Os Curta-metragens do Oscar 2024

Assim como os longas, os curtas do Oscar 2024 esbarram nos debates sobre os conflitos mundiais (Arte: Aryadne Xavier)

Muitos dos que se propõem a maratonar a lista dos indicados ao Oscar se esquecem dos curtas-metragens. O desinteresse pela categoria as impede de experienciar histórias valiosas e marcantes em diferentes temáticas e formatos – animação, live-action ou documentário. Os curtas são capazes de explorar qualquer assunto em um tempo limitado sem parecer superficial, te fazem rir, chorar, se inspirar, apaixonar e, às vezes, tudo isso ao mesmo tempo. 

Na ficção, as produções selecionadas pela Academia para a 96ª edição da premiação abordam desde temas coletivos como aborto, abuso infantil e o holocausto, até questões subjetivas e individuais como o luto e memórias da infância. Na categoria documental, as obras retratam, além da vida pacata de duas senhoras e do impacto da música no desenvolvimento de estudantes, denúncias sociais sobre a proibição de livros em escolas, a disparidade econômica-racial e questões diplomáticas. Mesmo que de forma breve, não falham em se aprofundar em temáticas complexas.

Os curtas não ficam para trás dos longas-metragens, nem em qualidade da história, relevância ou impacto emocional. Apesar de serem desvalorizados em relação aos principais prêmios da noite, você só tem a ganhar dando uma chance para essas narrativas. O Cineclube de curtas do Persona vem com essa finalidade: valorizar as produções indicadas e, quem sabe, te incentivar a conhecer um pouco mais sobre essas histórias. – Amabile Zioli e Giovanna Freisinger

Continue lendo “Os Curta-metragens do Oscar 2024”

Conheça a curta, mas Incrível História de Henry Sugar

Cena do curta A Incrível História de Henry Sugar. Na imagem, rodeiam uma mesa de pôquer, Benedict Cumberbatch, Ben Kingsley e Wes Anderson, da esquerda para a direita, respectivamente. Todos utilizam ternos, sendo o de Benedict preto, o de Kingsley cinza e o de Wes marrom. A sala em que estão possui paredes vermelhas com padrões geométricos quadrados e retângulos estampados. Ben Kingsley está em pé, centralizado atrás da mesa na qual apoia suas mãos, uma de cada lado da bandeja de fichas do jogo. Ele mantém uma expressão facial neutra, olhando para a câmera à sua frente e na parede atrás de si há um quadro abstrato. Benedict está sentado em um banquinho no lado esquerdo da mesa na qual apoia um antebraço enquanto o outro permanece levantado com o dedo indicador erguido enquanto fala se dirigindo a Wes. Esse, por sua vez, também está sentado em um banquinho, mas ao lado direito da mesa e mantém as mãos repousadas em seu colo enquanto mantém um diálogo com Cumberbatch.
A Incrível História de Henry Sugar pode ser a galinha dos ovos de ouro de Wes Anderson no Oscar de 2024 (Foto: Netflix)

Gabriela Bita

Para os fãs de Wes Anderson, A Incrível História de Henry Sugar é um espetáculo completo. Já para aqueles que não o admiram, pode ser um pouco difícil apreciar a obra, na qual as características que marcam o estilo de Anderson são maximizadas. Adaptado do conto do escritor britânico Roald Dahl, o curta-metragem é o primeiro de uma série de quatro produçõesA Incrível História de Henry Sugar, O Cisne, O Caçador de Ratos e Veneno –  realizadas pelo diretor em parceria com a Netflix.

Continue lendo “Conheça a curta, mas Incrível História de Henry Sugar”

Do Lixo ao Tesouro: Transformando Negativos em Positivos celebra a Arte como resistência

Cena do documentário Do Lixo ao Tesouro: Transformando Negativos em Positivos. Ao fundo está uma paisagem montanhosa nublada com nuvens ao topo. À frente estão dois homens negros montados em cavalos. Eles estão olhando para a esquerda. Os homens vestem agasalhos reforçados. O de trás está com uma touca amarela e um casaco verde, enquanto o da frente está totalmente enrolado em um agasalho que cobre desde sua boca até suas pernas. A estampa segue formas geométricas e se destaca por suas cores amarela, marrom e vermelha.
O curta-metragem, além de estar disponível no Itaú Cultural Play para exibição na 47º Mostra Internaciona de Cinema em São Paulo, também está na íntegra no YouTube (Foto: Cultures of Resistance Films)

Henrique Marinhos

Do Lixo ao Tesouro: Transformando Negativos em Positivos é um documentário que mostra como a Arte pode ser uma forma de resistência, transformação e empoderamento de uma comunidade. O filme acompanha a trajetória de diversos artistas do Lesoto, um pequeno país nas montanhas da África do Sul, que usam o lixo como matéria-prima para suas obras, além de muitas outras atividades sociais. Através da criatividade, da reciclagem e principalmente da paixão pelo que fazem, eles criam peças e projetos que expressam suas identidades, culturas e lutas em um cenário que por muitos seria considerado infértil.

