O reality show das Kardashians teve 20 temporadas, 3 diretores e 2 roteiristas ao decorrer da sua história (Foto: Tinseltown)
Nathalia Tetzner
Ao longo da história do mundo, impérios foram erguidos e derrubados, se alastraram pela imensidão e perderam territórios, derramaram sangue e no mesmo vermelho se afogaram. Desde os romanos, passando pelos mongóis até os britânicos, a humanidade parece naturalmente se inclinar sob a influência de uma força dominadora comum, apesar de passageira. Em 2007, o reality showKeeping Up with the Kardashians marcou a ascensão de um império liderado por mulheres que, pelo bem e pelo mal, moldaram a cultura de seu tempo e continuam à frente das áreas por enquanto não invadidas por bárbaros.
A escolha certeira do elenco dá dinamismo ao filme e vida ao tão querido Losers’ Club (Foto: Warner Bros. Pictures)
Mariana Nicastro e Nathan Sampaio
Há cinco anos, nos cinemas, Bill, Beverly, Ben, Eddie, Richie, Stanley e Mike deram as mãos em círculo e selaram a promessa de que voltariam a Derry se Pennywise também retornasse. O tal The Losers Club, Clube dos Perdedores ou Clube dos Otários ensinou valores como amizade, lealdade e coragem, e It – A Coisa marcou a cultura pop com um filme que equilibra medo e encanto com maestria.
A HBO Max divulgou que o documentário se tornou o mais visto do serviço de streaming nacionalmente em apenas um mês (Foto: HBO Max)
Isis da Silva Bianco
Trinta anos após o assassinato de Daniella Perez, Glória Perez, a mãe da atriz, participa de Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez, documentário que disseca a breve vida e morte da filha, assassinada no dia 28 de dezembro de 1992. Em uma tentativa de reviver a memória da primogênita, a escritora reuniu uma dose de coragem e, junto com a HBO Max, produziu a emocionante série documental de cinco episódios. A produção revive a memória do público sobre quem realmente foi Daniella e como, na época, a defesa dos assassinos e a grande mídia criaram uma narrativa que distorceu a sua verdadeira imagem.
Um indie que não parece indie:com gráficos elaborados e uma narrativa intrigante,Stray convida o jogador a experienciar, na pele de um felino, um cenário enigmático com luzes neons, as quais o seduzem para uma aventura na cidade futurista e ao mesmo tempo apocalíptica. Assim, nosso gato protagonista deve desvendar os puzzles necessários para escapar de um submundo esquecido e retornar à vida anterior com sua família. Não é à toa que a Annapurna Interactive, estúdio famoso por publicar jogos comoSayonara Wild Hearts eOuter Wilds, viu também potencial emStray. Desenvolvido pela pequena equipe francesa BlueTwelve Studio, o game foi lançado em 2022.
Todos precisamos começar de algum lugar (Foto: Disney+)
Gabriel Oliveira F. Arruda
É até um pouco difícil acreditar que demorou mais de uma década para que a Marvel introduzisse uma personagem obcecada com seu próprio universo. Diferente de Kate Bishop (Hailee Steinfeld), que viveu o sonho de encontrar seu herói e assumir seu manto em Gavião Arqueiro, Kamala Khan (Iman Vellani) precisa aprender a se virar sem a ajuda de nenhum dos Vingadores que passou a vida admirando, nem mesmo de seu ídolo, Carol Danvers. Mas isso não significa que Ms. Marvel esteja sozinha, já que seus verdadeiros super-poderes são a família e a comunidade.
Em Agosto, o Clube do Livro do Persona se debruçou sobre Amuleto, do chileno Roberto Bolaño (Foto: Companhia das Letras/Arte: Ana Clara Abbate/Texto de Abertura: Bruno Andrade)
“A Literatura deve ser realmente o lugar onde podem surgir novas idéias que repensem o mundo.”
– Salman Rushdie
Depois das muitas reflexões que Annie Ernaux e seu O Acontecimentocausaram, o Clube do Livro reuniu-se mais uma vez em meio a um cenário caótico. Na esteira do período eleitoral e das violentas situações que têm ocorrido no país, foi o momento de inclinar-se sobre a obra política de Roberto Bolaño e o incontornável Amuleto(1999).
Retirado de um episódio de Os detetives selvagens(1998) – mas também de um caso real –, o romance curto conta a história de Auxilio, imigrante uruguaia que vive no México rodeada por artistas e poetas. Com os principais traços da Literatura de Bolaño, o livro levanta questionamentos sobre as opressões na América Latina e a memória histórica e política, tudo narrado através da acidez de sua escrita combativa.
Sob o contexto de liberdades cerceadas, também foi o mês de um fato trágico. Enquanto se preparava para palestrar em Nova York, no dia 12 de Agosto, o escritor Salman Rushdie foi atacado por um homem armado com faca. Embora o suspeito esteja preso e Rushdie apresente melhoras no estado clínico – mesmo que a chance de perder um olho ainda seja alta –, o atentado levantou questões antigas que pareciam superadas – na verdade, só nos lembrou que nada está ganho nunca.
