da cor branca, com linhas cinzas e pretas desenhadas sobre, além linhas e diferentes formas geométricas de diversas cores. Os trapézios se encontram sobre um fundo branco, com os nomes dos artistas Floating Points, Pharoah Sanders e a orquestra The London Symphony Orchestra, escritos no canto superior. 
Promises foi lançado pela Luaka Bop, gravadora fundada por David Byrne (Foto: Luaka Bop)

Floating Points, Pharoah Sanders e London Symphony Orchestra – Promises

Em meio ao silêncio, um agrupamento de notas ressoa. Com os acordes em grupos espaçados, uma sequência harmônica se desenrola. Em seguida, um saxofone sereno desponta, seguida de cordas surgindo à distância. Não demora muito até que se perceba a natureza cíclica da base harmônica de Promises, que acompanhará a composição do início ao fim, e sobre esse alicerce se constrói um estado de contemplação crescente, que vai aos poucos elevando a música para outros patamares. Atingindo o sublime, Promises é um álbum composto por uma única peça musical contínua, dividida em 9 movimentos.

Composta pelo produtor de música eletrônica Sam Shepard a.k.a. Floating Points, a obra conta ainda com a colaboração do saxofonista veterano Pharoah Sanders, e da London Symphony Orchestra. O casamento entre o contemporâneo, o erudito e o jazz solidifica uma criação única, que começa minimalista, e que a cada movimento adquire mais graus de complexidade e elaboração, conciliando emoção intensa a um estado de meditação profunda. Promises é envolvente, imersivo, memorável, e uma das criações musicais mais fascinantes de 2021. – João Batista Signorelli

Faixas Favoritas: Movement 1, Movement 5 e Movement 6


Capa do álbum Screen Violence, da banda CHVRCHES. Uma televisão em uma sala vermelha, de frente. Na tela, uma persiana fechada. Um braço se estende da parte inferior e, com o indicador da mão direita, abre uma fresta na persiana, revelando estática. Fora da televisão, há um fio preto se estendendo do canto esquerdo da televisão e indo para a borda esquerda da capa. Atrás da televisão há uma luz acesa, iluminando a parede vermelha.
Inspirado pelo Cinema de Terror, CHVRCHES volta com energias sinistras (Foto: Glassnote Records)

CHVRCHES – Screen Violence

Três anos depois de presenciarmos a morte do amor, retornamos à igreja do synthpop de Lauren Mayberry, Martin Doherty e Iain Cook com o sinistro Screen Violence, quarto álbum de estúdio do grupo escocês CHVRCHES. Com uma estética renovada, a banda se afunda de vez em seus piores sentimentos e produz alguns de seus sons mais concisos e bem sincopados, com seus membros em perfeita sincronia uns com os outros, extraindo uma harmonia gritante e afiada dos versos incisivos de Lauren.

No corte final/Na cena final/Há uma final girl/E você sabe que agora ela deveria estar gritando” ela grita a plenos pulmões, nos desafiando à encaixá-la no papel de vítima e, ao mesmo tempo, abraçando suas próprias vulnerabilidades em faixas mais suaves, mas não menos poderosas. Muito além da participação icônica de Robert Smith na faixa How Not To Drown, Screen Violence é um director’s cut do início ao fim, exibindo um grupo artistas em no auge de sua síntese e criando um novo patamar para o synthpop expressivo da banda. – Gabriel Oliveira F. Arruda

Faixas Favoritas: Violent Delights, How Not To Drown e Lullabies


A capa do disco mostra Erika de Casier, uma mulher negra com expressão tranquila em closeup. Ela olha direto para a câmera. Uma mecha de cabelos cacheados emolduram o lado esquerdo de seu rosto. A fotografia tem aspecto “pixelado”, como se tivesse baixa resolução, ainda que todos os traços da artistas sejam muito claros. 
Riquíssima em referências, Erika de Casier impressiona na maneira com que transforma suas inspirações num som próprio e original (Foto: 4AD Records)

Erika de Casier – Sensational 

A Geração Z ama uma referência à cultura pop em 2022, certo? Mas o que acontece, muitas vezes, é o uso da referência pop como muletas, no qual o artista se aproveita do efeito que uma obra, que já existe, tem sobre o público. E usurpa essa experiência, sem trazer nada de novo. Esse não é, definitivamente, o caso de Sensational. Logo de cara, o trabalho da musicista portuguesa-dinamarquesa Erika de Casier impressiona pelas fontes de que bebe: os sons metálicos e quase futuristas do R&B do final dos anos 90, as paisagens sonoras do lendário grupo Sade e a riqueza vocal sussurrada de nomes como Janet Jackson, Brandy e T-Boz (do TLC). Mas nada de referências jogadas a esmo. 

Foi por meio da MTV que De Casier teve os primeiros contatos com esse time de vozes da Música negra. Mas ela não recupera essas influências por pura nostalgia. All You Talk About exemplifica essa qualidade, sendo na mesma medida emocional e blasé, ingênua e irônica, tátil e afiada, tanto no instrumental quanto nos versos cantados por Erika, que não precisa levantar a voz para entregar sua mensagem. Outros momentos, como a dançante Busy – banhada em camadas de UK garage, gênero de música eletrônica que bombou na década de 90 –  mostram a versatilidade da artista, que é coesa em tudo que faz, sem nunca aprisionar seu som, à exemplo dos gênios que a inspiraram. – Leonardo Teixeira

Faixas Favoritas: Polite, Busy e Call Me Anytime


Capa do álbum “SINNER GET READY”, de Lingua Ignota. A imagem mostra a cantora, mulher jovem de pele clara, de cabelos loiros, com um capuz de renda com aplicações de pérolas e outros ornamentos que deixam o rosto dela pouco visível. A capa compreende o rosto da artista apenas do pescoço para cima, que está totalmente de frente para a câmera sobre uma parede de tom ocre. A imagem ainda possui uma pós-produção posicionada nas porções inferior e lateral direita, que simula sangue derramado na água. O nome da artista está escrito na parte mais superior e centralizada em fonte não-serifada branca e o título do álbum é apresentado da mesma maneira, na parte inferior.
SINNER GET READY é uma surpresa para os fãs habituados aos trabalhos mais pesados de Lingua Ignota, porém o resultado segue devastador (Foto: Sargent House)

Lingua Ignota – SINNER GET READY

Sonoramente menos pujante que o registro anterior (Caligula, 2019), SINNER GET READY trocou o já consolidado noise/metal por experimentações ambiciosas com o cancionário primitivo estadunidense. A multi-instrumentista subverte elementos musicais religiosos da Pensilvânia, como os arranjos tradicionais cheios de banjos e sinos e o canto em coro, para encapsular seus sentimentos mais sufocantes. Desde o lançamento em agosto de 2021, o álbum por si só já tem material suficiente para figurar entre os melhores do ano, porém em dezembro ganhou uma camada extra de importância. Kristen publicou em suas redes sociais o IMPACT STATEMENT, texto no qual detalha todo o abuso físico e mental que sofreu nos últimos dois anos pelo ex-companheiro Alexis Marshall, vocalista da banda Daughters. O disco se revelou um diário das circunstâncias traumáticas que ela viveu nessa época. 

