30 anos do primeiro Castlevania: transposição do terror clássico e muita dificuldade

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Belmont e Dracula, na capa de Castlevania (1986)

Adriano Arrigo

Em 30 anos de trajetória, a série Castlevania carrega um nome mais ou menos popular entre as grandes sagas de jogos que ainda perpetuam nos consoles atuais. A série tornou-se tão grande que talvez não tenha conseguido sustentar-se por si só. Mas seu tamanho é proporcional a ambição do mercado de games, que viu no grande potencial da série uma possível mina de dinheiro. A todo custo, a franquia tentou arrebatar novos fãs, mas muitos títulos foram verdadeiros cuspes na cruz (vide Castlevania Judgment, de 2009).

Porém, o nome Castlevania ainda carrega um consagrado nome de uma série essencial para os jovens que viveram os finais dos anos 80 e início de 90. Nessa época, a série viveu seu período dourado, pois carregava títulos essências para os jogos de plataforma 2D, gênero esse tão popular.  E é exatamente no longínquo Castlevania de 1986, título homônimo e inicial da série, que podemos descobrir o porquê da franquia ter sido, inicialmente, um dos maiores sucessos que os consoles de 8-bits e 16-bits viram.

A história de Castlevania torna jogável um mundo fortemente influenciado por Drácula, a obra-prima de horror escrita por Bram Stoker. O Drácula de Castlevania trava uma briga milenar com o clã de caçadores de vampiro, os Belmont. Na estreia da série, contamos com a presença do jovem Simon Belmont que através de seus pulos desengonçados e com a possibilidade de fazer upgrade em seu chicote, tem a exímia missão de derrotar Drácula, ao menos pelos próximos 100 anos da humanidade.

Não é só por ter o peso de contar com uma das figura mais míticas das histórias clássicas do terror que Castlevania sustenta-se, mas por ser um mashup entre os principais personagens desse gênero. Além de Drácula, aqui temos também Frankenstein e seu assistente Igor, a Múmia e até a cabeça de Medusa. Os principais nomes que permeiam o mundo fantástico dos horror movies aqui são comandantes de cada ala do castelo de Drácula. Uma verdadeira homenagem a esses ícones explicitados nos créditos finais do jogo quando nomes de atores americanos como Bela Lugosi, o Drácula do filme de 1931, aparecem como uma brincadeira em homenagem aos seus célebres papéis.

Mesmo com a limitação tecnológica da época, Castlevania também é uma verdadeira peça gráfica desenhada em mínimos 8-bits que ilustram perfeitamente as alas de um castelo mal assombrando devidamente banhado por cores frias. Em seus 18 estágios, iniciamos o jogo entrando no castelo pelos seus verdes jardins, subimos as escadas de tijolos vermelhos do hall principal, descemos as profundezas subterrâneas após atravessarmos as pontes externas iluminadas pela lua para, por fim, subirmos pelos calabouços até chegar a torre do sino, lar do Conde Drácula. Para embalar esse percurso, há uma trilha sonora extremamente agradável e bem arquitetada que nos remete, muitas vezes, a órgãos de igreja. Assim como a trilha sonora, os cenários são bastante variados, mesmo que todos os níveis estejam situados dentro de um único castelo.

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Diferente de sua elaborada direção de arte, a engenharia do jogo é bastante simples. Há apenas  a  ação de pular e atacar com o chicote. Porém, é possível combinar o uso dessas simples ações  com os itens disponíveis (que, aliás, também permeiam a cultura do horror ocidental: água benta, adagas, poção da invisibilidade, crucifixos, etc.) e, assim, criar pequenas estratégias que possibilitam derrotar os inimigos mais facilmente.

A funcionalidade desses itens possuem uma lógica óbvia para quem conhece o universo dos filmes e livros de terror. Por exemplo, como nessas histórias, as adagas podem ser lançadas à distância, e uma cruz sagrada é efetível tanto contra Bela Lugosi no filme de 1931, quanto contra todos os menores inimigos dentro do jogo. Isso faz com que Castlevania seja um território facilmente reconhecível, e isso extremamente positivo, pois elimina desnecessárias explicações prévias de seu funcionamento, tornando-o de fácil entendimento até mesmo para os jogadores menos experientes.

Porém, a facilidade de entender a engenharia do jogo somado as únicas duas ações do personagem não diminuem sua dificuldade que, no caso, é altíssima, típica dos jogos de plataforma dos anos 80. Os inimigos fazem malabarismos na tela para tentar atingir Simon e, em alguns estágios, eles aparecem aos montes e em diversos locais praticamente inatingíveis. Assim, por parte do jogador, será necessário uma certa habilidade com o controle, mas que, infelizmente, a jogabilidade do game não permite algumas vezes, já que o personagem principal não altera seus movimentos enquanto pula ou chicoteia. Essa rigidez torna Simon não muito diferente de um bloco do castelo em que ele próprio está. Os anos se passaram e isso virou motivo de piada, principalmente quando o personagem fica incapacitado de pular enquanto estiver sob uma escada. Obviamente esses pormenores não atrapalham a fluidez do jogo, mas exigem paciência do jogador.

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Assim, em seu 18 estágios, muitas mortes irão ocorrer (talvez mais pela parte do jogador do que dos inimigos), mas, levando em consideração a beleza dos cenários, a alta qualidade da trilha sonora e sua falsa simplicidade, essa tarefa se torna muito prazerosa, divertida e desafiadora.

Para os fãs do terror, Castlevania torna acessível um universo até então restrito da literatura e do cinema. Já para os gamers, é a experiência de jogar um dos melhores jogos de plataforma da década de 80 e conhecer o início de uma série promissora, pelo menos enquanto limitada a 2 dimensões.

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