Em 1988, após publicar o romance Os Versos Satânicos, sua obra mais influente, Salman Rushdie se viu imerso em conflitos políticos e religiosos. Por ficcionalizar a vida do profeta Maomé, o livro incomodou fundamentalistas religiosos. Em 1989, o aiatolá Ruhollah Khomeini proferiu um fatwa, pedindo sua execução, e deu inicio a série de mudanças, viagens e esconderijos que Rushdie precisou realizar.
Exilado na Inglaterra, com escolta em tempo integral, o autor indiano continuou suas publicações, marcadas pelo estilo que se aproxima do Realismo Mágico, com liberdade para fantasiar com culturas e marcos históricos, a exemplo de Os Filhos da Meia-Noite(1981), sua obra vencedora do Booker Prize. O próprio Versos Satânicos traz acontecimentos reais: o ataque que ocorreu contra um avião da Air India em 1985, os tumultos de Brixton em 1981 e 1985 e a Revolução Iraniana de 1979.
Assim, desejando rápidas melhoras para Rushdie e já de olho na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) – evento que ocorre em Novembro e trará Camila Sosa Villada e Annie Ernaux, as leituras do Clube do Livro em Junho e Julho –, deixamos as já tradicionais indicações do Estante do Persona.
O mês de Julho foi marcado pela discussão acerca dos direitos reprodutivos das mulheres no Brasil e no mundo, e o Clube do Livro do Persona acompanhou o movimento com a escolha de leitura de O Acontecimento, de Annie Ernaux (Foto: Fósforo/Arte: Ana Clara Abbate)
“Simplesmente isso não se vê. (…) Nos tomamos por pessoas, mas não somos pessoas. Somos, à nossa maneira, pequenos acontecimentos.”
– Gilles Deleuze em aula ministrada no ano de 1980 no Centro Universitário de Vincennes, em Paris, na França.
Raquel Dutra
Quando, em 2000, Annie Ernaux intitulou o livro que abriria pela primeira vez ao mundo a sua experiência com uma gravidez indesejada e um aborto clandestino na França de 1960, ela com certeza estava ciente da referência filosófica que marcaria a sua obra, mas não imaginava com a mesma intensidade a dimensão da sua representação – e, por consequência, o rompimento que O Acontecimento provocaria com suas próprias conceituações. É que, enquanto o termo do título evoca a ideia de uma experiência de individuação (como o próprio detentor da “filosofia do acontecimento”definiu), todo o desenvolvimento do livro trata de uma história particular vivida a nível universal (mais precisamente, presente em quase metade das vivências em questão do mundo).
Longe da corrida de Filme Internacional desde os tempos de Central do Brasil, o país escolhe pela primeira vez um longa dirigido por um homem negro para nos representar no Oscar (Foto: Filmes de Plástico)
Vitor Evangelista
Uma família negra de Minas Gerais navega por um Brasil incerto e nebuloso, afetado pela eleição de um presidente que representa o oposto de quem são. O véu de mundanidade da trama, escrita e dirigida por Gabriel Martins, chamou atenção por onde passou, sendo condecorada em Sundance e em Gramado, chegando, enfim, às portas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que escolheu a obra como a representante nacional na corrida pela estatueta de Melhor Filme Internacional no Oscar 2023.
Häxan significa bruxa em sueco e o filme busca desconstruir a imagem desse ser místico através de sua narrativa semidocumental (Foto: Aljosha Production Company)
Gabriel Gatti
Por muitos anos, homens, crianças e principalmente mulheres foram perseguidos acusados de bruxaria. A criação do livro Malleus Maleficarum, em 1484, serviu como um manual educativo para perseguir e eliminar indivíduos suspeitos de realizar ações paranormais. O guia é de autoria de Heinrich Kraemer, inquisidor famoso durante a Idade Média, e algumas versões da obra chegam a contemplar a bula papal de Inocêncio VIII, chamada Summis Desiderantis Affectibus, que demonstra apoio à caça às bruxas. Ao estudar profundamente o livro, o diretor e roteirista dinamarquês Benjamin Christensen se inspirou para criar sua obra-prima, Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos.
O escritor, tradutor e ensaísta fala sobre seu processo criativo, influências e os 10 anos do romance Barba ensopada de sangue, que está em adaptação para o Cinema e recebe uma edição comemorativa em 2022
“Minha carreira de escritor não foi exatamente uma coisa planejada desde cedo”, diz Daniel Galera (Foto: Marco Antonio Filho e Companhia das Letras/Arte: Henrique Marinhos)
Bruno Andrade
No final de Maio – num frenesi esquisito que faz parecer distante esses quatro meses –, me reuni virtualmente com Daniel Galera para bater um papo sobre sua trajetória literária e os 10 anos de lançamento de Barba ensopada de sangue, romance que ganha uma edição especial comemorativa com lançamento previsto para 4 de Novembro de 2022. Vencedor do Prêmio Machado de Assis, duas vezes 3º colocado no Prêmio Jabuti e já publicado na prestigiosa revista The Paris Review, Galera desponta como um dos grandes nomes da Literatura brasileira contemporânea, relacionado a uma “nova geração de escritores”, mesmo que “nova” já não seja bem a palavra que defina sua carreira. Escrevendo e publicando desde os anos 1990, o escritor paulistano radicado em Porto Alegre construiu um sólido percurso em torno da Literatura, e veio ao Persona Entrevista compartilhar suas experiências, visões de futuro e revelar mais sobre suas obras.