Continue lendo “Do Lixo ao Tesouro: Transformando Negativos em Positivos celebra a Arte como resistência”

Os Curtas do Oscar 2023

Em 2023, a entrega do troféu para as categorias de curta-metragem volta à transmissão ao vivo do Oscar (Arte: Ana Clara Abatte/Texto de abertura: Nathalia Tetzner)

Eles são rápidos, podem vir em diferentes cores, ritmos e formas. Alguns se debruçam sobre o drama, outros carregam o peso da história nos ombros e há ainda aqueles que são desenhados com os mais delicados traços. Todos são a escolha ideal para quem começou a assistir a lista de filmes indicados ao Oscar e sentiu que precisava descansar a vista após passar horas com os olhos vidrados em longas-metragens intermináveis. Sim, nós estamos falando deles, os curtas selecionados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para a 95ª edição da premiação.

Na disputa pela estatueta de Melhor Curta-Metragem Live Action, os lenços não são suficientes para enxugar as lágrimas do reencontro de dois irmãos e uma história de natal doce em meio ao amargo da guerra. Já na corrida pelo Melhor Documentário em Curta-Metragem, um bebê elefante órfão que nasceu como favorito ao prêmio divide espaço com uma loira estadunidense tão eloquente como a Hebe. Por fim, a estatueta de Melhor Curta-Metragem de Animação é arrastada de um lado para o outro com a sátira da vida sexual de uma jovem da década de 90 e a amizade improvável entre menino e animal. 

Se, no ano passado, a emissora ABC tomou a decisão infeliz de vetar a entrega das estatuetas das três categorias que dividem as 15 produções de menor duração, em 2023, a revolta do público e do Persona fez efeito e a cerimônia irá ao ar por completo. Repetindo o conteúdo informativo e imersivo do primeiro cineclube de curtas, a publicação está de volta com a estrutura pensada especialmente para os amantes da Sétima Arte. Dessa vez, com um ânimo especial pelo renascimento do Cinema e junto dos comentários apurados da Editoria, que não cansa de gabaritar os bolões dos principais eventos do meio, incluindo o Oscar 2023

Continue lendo “Os Curtas do Oscar 2023”

Cinema Almanac é uma coleção enfadonha

Cena do filme Cinema Almanac. Nela, vemos um homem e uma mulher parados ao lado de uma estátua durante o dia. Ambos são brancos. O homem tem barba branca, usa chapéu coco, veste uma camisa bege com terno branco e calça jeans. A mulher tem cabelo ruivo na altura dos ombros, veste uma camisa vermelha e carrega uma bola no braço direito.
O longa faz parte da Apresentação Especial da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: microFILM)

Caio Machado

A produção romena Cinema Almanac (Almanah Cinema, no original), presente na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é apresentada como uma coletânea de seis curtas de Radu Jude (Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental), que assina a direção e roteiro em algo semelhante a quando um escritor publica um volume de seus contos ou poesias. Por estarem reunidos em um mesmo conjunto, faz sentido pensar que possuem características em comum, além da mera aleatoriedade. Cinco dos curtas que a compõem, Caricaturana, Os Potemkinistas, Memórias do Front Oriental, As Duas Execuções do Marechal e Punir e Disciplinar, mostram que o cineasta busca refletir sobre as imagens do passado e o possível impacto que podem causar no observador contemporâneo. Porém, ele próprio mal consegue impactar, devido à forma como utiliza as fotografias. 

