O bom filho a sala torna?

95ª edição do Oscar pode acender a fagulha de um movimento de retorno já orquestrado

Nos mais de 120 anos do Cinema, o cenário provocado pelos últimos anos foi uma das poucas vezes que ele precisou se provar (Arte: Ana Clara Abatte)

Guilherme Veiga

O início da história do Cinema, na exibição de A Chegada do Trem na Estação em 1895, foi caracterizado pela fuga do público da sala, em função da novidade daquela tecnologia aliada com a perspectiva de filmagem do trem. A partir daí, iniciava-se uma jornada duradoura e, a princípio, inabalável. A Arte de fazer filmes superou as duas grandes guerras, inclusive servindo como ferramenta de propaganda, a grande depressão, a Guerra Fria, as ditaduras do século XX e até mesmo a greve de roteiristas de 2008. Sempre de portas abertas e salas lotadas.

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De Top Gun a Elite: o homoerotismo sempre nos colocou de quatro

Muito mudou entre os anos 80 e agora, mas a figura masculina erotizada continua engajante como nunca

Arte retangular com fundo verde. Nela, vemos os personagens Maverick, Louis, Lestat e Patrick. Maverick é um homem branco, usa jaqueta e óculos escuros e posa com um joinha dentro de um avião. Louis é um homem de cabelos compridos castanhos e Lestat é loiro, ambos são vampiros que usam roupas antigas com detalhes em branco, verde e dourado. Patrick é um jovem adulto branco, sem camisa e tem os braços cruzados.
Entre pilotos de avião, vampiros e estudantes do Ensino Médio, a luxúria destes personagens transborda as telas e inunda a sala de quem assiste (Foto: Reprodução/Arte: Jho Brunhara)

Vitor Evangelista

Não há nada que um homem goste mais do que agradar e impressionar outro homem. Seja numa relação romântica ou apenas na amizade, a Arte explorou, desde o Batalhão Sagrado de Tebas até os garotos bobos de amor de Heartstopper, que eles compartilham esse fascínio, um senso de deslumbramento que os coloca no centro do universo. Quando foi lançado em 1986, o romance entre Maverick e Charlie em Top Gun: Ases Indomáveis era, à primeira vista, o único ponto de tensão no filme. Mas o produto final mostrou um subtexto extra.

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O réquiem de Castlevania

Cena da quarta temporada de Castlevania. Isaac Adetokumboh M’Cormack) luta com Carmilla (Jaime Murray) em um salão coberto de sangue, enquanto são observados por Criaturas da Noite. Isaac, vindo pela esquerda, é um homem negro, magro e careca, usando robes azuis claros e uma calça azul escura. Carmilla, vindo pela direita, é uma mulher branca e magra, de cabelos longos e brancos e pele pálida, usando um vestido vermelho e saltos dourados. Ela ataca Isaac com uma espada longa e vermelha, que vai de encontro a uma adaga segurada por Isaac com as duas mãos, que também brilha vermelha. Atrás de Isaac, uma Criatura da Noite humanóide o ajuda a segurar a força do impacto. A Criatura possui asas demoníacas e pele branca e pálida, exceto nas pernas e nas asas, que são negras. Em sua cabeça, há chifres curvilíneos que vão para trás, onde sua pele tem um tom rubro e carnoso. Outras criaturas assistem a luta, de costas para grandes janelas que se erguem do chão ao teto e deixam entrever o céu noturno e chuvoso.
Entre sangue, monstros, vampiros e controvérsias, Castlevania se despede com ferocidade (Foto: Netflix)

Gabriel Oliveira F. Arruda

É bem possível que estejamos entrando em um período de ouro para as adaptações de videogames na Televisão: embora o Cinema ainda sofra para traduzir narrativas interativas para filmes de duas horas, vemos cada vez mais exemplos de como estruturas serializadas são capazes de realizar essa transição incólumes. Arcane, da Netflix, conseguiu transformar a poderosa mitologia de League of Legends em uma das melhores séries do ano, construindo uma trama emocionante sobre desigualdade e opressão em cima de um jogo de estratégia competitivo, enquanto a versão de The Last of Us para a HBO promete estar na vanguarda da temporada de premiações de 2023.