A mesma religiosidade fanática usada como instrumento de opressão em massa se torna alegoria para o trauma pessoal na obra de Kristin Hayter. Combinando samples de discursos de reverendos superstars da Televisão norte-americana com a instrumentação característica do sacro Appalachian Folk, Kristin encarna e reflete o impetuoso Deus do Velho Testamento. Ao longo de nove canções e com pouco menos de uma hora de duração, o ouvinte é confrontado com a onisciência da dor em todos os seus níveis, a onipresença da sensação de abandono e a onipotência do julgamento seguido de punição ferrenha para com tudo aquilo que se aproxima da natureza humana. – Carlos Botelho

Faixas Favoritas: I WHO BEND THE TALL GRASSES, PENNSYLVANIA FURNACE e PERPETUAL FLAME OF CENTRALIA


Capa do álbum Sling, da cantora Clairo. Emoldurada por um quadrado preto desbotado, uma foto de Clairo, usando uma blusa preta, olhando para sua cadela, Joanie, que tem uma das patas de pelos brancos levantadas tocando em seu rosto. Clairo é caucasiana e possui cabelos castanhos que vão até as orelhas. Atrás dela, um dia claro em uma paisagem de árvores sem folhas, com o chão coberto de neve.
Indiscutivelmente a capa de álbum mais fofa de 2021 (Foto: Clairo Records)

Clairo – Sling

Chega um ponto em que Sling, o novo disco da cantora Clairo (nome artístico de Claire Cottrill), nos toca intimamente. Apesar de à primeira vista ele passar despercebido como apenas como continuação natural do trabalho da compositora após seu primeiro álbum, Immunity (2019), há um senso de lugar que recobre a sua voz ao longo das 12 faixas, um aconchego que se esgueira sorrateiramente pelo coração e ali se mantém, por mais que você se distancie dele. As reflexões íntimas da artista sobre maternidade e domesticidade chegam como um bálsamo para a alma em 2021, e marcam o ano como a companhia de uma amiga distante, mas sempre disponível

Através de mais de uma dezena de canções, Clairo viaja de sentimento em sentimento com clareza incomum a alguém de sua idade, tratando cada música como um palco para suas emoções e nos guiando para a conclusão inevitável de cada uma delas. Por mais reconfortantes que suas palavras sejam, elas são só palavras, e é no reconhecimento de suas próprias fraquezas que ela se sobressai: “Na maior parte do tempo, os sinto em mim/Os olhos do estranho na janela/É frio e solitário, mas não é nada para mim/Pelo menos há alguém em casa”. – Gabriel Oliveira F. Arruda

Faixas Favoritas: Wade e Management


Capa do disco Sob Rock de John Mayer. A imagem é quadrada com fundo predominante azul e branco. Ao lado esquerdo está o artista John Mayer, um homem branco de cabelos ao ombro, veste uma blusa branca, jaqueta preta e calça preta. O artista está segurando uma guitarra em tom azul pastel. Na parte superior está escrito o nome do álbum e o nome do artista em branco com detalhes rosa. 
É tempo de amar um álbum, ou melhor, se apaixonar por alguém novamente (Foto: Columbia Records)

John Mayer – Sob Rock

Sob Rock é um tributo para todas as eras musicais de John Mayer. Unindo todos os humores e estilos diferentes do cantor, o disco tange a obra de um homem que conhece o seu lugar no mundo e, ao mesmo tempo, devaneia sobre estar sozinho vagando pelo próprio sucesso. Todas as faixas tocam em suas marcas artísticas: guitarra no blues, rock suave, vocais ofegantes e letras sentimentais que procuram o amor, ou a ferida de um coração partido. John Mayer afirma que gravar o álbum na pandemia lhe trouxe o redescobrimento de seu tempo e, talvez seja isso que tenha feito o CD ser tão cauteloso – é uma reflexão sobre o que já passou e o que ainda vem pela frente. 

O disco soa familiar e ainda assim, se torna transformador. O trabalho inspirado no pop rock dos anos 80 consegue provocar uma sensação de nostalgia e simultaneamente, nos faz questionar o que de fato está envolvido nessa familiaridade? O álbum cria a possibilidade de aprofundar-se em sentimentos ponderados mesmo com faixas já tocadas anteriormente. Em todo caso, Mayer mantém o seu lugar espetacular na guitarra e composição, e ainda nos abre a oportunidade de viajar sobre lembranças desconhecidas, porém, extremamente acolhedoras. – Leticia Stradiotto

Faixas Favoritas: New Light, Carry Me Away e All I Want Is to Be With You


Sua beleza holística e revelações sobre o mundo natural são agraciadas em músicas com acordes melódicos (Foto: Universal New Zealand)
Sua beleza holística e revelações sobre o mundo natural são agraciadas em músicas com acordes melódicos (Foto: Universal New Zealand)

Lorde – Solar Power

Após quatro anos de hiato, a imprevisível Lorde ressurgiu de forma radiante com o lançamento de Solar Power, que estreou de forma marcante alcançando o Top 10 da Billboard 200. Não contente, em 9 de setembro de 2021, a artista neozelandesa lançou Te Ao Mārama, um EP que complementa o psicodélico Solar Power, onde ela canta 5 das músicas em Te Reo Māori, uma língua indígena da Nova Zelândia. Em seu comeback, Lorde surpreende ao revelar um novo lado de sua arte, uma forma sincera de apreciação do efêmero.