Continue lendo “Cinema Almanac é uma coleção enfadonha”

Os Curtas do Oscar 2022

Arte retangular com fundo preto fosco. No topo da imagem, lê-se “OS CURTAS DO OSCAR 2022” em letras douradas em caixa alta. Abaixo, à esquerda, há uma foto em preto e branco com borda de cor dourada do personagem Riz, do curta-metragem The Long Goodbye, um homem de cabelo escuro curto e barba. Abaixo, ao centro da imagem, há uma foto em preto e branco com borda de cor dourada da personagem sem nome do curta-metragem Bestia, uma boneca pequena de porcelana com cabelo curto e expressões faciais pequenas e sérias. Abaixo, à direita da imagem, há uma foto em preto e branco com borda de cor dourada da personagem Lucy, do curta-metragem The Queen of Basketball, uma mulher negra de cabelo ondulado e curto que sorri. Na extremidade inferior esquerda há uma silhueta dourada da estatueta do Oscar. Na extremidade inferior direita está o logo do Persona, um olho com íris dourada.
Entre manifestos sociais, denúncias políticas e a celebração de uma figura histórica, os Curtas do Oscar 2022 exploram a vastidão da linguagem cinematográfica (Foto: Reprodução/Arte: Jho Brunhara)

Como forma de condensar a longa e complexa cobertura do Oscar 2022, o Persona decidiu reunir os 15 curtas em um único post, enxugando as informações e entregando a seus leitores uma experiência de imersão dentre a vasta gama de alcance dos títulos reconhecidos pela 94ª edição da cerimônia. Abaixo, você confere comentários, curiosidades, opiniões e contextualização a respeito das 5 animações, 5 live actions e 5 documentários que a Academia prestigiou.

Continue lendo “Os Curtas do Oscar 2022”

As Mulheres da 6ª Mostra de Cinema Feminista

De 14 de agosto a 3 de setembro, as colaboradoras, redatoras e editoras do Persona estudaram as múltiplas óticas que compreendem o que é ser mulher através das obras da 6ª Mostra de Cinema Feminista (Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Raquel Dutra)

Se não a Arte, quem é que vai ter coragem de refletir sobre o que é ser mulher em 2021? Essa foi a conclusão da nova experiência do Persona, que se dedicou a acompanhar a 6ª Mostra de Cinema Feminista. Do dia 14 de agosto ao dia 3 de setembro, a internet nos permitiu fazer parte de mais um encontro para pensar e apreciar o Cinema de forma totalmente online e gratuita. Depois de flutuar pelo que existe de mais diverso, fantástico, inventivo e maravilhoso na Sétima Arte, encaramos uma perspectiva específica e nada leviana: a da mulher.

Como sempre, o Persona se manifesta como uma iniciativa jornalística expressamente contrária a toda e qualquer forma de preconceito e discriminação. A premissa de falar sobre feminismo em 2021 é apenas uma: que este termo compreenda a mulher em sua totalidade. Assim, as colaboradoras, redatoras e editoras do Persona mergulharam na seleção vasta da 6ª Mostra de Cinema Feminista, composta por 126 filmes nacionais e internacionais, e acompanhada por 5 debates que refletiram sobre a produção cinematográfica contemporânea.

A Mostra de Cinema Feminista é realizada pela Coletiva Malva desde 2015, sob o objetivo de construir um espaço de fruição e fomento ao audiovisual realizado por mulheres cis e trans, pautando debates raciais, de gênero, histórias sobre amores e paixões, relações familiares, sociais, econômicas, históricas e culturais. E no ano de 2021, em sua sexta edição, a realização não fugiu à premissa central de sua concepção: explorar os muitos temas que nascem da combinação do Cinema com os Feminismos.

De crianças à jovens, de adultas à idosas; entre personalidades históricas e existências ordinárias; diante de mulheres reais ou inventadas; doces ou salgadas, azedas ou amargas; seja para rir ou para chorar, para sonhar ou para realizar, vivendo suas liberdades ou estudando suas prisões, Ana Júlia Trevisan, Ayra Mori, Gabriela Reimberg, Gabrielli Natividade, Júlia Paes de Arruda, Ma Ferreira, Mariana Chagas, Raquel Dutra e Vitória Lopes Gomez assistiram 34 filmes da seleção da 6ª Mostra de Cinema Feminista, para agora estudar muitos aspectos da imensidão do ser mulher.