Porém, ainda em 2021 tivemos um novo e último capítulo para a série que provavelmente deu início à essa moda. Na quarta temporada de Castlevania, diversos arcos são concluídos e a busca de seus protagonistas para acabar com o mal de uma vez por todas chega ao seu final climático. A adaptação da icônica franquia de jogos da Konami que empresta parte do nome ao gênero metroidvania foi desenvolvida pelo estúdio Powerhouse, que desde então vem provando sua excelência no meio com projetos como O Sangue de Zeus e Mestres do Universo: Salvando Eternia. Após uma humilde primeira temporada com apenas quatro episódios, a trama do seriado rapidamente se expandiu para uma verdadeira saga de poder e mitologia vampírica.

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Severance: pane no sistema, alguém me desconfigurou

Cena da série Severance. Nela estamos vendo os personagens Mark, Dylan e Irving. Eles estão nas repartições do escritório, dividido em quatro partes. A câmera mostra a divisória que está vazia,composta de uma mesa branca e um computador antigo nas cores branca e azul, uma cadeira cinza e duas divisórias verdes. Mark, um homem branco de cabelos pretos está de frente para essa mesa vazia e de costas para a câmera, enquanto olha para ela. Ele veste um terno cinza e em sua testa há um band-aid azul. Irving, um homem branco de cabelos brancos está de frente para Mark, e olha para câmera pela fresta das divisórias. Dylan, um homem branco de cabelos pretos cacheados, está à esquerda da mesa vazia e aparece somente da testa para cima.
A ficção científica da Apple TV+ se prova o maior acerto do streaming e do gênero em anos (Foto: Apple TV+)

Guilherme Veiga

Burnout. Substantivo masculino. Palavra derivada do inglês, da junção de burn, “queima” mais out, “exterior”. Distúrbio psíquico ocasionado pelo excesso de trabalho, sendo capaz de levar alguém a exaustão extrema, estresse generalizado e esgotamento físico, comumente conhecido como Esgotamento Profissional ou Síndrome do Esgotamento Profissional. Em função do estrangulamento de tempo causado pelo mundo moderno, o termo é muito discutido e recentemente, saídas vêm sendo postas a prova, como o debate acerca de uma implementação da redução da carga horária para quatro dias, por exemplo. Já em Severance (Ruptura), a nova queridinha do streaming, a alternativa é bem mais distópica.

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A segunda temporada de Aruanas pergunta: quem se beneficia com a devastação?

A foto mostra um grande cartaz amarelo pendurado na cobertura de um estádio de futebol, mais precisamente, na Arena Allianz Parque. A foto foi tirada de uma perspectiva da arquibancada (de um ângulo inferior em direção ao cartaz). Neste cartaz está estampada a frase em letras garrafais: “Energia limpa, um trilhão de motivos para lutar #PetroCrime”.
Como toda boa obra de ficção, Aruanas alerta para uma discussão real e emergencial acerca da exploração insustentável dos recursos naturais (Foto: Globoplay)

Gabriel Gomes Santana

Como você reagiria se soubesse que a água usada para abastecer sua casa foi contaminada? É a partir desse revoltante cenário, que a segunda temporada de Aruanas traz mais uma denúncia, de um jeito que só a série mais ativista do Globoplay sabe fazer. Nos novos episódios, a ONG unirá forças para impedir a implementação de uma Medida Provisória responsável por isentar os impostos das maiores empresas de petróleo instaladas no Brasil.