Concretizando o sucesso de sua obra jubilosa, o disco foi indicado ao iHeart Music Award 2022 na categoria Best Comeback Album. Macio e leve, Solar Power é um álbum que, assim como Lorde, segue seu próprio ritmo. O disco surpreende em sua simplicidade ao ignorar a possibilidade de continuar o melancólico legado da genial artista neozelandesa, que após se reconectar com suas origens,  trouxe distintos dilemas pessoais à tona. – Bruno Alvarenga

Faixas Favoritas: The Path, Solar Power e Mood Ring


Capa do álbum Sometimes I Might Be Introvert, de Little Simz. Na foto, Little Simz está sentada em uma cadeira de madeira, com os dois joelhos próximos ao peito, e os braços cruzados. Ela é uma mulher negra, veste uma calça e camisa xadrezes, ambas de cor amarela e preta. Ela utiliza um óculos transparente e possui cabelos de cor preta. O fundo da foto é amarelo, e acima há uma faixa preta escrito Sometimes I Might Be Introvert, em fonte de cor amarela.
Como se fosse uma resposta ao reconhecimento e fama que obteve, Little Simz joga em Sometimes I Might Be Introvert com temas profundos, consolidando um de seus melhores trabalhos (Foto: AGE 101 Music/AWAL Recordings)

Little Simz – Sometimes I Might Be Introvert

Sometimes I Might Be Introvert já é um marco no hip-hop. Isso porque o disco se desenrola como a jornada de uma heroína, na qual a oponente final de Little Simz é ela mesma. No disco, a rapper desenvolve suas tensões internas – a introversão, o racismo, o machismo e a violência –, e tenta encontrar sua própria essência em uma viagem conceitual, evidenciada no próprio título da obra (um acrônimo de Simbi – apelido de Simbiatu, nome de batismo de Little Simz). Nesse álbum, é como se acompanhássemos duas Simz diferentes, que são alteradas após a faixa The Rapper That Came To Tea (Interlude) – interlúdio narrado por Emma Corrin, atriz que interpreta Lady Di em The Crown.

Entre a Simz introvertida e a extrovertida, há uma oscilação que fica diante do underground e do erudito, trazendo à melódica e combativa voz da rapper arranjos orquestrais e um clima apocalíptico. No começo de fevereiro, Little Simz fez uma apresentação épica das canções Introvert e Woman no BRIT Awards 2022 (com participação de Corrin); no mesmo dia, Simz levou o prêmio de Melhor Nova Artista. Na guerra contemporânea, na qual os sentimentos interiores misturam-se a brutal realidade cotidiana, Little Simz parece ser um dos grandes nomes que tomaram consciência disso, apontando para a urgência de entender essa situação sem deixar de entregar um álbum sensacional. – Bruno Andrade

Faixas Favoritas: Introvert, Rollin Stone e Woman


Capa do álbum SOUR de Olivia Rodrigo. A imagem mostra a cantora, mulher jovem de pele clara e traços filipinos, de cabelos soltos castanhos escuros, com uma blusa regata rosa e uma saia com listras brancas e verdes. Ela usa vários colares e anéis, tem a língua para fora, na qual estão colados adesivos com o nome do disco, e vários outros adesivos colados por todo o rosto. Ela tem os braços cruzados na frente do corpo e o fundo da imagem é lilás. 
A era SOUR não parece estar muito perto de acabar: recentemente a cantora anunciou o lançamento do documentário driving home 2 u, que vai contar sobre o processo de criação do álbum (Foto: Geffen Records)

Olivia Rodrigo – SOUR

Se tem alguém que soube aproveitar bem o ano de 2021, essa pessoa é Olivia Rodrigo. A real é que ninguém sabia o que estava por vir quando a Disney nos apresentou sua mais nova celebridade teen, alçada à nostalgia da conhecida turma do colégio East High. Tudo começou com um melodrama sobre sua carteira de motorista, e evoluiu ao ponto de se tornar um dos relatos mais conhecidos do ano em formato de disco. Ainda assimilando as dores de um término de namoro recente, a adolescente compila o seu turbilhão de emoções para gerar faixas excessivamente sinceras, no melhor jeito que as cantoras da sua idade sabem fazer. A diferença aqui é que Rodrigo não se limita a apenas extravasar a raiva e sentimentos sobre o ex, mas também sobre a forma que se compara às outras garotas e as pressões que sofre na vida pessoal e profissional no melhor dramalhão adolescente possível, conversando com toda uma geração que sente demais e está um pouco de saco cheio de tudo. 

SOUR faz isso e mais um pouco apoiado na estética dos anos 2000, tanto sonora quanto visual, que só sustenta ainda mais o compartilhamento dos sentimentos da artista com o resto do globo terrestre. Olivia vai de baladas a guitarras fortes, grita que seu ex é um sociopata enquanto também deseja que ele esteja bem, numa contradição perfeita da poética adolescente. Os videoclipes que acompanham as faixas nos transportam ainda mais para sua narrativa pessoal, com nomes como Petra Collins e Allie Avital na direção, que nos levam a uma realidade onírica sob o olhar feminino. E essa mistureba sentimental não poderia ser mais bem sucedida, garantindo 7 indicações ao Grammy para a jovem filipino-estadunidense, incluindo a gloriosa Álbum do Ano. Um coração partido nunca foi tão frutífero, só nos resta esperar para ver o que vem depois disso. – Vitória Silva 

Faixas Favoritas: brutal, good 4 u e jealousy, jealousy


Capa do álbum Space 1.8 de Nala Sinephro. Imagem quadrada com fundo bege. Ao centro está uma elipse rosa pastel com uma cabeça flutuante que parece representar o espaço, o universo ou um planeta. A cabeça é preta, possui estrelas e asteroides, e é envolvida por um arco-íris. Um corpo preto agarra o arco-íris para não cair no vazio do rosa. Nas bordas da imagem está o título do álbum em fonte cursiva ilegível. Nas laterais esquerda e direita pode-se ler o nome da artista, Nala Sinephro, e o título do álbum, Space 1.8, respectivamente.
O som íntimo de Space 1.8 marca o talento natural de Nala Sinephro (Foto: Warp Records)

Nala Sinephro – Space 1.8

Em Space 1.8, álbum de estreia de Nala Sinephro – multi-instrumentista belga-caribenha que hoje reside em Londres –, o mundo toma consciência de uma artista jovem, mas que deixa em evidência sua enorme maturidade musical, evocando sensações cósmicas ao longo das oito canções que compõem o CD. Gravado entre 2018 e 2019 – quando a musicista tinha apenas 22 anos –, Space 1.8 foi resultado de uma colaboração musical, na qual destacam-se nomes da cena de jazz do Reino Unido, como James Mollison, o saxofonista Ahnansé, Reed Nubya García e a guitarrista Shirley Tetteh. Aqui, a artista crava seu nome no jazz contemporâneo através de uma ambição quase astronômica, e de quebra transparece suas referências a Alice Coltrane.

