Conheça a curta, mas Incrível História de Henry Sugar

Cena do curta A Incrível História de Henry Sugar. Na imagem, rodeiam uma mesa de pôquer, Benedict Cumberbatch, Ben Kingsley e Wes Anderson, da esquerda para a direita, respectivamente. Todos utilizam ternos, sendo o de Benedict preto, o de Kingsley cinza e o de Wes marrom. A sala em que estão possui paredes vermelhas com padrões geométricos quadrados e retângulos estampados. Ben Kingsley está em pé, centralizado atrás da mesa na qual apoia suas mãos, uma de cada lado da bandeja de fichas do jogo. Ele mantém uma expressão facial neutra, olhando para a câmera à sua frente e na parede atrás de si há um quadro abstrato. Benedict está sentado em um banquinho no lado esquerdo da mesa na qual apoia um antebraço enquanto o outro permanece levantado com o dedo indicador erguido enquanto fala se dirigindo a Wes. Esse, por sua vez, também está sentado em um banquinho, mas ao lado direito da mesa e mantém as mãos repousadas em seu colo enquanto mantém um diálogo com Cumberbatch.
A Incrível História de Henry Sugar pode ser a galinha dos ovos de ouro de Wes Anderson no Oscar de 2024 (Foto: Netflix)

Gabriela Bita

Para os fãs de Wes Anderson, A Incrível História de Henry Sugar é um espetáculo completo. Já para aqueles que não o admiram, pode ser um pouco difícil apreciar a obra, na qual as características que marcam o estilo de Anderson são maximizadas. Adaptado do conto do escritor britânico Roald Dahl, o curta-metragem é o primeiro de uma série de quatro produçõesA Incrível História de Henry Sugar, O Cisne, O Caçador de Ratos e Veneno –  realizadas pelo diretor em parceria com a Netflix.

Ao trazer a literatura para as telas, Anderson conta, com uma fidelidade impressionante, a história de Henry Sugar (Benedict Cumberbatch), um homem rico que, após encontrar um extraordinário livro, parte em uma jornada de autoconhecimento e transformação. O manuscrito lido por Sugar relata a história de Imdad Khan (Ben Kingsley), um ilusionista capaz de enxergar com os olhos vendados e que, curiosamente, é originalmente inspirado em uma personalidade real: o mágico paquistanês Kuda Bux, falecido em 1981.

Cena do curta A Incrível História de Henry Sugar. Na imagem Henry Sugar (Benedict Cumberbatch está centralizado, em uma sala/biblioteca, segurando um livro de capa dura azul escura. Ele veste um paletó azul claro com um suéter, uma camisa e uma gravata da mesma cor, porém em uma tonalidade ainda mais clara, por baixo. Ele olha para a câmera em sua frente e sua expressão facial indica que está intrigado com o que leu no livro. Atrás do ator há várias estantes repletas de livros, que vão do chão ao teto da sala e, à sua esquerda, há uma cadeira antiga ornamentada.
A atuação teatral dos personagens faz com que o curta se desenvolva de uma maneira mais íntima com o público (Foto: Netflix)

A maneira como Anderson desenvolve seu roteiro é instigante e faz com que o produto audiovisual se assemelhe a uma peça teatral encenada em frente às câmeras. A todo momento, os atores quebram a quarta parede e falam diretamente com o público, além da narração acontecer como se eles estivessem em uma sessão de leitura compartilhada com as pessoas do outro lado das lentes, lendo as páginas da história para todos. Somada ao visual característico do diretor, com cores vibrantes e enquadramentos específicos, a abordagem resulta em uma obra dinâmica e que permite que os telespectadores se sintam incluídos nos acontecimentos.

Por sua vez, Benedict Cumberbatch é a adição perfeita para o elenco. O ator aparenta compreender com excelência a mentalidade do cineasta, entregando uma performance que difere, positivamente, de seus diversos outros trabalhos e cativa o público. Além de Cumberbatch, temos a presença também de um veterano no universo de Anderson: Dev Patel como Dr. Chatterjee, em mais uma brilhante e divertida atuação. Patel já pode ser considerado presença obrigatória nos filmes do diretor e faz jus a posição.

Concorrendo na categoria Melhor Curta-Metragem Live-Action do Oscar de 2024, a produção é a melhor chance de Anderson levar sua primeira estatueta para casa. O diretor acumula sete indicações na premiação ao longo dos anos – incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original por O Grande Hotel Budapeste – e, apesar das perdas anteriores, alimenta a esperança dos fãs por ser um forte competidor na categoria dos curtas. O cineasta é acompanhado na nomeação por Steven Rales, produtor que esteve presente na maior parte de seus filmes.

Cena do curta A Incrível História de Henry Sugar. Na imagem Benedict Cumberbatch e Ralph Fiennes estão parados na entrada de um apartamento, um de frente para o outro, Cumberbatch a esquerda e Fiennes a direita, porém ambos olham diretamente para o espectador (câmera). Benedict veste um paletó azul marinho com listras brancas e um pijama vermelho com botões brancos por baixo. Ralph veste um uniforme azul marinho característico da polícia do Reino Unido e segura um bloco de notas e uma caneta em suas mãos. Entre os atores, no plano mais ao fundo, há um batente de porta azul e uma escultura feita em madeira.
Ralph Fiennes acrescenta ainda mais qualidade ao rico elenco da produção audiovisual (Foto:Netflix)

Para além de toda a beleza visual, A Incrível História de Henry Sugar é uma obra que desenvolve e nos faz pensar em questões sobre a capacidade humana, o significado e propósito da vida e de quem somos. Wes Anderson volta para o mundo das adaptações de forma certeira e, apesar de se manter em uma posição confortável trabalhando com o mesmo autor de seu anterior sucesso, O Fantástico Sr. Raposo, a direção e roteirização do curta estabelecem – em apenas 40 minutos – um patamar mais elevado às suas produções. Ainda que o estilo utilizado para produzi-lo não agrade uma parcela do público, a obra é um grande acréscimo tanto para a filmografia do cineasta quanto para o repertório dos cinéfilos de plantão.

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