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Ame ou Odeie: pela quinta vez, Big Mouth provou que não tem limites

Cena da série em desenho animado Big Mouth. Na imagem, Missy e Nick apoiam as suas costas um no outro enquanto trocam olhares maliciosos. Missy, uma menina negra de cabelo e olhos escuros, veste uma camisa curta amarela e uma calça azul. Nick, um menino branco de olhos azuis e cabelo castanho, veste uma camiseta branca por cima de uma peça azul, enquanto as suas pernas são cobertas por uma calça de tom roxo e o seu nariz está enfaixado. Ao lado dos personagens há uma bicicleta posicionada em um bicicletário. Apoiadas ao meio de locomoção estão duas minhocas do ódio, uma nas cores laranja e vermelha e outra nas cores amarela e roxa. Elas se entreolham e a minhoca laranja usa um óculos de grau. Ao fundo, há uma parede no tom roxo do meio para cima e no tom cinza do meio para baixo, duas janelas completam a cena.
Atenção: Missy e Nick feriram vários direitos humanos na 5ª temporada de Big Mouth (Foto: Netflix)

Nathalia Tetzner 

Amor e ódio são dois extremos, incoerentemente, próximos. Prova disso é o enredo da 5ª temporada de Big Mouth, que mostrou como o caminho entre esses sentimentos tão opostos pode ser curto. Instigados por Jessi Glaser (Jessi Klein) e suas atitudes egoístas, Missy Foreman-Greenwald (Ayo Edebiri), uma de suas melhores amigas, e Nick Birch (Nick Kroll), seu admirador apaixonado, se converteram do amor ao ódio e rapidamente viraram os maiores inimigos da adolescente. Cegos de raiva, eles também roubaram o protagonismo e se tornaram a dupla que os fãs não sabiam que precisavam. 

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Bella Ciao!: La Casa de Papel dá adeus com uma última guerra e muitas emoções

cena de La Casa de Papel. No centro da imagem está o Professor, um homem alto, com barba e cabelos longos e lisos (ambos castanhos), usa óculos de grau de armação preta e tem algumas marcas de expressão em seu rosto. Ele veste roupas sociais: uma camisa cinza suja e rasgada, dobrada até os cotovelos, uma gravata preta também desgastada, e uma calça com cinto, também pretos. Formando um corredor ao seu lado estão alguns militares, todos com o uniforme padrão completo e com armas de grande porte em suas mãos. Todas as pessoas na imagem estão sérias. Ao fundo, vê-se prédios e o céu azul.
Entrando oficialmente no assalto de cabeça erguida, o Professor tenta uma última jogada para salvar seus companheiros (Foto: Netflix)

Gabrielli Natividade da Silva 

O primeiro episódio de La Casa de Papel veio ao ar em 2017, e agora, 5 anos depois, uma das séries mais conhecidas e adoradas da Netflix chega ao fim. A quinta temporada foi dividida em dois volumes (o primeiro lançado no dia 3 de setembro, e o segundo exatos três meses depois), e seguiu a narrativa deixada pela anterior: a gangue ainda estava no Banco da Espanha, depois do assassinato de Nairóbi e da chegada conturbada de Lisboa ao assalto, enquanto o Professor lutava com a fúria da inspetora Sierra e do coronel Tamayo. Só a menção desses pequenos fatos leva à conclusão de que coisas grandes estariam prestes a acontecer para finalizar a produção com chave de ouro e, de fato, aconteceram.

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Entre brigas e socos na cara, a quarta temporada de Cobra Kai é marcada pela conciliação entre rivais

Cena da quarta temporada de Cobra Kai. Os personagens Miguel Diaz, interpretado por Xolo Maridueña, um jovem latino americano, com cabelos ondulados e pele bronzeada, usando um moletom vermelho. Samantha Larusso, interpretada por Mary Mouser, uma jovem branca com cabelos castanhos ondulados. Falcão (Eli Moskowitz), interpretado por Jacob Bertrand, um jovem branco com olhos azuis e com um moicano preto e vermelho. Demetri, interpretado por Gianni DeCenzo, um jovem branco com cabelo castanho escuro. Nathaniel “Nate”, interpretado por Nathaniel Oh, um jovem com descendência asiática e cabelo castanho. Bert, interpretado por Owen Morgan, um jovem branco loiro, com óculos na armação preta, vestindo uma camiseta vermelha e um moletom cinza. Eles estão reunidos atrás de uma porta branca e marrom quadriculada.
A união entre Miyagi-Do e Eagle Fang marca o encerramento das brigas entre dojos, ou melhor, abre espaço para novas rivalidades (Foto: Netflix)