A agradável transição entre as canções joga luz à genialidade de Sinephro, deixando em evidência uma tracklist que não poderia ter sido inserida a mero acaso, e demonstrando um rigor musical que transcende suas habilidades na harpa, no piano e nos sintetizadores. De forma quase paradoxal, Space 1.8 é calmo e ruidoso, pois seus ruídos baixos funcionam como amplificadores de sensações, e transformam o disco em uma verdadeira experiência. No fim, as referências e trocadilhos com respirações e o espaço – como seu título anuncia – não são por acaso: o álbum é uma experiência pesada, entregue com leveza e serenidade. É uma descoberta inesquecível. – Bruno Andrade

Faixas Favoritas: Space 1, Space 4 e Space 8


Capa do álbum star-crossed, de Kacey Musgraves. A imagem mostra uma fotografia de um pingente dourado em forma de coração quebrado, com o nome do disco escrito no interior. A imagem tem efeito ofuscado e brilhante. O fundo é vermelho.
Para o histórico de Kacey Musgraves no Grammy, star-crossed não trouxe sorte: em 2021, a dona do Melhor Álbum do Ano de 2019 garantiu apenas duas indicações nas categorias restritas ao seu gênero (Foto: UMG Recordings)

Kacey Musgraves – star-crossed

O ano de 2021 foi de uma revolução para Kacey Musgraves. Depois do perfeitamente aclamado Golden Hour brilhar o country pop da estadunidense numa temática profunda de romantismo em 2018, os próximos momentos da vencedora do Grammy de Álbum do Ano de 2019 não foram tão doces quanto os que a levaram ao auge de sua carreira. Três anos depois, então, a bagagem emocional não era um ideal delicioso de amor, mas sim a experiência dura do fim dele. Do azul celeste singelo para o vermelho inflamado maximalista, com uma dose de referências artísticas latino-americanas e um imaginário mítico, ela chegava à era desafortunada.

A “tragédia moderna em três atos” se beneficia da capacidade narrativa existente na música de Kacey, que também conta com um olhar analítico preciso. Ela reconhece suas falhas, identifica os erros do amado, e pontua também o impacto das dinâmicas sociais existentes entre homens e mulheres que amor nenhum pode apagar. Tamanha era a magnitude da história que ela também a concretizou no audiovisual, no filme de mesmo nome do álbum que transforma a experiência do disco em algo esteticamente além. Uma pena o que a fez chegar até aqui, mas que sorte ela encontrou pelo austero caminho de star-crossed. – Raquel Dutra

Faixas Favoritas: star-crossed, keep lookin’ up e gracias a la vida


Capa do álbum Red (Taylor's Version), de Taylor Swift. A foto mostra a cantora sentada dentro de um carro. Ela é uma mulher loira e usando chapéu vermelho, casaco bege e um anel com a palavra Red. Ela segura o chapéu com as mãos, ajustando-o na cabeça, e olha para o lado esquerdo, fora da imagem.
De sucesso em sucesso, existe algum ano que não seja de Taylor Swift? (Foto: Taylor Swift)

Taylor Swift – Red (Taylor’s Version)

É como se fosse um filme. Uma história de coração partido preenche um cenário avermelhado de pleno outono durante as próximas duas horas. A diretora é Taylor Swift e a obra é o álbum de sua carreira. Na melhor das sinestesias, 2021 nos colocou de volta na era Red, às vésperas de sua primeira década, de um jeito especial e com a melhor das intenções: no controle criativo completo da artista, e como a segunda parte de seu projeto de regravações, que visa retomar os diretos de Swift sob a sua própria discografia. E se tem algo que Taylor sabe, é como viver o vermelho.

Para a nova versão do álbum de 2012, ela foi fundo nas interpretações das 20 canções originais e acrescentou mais 10 à família avermelhada. Com direito a quebra de recordes históricos que contradizem qualquer estatística e comportamento da indústria da Música no século 21, Red (Taylor’s Version) colocou o nome de Swift como detentor da música mais longa a ocupar o topo de uma parada musical. Nada mais justo: se há 10 anos o álbum definiu a carreira de uma das maiores artistas musicais da história, hoje ele confirma que todos nós nos lembraremos dela muito bem. – Raquel Dutra

Faixas Favoritas: State Of Grace, Nothing New e All Too Well (10 Minute Version)


Capa do EP Revelación. A imagem mostra Selena Gomez, uma mulher branca e jovem, de cabelos castanhos envolvidos em uma longa trança. Selena está centralizada em um ambiente totalmente vermelho, ao lado de duas poltronas cobertas por tecidos. Ela usa um vestido de gala tomara-que-caia igualmente vermelho, com bastante volume no quadril e reto em ambas as extremidades. Seus braços estão levantados na altura do busto, sendo que o direito segura fitas que enfeitam a trança presente nos cabelos da mulher.
Com mais de 8,5 milhões de streams em seu primeiro dia, Revelación se tornou a maior estreia de um EP feminino na história do Spotify (Foto: Interscope Records)

Selena Gomez – Revelación

2021 suscitou e entregou lapidações artísticas cruciais para o diamante que Selena Gomez sempre foi. Desenferrujando memórias da rotina vivida outrora no mundinho Disney, a texana transitou entre estúdios musicais e televisivos novamente. Em um turbilhão cravado por sucesso e júbilo, a autoconfiança polvilhada em De Una Vez, primeiro single da nova era, floresceu por percursos de inventividade sagaz até o frutificar de Revelación. Esbanjando a habilidade de storytelling que já lhe rendeu um renascimento e uma raridade, Selena enfim abraça sua ascendência mexicana pelas raízes, colocando-as no coração do EP que transpira visuais e composições sensuais, cativantes e curativos. Organicamente, ela se refaz como nunca.