Continue lendo “As Mulheres da 6ª Mostra de Cinema Feminista”

Do Not Split: a liberdade de expressão agoniza em Hong Kong

Cena do curta Do Not Split. Ao centro, vemos um grupo de policiais prendendo um manifestante honconguês. O manifestante está sendo segurado por um homem de boné com um mata leão. Pessoas em volta estão gravando a cena utilizando celulares.
Do Not Split está indicado ao Oscar 2021 na categoria Melhor Documentário em Curta-Metragem (Foto: Field of Vision)

Jho Brunhara

Poder e território estão atrelados desde que o primeiro homem cercou um pedaço de terra e chamou de seu. Em meu texto mais recente publicado no Persona, discuti sobre os problemas que o nacionalismo gera. Coincidentemente, Do Not Split (不割席) é mais uma produção que retrata perfeitamente os perigos de nações soberanas e minorias execradas. Nesse documentário em forma de curta-metragem dirigido pelo norueguês Anders Hammer e produzido pela americana Charlotte Cook, acompanhamos os protestos de Hong Kong de 2019 e 2020 contra a tentativa de criação de uma Lei de Extradição entre a ilha e a China continental, que ameaçaria a autonomia e liberdade jurídica honconguesa. 

Eventualmente, as manifestações evoluíram para o lema “cinco demandas, nenhuma a menos”: retirar completamente o projeto da Lei de Extradição; não caracterizar os protestos como motins; retirar acusações contra manifestantes que foram presos; organizar uma comissão independente para investigar abuso de força policial; e a renúncia de Carrie Lam, atual chefe executiva, e a implementação de um sufrágio universal para eleição do Conselho Legislativo e chefe executivo.

Continue lendo “Do Not Split: a liberdade de expressão agoniza em Hong Kong”

The Present: o nacionalismo é uma doença

Cena do filme The Present. No centro da imagem, há uma garotinha branca, de cabelos castanhos, que usa um casaco vermelho. Ela está atrás de uma grade de metal e apoia uma das mãos na grade. Seu semblante é pensativo. Atrás dela, podemos ver do peito para baixo de um homem, que veste casaco azul e calças marrons. Ele está em uma fila.
The Present está concorrendo ao Oscar 2021 na categoria Melhor Curta-Metragem em Live Action (Foto: Philistine Films)

Jho Brunhara

São quatro da manhã. Você, palestino e morador da Cisjordânia, toma seu café, se arruma para o trabalho e começa uma jornada de três a quatro horas para chegar em uma obra de construção civil em Jerusalém, território atualmente controlado por Israel. Os 32km, que poderiam ser percorridos em 1h30, parecem ter o dobro da distância. Em certa parte do caminho, você precisa atravessar a fronteira, e, para isso, enfrentar um dos pontos de checagem de Israel. Nesse checkpoint, palestinos são tratados como se fossem animais. Caminham em túneis cercados por grades, abarrotados em centenas. Alguns escalam como podem, para fugir da multidão sufocante. Outros chegam a ser pisoteados, ou saem com uma costela quebrada

Ao fim do funil, a única passagem é por uma catraca torniquete. Depois, um detector de metal, onde se tira qualquer vestimenta solicitada considerada suspeita. E, então, finalmente, um militar israelense verifica seu documento de identidade e seu visto de trabalho. A permissão para trabalhar em construções só é dada para homens maiores de 23 anos, casados, e que possuam pelo menos um filho. Ocasionalmente, um soldado entediado pode te humilhar antes de autorizar sua entrada no país, por pura ‘graça’. Essa é a realidade enfrentada por 70 mil palestinos, que necessitam dos empregos depois da fronteira para sobreviver, diariamente. Todos os dias. 

Continue lendo “The Present: o nacionalismo é uma doença”

Colette é um curta sobre dor e perdas

Cena do curta Colette. Na imagem vemos duas mulheres, Colette Marin-Catherine, que está sentada, e Lucie Fouble que está ao lado segurando um quadro com a foto preta e branca de Jean Pierre, homem jovem que veste uma camisa e um chapéu. Colette é uma mulher de 90 anos, branca e com cabelo branco, ela veste um casaco branco com listras marrons e óculos. Lucie é uma jovem mulher branca que veste uma blusa azul com listras brancas de mangas longas e óculos. O fundo da imagem é um quarto branco com quatro janelas.
Lucie Fouble é uma historiadora que pesquisa sobre o Holocausto (Foto: The Guardian)

Ana Beatriz Rodrigues

Em tempos sombrios, há uma necessidade de relembrarmos o passado para que os mesmos erros não se repitam, e assistir Colette exerce essa função. O curta produzido pelo The Guardian acompanha Colette Marin-Catherine, integrante da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Ela é convencida por Lucie Fouble a visitar o campo de concentração que seu irmão foi morto. Essa viagem dolorosa concorre ao Oscar como Documentário em Curta-Metragem.

Continue lendo “Colette é um curta sobre dor e perdas”