Ludmila Henrique 

As pessoas definem o passado como um acontecimento deixado para trás, um evento constituído por esquecimentos perdidos e, outras vezes, encarregado de voltas eternas às mesmas memórias. A nostalgia presente nele é recorrente em diálogos sobre o primeiro beijo, desavenças no período escolar, ouvir pela primeira vez um solo de guitarra durante um show de rock, ou talvez, o dia do baile de formatura. Outrora, para certas almas, o passado se encontra incorporado em uma pessoa, e às vezes, em um lugar. Em Cobra Kai, após 32 anos das finais do campeonato All Valley de karatê, os destinos de Johnny Lawrence (William Zabka) e Daniel Larusso (Ralph Macchio) se esbarram novamente nos tatames do torneio. Mas dessa vez, unidos como aliados.  

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A terceira temporada de Titãs é tão caótica quanto Gotham City

Original do HBO Max, a terceira temporada de Titãs chegou à Netflix em Dezembro de 2021 (Foto: HBO Max)

Jamily Rigonatto

Em 2018, as primeiras fotos das gravações de Titãs foram divulgadas e a impressão inicial deixou a sensação que a produção viria com data de validade. A série live-action propôs mostrar uma nova face do famoso grupo de super-heróis e os desvincular da imagem juvenil e imatura das animações. Abandonando o formato cômico e desaforado de algumas franquias do DC Universe, como é o caso de Esquadrão Suicida e Aves de Rapina, Titans planejava se ancorar em um tom mais agressivo e noturno. Agora, a obra audiovisual chega ao seu (improvável) terceiro ano com um enredo repleto de pontas soltas e decepções. 

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Beba o sangue e obtenha vida eterna em Missa da Meia-Noite

Fotografia da série Missa da Meia-Noite. A imagem é retangular e mostra o interior da igreja da série. Em primeiro plano, está o padre Paul, de costas para a câmera, discursando para o público, em segundo plano. Seus braços estão abertos e ele usa uma batina vermelha. Seus cabelos são escuros e ondulados. A igreja é pequena. Duas fileiras de longos bancos de madeira estão postadas, uma de cada lado de uma passagem, que leva até a porta. Todos os espaços nos bancos estão preenchidos e todos observam atentamente o padre. Alguns rostos estão sérios, outros, como o de Bev Keane, sorriem. Bev é interpretada por Samantha Sloyan. Samantha é uma mulher branca, na casa dos 40 anos. Ela tem cabelos ruivo-escuros, que estão presos em um coque atrás da cabeça. Seu rosto é redondo e seu nariz é fino.
“Missa da Meia-Noite é um mistério sobrenatural. É um drama pessoal. É uma experiência notória de horror” disse o criador Mike Flanagan, em entrevista para a Netflix (Foto: Netflix)

Mariana Nicastro

“Lembra-te que és pó e ao pó voltarás”Gênesis 3:19. Muitas coisas são capazes de nos cegar. Amor. Raiva. Medo. Fé. Há tempos a busca por verdades absolutas, que acalentam as vidas humanas, desencadeiam na criação de mitos e religiões. Mas e quando eles ultrapassam seus objetivos fundamentais e obstruem nossas noções de bem e mal? E quando afetam nossos valores, princípios… Nossa humanidade? Esses são alguns dos questionamentos abordados em Missa da Meia-Noite, série de horror original da Netflix, lançada em 24 de setembro de 2021.

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