O charme das letras intimistas comumente assinadas pela artista surge imponente no cerne do trabalho, rasgando promessas dançantes e confirmando quão fértil o reggaeton foi para a dimensão estruturada. Transpondo a pessoalidade das faixas em que Gomez se desdobra por vícios e despedidas fuerte y sola, as participações de Myke Towers, Rauw Alejandro e DJ Snake evocam atmosferas chicletes sem deixar Revelación ao marasmo – e ainda rendendo recordes explosivos na estreia. Elevar o gingado pop que a trouxe até aqui ao sabor de recitar em espanhol sua melhor fase fez o Grammy Awards, nas versões latina e estadunidense, finalmente bater nas portas de Selena. E a revelação está completa: a mulher é imparável. Vitória Vulcano

Faixas Favoritas: De Una Vez e Vicio


Capa do álbum ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE. Foto quadrada com o fundo branco. Ao centro, a capa de um CD físico. Suas laterais são da cor azul, e a arte é posicionada em seu centro. Nela, vemos a silhueta branca de um homem com cabelos longos olhando para frente. Atrás dele, a paisagem de um campo verdejante ao pôr do sol, que ilumina em laranja as nuvens. No canto superior direito, é possível observar uma etiqueta azul, com os dizeres “ROADRUNNER” em branco no seu centro. Acima dele, em uma fonte menor, “BROCKHAMPTON”. E abaixo, “NEW LIGHT, NEW MACHINE”. Ainda no canto inferior esquerdo, lê-se “THE LIGHT IS WORTH THE WAIT.”, e no canto inferior direito, “THE 6th STUDIO ALBUM”.
BROCKHAMPTON deixa os palcos em espírito de triunfo, desfazendo-se no seu auge e deixando para trás uma discografia magnífica, de dar inveja (Foto: RCA Records)

BROCKHAMPTON – ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE

Quem já acompanhou fervorosamente a trajetória de alguma boyband sabe que nenhuma dura para sempre. Em certas ocasiões, a formação se torna um impeditivo para que seus integrantes evoluam e avancem em sua carreira, tanto profissional quanto artisticamente, e a separação torna-se uma necessidade. À vista disso, para o espanto de todos que aguardavam a tour de 2022, a maldição do hiato indefinido chegou para BROCKHAMPTON. A banda cancelou todos os shows que estavam marcados para o ano e anunciaram em suas redes que a participação no Coachella será sua última apresentação enquanto grupo. Quando ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE lançou no primeiro semestre de 2021, ninguém poderia prever que aquela seria a última vez que os veríamos fazendo música juntos. Ainda mais pelo projeto indicar novos ares para a banda – o início de uma nova fase, e não seu fim.

Porém, olhando em retrospecto hoje, ROADRUNNER é um ótimo encerramento para a trajetória da BROCKHAMPTON. Uma revisita por todas as eras da banda, descobrindo entre aquelas sonoridades familiares possibilidades. É sobre cavar o solo do passado em busca de novas luzes para o presente. Sobre olhar para trás, reconhecer o trajeto que lhe trouxe até aqui, para que, desse modo, possa seguir seguro e sem remorsos para o futuro. Uma experiência corpórea e etérea, que ressignifica toda uma discografia. Fica aqui, portanto, o tributo à “maior boyband do mundo”, que, enquanto ativa, foi responsável por rupturas, revoluções e transgressões que mudaram o hip-hop para sempre. BROCKHAMPTON nos deixou em seu auge, e agora o que nos resta são só memórias – as melhores. – Enrico Souto

Faixas Favoritas: BANKROLL, THE LIGHT e WHAT’S THE OCCASION?


Capa do EP Roteiro para Aïnouz Vol II de Don L. A imagem mostra uma fotomontagem, que nos remete a cultura e religião muçulmanas, com fundo branco e uma imagem do rapper centralizada sobre uma forma dourada, disposta de maneira semelhante a uma janela de mesquita/vitral de santuário. Duas flechas aparecem ao lado da imagem centralizada, e no lado esquerdo o nome “Don L” escrito em letras grandes e douradas, assim como no lado direito “RPA2”, sigla do álbum. ícones de armas vetorizadas também em dourado aparecem nos quatro cantos da imagem. “Roteiro para Aïnouz” aparece em letras de forma, minúsculas no canto esquerdo superior, ao lado da arma, da mesma maneira que “Volume Dois”, no canto inferior direito. Linhas geométricas que servem como bordas ou margens estão enquadrando a imagem e todos os elementos presentes na capa, de maneira livremente regular. 
A crônica futurista-cyberpunk-marginal de Don L atinge o apogeu em RPA2, álbum que colocou o artista, merecidamente, entre um dos principais do ano, e o consagra como um dos nomes mais influentes da arte-ativista no país (Arte: Filipi Filippo Foto: Autumn Sonnichsen)

Don L – Roteiro pra Aïnouz (Vol. 2)

Roteiro pra Aïnouz (Vol. 2), ou RPA2, surge como o aguardado precessor do RPA3 – fora de ordem cronológica, mantendo a narrativa mais disruptiva do rap nacional e da nova classe artística do país. Após o lançamento do disco, em novembro do ano passado, Don L, que acumula cerca de 411 mil ouvintes mensais no Spotify, levou o título de Artista do Ano pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), e Melhor Álbum de 2021 do Prêmio Arcanjo. Absoluto em lírica, sonoridade e execução, o quarto trabalho de estúdio do rapper favorito do seu favorito, tende a entrar para a história sobretudo pelo caráter transgressor e subversivo das composições, que, amarradas, soam como uma espécie de fábula futurista de uma revolução armada do povo para o povo, escaldada por interlúdios que nos remetem à trechos de discursos de Malcolm X e Martin Luther King. 

A originalidade inquestionável das letras, como é o caso também dos arranjos, que vão desde samples inesperados (como em favela venceu/cit: rap das armas), até sons jazzy love song (contigo pro que for), dão vida e forma ao segundo volume da trilogia quase visual, e autobiográfica do artista “abertamente comunista”, motivo pelo qual acredita que, não foi ovacionado pela imprensa tradicional, mesmo com um dos trabalhos mais relevantes do ano. RPA2, une tesão e levante popular ao passo em que iça sonhos e nos deixa sedentos por justiça.   – Andrezza Marques 

Faixas Favoritas: pela boca, enquanto recomeça e auri sacra fames


Capa do álbum Take the Sadness Out of Saturday Night. A capa é uma moldura branca, com um traço dourado, e uma foto dentro dela. Na foto, ocupando o canto esquerdo e se estendendo ao lado superior direito, vemos parte do rosto de Jack Antonoff olhando para baixo, com um efeito que deixa a imagem com uma aparência antiga. Ele é um homem branco, aparentando cerca de 30 anos, e tem seus olhos fechados. No canto inferior direito, vemos as palavras “Take the Sadness Out of Saturday Night” em uma fonte de caligrafia, em dourado.
Jack Antonoff já trabalhou com artistas como Taylor Swift, Lorde, St. Vincent, Clairo, Troye Sivan e muitos outros (Foto: RCA Records)

Bleachers – Take the Sadness Out of Saturday Night

Jack Antonoff passou quatro anos colaborando com produções musicais para outros artistas (a lista é longa e aclamada, e, inclusive, o rendeu Grammys), só para voltar mais forte em sua própria musicalidade. No terceiro álbum da Bleachers, o projeto musical e banda encabeçada por ele, o cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor se aproveita das referências pop e oitentistas presentes em Strange Desire e Gone Now, trabalhos anteriores, e os soma à experiência adquirida no período. O saldo é Take the Sadness Out of Saturday Night.

Abrindo o álbum com violoncelos, alternando guitarras ora animadas, ora melancólicas, e violões folk, e incluindo até solos de saxofone, a mistureba de harmonias triunfa em, mesmo assim, soar orgânica. Como o conceito do projeto, Take the Sadness Out of Saturday Night cria uma viagem ao longo das 10 faixas, em que cada uma provoca um sentimento e uma reação distinta. Se Stop Making This Hurt é colorida e dá vontade de gritar o refrão a plenos pulmões, Don’t Go Dark é introvertida, ainda que calorosa. Já What’d I Do With All This Faith? é contemplativa, mostrando a habilidade de Bleachers em transitar entre temas, assim como entre estilos musicais. – Vitória Lopes Gomez

Faixas favoritas: Chinatown, Don’t Go Dark e 45


Capa do álbum Te Amo Lá Fora de Duda Beat. Na imagem é possível ver em primeiro plano, sobre um fundo preto, apenas o rosto de Duda Beat, coberto por uma espécie de véu translúcido, com certa fluorescência pela luz, do lado esquerdo.
Segundo trabalho solo de estúdio de Duda Beat, o álbum Te Amo Lá Fora foi considerado um dos melhores de 2021 pela APCA, coroando a fase da cantora que soma mais de 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify, o que confirma a máxima de azar no amor significa, de fato, sorte no jogo (Foto: Fernando Thomaz)

DUDA BEAT – Te Amo Lá Fora

O icônico Te Amo Lá Fora, persevera a saga de sofrência e desilusões amorosas da pernambucana DUDA BEAT, e se mantém de maneira bem sucedida na narrativa das paixões frustradas de Sinto Muito. Com o novo trabalho, apenas três anos depois, a artista revelação pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) em 2018, repete o feito e aparece mais uma vez na premiação, figurando na lista dos 50 melhores álbuns brasileiros de 2021. Para além do autêntico beat brasileiro de DUDA, que faz com que os ouvintes se identifiquem no primeiro play, o disco também transita por arranjos e narrativas íntimas transfiguradas, como na melodia axé-drill e videoclipe de Nem Um Pouquinho uma das recentes produções audiovisuais mais vistosas do país.

O plot futurista e cyberpunk da realização cinematográfica dirigida pela dupla Alaska e patrocinada pelo TikTok, não fica apenas no clipe, mas se estende para a sonoridade das canções. O pop alternativo que se une ao melô tecnobrega de Duda já conquistaram 1,6 milhões de ouvintes mensais no Spotify, e mais de 3 milhões de views no YouTube em Meu Pisêro, números que coroam a sua habilidade única de trabalhar tão bemcontrastes. Os visuais leves e pastel acompanhados de melodias dançantes, versus as histórias de sofrimento cantadas com voz suave e sotaque marcado que já são marcas registradas da artista, ainda conseguem surpreender com fôlego no Te Amo Lá Fora, que pragueja o lado externo do amor. – Andrezza Marques 

Faixas Favoritas: Nem Um Pouquinho, 50 Meninas e GAME


Fotografia quadrada em preto e branco. Ao centro, vemos a cantora SPELLLING. Ela é uma mulher jovem adulta negra. Na fotografia, vemos seu rosto duplicado por um efeito adicionado na foto. Ela mexe um tecido branco, que está embaçado por um efeito. O fundo é preto. No canto superior direito, pode-se ler o nome da artista e o título do álbum, The Turning Wheel. Foi adicionado um filtro na foto que torna a diferenciação dos elementos bem difícil, praticamente vemos apenas borrões e formas, sendo o maior destaque o rosto de SPELLLING ao centro.
Com seus 7 minutos e 26 segundos, Boys at School é a odisseia impecável de SPELLLING (Foto: Sacred Bones Records)

SPELLLING – The Turning Wheel

Kate Bush, eu ainda vou te dar muito orgulho velha… A faixa-título não nega: SPELLLING, assim como tantos outros artistas da cena alternativa, bebe diretamente de uma das fontes mais geniais do gênero. Mas não se engane: Chrystia Cabral vai muito além, e já é dona de sua própria história. Por meio de pianos devidamente posicionados em suas músicas e outros diversos instrumentos de corda, sopro e sintetizadores que encantariam milhares de ratos medievais, a artista dá o tom para The Turning Wheel: melódico, nostálgico, fantástico, teatral.

Cada canção parece contar uma história cinematográfica, e há uma constante mágica no ar. A sequência dramática de notas e acordes exploram possibilidades da música eletrônica com instrumentos convencionais, e somos revelados a produções tão meticulosas e exímias que parecem costuradas a mão. E saber que SPELLLING concebeu seu disco, em grande parte, sozinha, só mostra o potencial gigantesco de um futuro brilhante. Aprenda a sollletrar o nome dela, você vai precisar. – Jho Brunhara

Faixas Favoritas: Emperor with an Egg, Boys at School e Sweet Talk


Capa do disco This Is What It Feels Like, da cantora Gracie Abrams. A foto mostra Gracie deitada no gramado. Ela é branca, tem cabelos escuros e usa blusa clara e calça escura. Ao seu lado, o gramado mostra o nome do disco, e as letras são formadas pelo efeito de grama cortada: THIS IS WHAT IF FEELS LIKE.
”E se eu nunca sair de casa?, eu moraria no porão minha vida inteira, fiquei arrepiada quando disse isso, nunca pensei em uma alternativa”, canta Abrams na faixa mais vulnerável do projeto (Foto: Interscope Records)

Gracie Abrams – This Is What It Feels Like

Mais do que filha da internet, Gracie Abrams é também filha do cineasta J.J. Abrams, o que já explica seu olhar afiado para questões e detalhes que poderiam passar batidos por alguém que não cresceu na mesma casa que o homem apaixonado por lapidar suas criações. Por isso, no EP This Is What It Feels Like, a jovem cantora toma parte em um dos processos mais duros, difíceis e árduos da vida adulta. Gracie está disposta a quebrar os moldes, crescer e deixar para trás o que não a traz tanta felicidade quanto antes. O resultado é uma coletânea de composições pungentes e nauseantes de tão sinceras. 

Feels Like areja a casa, e Abrams admite que, estando com a pessoa querida, qualquer coisa já é o bastante. Eles nem precisam deixar o apartamento. Mais para a frente, For Real This Time é a pepita mais brilhante do grupo, no momento em que ela confidencia que arrumou as malas durante a noite, ensaiou dizer adeus mil vezes e acredita piamente que dessa vez é para valer. As letras, simples e diretas, não poderiam ser mais assertivas. Não há nada mais corajoso do que se colocar em primeiro lugar, não há nada mais desconfortável do que renegar um ontem virtuoso e não há nada mais revitalizante do que olhar para frente, e é assim que as coisas são sentidas. – Vitor Evangelista

Faixas Favoritas: For Real This Time, Camden e Alright


Fotografada de cima, a capa revela Linn da Quebrada deitada no chão escuro, olhando para o alto, para a câmera. Ela usa lentes de contato totalmente pretas nos olhos e uma longa trança como penteado. Usa um vestido abstrato, feito de tecidos fluidos e amarrações. Está rodeada por troncos de árvores cortados e plantas, que a cercam como num altar. Carreiras de areia, também enfileiradas em volta da artista, compõem a cena. A fotografia tem coloração vermelha.
Lançado em julho de 2021, “Trava Línguas” é canceriano e, assim como sua intérprete, é um disco afogado em sentimento (Foto: Wallace Domingues)

Linn da Quebrada – Trava Línguas

A pergunta “quem sou eu?” surge diversas vezes em Trava Línguas (Independente), segundo disco de Linn da Quebrada. Esse questionamento, que é angústia adolescente e reflexão filosófica ao mesmo tempo, soa inusitado vindo de uma artista tão confiante. Mas o que se revela no registro é uma identidade em construção, mergulhada em contradições – e isso é maravilhoso! O grande tesouro da tracklist vem ainda no lado A, com medrosa – ode à Stella do Patrocínio, que versa: “Eu sou muito medrosa/Cínica/Covarde/Sonsa/Injusta/Eu não sei fazer justiça”. Aqui, a cantora e compositora homenageia uma mulher preta que foi encarcerada e psiquiatrizada à força, tida esquizofrênica, mas que teve seus falatórios registrados em áudio e editados em livro de poesia, após sua morte. 

Sem autonomia sobre a própria existência, Stella foi tida como louca e depois poeta, tudo pelas mãos da branquitude. E isso serve de lição para Linn: se ela ainda não sabe quem é, ninguém além dela saberá. É pelo direito de continuar buscando o próprio eu que clamam as músicas. Nem sempre o clima é calmo, à exemplo das fervidíssimas pense & dance e mate & morra (produções de BADSISTA). Além disso, brilham aqui os jogos de palavras, parte tão importante do catálogo da artista. Mais madura e intimista que em Pajubá, sua estreia, Linn da Quebrada, ou Lina, oferece um vislumbre de seu amadurecimento, dialogando com a persona que ela tem evidenciado no BBB 22. Em toda a sua confusão e complexidade, é ela. – Leonardo Teixeira

Faixas Favoritas: I míssil, medrosa – ode à Stella do Patrocínio e pense & dance


Capa do disco Valentine de Snail Mail. A imagem mostra a cantora, mulher jovem branca de olhos azuis, cabelo loiro escuro solto e com comprimento médio na altura dos ombros. Ela veste um paletó pêssego por cima de uma camisa rosa translúcida com gola bufante e um laço preto no pescoço. Ela também veste na lapela do paletó um broche branco do busto de uma pessoa com detalhes dourados em volta e um arranjo de flores rosa pastel e brancas no bolso do paletó. Ela encara a câmera com os braços para baixo. O fundo é um tom de vermelho queimado. Na parte central superior é possível ler o nome da cantora em fonte branca serifada e, abaixo, o título do disco na mesma fonte, porém na cor preta.
O lirismo honesto de Lindsey Jordan se reafirma como nunca no segundo álbum de estúdio de Snail Mail, Valentine (Foto: Matador Records)

Snail Mail – Valentine

O amor é um sentimento lindo, mas na ruína, Lindsey Jordan – nome por trás do projeto solo Snail Mail –, recolhe os pedaços ensanguentados de seu coração partido no segundo disco da carreira, Valentine. Após três anos do lançamento de sua estreia, Lush (2018), a eternidade que Jordan ora prometera, deixou de existir. Aqui, a cantora, compositora e produtora norte-americana explora cada estágio do amor em toda sua contraditoriedade, perpassando pela inocência ardente de uma nova paixão, cruzando obsessões compulsivas, enfrentando desfechos inconclusivos, até a aceitação melancólica, mas tranquila, de que o amor vai para além do desejo.

O universo de Jordan também se expandiu desde o seu primeiro registro. Ela lidou com a fama de “celebridade indie rock” na adolescência, vício e reabilitação, tudo simultâneo ao florescer confuso de sentimentos amorosos na juventude. Como reflexo, sua composição confessional registra um amadurecimento espantoso que expõe sua experiência pessoal através de um lirismo vulnerável, olhando para qualquer possível imperfeição com uma empatia apaixonadamente honesta. Ela se permite assumir o brilho de uma sonoridade mais pop, acompanhando a rouquidão de sua voz com texturas de sintetizadores e arranjos acústicos, sem jamais ofuscar o seu ponto de vista, sinceramente exposto como verdadeira romântica que é. – Ayra Mori

Faixas Favoritas: Ben Franklin, Forever (Sailing) e Madonna


Descrição da imagem: Capa do álbum Vou Ter Que Me Virar. A capa tem uma moldura azul escura, com bordas com um detalhe arredondado, e, à frente de um fundo branco na parte de dentro, vemos os três membros da banda Fresno lado a lado, em uma espécie de tinta azul e com suas sombras pintadas. Na parte superior central, vemos a palavra “FRESNO” escrita em caixa alta e em uma fonte estilizada. Ao centro, vemos os três membros da banda, homens brancos, aparentando entre 35 e 40 anos de idade, com cabelos castanhos curtos e vestidos de preto, posicionados lado a lado. No meio dos três, o vocalista Lucas Silveira está com os braços abertos, estendidos por trás da cabeça dos membros nas pontas. Na parte inferior central, vemos as palavras “VOU TER QUE ME VIRAR” em caixa alta e em uma fonte estilizada.
Atualmente, a banda Fresno é formada por Lucas Silveira, Gustavo Mantovani e Thiago Guerra (Foto: FRESNO)

Fresno – Vou Ter Que Me Virar

Nome mais do que conhecido no Brasil, Fresno se tornou referência no emo desde antes de muitos de nós aprendermos a andar ou escrever. Vou Ter Que Me Virar, o nono álbum da banda – agora, um trio – não se desvencilha das raízes musicais do grupo, e sob o comando de Lucas Silveira na composição e na produção, arrisca novos estilos musicais e renova temas. O frontman da Fresno aproveita a liberdade de ser seu próprio produtor para brincar com a sonoridade do disco, o mais diverso até então: as 11 faixas incluem batidas eletrônicas e pop, o clássico rock e pop punk, MPB e até um tímido samba.

Com as experimentações, o álbum revitaliza e reanimaa sonoridade da banda, que está em atividade há 20 anos e ainda consegue se manter fresca no cenário musical atual. Apesar das misturebas de estilos, Vou Ter Que Me Virar soa orgânico, coeso e muito divertido, apesar das letras não muito positivas. Essas, inclusive, são chamativas pela honestidade, sempre presente na longa discografia da banda. As composições são pessoais ao tratarem de medos e inseguranças, receio com o futuro, saúde mental e relacionamentos amorosos e familiares, de uma forma que o álbum não seja só um capricho estético e sonoro para não caírem no esquecimento, mas sim mostrar que a Fresno ainda tem o que dizer. – Vitória Lopes Gomez

Faixas favoritas: Casa Assombrada, ELES ODEIAM GENTE COMO NÓS e Caminho Não Tem Fim


Descrição da Imagem: Capa do álbum “Vulture Prince” de Arooj Aftab. A

Capa do álbum “Vulture Prince” de Arooj Aftab. A cantora Arooj é uma jovem mulher de traços paquistaneses e está segurando um microfone enquanto seu olhar está inclinado para o canto inferior esquerdo da imagem. Ela usa o cabelo preso por um coque, vemos as alças de sua blusa regata preta. A imagem possui um tratamento de tons violeta e é bem sombreada, dando visibilidade parcial ao rosto da artista.  O fundo é preto e o nome da artista e do álbum estão escritos no canto superior esquerdo em fonte não-serifada. 
Em Vulture Prince, a paquistanesa Arooj Aftab aplica o seu amplo background musical em um registro meticuloso que vai de encontro com a reconciliação com o luto (Foto: New Amsterdam)

Arooj Aftab – Vulture Prince

Vulture Prince pode ser facilmente descrito como uma força não-bruta aqui nesta lista de melhores discos de 2021. O registro escolheu seu próprio destino temático, quando a cantora paquistanesa, radicalizada no Brooklyn, perdeu seu irmão e uma grande amiga durante o período de gravações. O golpe duplo da morte fez com que a artista voltasse seu espírito para a sua infância em Lahore, capital da província do Panjabe, no Paquistão. Sua memória musical sul-asiática, despertada pelo luto, colidiu delicadamente com a sua formação acadêmica ocidental fundamentada em gêneros como o jazz e o folk. O produto final é uma coletânea meditativa de sete canções que refletem e buscam aceitar a finitude da vida, guiadas por poemas cantados na voz marcante de Arooj.

A importância de Arooj Aftab vai muito além de atualizar e apresentar a tradição musical de seu povo para novas audiências. A cantora define herança cultural como tudo aquilo que se vive, toda a bagagem dos lugares que já morou e costumes que absorveu. Arooj sempre se sentiu diferente por ser queer e musicista no Paquistão, ao mesmo tempo que, nos EUA, é marcada pelo seu sotaque carregado. O minimalismo das harpas que conduzem Vulture Prince e o resgate do Gazel combinado a cadência típica do jazz, revelam que o artista sempre tem uma origem, mas encontra em sua arte um passaporte universal, no qual as fronteiras culturais são um convite para desbravar novos territórios criativos. – Carlos Botelho

Faixas Favoritas: Last Night, Mohabbat e Saans Lo


Capa do álbum Written & Directed, da banda Black Honey. O título está centralizado no meio da capa, que é marrom escura mas possui um aspecto desgastado e velho. Em letras grandes e amarelas com fundo vermelho, “Written & Directed” em cima, e “BY BLACK HONEY” embaixo, em letras menores.
A banda londrina volta em seu segundo álbum com o espírito punk renovado (Foto: Foxfive Records)

Black Honey – Written & Directed

O segundo álbum da banda britânica Black Honey vem carregado do mesmo entusiasmo juvenil e disruptivo que tornou sua estreia tão especial, aperfeiçoando o estilo pop punk em batidas cada vez mais marcantes e letras agressivamente despudoradas. Os vocais ferozes de Izzy B. Philipps não tem medo de enfrentar qualquer um que se ponha em seu caminho, dilacerando com palavras o patriarcado com seu auto intitulado “vagina rock” e não se preocupando em fazer reféns: “É melhor correr pra se proteger”.

Apesar do som do grupo não fugir muito do que foi estabelecido em seu primeiro disco, ainda é revigorante ver o cuidado que eles colocam em suas composições, bem como o esforço com o qual as executam. Written & Directed é um trabalho que implora para ser ouvido no meio de um palco, baixando e levantando sua cabeça junto com os artistas de Brighton no ritmo massacrante da guitarra de Chris Ostler, se preparando para acender um coquetel molotov junto com seus amigos e botar a casa abaixo. – Gabriel Oliveira F. Arruda

Faixas Favoritas: Run for Cover, Beaches e I Do It to Myself


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